Análise: Sword Art Online Alicization Lycoris (Switch) aborda temas interessantes em um RPG competente

Essa nova entrada da série acerta muito em alguns pontos, principalmente no combate, mas peca demais no ritmo do primeiro capítulo.

em 15/10/2022


É muito difícil pensar em Isekai — gênero de light novels, mangás, animes e videogames em que uma pessoa é transportada para outro mundo, geralmente fantástico — e não se lembrar de Sword Art Online, um dos principais responsáveis pela popularidade atual do gênero. Devo admitir que apesar de ter gostado de alguns arcos, não sou um grande fã da série e acredito que ela segue o mau exemplo de obras que se recusam a terminar e continuam se arrastando sem muito o que oferecer.

Dito isso, Sword Art Online Alicization Lycoris, lançado originalmente em 2020 para PS4, Xbox One e PC, chegou ao Switch em setembro de 2022 e para minha surpresa, apesar de algumas falhas gritantes, é um RPG competente, divertido e eleva o nível dos jogos desta saga.

Um novo mundo para Kirito conhecer

Essa nova aventura inicia com Kirito despertando em uma floresta desconhecida. Tendo ciência de que esse não é o mundo real, ele decide investigar a região em busca de informações. Chegando próximo a uma cidade, ele conhece um simpático garoto chamado Eugeo, que tira algumas dúvidas e fornece informações sobre o mundo. Por algum motivo desconhecido, Kirito possui fragmentos de memórias em que na infância era amigo de Eugeo e de mais uma garota, chamada Alice. 

Nesse contexto, descobrimos que esse local se chama submundo e que ele é governado por um clero, chamado de Igreja do Axioma. Esse grupo criou leis rígidas chamadas de código de tabus e os cidadãos desse mundo as obedecem à risca. Também ficamos sabendo que Alice foi levada por soldados, há seis anos, após ter desobedecido uma lei.

Kirito deseja chegar em Centoria — uma espécie de capital — para descobrir uma forma de entrar em contato com o mundo exterior e entender o motivo de estar nesse universo. No entanto, sabe que precisará da ajuda de seu novo amigo, uma vez que não sabe nada sobre o local. Infelizmente, Eugeo não pode ir a lugar nenhum, pois ele possui o propósito de derrubar uma árvore gigante que se alimenta da energia da região. Após alguns acontecimentos, com a ajuda de Kirito, o rapaz consegue derrubar a grande árvore e se livrar de sua tarefa. Agarrado na esperança de reencontrar e salvar Alice, ele parte com o protagonista em uma jornada rumo à capital.

Por favor, me deixe jogar!

O primeiro capítulo de Sword Art Online Alicization Lycoris segue o enredo da terceira temporada do anime e esse é o primeiro problema que o jogo apresenta. A trama ser a mesma não atrapalha, mas a forma em que ela é contada é muito problemática. Essa divisão inicial é longa, levando cerca de dez horas para ser concluída, e muito limitada. Grande parte dos atributos positivos que Alicization possui não podem ser acessados durante esse ponto e ele funciona mais como uma espécie de tutorial, apresentando os personagens e o funcionamento desse mundo. A grande diferença dessa narrativa com a apresentada no anime é o fato do jogo não apresentar no início o que está acontecendo no mundo exterior e o que exatamente é esse local, como ocorre nos primeiros episódios da série animada.

A história é contada por longas cenas com diálogos, semelhantes a um visual novel. Isso também não é essencialmente um problema, mas algumas das conversas são enroladas demais e poderiam ser resumidas. Apesar disso, não consigo dizer que quem assistiu ao anime pode pular todas as cenas desse arco, pois ele conta com uma personagem nova e intrigante chamada Medina Orthinanos. Os momentos em que a garota aparece estão entre os mais interessantes e ela ganha mais destaque, tornando-se peça fundamental, a partir do segundo capítulo. Como ponto positivo, os personagens são dublados com as vozes do anime em japonês e o jogo inteiro é legendado em português.

Outro ponto que afeta negativamente esse tutorial é o sistema de saves. Apesar de o jogo possuir a opção de salvamento automático, eu sinceramente não sei dizer quais são os critérios e em quais momentos ele funciona. Em diversas ocasiões, ocorrem longas sequências de batalhas e cenas animadas, sem que o jogo salve automaticamente ou dê oportunidade do jogador passar por um totem — objetos espalhados pelo mapa que servem para salvar e fazer viagens rápidas — para salvar manualmente.

O poder no submundo

A despeito dos problemas apresentados, nesse arco existem muitos questionamentos interessantes. Em alguns momentos, vemos personagens em conflitos sobre o código de tabus e a legitimidade das leis. Há indagações sobre os limites das normas e se elas são absolutas ou se existem momentos e motivos que permitem o descumprimento. Também observamos o abuso de poder cometido por alguns privilegiados sobre os menos afortunados. Nesse contexto, o jogador tem a oportunidade de testemunhar que um local livre de crimes e com pessoas que obedecem estritamente à lei pode não ser tão perfeito quanto aparenta.


Sem entrar em spoiler, Medina Orthinanos pertence a uma família nobre, mas por algumas razões é tratada por outros nobres como alguém inferior e indigna. Descobrir a história da menina e acompanhar a sua luta para recuperar a honra da família é um dos pontos altos da trama. Existe também uma dupla de rapazes que pertencem aos níveis mais altos da nobreza e abusam desse poder de uma forma horrível e até mesmo nojenta, rendendo alguns momentos que dão muita raiva.

Um mundo com muitas coisas para fazer

O mundo de Sword Art Online Alicization Lycoris é grande, mas não chega a ser totalmente aberto, e funciona como uma mistura de Monster Hunter e Final Fantasy XII. Centoria atua como uma área central onde é possível interagir com outros personagens e ir em diversos tipos de lojas. Esse local é pacifico e a partir dele o jogador pode escolher se transportar para áreas mais abertas, como ocorre em MH ou no recente Pokémon Legends Arceus. Estando nesses locais maiores, podemos chegar em outros territórios, igualmente grandes, ao chegar ao final do mapa e atravessar uma linha azul, como ocorre em FF XII. 

Nesse universo, existem diversos tipos de locais diferentes, como florestas, lagos, cavernas e desertos, e muitos inimigos andando livremente, de várias formas, tamanhos e níveis diferentes. Deste modo, é possível esbarrar com seres muito mais poderosos que o seu personagem já no início do game. Ao andar pelo mapa, podemos coletar materiais como plantas e minérios que podem ser usados para forjar equipamentos e fazer comidas. O jogador também pode pescar, nadar, escalar em alguns pontos específicos, descansar em acampamentos, abrir baús e interagir com qualquer humano. Espalhados pelo vasto mapa, ainda existem monólitos que revelam a localização de alguns monstros especiais. Ao derrotar essas criaturas, um poderoso ser chamado de monstro divino aparece e derrotá-lo recompensa o jogador com uma arma lendária. Infelizmente, só é possível ser livre para explorar esse mundo após a conclusão do capítulo um.

Alguns NPCs oferecem missões secundárias com os mais variados objetivos, como entregar um item, falar com alguém ou derrotar uma horda de inimigos. Infelizmente, como ocorre em muitos jogos, a maioria das pessoas que caminham pelo mundo são genéricas e possuem uma ou duas linhas básicas de diálogos que se repetem infinitamente. Além de ganhar itens, concluir essas subquests fornecem pontos de reputação ao Kirito em algumas cidades. Com uma reputação alta, é possível conseguir descontos nos comércios do local, no entanto, esse sistema só fica disponível a partir do capítulo dois. Sobre os comércios, existem diversos tipos como lojas e forjas de armas e equipamentos, lojas de acessórios, comidas e roupas. 

Para ajudar com as tarefas, o jogador conta com uma linha formada por setas que aparece no chão sempre que aperta o botão A. Na maioria das missões, basta segui-la para chegar ao objetivo, mas existem algumas que dão menos informações e nos obrigam a explorar. A seta azul indica as missões principais, e a laranja, as secundárias. Apertando o direcional direito é aberto um minimapa bem prático que contém as principais localizações de pontos de interesse na região.

Ainda no âmbito das quests, temos algumas diárias com diversos tipos de pedidos, como usar 100 habilidades especiais ou caçar cinco inimigos poderosos que funcionam como chefes. Ao cumprir missões diárias, o jogador é recompensado com um item chamado bilhetes de cubo, que servem como uma moeda em uma espécie de Gacha. Nesse sistema, podemos ver quais itens são possíveis de adquirir, mas não podemos escolher. Basta selecionar quantos cubos deseja usar e torcer para que os objetos desejados sejam adquiridos. Entre os diversos itens possíveis, há equipamentos visuais, materiais de forja e gestos para utilizar o modo on-line.

Outra mecânica interessante que só é desbloqueada após o primeiro capítulo, é a possibilidade de aumentar a amizade com outros personagens jogáveis. Em alguns pontos específicos do mapa, o jogador pode entrar em um modo de conversa particular com um personagem e escolher entre alguns tipos de diálogos. Para quem jogou Fire Emblem: Three Houses, funciona de forma semelhante ao sistema de tomar chá. Ao obter um nível de intimidade mais alto com um personagem, novas opções de interação são desbloqueadas, como dar as mãos, segurar no colo ou convidar para dividir a cama com Kirito (pobre Asuna).

Um sistema de combate surpreendente

O sistema de combate de Alicization é o verdadeiro brilho do jogo. Infelizmente, usufruir de todos os elementos que ele oferece também só é possível após o longo tutorial. A jogabilidade segue o estilo hack and slash dos títulos anteriores, mas desta vez, não basta apenas ficar apertando o Y sem parar, é necessário pensar para se esquivar, defender e usar habilidades. 

O jogo possui um modo semiautomático nas configurações que deixa tudo mais fácil e aí, sim, é só andar e sair atacando de qualquer forma. No entanto, recomendo muito que jogue com esse modo desligado, principalmente para quem gosta de combates mais desafiadores. Além de batalhar com os monstrengos que vagam pelo mapa, em alguns momentos podemos duelar contra humanos. A batalha é semelhante, no entanto só usamos o protagonista e o combate é mais preciso, com o inimigo esquivando, defendendo e contra-atacando com frequência. Não chega a ser um combate extremamente punitivo e preciso como um Dark Souls, mas ainda é bem divertido, principalmente se comparado com jogos de anime e com outros dessa mesma saga.

Outra funcionalidade importante, desbloqueada após o capítulo inicial, é possibilidade de formar uma equipe com mais três personagens além do Kirito. Existe uma grande variedade de personagens e alguns rostos conhecidos dos jogos e temporadas anteriores também podem ser usados. Cada personagem possui equipamentos e habilidades próprias, além de ser possível ajustar a maneira que vão se comportar, pois eles podem ser mais focados em ataque, cura, defesa ou suporte. 

Para configurar esses personagens, existe uma espécie de árvore de talentos única e compartilhada. Ao aprender uma habilidade, é possível equipá-la em qualquer personagem e algumas delas possuem requisitos específicos para serem desbloqueadas, como usar um certa quantidade de curas ou derrotar um certo número de inimigos. Ainda sobre as habilidades, é possível interagir com algumas estátuas espalhadas pelo mapa que oferecem uma habilidade em troca da conclusão de um pedido, que geralmente são de eliminar monstros em algum local. Com respeito aos equipamentos, cada personagem pode usar uma arma, uma armadura e dois acessórios. Cada personagem possui níveis de proficiência diferentes com cada tipo de arma e entre as diversas opções, temos espadas, katanas, marretas e arcos.

Ao apertar o botão ZL é possível trocar o personagem que será controlado e, ao segurar o L, o jogador pode usar o direcional para escolher o comportamento que o aliado deve seguir —  se deve focar em atacar ou curar, por exemplo —  e confirmar apertando o analógico esquerdo. Para utilizar as habilidades do personagem que está sendo controlado, basta segurar o botão R e apertar o botão corresponde à habilidade desejada (X, A, B ou Y). Finalmente, Segurar o botão ZR abre uma roleta com diversas habilidades elementais que podem ser escolhidas com o uso do analógico esquerdo.

O grande problema com respeito aos combates fica com a câmera, principalmente com a mira. Ao ativar o Lock on apertando analógico direito, em muitas vezes a câmera fica extremamente bugada e confusa, não sendo possível visualizar direito o que está acontecendo. Isso ocorre muitas vezes contra monstros, mas em batalhas contra humanos ela acaba funcionando bem.

SAO Alicization Lycoris também possui um modo multiplayer que permite jogar on-line com mais três amigos, formando um grupo de quatro jogadores para realizar missões secundárias e caçar monstros. Quem jogou Dragon’s Dogma também vai se sentir familiarizado com um sistema em que é possível fornecer o seu personagem para ser usado como aliado por outras pessoas on-line e, quando isso ocorre, pode receber recompensas. Ainda é possível modificar totalmente o protagonista, mudando o nome, a aparência e até mesmo o sexo. Mais uma vez, essas funcionalidades também só estão disponíveis a partir do segundo arco.

Apesar do problemas, Sword Art Online Alicization Lycoris possui um saldo positivo

Quanto ao desempenho do jogo, ocorrem quedas perceptíveis de quadros durante algumas cenas animadas. O jogo também sofre com excesso de carregamentos que ocorrem sempre que se troca de área ou entre cenas. Durante a exploração pelo mundo, algumas coisas também podem demorar um pouco para carregar, principalmente NPCs. Como exemplo, houve alguns momentos em que eu conseguia ver o ícone de missão secundária, mas o NPC que deveria estar abaixo ainda não havia carregado. Surpreendentemente, não tive problemas durante os combates, mesmo quando havia vários inimigos em conjunto.


Conforme exposto, Alicization é um RPG grande e ambicioso que se inspira em elementos de diversos outros títulos. O ritmo extremamente problemático do primeiro capítulo limita quem está jogando e pode fazer com que alguns desistam antes de chegarem ao que o jogo tem de melhor a oferecer. Para aqueles que tiverem paciência e suportarem a provação do tutorial, Sword Art Online Alicization Lycoris entrega um mundo extenso com uma trama que aborda questões intrigantes e um sistema de batalhas grandioso que fornece muitas opções ao jogador. Finalmente, apesar de os pontos negativos serem irritantes, o saldo final é positivo e faz o título ser um acerto da série e de jogos baseados em anime no geral.

Prós

  • Um mundo extenso com diversas coisas para fazer;
  • Combate divertido com muitas funcionalidades;
  • Trama interessante com questões importantes;
  • Legendado em português;
  • Diversos personagens disponíveis para usar.

Contras

  • Problemas de câmera, principalmente com a mira;
  • Muitos loadings;
  • O capítulo inicial é limitado e cansativo;
  • Salvamento automático confuso;
  • Demora para carregar alguns elementos do mapa.
Sword Art Online Alicization Lycoris — PC/PS4/Xbox One/Switch — Nota 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.