Análise: Mr. Prepper (Switch), infelizmente, frustra muito mais do que diverte

O título da Ultimate Games, apesar dos acertos, sofre com uma péssima adaptação nos comandos.

em 22/10/2022


Lançado originalmente em 2020 para PC e posteriormente para PS4, PS5 e Xbox One, Mr. Prepper chegou ao Nintendo Switch em 3 de junho de 2022. Apesar de eu particularmente gostar muito de jogos de construção, gerenciamento e sobrevivência, fiquei bastante desapontado com o título e acredito que ele apresenta muitos problemas que o impedem de se destacar positivamente no híbrido da Nintendo.

Esse é um pequeno passo para o homem…

O senhor Prepper é um homem semelhante àquele tio ou vizinho que acredita em teoria da conspiração, planos secretos do governo e que uma catástrofe acontecerá em breve. Ocorre que, nesse mundo, o governo é realmente péssimo e restringiu a liberdade das pessoas. Os moradores são impedidos de saírem da cidade e, para piorar, há rumores de que os governantes estão controlando o comportamento das pessoas com alguma espécie de produto. Neste contexto, o nosso protagonista decide que a melhor forma de sobreviver é fugindo.

O grande problema é: como conseguir escapar se as autoridades estão vigiando todos os passos dos cidadãos? O criativo Prepper responde a essa pergunta com a brilhante e inusitada ideia de que a melhor forma é criar um abrigo subterrâneo, usá-lo para construir um foguete e bater as asas com o veículo.



Use tudo a seu favor e não seja descoberto!

Mr. Prepper é basicamente um simulador de sobrevivência com gerenciamento de base e recursos. A casa do protagonista é a área principal e construímos o bunker abaixo dela. Prepper possui uma barra de sono e uma de fome que o fazem desmaiar quando chegam a zero. Se isso acontecer várias vezes, o personagem pode morrer, então, para satisfazer essas necessidades, o jogador deve, obviamente, dormir e comer. 

Sempre que usamos a função de dormir — disponível somente à noite —, um dia se passa no calendário e o jogo salva automaticamente. Essa é a única forma de guardar o progresso e confesso que não me agradou muito, pois, ao realizar alguma ação importante pela manhã, somos obrigados a continuar jogando até o próximo dia para não perder o que havia feito.

Em alguns dias do mês, um agente vem à nossa casa para verificar se há alguma coisa suspeita e, se houver, ele nos leva para cadeia e devemos reiniciar o save. Existem alguns cuidados que o jogador deve tomar para não levantar suspeitas e podemos verificar em um calendário quando o investigador virá. Para exemplificar, temos de evitar que muitos itens da casa sumam de uma vez, lembrar de cobrir o acesso ao abrigo com um tapete, esconder o quadro que contém os planos de fuga e, principalmente, estar em casa quando o investigador chegar. 




Para concretizar os planos de fuga, o jogador pode desmontar quase todos os itens da casa e convertê-los em matéria-prima para criação de utensílios: desmontando copos ou pratos, conseguimos vidro; com móveis, madeira, e com eletrodomésticos, metal e plástico. As visitas do agente são o que aumentam a dificuldade do jogo e obrigam o jogador a explorar outras áreas, pois não podemos sair destruindo tudo da casa e precisamos encontrar outras formas de conseguir os materiais.

Inicialmente, além da casa, o jogador tem acesso a uma floresta. Ajudando algumas pessoas que encontramos durante o jogo, conseguimos desbloquear novos locais para visitar, como minas, desertos e comércios. Ao satisfazer os pedidos desses NPCs e explorar as novas regiões, o jogador pode encontrar e conseguir mais itens importantes — recursos, alimentos e armas — que vão ajudar na construção e na própria sobrevivência. 

A exploração é divertida no início, mas acaba ficando repetitiva bem cedo. Usando a floresta inicial como exemplo, o jogador inicia em um nível e pode encontrar algumas frutas e madeiras pelo caminho. Para chegar ao segundo nível, é necessário consertar um teleférico usando uma alavanca — que pode ser encontrada na própria floresta — e, chegando a ele, mais itens e alguns inimigos podem aparecer. Para avançar novamente, o processo de conserto deve ser repetido. Os outros locais de exploração funcionam da mesma forma, mas os itens e inimigos mudam, bem como os elementos que devem ser consertados para avançar na campanha.

Além da exploração e realização de missões, o jogador pode conseguir comida criando plantações dentro do bunker. Para conseguir isso, é necessário regar e fornecer luz, mas isso fica um pouco difícil de gerenciar nos momentos iniciais do jogo, pois o uso de ambos os recursos é bem limitado.

A criação do foguete é feita por etapas e, para terminar cada parte, são necessários diversos itens diferentes. Isso acaba fazendo a progressão do jogo ser um pouco lenta a meu ver, pois, caso não haja uma administração perfeita dos recursos, muitos dias passarão sem que o jogador progrida.

O modo de construção e criação é o ponto forte do jogo e dá muitas possibilidades a quem está jogando, pois, para conseguir terminar a construção do veículo, é preciso expandir o bunker e construir muitas coisas nele. Existem diversas máquinas que ajudarão durante o processo, como gerador de energia, mesa de trabalho e forja de minérios, e, à medida que o jogo avança, mais utensílios ficam disponíveis. Para os que desejam apenas utilizar todos os recursos da construção, sem precisar se esforçar para desbloqueá-los, o jogo possui um modo criativo, no qual todas as ferramentas e itens estão disponíveis e de forma ilimitada.
 


Um jogo que não deveria ter saído do PC

Acredito que Mr. Prepper foi totalmente pensado e desenvolvido para jogar com um mouse e acabou sendo portado para o Switch sem muitos ajustes. Controlamos o cursor da mira com o analógico esquerdo e com o botão A confirmamos algumas ações. Dessa forma, é possível escolher para onde ir e interagir com objetos e pessoas, semelhante a um point-and-click. Ao interagir com objetos apertando o ZL, é aberto um menu que conta com a função de recolher o item e mais algumas opções, como cochilar e dormir em uma cama ou cozinhar no fogão. Os itens são separados em algumas abas como consumíveis, ferramentas e materiais, e os botões L e R servem para alternar entre essas opções.

O título ainda possui um sistema de combate (terrível). Diferentemente do que ocorre em muitos jogos de gerenciamento, as lutas não ocorrem de forma automática. Ao invés disso, temos que colocar o cursor em cima do inimigo e apertar o botão A. Contudo, o cursor é lento e muitos dos oponentes são rápidos e podem aparecer em conjunto. Além disso, o comando de bater é o mesmo de andar; dessa forma, se clicar fora do inimigo, o homem sairá andando e sofrendo dano ao invés de atacar os oponentes.

Na parte inferior da tela, temos outro menu que permite visualizar o inventário, equipar armas no personagem e construir mais áreas no abrigo. Para alternar entre essas opções, usamos os botões direcionais esquerdo e direito e selecionamos com o X. Como deu para notar, são muitos menus e botões para usar e levou um bom tempo até que eu tivesse decorado todos os comandos. Algumas interações também podem ser feitas através da tela de toque.

É possível visualizar esse jogo funcionando perfeitamente com um mouse, pois, dessa forma, poucos botões fariam a maioria das funções e provavelmente seria muito mais prático controlar o cursor. A sensibilidade da mira nesse jogo, no analógico do Switch, é terrível e não funciona direito. Não há muitos problemas quando o elemento que deseja selecionar é grande, no entanto, torna-se um verdadeiro pesadelo quando ele é pequeno. Conseguir deixar a mira em cima de objetos como um copo ou prato é muito difícil, irritante e frustrante.

Infelizmente, os pontos positivos de Mr. Prepper são ofuscados pelos problemas

Além dos problemas apresentados, os gráficos do jogo não ajudam muito. A jogabilidade ocorre em um cenário 2D, mas todos os elementos, como pessoas, animais e objetos, são em 3D. Apesar de algumas coisas terem um bom visual, como a casa e alguns móveis, outras deixam muito a desejar, principalmente os animais. Em alguns momentos, tive a sensação de que estava jogando um título muito mais antigo do que é de fato.

Quanto à trilha sonora, as músicas e sons não comprometem e cumprem o seu papel, no entanto, também não se destacam. O jogo não possui dublagem (além da presente na introdução da cena inicial), mas está, acertadamente, todo legendado em português.

Conforme exposto, acredito que Mr. Prepper possa ser um jogo divertido no PC, mas é muito frustrante no Nintendo Switch. Apesar de o título possuir alguns elementos de construção e gerenciamento bem interessantes, os pontos positivos acabam sendo ofuscados pelo excesso de menus, gráficos pouco inspirados e um cursor terrível de se controlar.

Prós:

  • Muitos itens e ferramentas para criar e usar;
  • Alguns diálogos bem-humorados;
  • Compatível com a tela sensível ao toque do Switch;
  • Legendado em português.

Contras:

  • Salvamento automático limitado;
  • Os gráficos deixam a desejar;
  • Cursor terrível de controlar;
  • Comandos não foram bem adaptados no Switch.
Mr. Prepper — PC/PS4/PS5/Xbox One/Switch — Nota 5.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ultimate Games
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