Análise: Mario + Rabbids Sparks of Hope (Switch) consegue, ao mesmo tempo, parecer uma sequência e um jogo completamente diferente

Com menos linearidade e uma alteração crucial na mecânica de combate, esta nova parceria entre Mario e os coelhos mutantes supera seu antecessor.

em 02/11/2022


Quando Mario + Rabbids Kingdom Battle foi anunciado na E3 2017, acho que nem a Nintendo e a Ubisoft imaginavam que um spin-off tão inusitado pudesse chegar tão longe, ainda mais considerando a recepção negativa por parte do público. É claro que as impressões iniciais ruins foram rapidamente postas de lado, e o RPG tático se mostrou um dos melhores exclusivos do Switch.


Cinco anos depois, além de não ser tão surpreendente que Kingdom Battle tenha ganhado uma sequência, é ainda menos inesperado que Mario + Rabbids Sparks of Hope seja vastamente superior. Acho que o mais chocante é o fato de a Ubisoft conseguir evoluir tanto a experiência do jogo anterior com alterações sutis, mas extremamente impactantes.

Uma limpeza intergaláctica de gosma

Sparks of Hope começa com a clássica introdução que mostra Mario e turma, agora com seus amigos Rabbids, em um dia de paz e harmonia, desta vez atrapalhado pela chegada de uma criatura formada por uma substância gosmenta denominada Malumbra (em inglês, Darkmess). O bichão chegou ao Reino do Cogumelo atrás de um grupo de Sparks, seres fofos resultantes da combinação entre Lumas e Rabbids.

Papo vai, papo vem, e no fim das contas partimos em uma missão heroica para salvar a bagaça da ameaça da Calamita (em inglês, Cursa), entidade responsável pela existência da Malumbra, que contaminou planetas por toda a galáxia. Ela planeja usar a energia dos Sparks para se fortalecer e concretizar seus planos.




Sim, esta é apenas mais uma sequência de abertura qualquer, com um tutorial que ensina as mecânicas básicas de combate do jogo. Pelo menos neste caso a diversão já começa ao descobrirmos como as batalhas de Sparks of Hope diferem do seu antecessor — e é aqui que eu considero que está a sacada mais brilhante da Ubisoft de um título para o outro.

Livre estou, livre estou

A fórmula de batalhas táticas por turno e a estrutura de exploração dos mundos continuam sendo os dois pilares de gameplay nesta nova aventura do Mario e dos Rabbids, mas tanto uma quanto a outra deram ambiciosos saltos evolutivos que mudam radicalmente a cara do jogo.

Não é nem um pouco difícil perceber o aumento de escopo da aventura no geral, principalmente ao observarmos a dimensão e a complexidade dos novos mapas. Fica talvez um leve asterisco para os protocolares puzzles da série, que permanecem pouco criativos e muitas vezes acabam sendo apenas uma perda de tempo no caminho dos tiroteios estratégicos e das caminhadas pelos mapas labirínticos dos planetas.




A Ubisoft adotou várias mudanças entre os sistemas de combate de Kingdom Battle e Sparks of Hope, mas a principal sem dúvida alguma é a mecânica de deslocamento dos personagens que compõem o trio que vai para as brigas. Na estreia da parceria M+R, temos uma movimentação bem mais limitada, em que você precisa planejar na sua cabeça todo o turno de cada um antes de realizar as ações de fato.

Agora, a coisa muda totalmente de figura. Os heróis podem andar à vontade dentro do limite individual de distância que podem percorrer. A única restrição é que não é mais possível atirar primeiro e bater perna depois; se você atirar, o dono ou dona do disparo vai ficar onde está até o próximo turno.

Para auxiliar ainda mais no planejamento, os soldados do nosso pelotão agora têm à disposição a habilidade de planar, graças ao Bip-O, o robozinho tagarela que finalmente faz algo útil além de encher linguiça durante os diálogos.

Os tipos de objetivos que precisamos cumprir nas lutas são praticamente os mesmos: derrotar todos os inimigos, derrotar X inimigos, chegar à área marcada… a novidade fica por conta das missões de sobrevivência, em que você precisa passar uma quantidade de turnos sem ser derrotado. Ao menos ficaram de fora os trajetos de escolta, para alegria da nação nintendista.




Quanto à exploração, ela não abandona de vez o modelo linear de Kingdom Battle, mas se distancia dele o suficiente para trazer um frescor mais do que bem-vindo. Os mundos da campanha apresentam um formato semi-aberto, com uma boa dose de liberdade para vasculharmos os ambientes em busca de objetivos secundários e segredos.

Brilha, brilha, estrelinha dentuça

Outra mecânica completamente inédita é o uso dos Sparks para conferir aos nossos aventureiros uma multitude de poderes ofensivos e defensivos, seja para fortalecer o dano das armas ou das investidas; tornar um personagem invisível; rebater parte do dano sofrido; ou invocar uma criatura para ajudar no combate.

Em um sensacional retorno à série Mario Galaxy, é possível evoluir nossos simpáticos ajudantes ao alimentá-los com Estrelitas (Star Bits) encontradas ao longo da campanha. Também podemos obter poções estelares, que sobem diretamente o nível de um Spark independentemente da quantidade de Estrelitas.




Um modificador pertinente aos Sparks que acrescenta um ótimo elemento de estratégia é a mecânica de fraquezas e resistências de cada tipo de oponente. Elas estão ligadas aos elementos das estrelinhas, exigindo um planejamento competente para combinar a escolha do trio principal e das criaturinhas flutuantes de acordo com o objetivo e os inimigos presentes no campo de batalha.

O esquema fica ainda mais complexo quando podemos equipar até dois Sparks por personagem. Por mais tedioso que possa parecer, me diverti à beça analisando quais criaturinhas brilhosas seriam mais apropriadas para cada um — e errando frequentemente nas minhas ideias, claro.

Ao Mario o que é do Mario, ao Luigi o que é do Luigi, e por aí vai

Recheando os muitos confrontos e as vastas áreas de Sparks of Hope, estão um divertidíssimo elenco de heróis (alguns nem tão heroicos) e uma penca de conteúdo entre novidades, ausências e retornos.

O funcionamento dos personagens e do sistema de armas foi bastante modificado. Se você gostava das armas secundárias, como os martelos e os carrinhos-bomba, lamento ser o portador de más notícias, mas o arsenal pessoal dos viajantes intergalácticos foi reduzido a apenas uma arma principal. Também não existem mais armas com diferentes efeitos, apenas visuais distintos para o equipamento de cada um.




Por outro lado, se considerarmos apenas os que estão retornando de Kingdom Battle, cada membro da tripulação foi competentemente retrabalhado de modo a ter suas individualidades muito bem destacadas.

Tal mudança é melhor vista nas armas em si. Para citar alguns exemplos, Mario pode atirar em dois alvos diferentes; Luigi retorna como sniper; Rabbid Luigi pode realizar um ataque em cadeia a múltiplos inimigos com seu disco; e Rabbid Mario é especialista em combate corpo a corpo, causando quantidades gigantescas de dano ao custo de se expor mais.

Entre as novidades na equipe, chegam Edge, uma estilosa e rebelde Rabbid criada especialmente para Sparks of Hope; Rabbid Rosalina, excelente para eliminar inimigos individualmente; e Bowser, que sai do papel de vilão para recuperar seu exército de idiotas, sequestrados pela Calamita.




Isso jamais foi uma preocupação minha ao jogar Mario + Rabbids, mas fui positivamente surpreendido pelo quanto o tom desta nova aventura é ainda mais divertido que o do seu antecessor. Sobretudo os Rabbids estão ainda mais engraçados e cheios de personalidade, em parte devido a um curioso acréscimo: no lugar dos seus costumeiros gritos e baboseiras verbais incompreensíveis, está uma inédita capacidade de proferir palavras e frases em perfeito inglês.

É claro que essa não é uma novidade relevante para a gameplay prática, mas eu desafio qualquer um que ler esta análise a me convencer que a Rabbid Peach não é de longe a melhor personagem do jogo, com toda a sua irreverência de celebridade das redes sociais, com direito a dancinha de TikTok e coraçãozinho com a mão para comemorar as vitórias #rabbidpeachrainhapeachnadinha.

O sistema de habilidades também está de volta, e pouco modificado, devo dizer. Cada combatente tem seu poder único e uma árvore de habilidades individual para melhorar parâmetros de vida, movimento, arma e técnica, ao custo de prismas de habilidade que obtemos ao subir de nível. Um quinto e inédito ramo melhora ainda mais o funcionamento dos Sparks.




Aliás, é importante dizer que em Sparks of Hope agora temos um sistema de nível, que assemelha mais a experiência à de um RPG tradicional. Porém, todos ganham experiência e sobem de nível juntos; ou seja, na verdade nem tem muito sentido em atribuir barras individuais de XP, mas não faz nenhuma diferença, então tudo bem.

Mal terminei o prato principal e já estou ansioso pela sobremesa

Mario + Rabbids Sparks of Hope vem do sucesso deveras inesperado de um spin-off bastante desacreditado até o momento em que ele se provou como um sucesso. Portanto, ao mesmo tempo em que se esperava muito desta sequência, a impressão era de que não seria preciso muito para repetir o êxito. É sem um pingo de incerteza que eu posso dizer que a Ubisoft acertou em cheio mais uma vez.

A confirmação de pelo menos mais três DLCs só faz aumentar o entusiasmo que já está grandão, ainda mais com a futura presença de Rayman, fazendo uma bela conexão com os Rabbids, que estrearam como inimigos do herói sem braços e pernas.




Deixo algumas ressalvas, como um inevitável grinding maçante que pipocou vez ou outra e uma sensação de que os planetas às vezes pareciam estar estranhamente desertos. De todo modo, o saldo geral é uma inquestionável evolução do que já é um excelente jogo, e que agora vê um sucessor que se sai ainda melhor na missão de oferecer uma desafiadora experiência no gênero dos RPGs com batalhas táticas por turno.

Prós:

  • Com alterações sutis, mas extremamente impactantes, consegue melhorar ainda mais a experiência do game anterior, que já era excelente;
  • As batalhas táticas por turno e a exploração, radicalmente transformadas, estão ainda mais divertidas e desafiadoras;
  • Um aumento de escopo da aventura no geral, principalmente ao observarmos a dimensão e a complexidade dos novos mapas;
  • Excelente mudança na mecânica de deslocamento dos personagens durante as batalhas;
  • Os sistemas de funcionamento dos personagens, de armas, habilidades e dos Sparks estão todos maravilhosos e combinam perfeitamente com o ritmo da aventura;
  • O simples acréscimo de dar aos Rabbids a capacidade de falar já é fonte de uma gigantesca dose de diversão e humor;
  • A confirmação de pelo menos mais três DLCs mantém a empolgação para o futuro do jogo.

Contras:

  • Os puzzles seguem sendo pouco criativos e dispensáveis para a experiência geral;
  • Os mundos às vezes ficam estranhamente vazios de inimigos;
  • Apesar de eliminar quase toda a linearidade, o jogo não escapa da repetitividade de travarmos várias batalhas, que eventualmente se tornam maçantes em função do grinding.
Mario + Rabbids Sparks of Hope - Switch- Nota: 9.0
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ubisoft
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Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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