Análise: Jack Move (Switch) se esforça, mas não evita a superficialidade e o desequilíbrio

Este JRPG de batalhas por turno erra o ritmo de gameplay no começo, meio e fim.

em 06/10/2022


Algo que eu, no humilde papel de jogador, prezo bastante em videogames é um balanceamento correto entre todos os elementos de um jogo, como quantidade de conteúdo, duração, introdução de mecânicas em momentos apropriados e, claro, a qualidade geral do produto.


Desenvolvido pela britânica So Romantic e publicado pela russa HypeTrain Digital, Jack Move se sai não muito bem em praticamente todos esses aspectos. Apesar de uma bonita estética cyberpunk em pixel art e recursos bacanas para amenizar a dificuldade e facilitar a exploração, este JRPG futurista se divide entre entregar pouco e entregar errado.

No futuro, os pais ainda saem pra comprar cigarro e nunca mais voltam

Noa Solares é uma jovem hacker moradora da Cidade da Luz, no longínquo ano de 2120. Após realizar um serviço clandestino com seu melhor amigo e colega de trabalho Ryder, ela recebe uma misteriosa ligação de seu pai Abner, com quem não tinha qualquer contato há anos.




Inicialmente tomada por rancor, Noa ignora o pedido de ajuda de Abner, que diz estar sendo perseguido pela megacorporação Monomind. Porém, os desdobramentos dessa ligação vão levar a protagonista por uma tradicional jornada cheia de perigos e tipos estranhos no caminho.

Mantendo o tom nada otimista do começo da análise, confesso que até cheguei a ficar levemente animado com os primeiros minutos de gameplay de Jack Move, apesar da trama nada original, mas essa animação não demorou a se dissipar. O que começa como uma colorida aventura, com diálogos bem adaptados para o português brasileiro e uma trilha sonora que curiosamente me lembrou bastante de Streets of Rage, rapidamente se mostra uma obra que pouco ousa — pra não dizer que não ousa nada.

Em pleno 2022, era da tecnologia, vem um game tão limitado

Não tem muito segredo: Jack Move é um RPG padrão no mais puro sentido da palavra. Batalhas por turno, sistema de experiência e níveis, habilidades, ataque básico, equipamentos, itens consumíveis, poderosos golpes especiais liberados via preenchimento de uma barra… está tudo aqui, sem tirar nem pôr, com uma caracterização de termos dos vocabulários de tecnologia e informática.




O problema é que ele é básico até demais, se limitando aos níveis mais rasos de complexidade em todos esses pontos. Ao longo de toda a curtíssima trajetória de Noa, o jogo não introduz nenhuma mecânica nova além do que aprendemos durante os tutoriais. Ou seja: ficamos limitados aos poucos tipos de ataques e “magias” do começo ao fim da jogatina.

As habilidades, chamadas de softwares, consomem dados (MP) e se dividem em quatro categorias principais, que se aplicam também aos inimigos: ciberware, eletroware, aquaware e físico. As três primeiras formam entre si um sistema de pedra, papel e tesoura, com ciber sendo mais efetivo contra eletro, que supera aqua, que dá a volta e causa mais estrago em ciber. Existem ainda outros tipos de software, como os de impulso, regeneração e diversos. Alguns, como os de cura, podem ser usados fora das batalhas.

Fazendo um pouco o advogado do diabo, achei bacana que os softwares usados durante as lutas têm barras de experiência individuais, ficando mais fortes à medida que sobem de nível. É um detalhe que incentiva a variedade de uso dos golpes de acordo com o tipo de cada inimigo.




Os equipamentos, denominados hardwares, amplificam parâmetros de Noa e trazem efeitos diversos, como sempre iniciar o combate ou aumentar a quantidade de blocos RAM, como são chamados os espaços para instalar os softwares.

Por fim, temos os Jack Moves, poderosos golpes que atingem todos os inimigos e funcionam sob uma fraca mecânica de ritmo: basta acertar na hora certa a sequência de três direcionais que aparecem para causar dano com força proporcional à precisão dos acertos.

Escolhendo o nível de fadiga? Onde eu compro um desses na vida real?

Apesar de todas essas limitações, Jack Move é satisfatoriamente acessível a jogadores de gostos e níveis de proficiência variados. O jogo disponibiliza algumas ferramentas que permitem uma personalização bem-vinda à exploração e ao combate.

Ao andar pelos cenários mais perigosos da Cidade da Luz, um medidor de ameaça é exibido na tela: quanto maior for o nível do sinal, maior é a probabilidade de uma luta começar. Tendo em mente os jogadores que estão mais interessados na história ou querem vasculhar uma área em paz, a So Romantic implementou um regulador de frequência de aparição de inimigos, que vai da eliminação total da possibilidade de confrontos ao nível mais extremo.




Os menos dispostos a entrar em vários embates e fazer aquele grinding de lei também foram contemplados pela opção de vitória instantânea. Basta ligá-la no menu de opções e escolhê-la quando não estiver a fim de sujar as mãos. Também podemos habilitar a realização perfeita dos Jack Moves, eliminando a necessidade de acertar os comandos para causar o dano máximo.

É claro que nenhuma dessas opções resolve os problemas do jogo, são apenas recursos complementares para quem estiver sem paciência em determinados momentos da gameplay. Continuamos reféns de uma campanha minúscula e sem muito brilho, que não sabe dosar o ritmo de progressão da história e de introdução de novidades, e pouco faz para ter algum destaque no gênero dos RPGs.

Eu até poderia reiterar a existência do português brasileiro como um ponto positivo, mas até nesse aspecto há falhas, como erros de concordância e ortografia, isso quando não surgem falas sem tradução, mantidas em inglês.

Um dispositivo que pouco acrescenta à sua vida




Jack Move começa encantando com uma bela apresentação visual e uma trilha sonora empolgante, mas a magia tecnológica rapidamente se desfaz. Quando finalmente nos damos conta, o jogo acabou e restou apenas a sensação de que as horas gastas não foram bem aproveitadas.

Prós:

  • Belo visual cyberpunk em pixel art;
  • Alguns termos e falas foram bem localizados para o português;
  • A trilha sonora tem algumas faixas animadoras, que trazem um pouco de nostalgia;
  • Ferramentas que permitem uma personalização bem-vinda à exploração e ao combate.

Contras:

  • Extremamente básico de modo geral, se limitando aos níveis mais rasos de complexidade em seus aspectos-chave de RPG;
  • Uma campanha de curtíssima duração;
  • O jogo não introduz nenhuma mecânica nova além do que aprendemos durante os tutoriais;
  • As opções de personalização não resolvem os problemas do jogo;
  • Tradução desleixada para o nosso idioma, com erros de português e até falas sem tradução, mantidas no inglês.
Jack Move - Switch/PC/PS4/XBO/XSX - Nota: 5.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela HypeTrain Digital
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Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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