Final Fantasy XII: Revenant Wings (DS) marcou o início de um grande projeto da Square Enix

O título do Nintendo DS funciona mais como um jogo independente do que como uma continuação de Final Fantasy XII.

em 09/10/2022


Depois da criação de Ivalice em Final Fantasy Tactics (PS1), a Square Enix aproveitou e reutilizou esse incrível mundo em diversos outros jogos. O Nintendo DS também recebeu alguns títulos ambientados nesse universo e Final Fantasy XII: Revenant Wings, lançado em 2007, foi o primeiro deles. 

Os piratas do céu estão de volta!

O enredo de Revenant Wings se passa um ano após os eventos de Final Fantasy XII (PS2). Vaan se tornou um pirata do céu com seu próprio dirigível e Penelo é sua aliada. A dupla, com Balthier e Fran, encontra duas pedras misteriosas enquanto está procurando tesouros em uma ruína desconhecida e, movida pela curiosidade,  pega os objetos. Nesse momento, um terremoto é iniciado e a nave do protagonista é destruída, fazendo com que ele e sua amiga precisassem escapar no veículo dos outros dois piratas.

Algum tempo depois, uma aeronave misteriosa cai de repente na cidade de Rabanastre. Vaan decide roubá-la e, ao fazer isso, é levado por acidente, junto de seus amigos, ao recém descoberto continente de Lemures. Enquanto exploram o novo local, a turma encontra um novo personagem chamado Llyud. O garoto pertence a uma raça chamada aegyl — seres humanoides com grandes asas nas costas — e informa que seu povo está em constante batalha com alguns piratas. 

Nesse contexto, descobrimos que as pedras encontradas se chamam Auracite e que elas possuem poderes capazes de invocar criaturas. Também ficamos sabendo que os corsários andam invadindo essas terras a mando de um misterioso homem em busca de Auraliths — grandes conjuntos de Auracites que protegem esse local do mundo exterior — e o grupo decide ajudar a defender Lemures. Grande parte do jogo se passa nessa nova área, e alguns lugares de Final Fantasy XII também estão presentes, como Giza Plains e Dalmasca Estersand.

Um Final Fantasy para novatos?

Não é necessário ter terminado FFXII para iniciar Revenant Wings, pois apesar de ser considerado uma continuação, a aventura é totalmente nova e independente. Com relação aos personagens jogáveis, temos Vaan, Penelo, Balthier, Fran, Ashe, Basch e Ba'Gamnan de FF XII e os originais Llyud, Kytes e Filo.

Final Fantasy XII: Revenant Wings foi pensado e projetado para funcionar como uma primeira experiência com a série FF. Por esse motivo, ele não possui diversos elementos que poderiam ser considerados difíceis para os menos experientes e é acessível a qualquer pessoa. Se, por um lado, essa escolha foi boa para novos jogadores, para os fãs ele pode ser considerado fácil demais.

O sistema de batalhas funciona como um RPG de estratégia em tempo real. Existe uma área grande, como em FF Tactics, mas em vez de ter que esperar o seu turno para poder se locomover ou atacar em um quadradinho selecionado, aqui o jogador pode andar para qualquer lugar a qualquer momento. Os ataques ocorrem de forma automática sempre que há um inimigo dentro do campo de alcance do golpe, no entanto, é possível selecionar manualmente quem vai atacar e qual será o alvo.

Nem tente fugir da Stylus!

A jogabilidade de Revenant Wings depende totalmente da Stylus. O d-pad serve para movimentar a câmera e com a caneta realizamos todas as ações de movimento e batalha. Para mover um personagem, o jogador deve clicar nele e depois em qualquer lugar do cenário, isso fará com que ele se mova para lá. Para atacar é a mesma coisa, mas clicando em um inimigo no segundo passo.

Arrastando a caneta conseguimos desenhar um quadrado ou retângulo e todos os personagens que ficarem dentro dele são selecionados em conjunto. Com essa técnica é possível controlar diversos personagens de uma única vez. É também com a caneta que selecionamos habilidades e gambits. Apesar de considerar a obrigatoriedade do uso da  Stylus um ponto negativo na maioria dos títulos, neste caso não me incomodou e acredito que o jogo não funcionaria tão bem sem ela.

Ferramentas conhecidas e algumas novidades

O famoso sistema de Gambits de FF XII retorna, no entanto, extremamente reduzido e com apenas um gambit por personagem. Para quem não conhece, com esse sistema é possível configurar ações automáticas no personagem, como usar poção quando algum aliado ficar com menos de 50% de vida ou usar um ataque de fogo sempre que um inimigo que é fraco a esse elemento entrar no campo de visão. No título original, esse sistema é gigantesco e complexo, dando diversas opções para o jogador fazer suas táticas, mas, aqui, basicamente serve para que o personagem fique usando uma única habilidade especial automaticamente.

Uma adição bem interessante é o sistema de Invocações. Dentro dos campos de batalha, existe um grande quadrado denominado Summon Gate. Ele é usado para invocar espers, uns monstrinhos que podemos usar como aliados. A maioria deles são inimigos enfrentados em FF XII e alguns summons clássicos, como Shiva. Antes de começar uma batalha, podemos escolher 5 monstros e são eles que poderão ser invocados durante o combate.

Cada esper é classificado por rank de um a três. Os que pertencem aos dois primeiros podem ter vários invocados simultaneamente, já os do último só podem ser convocados um por vez. Dessa forma, quando um monstrinho de terceiro nível morre, podemos invocar um novo de mesmo grau.

São cerca de 50 espers disponíveis e eles vão sendo desbloqueados por meio de um sistema chamado Ring of Pacts. Basicamente, é uma espécie de roleta com vários slots e cada um pertence a um esper. Para fazer um pacto com um esper, é necessário usar uma Auracite — elas podem ser adquiridas ao concluir batalhas — e cada um possui um custo. Desbloquear um bichinho libera acesso aos adjacentes a ele, logo, para chegar aos mais poderosos, é necessário adquirir os que estão abaixo primeiro. Os monstrinhos também podem ser do elemento Fogo, Água, Trovão, Terra, Sagrado e não elemental, com um tendo vantagens sobre o outro.

O que determina a quantidade de espers que podem estar em batalha ao mesmo tempo é uma ferramenta chamada de afinidade. Cada esper tem um custo de afinidade e, conforme eles vão sendo conjurados, esses valores são somados até que não tenha mais pontos suficientes para invocar. Durante as batalhas podem ter portões de invocação inimigos e eles podem ser capturados. Cada portal conquistado acrescenta 10 pontos de afinidade ao total e para capturá-lo basta levar pelo menos um personagem até ele e esperar que uma barra seja preenchida.

O sistema de Quickenings de FF XII — ataques especiais que exigem que o jogador aperte alguns botões em sequência —  também retorna em Revenant Wings e novamente de forma simplificada. Cada personagem possui apenas um e eles são adquiridos após derrotar um determinado boss. Nessa entrada, para usar a habilidade é necessário preencher uma barra, semelhante aos limit breaks presentes em diversos jogos da série, e isso ocorre conforme o personagem recebe ou causa dano.

Quem jogou Final Fantasy Tactics A2 (DS) também vai se sentir familiarizado com Revenant Wings por causa do sistema de síntese. Semelhante ao que acontece no mencionado título, durante as batalhas é possível adquirir receitas e materiais necessários para criar armas. Quanto maior for o grau dos materiais, melhores serão os atributos do equipamento.

Divertido, mas também entediante

A trilha sonora de Revenant Wings é bem competente e funciona muito bem durante todo o jogo. Diversas faixas originais de FF XII retornam e algumas novas foram criadas. Hitoshi Sakimoto, que foi o compositor no título do PlayStation 2, retornou neste projeto. 

Quanto aos gráficos, os personagens, inimigos e esper são feitos de sprites em 2D, semelhantes aos de jogos como Final Fantasy Tactics Advance ou Tactics A2, e os cenários em modelos 3D. Não é feio, mas também não ficaria entre os jogos mais bonitos do Nintendo DS. O jogo ainda possui algumas cutscenes em CGI que foram bonitas na época, mas não envelheceram tão bem.

Apesar de ter muitas novidades e diversos sistemas divertidos, ao meu ver, essa entrada portátil é um pouco entediante e poderia ter se destacado mais. Depois de alguns capítulos, o título vai se tornando repetitivo e a baixa dificuldade acelera esse processo. Não é necessário muita estratégia para vencer as batalhas, pois selecionar todos os aliados e ir diretamente para cima dos inimigos é o suficiente para vencer a maioria das batalhas. O lançamento no Ocidente teve um aumento na dificuldade, mas não foi o suficiente para deixar o jogo verdadeiramente desafiador.

O início de um ótimo projeto

Revenant Wings foi o primeiro título de um projeto da Square chamado Ivalice Alliance. Em essência, esse empreendimento serviu para criar quatro jogos que também se passam em Ivalice: 
  • Final Fantasy XII: Revenant Wings
  • Final Fantasy Tactics A2: Grimoire of the Rift - Uma sequência de Final Fantasy Tactics Advance(GBA) para o Nintendo DS.
  • Final Fantasy Tactics: The War of the Lions - Um port com melhorias de Final Fantasy Tactics (PS1) para o PSP e posteriormente Android e iOS.
  • Final Fantasy XII International Zodiac Job System - Uma versão internacional com algumas melhorias de Final Fantasy XII para o PlayStation 2.
Apesar de pessoalmente acreditar que Revenant Wings poderia ter sido melhor, os dois últimos títulos listados acima são extraordinários e grandes acertos do projeto Ivalice Alliance. Mesmo que se tratem de “upgrades” de jogos já lançados anteriormente, as melhorias são suficientes para elevar o nível de títulos que já são originalmente muito bons.

No Japão foi lançado um pacote com uma edição especial de Revenant Wings que acompanhava um DS Lite de edição limitada. O portátil especial possui o título do jogo e alguns personagens estampados na parte de cima.

A despeito de todos os problemas apontados, Final Fantasy XII: Revenant Wings é um jogo divertido e vale a pena ser conferido. Ainda que as batalhas não sejam tão inspiradas, o sistema de desbloquear novos espers pode ser um bom atrativo para vencê-las. Finalmente, esse título funciona bem como uma primeira experiência e creio que deve ser visto mais como uma obra independente do que como uma continuação de Final Fantasy XII.

Revisão: Thais Santos
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