O console não teve destaque no quesito comercial, uma vez que vendeu quase 33 milhões de unidades, bem abaixo dos seus antecessores SNES (49 milhões) e NES (61 milhões). Isso pode estar relacionado à decisão pelo uso de cartuchos, que impactou na parceria com diversos estúdios, dando ao Nintendo 64 uma biblioteca minguada em números quando comparada a outras plataformas. Apenas 388 jogos foram lançados ao longo dos 6 anos de vida.
Para dar uma ideia do que isso representa, o SNES teve 1.757 títulos e o NES, 716. Até o Sega Saturn, considerado um fracasso que sequer alcançou 10 milhões de vendas, passou dos 1.000 jogos em seu catálogo.
No entanto, números sozinhos não dizem muito e seus significados variam de acordo com o que perguntamos a eles. Quando falamos de qualidade e relevância na indústria, o Nintendo 64 foi um marco incontestável.
Mesmo com uma lista de jogos relativamente pequena, o aparelho da Nintendo foi recheado de clássicos e aplicou tecnologias e designs que impactaram a forma como se pensava os games e como eles eram produzidos e jogados. Podemos ressaltar as quatro entradas nativas para controles; o gatilho traseiro Z; o Rumble Pak, que adicionava função de vibração ao controle; e a própria alavanca analógica, que casava com o foco em mundos 3D que o Nintendo 64 oferecia.
Claro, não só de hardware vive um aparelho de videogame. Os jogos ditam o saldo final; Super Mario 64, The Legend of Zelda: Ocarina of Time, GoldenEye 007, Banjo-Kazooie, Super Smash Bros., Star Fox 64, Wave Race 64 e muitos outros deixaram suas marcas em uma época que foi revolucionária para o que um console caseiro era capaz de fazer.
OLD!Gamer
Essa história é muito bem contada no livro Dossiê Nintendo 64: a história completa da grande revolução da Nintendo, que é parte da OLD!Gamer Coleção Consoles, publicada pela editora Europa. A linha OLD!Gamer tem outros produtos, como revistas e pôsteres, mas, baseado em minha leitura de três dos livros sobre consoles (PlayStation, SNES e Nintendo 64), acho que os volumes dessa coleção merecem atenção especial.
Apesar de ter sido lançado em 2017, o livro permanece em publicação e pode ser facilmente adquirido na página da editora ou em livrarias e varejistas online.
Primeiro, enfatizo que o volume em questão é realmente um livro. De revista, só tem o papel, mas a capa é cartonada, sem orelhas, e a encadernação colada é resistente. São 288 páginas generosas em textos. Nada de encher as páginas com imagens enormes e notinhas encaixadas aqui e ali para acrescentar curiosidades. O que temos no livro é algo que faz justiça ao título de “história completa” e que busca aproveitar o espaço disponível para trazer equilíbrio entre informações e referências visuais.
Estas, por sua vez, são várias e englobam desde fotos de pessoas, imagens de personagens, telas de jogo e páginas de revistas, em especial as imagens publicitárias que víamos nas saudosas revistas dos anos de 1990.
A edição é dividida em duas partes principais: “O videogame” e “Os jogos”.
O videogame
Essa primeira parte contém o principal da leitura, com mais de 80 páginas dedicadas a descrever diversos aspectos da história do Nintendo 64, desde seu anúncio precoce como Project Reality, ainda em 1993 (quando o SNES ainda tinha menos de três anos de existência), o envolvimento com a tecnologia Silicon Graphics (SGI) e empresas ocidentais, sua posterior revelação como Ultra 64 e a demora para o lançamento definitivo, em 1996.
A história também passa pelo falido 64DD, um periférico que foi anunciado desde antes do lançamento do console, mas que só estreou em 1999, apenas no Japão. O aparelho usava um disco magnético que tinha 60MB de capacidade e permitia regravar dados. Havia promessas de que um Zelda estava sendo produzido para ele, assim como uma sequência direta para Super Mario 64, mas o primeiro se tornou Ocarina of Time e o segundo foi engavetado.
O livro prossegue com a cronologia, descrevendo o percurso do Nintendo 64 ano a ano. São tantas informações que às vezes parece um pouco confuso, mas é um bom trabalho em relatar a vida do aparelho com referência em numerosos anúncios e entrevistas de revistas da época, como a Edge, a Next Generation e a Nintendo Power.
Essa narrativa mostra o misto de expectativas, promessas e suas realidades de acordo com o que aconteceu e como foi a recepção da crítica e do mercado. Com isso, podemos ver como a história de um videogame não é uma linha reta e certeira. Há idas e vindas, mudanças de rumos, becos sem saída, subidas e descidas em um trajeto complexo que reflete a profundidade e alcance dessa indústria que tanto amamos.
Mais histórias
Há outras seções ainda na primeira parte, começando com 12 páginas dedicadas a Super Mario 64, com uma extensa descrição do jogo e questões do desenvolvimento contadas a partir de falas do diretor Shigeru Miyamoto.
As oito páginas seguintes tratam de personalidades, homens envolvidos com o console e seus jogos (noto que não há nenhuma mulher entre as 32 pessoas citadas, um retrato da época). Aqui, grandes nomes recebem um parágrafo de currículo, incluindo Miyamoto, Hiroshi Yamauchi, Eiji Aonuma, Masahiro Sakurai e Satoru Iwata, além de desenvolvedores da Rare, como os irmãos Tim e Chris Stamper, Ken Lobb e Gregg Mayles. Uma única página comprime 16 compositores com pequenas fotos e os principais créditos musicais, trazendo David Wise, Koji Kondo e Yasunori Mitsuda.
Avançando, temos 6 páginas sobre os aspectos técnicos, que, honestamente, não são minha leitura favorita. Elas falam do hardware do processador, vídeo, som, mídia e o 64DD. Em seguida, topamos com uma galeria dos diferentes modelos do Nintendo 64, incluindo as belíssimas versões translúcidas coloridas.
O último tópico é sobre os acessórios, com 36 itens que vão desde o Controller Pak, um cartão de memória para salvar dados, e o Expansion Pak, que provia aumento de performance do Nintendo 64, sendo requisito para alguns jogos, até um modem, teclado, mouse e diversos controles de outros fabricantes, como um em forma de luva que permitia jogar certos jogos com uma única mão.
Os jogos
A segunda parte toma a maior parte do livro e trata dos jogos. São TODOS os 378 jogos que o Nintendo 64 teve, além dos 10 de 64DD. Neste caso, o número reduzido de jogos foi conveniente ao permitir que o volume, ao contrário de outros da coleção, contemplasse a biblioteca na íntegra.
A lista é dividida anualmente de 1996 a 2002, e dentro de cada ano os títulos estão organizados em ordem alfabética. Cada página contempla de um a três jogos. Todos eles têm uma ficha técnica que informa a data e a região do lançamento; o título alternativo (se houver); a desenvolvedora; a publisher; o gênero; e o número de jogadores.
Uma bandeira brasileira ao lado do título significa que ele foi lançado oficialmente em nosso país pela Playtronic ou Gradiente; já a bandeira japonesa indica que o jogo ficou restrito à terra natal da Nintendo. Outros símbolos mostram quando o jogo era compatível com a função de vibração do Rumble Pak, a melhora de desempenho do Expansion Pak; e a conexão com o Game Boy através do Transfer Pak e com o 64DD.
A maioria dos jogos tem apenas um parágrafo descritivo e uma imagem, mas os mais importantes ocupam o espaço de dois jogos ou a página inteira, com um pouquinho de texto e imagens a mais.
Para concluir
O Dossiê Nintendo 64 produzido pela equipe da OLD!Gamer é um livro de leitura agradável, abrangente, detalhista e nostálgica. Mesmo que o espaço dedicado a cada jogo seja tão pequeno, estamos falando de um panorama de todo o ciclo de vida de um console, uma proposta que é, como um todo, muito bem executada. Eu o recomendo a qualquer um que tenha apreço pelo Nintendo 64 ou que apenas queira conhecer mais dessa parte importante da história da indústria de videogames.
Revisão: Davi Sousa
Livro adquirido pelo redator