Porém, apesar dos elogios de crítica e público e os recentes esforços de localização para o Ocidente, um arco em especial, chamado de Crossbell, ainda permanecia restrito ao Japão. Utilizo o último verbo no passado mesmo, pois, com a chegada de The Legend of Heroes: Trails from Zero (Multi), esse felizmente não é mais o caso. Mas será que a espera de anos valeu a pena? Confira a seguir em nossa análise!
Esquadrão especial em missão
The Legend of Heroes: Trails from Zero conta a história de Lloyd Bannings, um destemido jovem que perdeu seus pais em um acidente quando tinha somente três anos de idade. Depois dessa tragédia, Lloyd foi morar com seu irmão mais velho, Guy Bannings, um investigador do departamento de polícia de Crossbell.
Após a morte dos patriarcas, Guy logo tornou-se uma referência importante para Lloyd, o que fez com que a sua misteriosa e repentina morte durante uma investigação fosse mais um problema para o caçula, que teve que lidar desde cedo com a perda inesperada de suas pessoas mais próximas e ir morar com seu tio em outra cidade.
Mas, anos depois, preparado e influenciado pelos passos de seu falecido irmão, Lloyd retorna à cidade de Crossbell para trabalhar no departamento de polícia local. O jovem então passa a integrar uma subdivisão especial de investigação recém-estabelecida chamada de Special Support Section, ou SSS.
Dentro da SSS, Lloyd conhece os jovens Elie MacDowell, Tio Plato e Randy Orlando. Sem entrar no mérito de spoilers, juntos, os quatro investigadores logo se verão imersos em situações que revelarão a existência de esquemas malignos que ameaçam Crossbell e o mundo (e podem explicar o falecimento de Guy). O que você precisa saber é que, aos poucos e de forma sutil, vai se desenhando mais um épico JRPG com o potencial de manter fãs do gênero presos ao Switch por longos períodos.
Um clássico em todos os sentidos
A maior parte de Trails from Zero se passa em Crossbell, com outras localidades (e a viagem rápida para cada uma delas) se tornando disponíveis conforme o jogador progride na história. Sendo a SSS uma espécie de força-tarefa a serviço da polícia, durante as missões você se perceberá frequentemente ajudando pessoas e coibindo ameaças enquanto tenta melhorar a reputação da organização junto à população.
Aqui pode haver problemas para os jogadores que gostam de completar todos os aspectos de um jogo, pois algumas missões opcionais possuem limite de tempo (estipulado sob a definição de prazo curto, médio, longo) enquanto outras dependem da exploração por conta própria para serem iniciadas. Na prática, isso significa que será comum você perder cenas ou interações caso não fale com todos os NPCs. Particularmente, é algo que não me afeta muito (especialmente tendo em vista que há a opção de New Game Plus), mas é bom deixar registrado o aviso.
Em combate, Trails from Zero segue a fórmula clássica de tantos RPGs japoneses, com um sistema de turnos e movimentação em grid. Durante a vez de cada personagem, é possível usar magias, chamadas de Arts, e habilidades, chamadas de Crafts — como cada ação possui um custo e um dano particulares, é importante planejar as investidas para sair vitorioso.
Os protagonistas também podem ser equipados com Quartz, um recurso capaz de prover Arts especiais ou elementais, e utilizar um movimento único, chamado de S-Craft, quando acumularem os Craft Points necessários. Vencer confrontos concede experiência e é possível personalizar sua equipe com equipamentos e armas para ganhar uma vantagem considerável nos confrontos.
Com tantos recursos disponíveis, é importante ressaltar a presença de quatro níveis de dificuldade (Easy, Normal, Hard e Nightmare), que permitem ao jogador adequar a jornada pelo título às suas expectativas de desafio. Junte a isso o fato de que não há encontros aleatórios e eu diria que Trails from Zero é uma excelente introdução não somente à franquia da Falcom, mas aos RPGs japoneses em geral.
Embora (ainda) não seja tão reverenciada por estas bandas como sagas como Final Fantasy e Tales of, a série Trails merece ser experimentada por todos os jogadores que apreciam o gênero. Da sua trilha sonora memorável à narrativa que se esparrama por diversos títulos individuais, há algo realmente especial aqui, o que torna a chegada de Trails from Zero (e sua sequência) ao Ocidente um momento digno de comemoração.
Adaptação especial
Sendo The Legend of Heroes: Trails from Zero um jogo lançado originalmente em 2010 para PSP, seria conveniente simplesmente adaptá-lo para as plataformas atuais da forma mais crua e rápida possível, somente para atender aos pedidos dos fãs mais chatos e posteriormente seguir para o próximo projeto.
Felizmente, não foi o caso aqui: ao contrário da versão de PlayStation 4, que foi desenvolvida pela Falcom, tanto a versão de Switch quanto a de PC foram conduzidas pela PH3, empresa fundada por Peter "Durante" Thoman, desenvolvedor que ganhou fama com mods praticamente essenciais no PC, como o DSfix, para o primeiro lançamento de Dark Souls (Multi).
Com o trabalho de Durante e sua equipe, o que temos aqui neste lançamento é praticamente uma remasterização: elementos visuais diversos foram melhorados, a draw distance foi ampliada e o pop-in foi eliminado. Além disso, toda a apresentação é valorizada com a renderização em resoluções nativas no Switch — 1080p na TV e 720p no modo portátil — e emprego de anti-aliasing.
Francamente falando, o resultado é um espetáculo visual que conserva o apaixonante aspecto de RPG retrô que todos amamos e vem acompanhado de diversas melhorias de qualidade de vida, como um log de conversações passadas e possibilidade de aumentar a velocidade das batalhas e movimentação em até seis vezes. De fato, este é um lançamento a ser celebrado pelos fãs do gênero que possuam um Switch.
Aliás, por sua longa duração — estamos falando aqui de uma jornada cujo final só é acessível a partir de 30, 35 horas em média —, o caráter híbrido do console da Big N reforça esta como a melhor versão disponível para um console. Como em outros RPGs, é muito bom poder jogar tanto em modo portátil quanto na TV sem perda de qualidade nenhuma. Parabéns aos envolvidos.
A única menção negativa aqui fica a respeito da ausência de suporte a português brasileiro. Fica a esperança de que, em um futuro não tão distante assim, consigamos jogar as aventuras desta apaixonante saga em nosso idioma nativo. A comunidade brasileira certamente agradeceria.
A lenda dos heróis
The Legend of Heroes: Trails from Zero é um ótimo JRPG e uma perfeita porta de entrada para a franquia da Falcom, que a cada ano renova a sua ambição de possuir a maior e melhor história do gênero. A sua chegada ao Ocidente, ainda que tardia, mostra que certas coisas valem a pena esperar; e a boa adaptação ao Switch faz desta uma aventura praticamente perfeita no dispositivo híbrido da Nintendo. Agora, que venha a sequência no ano que vem.
Prós
- Elenco carismático;
- Sistema de combate divertido;
- Adições de qualidade de vida como a velocidade selecionável de batalhas e movimento melhoram a experiência;
- Caráter híbrido do Switch e adaptação competente fazem desta a melhor versão disponível para os consoles;
- Vários níveis de dificuldade garantem que os jogadores enfrentarão uma jornada adequada às suas expectativas de desafio;
- Bom ponto de introdução à franquia The Legend of Heroes: Trails.
Contras
- Pode demorar um pouco a engrenar;
- Missões podem tornar-se repetitivas;
- Sem suporte a português brasileiro.
The Legend of Heroes: Trails from Zero — PC/PS4/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America