Essa premissa teoricamente simples na verdade embasa um dos melhores jogos cooperativos dos últimos anos, que não à toa foi coroado o Jogo do Ano no The Game Awards 2021, levando ainda os prêmios de Melhor Multiplayer e Melhor Jogo para a Família.
Quase dois anos depois, finalmente temos a oportunidade de desfrutar desta obra-prima no Switch. Como esperado, há um severo downgrade visual, mas todo o resto está aqui, o que é mais do que suficiente para uma experiência emocionante, divertida e deslumbrante.
Terapia… alternativa
Cody e May vivem um momento conturbado no casamento, para dizer o mínimo. O casal está em vias de oficializar o divórcio, que creem ser o melhor para eles e sua filha Rose, que naturalmente está sofrendo muito com a situação dos seus pais.
Inconformada, Rose pede a ajuda de um livro de relacionamentos escrito pelo especialista Doutor Hakim e, em meio à súplica e às lágrimas da garota, algo mágico acontece: os bonecos que ela fez para representar papai e mamãe ganham vida — as vidas humanas do casal, pra ser exato.
Absolutamente perplexos e desesperados, Cody e May mal têm tempo para entender o que está acontecendo quando recebem a visita do próprio Doutor Hakim, só que na forma de livro. O inabalável objeto animado então explica que, atendendo ao pedido da Rose, vai ajudar os protagonistas a retomar a amizade — queiram eles passar pelo processo ou não.
Uma saga já conhecida, mas não menos gloriosa
O que há para se dizer de It Takes Two que não tenha sido dito desde o lançamento do game? Para além de todo o merecido reconhecimento de mais um trabalho de sucesso de Josef Fares (de Brothers: A Tale of Two Sons), posso apenas deixar minhas humildes impressões da jornada de Cody e May.
A trama não é nada revolucionário e a progressão é rigorosamente linear, então como é possível que o conjunto da obra seja tão maravilhoso? A resposta é: temos aqui um exemplar de manual de um feijão com arroz muito, mas MUITO bem-feito.
A fórmula fásica de plataforma com puzzles não se altera ao longo da campanha: os jogadores no controle da dupla de protagonistas seguem seu caminho por uma variedade de ambientes nos confins da propriedade do casal, com uma pitada de fantasia que faz toda a diferença.
A beleza desses cenários se perde bastante no Switch, mas o cerne da gameplay não muda: cada estágio é um abundante poço de criatividade cooperativa e variedade de mecânicas únicas. Tanto Cody quanto May recebem habilidades diferentes, mas que se complementam para a progressão, dos puzzles platafórmicos às batalhas contra inimigos como vespas guerreiras e criaturas de dungeons. Acho que já deu para perceber, mas cooperação é a característica que dá o tom da brincadeira.
Não vou ousar entrar em detalhes sobre essas habilidades para não estragar a experiência, pois cada fase nova me trouxe uma agradável surpresa e um espontâneo pensamento recorrente: “caramba, que legal!”. Pode acreditar, isso é algo que você e sua companhia de aventura se verão dizendo algumas vezes ao longo das jogatinas.
Melhor que muito livro de autoajuda
Não há como negar que a jogabilidade de It Takes Two é responsável por boa parte do entretenimento, mas ouso dizer que sem a sua forte narrativa, muito do brilho da parte prática se perderia.
Por meio das agruras de um casal fragilizado e prestes a terminar a relação, que eles acreditam estar irreparavelmente danificada, vamos absorvendo uma série de lições sobre amor, companheirismo, empatia, responsabilidade, perseverança, as dificuldades do convívio humano… É tanta coisa que essa dupla de bonecos teimosos, mas obstinados tem a ensinar, ainda que precisem de um empurrãozinho do livro falante mais irritante da história dos games.
Pode parecer meio pedante ou que eu esteja explicando o óbvio, mas o título deste jogo não foi definido à toa: seja de maneira literal nas batalhas contra chefes ou de um jeito mais metafórico na negligência de Cody e May para com sua filha, absolutamente tudo que nos é apresentado precisa dos dois, precisa que ambos cumpram papéis diferentes, mas que são igualmente importantes, pois sem um, o outro irá falhar.
Há espaço até para um pouco de competição amigável e saudável, na forma de minigames um contra um espalhados pela campanha, com direito a um placar que marca as vitórias de cada personagem. É um coletável bacaninha — o único, aliás, já que esse nem de longe é o foco aqui.
A necessidade de cooperação pauta tudo nos mínimos detalhes, incluindo ser de fato impossível jogar It Takes Two por conta própria. Caso não tenha companhia para jogar presencialmente, você pode se unir remotamente a alguém que tenha o jogo ou um de vocês pode baixar o Passe de Amigo de forma gratuita, bastando uma única cópia completa entre os dois.
Infelizmente, não há a função de cross-platform, então você não poderá se unir a jogadores de outras plataformas além do Switch.
Uma espera que valeu a pena
Entendo perfeitamente quem dá uma maior importância à qualidade gráfica de um jogo, mas esse é um fator que jamais esteve entre as minhas prioridades ao considerar uma compra ou escrever uma análise. Acho que é por isso que foi tão fácil para mim ignorar os problemas visuais de It Takes Two.
Essas falhas são ainda mais evidentes em texturas mais complexas, como fios de cabelo e tecidos de roupa, mas reitero que são praticamente irrelevantes. Apenas chame seu player 2 e vá fundo em uma das jornadas mais enriquecedoras dos videogames.
Prós:
- Cada fase é imensamente criativa, com mecânicas únicas de gameplay cooperativa que renovam a sensação de surpresa positiva;
- Uma narrativa brilhante, recheada de temáticas bem-desenvolvidas que casam perfeitamente com a lição que o nome do jogo passa;
- Os minigames competitivos dão uma boa pitada competitiva à campanha;
- O Passe de Amigo permite que duas pessoas joguem online com apenas uma cópia do jogo.
Contras:
- Uma queda drástica na qualidade gráfica, principalmente em texturas mais complexas;
- A jogatina online não tem a função cross-plaftorm.
It Takes Two - Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX - Nota: 9.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Electronic Arts