Após fazer as nossas listas de RPGs do NES, SNES, Mega Drive e Nintendo 64 que deveriam ser adicionados ao Nintendo Switch Online, ficamos pensando em vários cenários hipotéticos. Ao pegar qualquer um dos outros sistemas da Nintendo, podemos encontrar uma lista grande de RPGs notáveis que seriam muito bem vindos no NSO. De todos eles, optamos por pensar primeiro no que o Game Boy Advance teria a oferecer para o serviço da Nintendo.
Nesse sentido, buscamos identificar títulos de RPG de alta qualidade e/ou importância para a história dos RPGs que poderiam ser adicionados ao serviço online da Nintendo. Com isso, jogos que atualmente só podem ser adquiridos por um preço elevado no mercado de usados ou através do Virtual Console do Wii U poderiam se tornar mais acessíveis para a comunidade de fãs do gênero.
Nesta lista, eu (Vivi) e meu amigo Ivanir apresentamos jogos fundamentais a serem contemplados em uma futura biblioteca de GBA para o serviço da Nintendo. A estrutura da matéria segue aproximadamente as mesmas convenções de nossa lista de jogos raros e notáveis de 3DS, mas com uma pequena mudança nos critérios.
Primeiramente, decidimos levar em consideração a média do Metacritic como forma de selecionar os jogos de melhor recepção crítica. Além disso, conferimos uma lista extensa de RPGs do GBA em busca de outros games notáveis que poderiam estar abaixo da nota de corte. Assim, evitamos que jogos com desenvolvedores muito reconhecidos e/ou títulos influentes para a posteridade ficassem de fora.
Por fim, foi importante avaliar a importância da inclusão desses RPGs no NSO levando em consideração a sua acessibilidade. Alguns títulos já possuem remakes, remasterizações ou ports em sistemas atuais ou recentes (7ª e 8ª gerações) e a sua adição seria redundante. Quando comparados a jogos que ficaram presos no GBA ou que somente marcaram presença no Virtual Console do Wii, Wii U ou 3DS, a sua adição seria de menor valor para alcançar a comunidade de fãs de RPGs, e por isso jogos como Final Fantasy VI Advance e Pokémon Ruby/Sapphire/Emerald não foram contemplados nesta lista.
Considerando os critérios acima, esta matéria está dividida em duas partes: a primeira contempla os títulos notáveis com nota superior a 84* no Metacritic; a segunda, os RPGs que, embora não necessariamente notáveis por nossos critérios, ainda possuem análises consideradas “geralmente favoráveis” (75/100 ou superior) no Metacritic.
* Apesar do Metacritic considerar que a aclamação universal em jogos se aplica a títulos com nota acima de 90, optamos pelo valor do Open Critic, que é um pouco menor e mais abrangente.
Parte 1: RPGs notáveis e pouco acessíveis que deveriam estar no Nintendo Switch Online
Golden Sun + Golden Sun: The Lost Age
Desenvolvidos pela Camelot, sob a direção de Shugo Takahashi, Golden Sun e sua sequência Golden Sun: The Lost Age foram publicados pela Nintendo e se tornaram dois dos mais populares RPGs de GBA, com vendas superiores a um milhão de unidades (no Ocidente e no Japão). Além disso, esses títulos também foram dois dos mais aclamados da plataforma, com 89~91/100 (GR/MC) e 86~87/100 (MC/GR).
Embora uma nova IP de RPG, o projeto de Golden Sun estava sob os ombros de gigantes. Os principais desenvolvedores vieram da clássica série de TRPG Shining Force, os quais elaboraram uma longa trama para o jogo que deveria ter saído para Nintendo 64, mas, como a vida do console chegava ao fim, precisou ser adaptado para GBA e dividida em uma duologia a fim de caber em seus cartuchos.
O jogo foi muito elogiado por seus gráficos, sendo considerado um dos mais bonitos do GBA. Também foi bem recebida sua história, que, com um tom carismático, é protagonizada por alguns adolescentes com poderes mágicos que precisam proteger o mundo do poder científico da alquimia. No decorrer da trama, aprendemos a razão dessa arte ter sido selada no passado e o porquê de lutar para que assim permaneça.
Ao mesmo tempo, o jogo trouxe um gameplay criativo em vários aspectos. O principal deles diz respeito ao Djinn System. Há 28 criaturas chamadas Djinns, de elementos diferentes, que podem se juntar (voluntariamente ou não) ao jogador. Essas unidades têm a possibilidade de ser acopladas aos personagens jogáveis, alterando classe e atributos e permitindo poderes e aptidões diferentes em combate, além de habilidades próprias de cada Djinn.
Tactics Ogre: The Knight of Lodis
Desenvolvido pela Quest Corporation, sob a direção de Yuichi Murasawa — diretor da subsérie Final Fantasy Tactics Advance (FFTA) —, Tactics Ogre: The Knight of Lodis foi publicado no Japão pela Nintendo (no Japão) e no Ocidente pela Atlus USA. Este foi o último jogo desenvolvido pela Quest antes de sua aquisição pela Square Enix. Mas, diferente de Tactics Ogre (TO), até hoje nunca recebeu por parte dessa empresa algum porte, remasterização ou remake para uma plataforma posterior.
Considerando que se trata de um TRPG, sendo mais nichado dentro do gênero RPG, The Knight of Lodis (TKoL) teve bons resultados em seu lançamento. Em 2001, ficou entre os 40 mais vendidos do ano. Além disso, teve uma ótima recepção crítica ocidental de 83/100 (GR) e 88/100 (MC). O jogo foi especialmente elogiado pelo gameplay desafiador e por sua complexa narrativa.
O jogo oferece um sistema tático com elementos de RPG, tudo se baseia em campo com topologia e sistema de classe. O jogador começa apenas com seis unidades. As classes dessas unidades são determinadas por perguntas que o jogador responde no início do jogo. Mas o exército pode crescer para abranger até trinta e duas unidades.
Cada personagem é único, sendo determinado por várias coisas, tais como status de força, inteligência e agilidade; alinhamento (caótico ou leal); e elemento: fogo, água, terra, ar, virtude e maldição (esses dois últimos apenas para classes especiais). As unidades são divididas em raças (humanos, semi-humanos, dragões, bestas, mortos-vivos, seres transcendentais e habitantes do submundo), e também podem ganhar emblemas com efeitos diversos, certificados esses concedidos após realizar um feito específico ou atingir um determinado ponto de verificação.
Fire Emblem + Fire Emblem: The Sacred Stones
Sempre desenvolvida pela Intelligent Systems e publicada pela Nintendo, a série Fire Emblem praticamente criou o que hoje conhecemos como TRPG em seu primeiro título, em 1990. A fórmula foi criada e aprimorada por Shouzou Kaga (diretor e escritor) durante 10 anos, mas, para a nossa infelicidade, seus jogos nunca chegaram ao Ocidente. O primeiro dessa série por aqui chegou em 2002, foi Fire Emblem: The Blazing Blade, ou apenas Fire Emblem.
Tanto esse título quanto sua sequência, Fire Emblem: The Sacred Stones, de 2004, foram os primeiros da série fora de consoles de mesa. Seus lançamentos foram fundamentais para a inserção da franquia no Ocidente e para a tendência de TRPGs em portáteis desde então. Ambos tiveram boas recepções da crítica ocidental (88/100 MC e 85/100 MC), e venderam razoavelmente, nas proporções do Tactics Ogre de GBA.
Embora com equipes bastante diferentes, tanto entre os dois títulos entre si quanto em relação aos antecessores da série, ambos os Fire Emblem de GBA buscaram preservar o legado da série, com batalhas por turno, campos de batalha planos, permadeath, Weapons Triangle System — o sistema de fraquezas de armas que lembra pedra-papel-tesoura —, entre outras coisas.
Por outro lado, também tivemos novidades. Os desenvolvedores simplificaram o level design, adicionaram multiplayer (Link Arena), um novo estilo artístico, maior comunicação entre os personagens (Support Conversations) e permitiram opções de evolução de classe não-linear. Diferente dos títulos anteriores, em The Sacred Stones — e até hoje na série — é possível optar, por exemplo, entre evoluir um Cavaleiro para um Paladino ou um Grande Cavaleiro.
Final Fantasy Tactics Advance
Desenvolvido pela Square Enix, sob a direção de Yuichi Murasawa — mesmo diretor de Tactics Ogre: The Knight of Lodis —, Final Fantasy Tactics Advance (FFTA) foi publicado no Japão pela própria empresa e no Ocidente pela Nintendo. Este foi o primeiro jogo de parceria entre as duas empresas para o GBA e o primeiro desenvolvido com o time da antiga Quest, que passou a integrar a Divisão 4 da Square Enix.
FFTA teve os melhores resultados em TRPG, vendendo mais de um milhão e meio de unidades no primeiro ano (Japão/Ocidente). Além disso, teve uma excelente recepção crítica de 88/100 (GR) e 87/100 (MC). O jogo foi especialmente elogiado por sua pixel art carismática e colorida, bem como por entregar um gameplay acessível e equilibrado entre Final Fantasy Tactics (FFT) e TO.
Enquanto spin-off, FFTA é para a série FFT o que TKoL é para TO; em ambos os casos com o mesmo diretor no lugar do criador dessas séries, Yasumi Matsuno (embora esteja aqui como produtor). É interessante notar como o projeto de FFTA unificou o estilo das equipes de Ivalice e de Ogre em mecânicas, texto, arte e músicas, mas também contou com um character design único de Ryoma Itō para dar personalidade própria a essa subsérie.
Também ambientado no mundo de Ivalice (tal como FFT, FFXII e Vagrant Story), FFTA traz as mesmas raças lá conhecidas (Hume, Moogle, Bangaa, Vieira e Nu Mou), porém se passa no futuro em relação a todos seus títulos precedentes. Em gameplay, a maior novidade é o Laws System, que estabelece leis para proibir uso de certas armas, itens, feitiços etc. que, se descumpridas, podem acarretar punições, inclusive prisão.
Parte 2: Outros jogos igualmente pouco acessíveis e com média de recepção crítica “geralmente favorável” (75+/100)
Super Robot Taisen Original Generation 2
Antes de ser adquirida pela Sega, a Atlus foi responsável pela tradução de vários títulos improváveis e curiosos ao longo dos anos. O GBA em particular conta com várias obras que apenas ela ousaria pegar, incluindo as duas edições da franquia Super Robot Taisen/Wars que contavam apenas com robôs originais da Banpresto.
Apesar do primeiro jogo ter ficado abaixo do critério do Metacritic que selecionamos, o segundo se encaixa perfeitamente na nossa seleção. A série Super Robot Wars é mais conhecida pelo crossover de mechas de franquias muito diferentes, mas isso não faz com que seus RPGs táticos que abandonam esse conceito possuam menos valor.
Em Original Generation 2, os conflitos que ameaçam a Terra ainda não acabaram. Forças rebeldes que sobreviveram à guerra do primeiro jogo, novas ameaças alienígenas e forças misteriosas obrigam a Federação da Terra a preparar novos grupos de soldados com robôs gigantes. Cabe ao jogador explorar as missões e tentar resistir às forças inimigas que estão por toda parte.
Summon Night Swordcraft Story e Swordcraft Story 2
Desenvolvida pela Flight-Plan, a série Summon Night foi criada no PlayStation original e conta com vários RPGs táticos em sua linha principal. Porém, quando durante o desenvolvimento de spin-offs para o GBA, eles decidiram investir em um novo formato: um RPG de ação com rolagem lateral similar aos títulos 2D da franquia Tales of. Apesar de só os títulos numerados mais recentes terem chegado ao Ocidente, o spin-off de ação foi uma das apostas da Atlus no portátil.
Em ambos os Summon Night Swordcraft Story, acompanhamos a história de forjadores de espadas em suas jornadas de crescimento pessoal. É possível escolher entre um rapaz ou uma moça e ter diferentes parceiros invocados de outros mundos, dependendo das escolhas iniciais do jogador. Além da história principal e do combate, o jogo possui elementos de dating sim (marca registrada da franquia desde o primeiro lançamento) e a possibilidade de criar armas de diversos tipos, como espadas, lanças, machados e brocas, além de aprender novas receitas com o tempo.
Rebelstar Tactical Command
Desenvolvido pela Codo Technologies e projetado por Julian Gollop, uma das figuras-chaves por trás do clássico X-COM: UFO Defense, Rebelstar Tactical Command é um dos RPGs mais subestimados do portátil. O título foi publicado pela Namco nos Estados Unidos e pela Atari na Europa, mas infelizmente não foi um sucesso comercial e teve a sua sequência cancelada.
Rebelstar: Tactical Command se passa no ano de 2117 e conta a história de Jorel, um rapaz que perdeu ambos os pais na luta contra os Arelians, uma raça alien que invadiu a Terra. Com uma forte resistência aos poderes psiônicos dos alienígenas, ele se torna uma grande referência para os rebeldes que querem lutar contra esses tiranos.
Lufia: The Ruins of Lore
Desenvolvido pela Taito e publicado pela Atlus no Ocidente, Lufia: The Ruins of Lore é um RPG baseado em turnos e um spin-off da série conhecida como Estpolis no Japão. A obra se passa 20 anos após os eventos de Lufia II e mostra como as forças militares do Reino de Gratze declaram guerra em suas nações vizinhas.
Na pele do jovem Eldin, cabe ao jogador partir em uma grande aventura com a sacerdotisa Rubius e outros aliados em meio a esse período turbulento. Juntos, eles acabam percebendo que precisarão lutar contra o tirano Ragule para que o mundo possa voltar a ter paz.
Menções honrosas
Embora tenhamos trabalhado para trazer uma boa abrangência, várias opções acabaram ficando de fora, seja por não atender aos critérios (como foi o caso de Shining Soul), seja por não terem sido avaliados no Metacritic (aplicável geralmente àqueles com lançamento exclusivo no Japão, como Mother 3). Assim, entre os títulos de qualidade que já possuem relançamentos recentes, fazendo com que a sua adição pudesse ser considerada redundante estão as seguintes menções honrosas:
- Final Fantasy I & II: Dawn of Souls;
- Final Fantasy IV Advance;
- Final Fantasy V Advance;
- Final Fantasy VI Advance;
- Kingdom Hearts: Chain of Memories;
- Pokémon Ruby/Sapphire/Emerald;
- Pokémon FireRed/LeafGreen;
- Castlevania: Aria of Sorrow;
- Castlevania: Circle of the Moon;
- Castlevania: Harmony of Dissonance;
- Shining Force: Resurrection of the Dark Dragon;
- Lunar Legend;
- Riviera: The Promised Land;
- Breath of Fire e Breath of Fire II;
- a série Mega Man Battle Network;
- Yggdra Union;
- Tales of Phantasia.
Um sistema com muito a oferecer
Apesar de termos decidido fazer uma listagem criteriosa de alguns bons RPGs que gostaríamos de ver no Switch Online, é importante destacar que o GBA tem uma grande biblioteca com títulos de diversos gêneros. A adição desse sistema à lista do NSO seria uma das melhores opções possíveis, até porque vários desses jogos infelizmente não estão disponíveis em plataformas mais modernas.
Esperamos que a lista seja uma útil referência de jogos que definitivamente valeria a pena resgatar pela qualidade e/ou pelo valor histórico. Caso tenha alguma sugestão de outras obras importantes e interessantes que acabaram ficando para trás, deixe o seu comentário.
Coautor: Ivanir Ignacchitti
Revisão: João Pedro Boaventura