Análise: Ooblets (Switch) é um simulador de vida colorido, esquisito e cheio de dança

Ooblets é o resultado de uma combinação inusitada de jogo "de fazenda”, jogo de cartas e Pokémon

em 19/09/2022

Após dois anos em Early Access desde o seu “lançamento” original na Epic Games Store no PC, Ooblets finalmente chega ao Nintendo Switch em seu estado completo. Classificado pelos desenvolvedores como sendo sobre “cultivo, criaturas e aventura”, esse é o primeiro título do pequeno estúdio indie americano Glumberland.

Reunindo uma boa quantidade de afazeres para os jogadores mais empolgados com o subgênero “jogo de fazenda”, essa mistura louca de um leve carteado, Harvest Moon e Pokémon encontra na portabilidade do Switch uma casa perfeita para o seu mundo irritantemente descolado e colorido.

A vida parece ser boa e simples demais em Ooblets, além de um tanto repetitiva, mas o público correto provavelmente irá gastar umas boas horas com o jogo quase sem perceber.

Um Ooblet para chamar de seu

A sua vida é uma droga. É difícil de acreditar, mas você nem ao menos possui um companheiro Ooblet ao seu lado. Pior ainda, a sua cidade natal baniu a presença dessas misteriosas criaturas dançantes há muitas décadas. A solução? Mesmo sem a menor perspectiva de um emprego ou um futuro concreto, o jeito é pegar um barco e seguir em direção ao reino de Oob — um lugar onde, como o nome sugere, todos vivem felizes com seus Ooblets.

Chegando em Badgetown, a cidade das insígnias, a jovem e despreocupada prefeita logo estende a mão e diz que não há com o que se preocupar. Nesta cidade colorida, lotada de habitantes que exalam individualidade e pequenos Ooblets selvagens espalhados por todo canto, não existe muito espaço para preocupações banais como trabalho e moradia. Mesmo sem grandes qualificações, você rapidamente se torna um assistente oficial da prefeitura e até mesmo recebe um teto e um pedaço de terra só seu.


O próximo passo para se tornar um cidadão oficial de Badgetown é receber o seu primeiro Ooblet. A escolha não é tão simples como apenas pegar a criaturinha mais simpática: o que irá determinar quem será seu novo amigo é a sua opção por um dos clubes especializados da cidade. Desde ‘hipongas’ amantes da natureza até cientistas ou adoradores de coisas fofas, os clubes representam personalidades bastante distintas entre si. O peso da sua escolha, no entanto, é nulo. Na terra de Oob não parecem existir alternativas erradas, apenas caminhos diferentes. Afinal, fica bastante claro que todo mundo possui todo o espaço necessário para se expressar como bem entender.

Os 16 habitantes de Badgetown, cada qual com sua função dentro do ecossistema do local, parecem caricaturas de si mesmos, abraçando certos clichês sem deixar de vestir ainda mais camadas do que o esperado. Acessórios são bastante relevantes nesse mundo, e nem mesmo você (ou seus Ooblets) escapam da possibilidade de adornar óculos, chapéus e roupas diversas.


A decoração e os detalhes da cidade e dos seus habitantes são tão meticulosos que quase se tornam agressivos. A ideia do game é criar um ambiente confortável, um lugar onde você pode realmente esquecer da fria e cruel realidade do mundo real e adentrar em um mundo colorido, esquisito e cheio de dança. A verdade, entretanto, é que o título acaba exagerando um pouco ao tentar encarnar a estética hipster adorável estilo Zooey Deschanel da década passada. A palavra em inglês Quirky vem à mente de imediato, algo como um ‘peculiar esquisito’, e essa é precisamente a estética de Ooblets.

Fazenda light

Ooblets segue várias direções tradicionais de game design de diversos outros “simuladores de vida” que são basicamente “joguinhos de fazenda”. Como esperado, o título apresenta um ciclo de dia e noite, gerenciamento de plantações e a necessidade de regar suas sementes, quebrar pedras, cortar madeira e colher frutos e hortaliças por aí. A magia aqui existe, no entanto, mais nas diferenças do que nas similaridades.

Já que o foco não é exatamente ganhar muito dinheiro plantando e criando animais, o processo é um tanto simplificado. Sua plantação existe, antes de tudo, apenas para gerar recursos para missões maiores. Não existem vegetais sazonais e nem uma grande quantidade de ferramentas e upgrades disponíveis. Desde o início, você tem a sua disposição apenas uma enxada e um regador, e esse será seu arsenal até o fim. Pedras são quebradas utilizando outra pedra, por exemplo, e, na hora de quebrar a madeira, seu personagem utiliza um inesperado ataque de karatê com as mãos.


As coisas acontecem da sua própria maneira em Oob. Os dias são bastante longos e a umidade do solo pode durar menos ou mais do que um dia inteiro, ao contrário de outros jogos do gênero que sempre pedem pelo menos uma regada por dia no solo fértil. Assim como é de praxe, existe um total de energia que diminui em relação às ações realizadas pelo seu personagem, mas é bem fácil recuperar esse fôlego com comidas diversas ou tirando uma soneca. Também é impossível dormir até o dia seguinte durante o período do dia, sempre sendo necessário esperar até a noite para concluir um dia de trabalho.

Nem o dinheiro tem tanto valor, figurativa e literalmente, já que a moeda local são Gummies (basicamente balinhas de gelatina). Até é possível utilizá-los para vários fins, como comprar sementes, roupas e itens para a casa, porém não há nenhuma pressa para adquiri-los de forma coordenada. Tarefas simples, como falar com os amigos da cidade todo dia, fazer pequenas quests e até capturar e escanear Ooblets, irão conceder esse dinheiro de forma bem orgânica.


Um pouco mais importante do que os Gummies são os Wishes, a moeda que, de forma competente, determina como você irá de fato progredir no jogo. Tudo que afeta o mundo do jogo, de uma forma mais macro, é ativado utilizando Wishes na fonte dos desejos no meio da praça central. Dessa forma, é possível lidar com as várias missões diferentes no seu ritmo, gastando Wishes aos poucos para ações como convidar mais Ooblets para a cidade, expandir as opções de venda nas lojas e até aumentar o tamanho de sua fazenda ou a velocidade da corrida do seu personagem.

Os elementos mais tradicionais de “fazenda” aparecem de forma mais leve e dinâmica, principalmente para dar algum espaço para os Ooblets. Os monstrinhos não só servem para operar algumas máquinas no seu terreno, como o moedor de sementes, por exemplo, mas também podem viver em suas próprias casinhas e cuidar totalmente da área fértil ao redor, regando e cuidando do cultivo. Enquanto até oito Ooblets caminham atrás de você a todo momento, o restante dos seus amiguinhos fica andando pela fazenda até que você ache uma utilidade prática para eles.

Vivendo de dança e coletas


A principal função das pequenas criaturas, no entanto, é a dança. Basicamente, se batalhas Pokémon fossem um simples jogo de cartas no qual Ooblets competem em um campeonato de dança, esse seria o resultado. Utilizando um ou múltiplos Ooblets em um “combate”, o objetivo é utilizar cartas ligadas aos monstrinhos gastando Beats para aumentar o seu total de pontos. Ou melhor, você recebe algumas cartas todo turno, cada carta possui um custo de Beats e seu objetivo é adicionar pontos a um contador geral. Os efeitos das cartas 90% das vezes simplesmente acrescentam pontos ao total, mas também podem ser buffs para o seu time ou debuffs para o time adversário.

Esses confrontos são simples demais e muito raramente oferecem qualquer tipo de desafio. Inicialmente, achei que a falta de profundidade para uma mecânica que aparentava ser central era uma falha grave na jogabilidade de Ooblets. Após algum tempo, porém, percebi que as batalhas de dança funcionam mais para quebrar o ritmo das frequentes fetch quests do que qualquer outra coisa. Assim como quase tudo em Ooblets, esses breves momentos dançantes definitivamente não podem ser levados muito a sério. O importante é apenas a coleta constante de recursos.


Para começar uma batalha com Ooblets selvagens e conseguir uma nova semente para plantar e colher o bichinho, por exemplo, é preciso possuir algum recurso específico e utilizá-lo como tributo. Para completar missões, tanto principais quanto sidequests, também é necessário alguns recursos. Para melhorar sua casa, sua fazenda em geral ou produzir algum item específico, você também terá que coletar o número certo de recursos. No fim, a vida relaxante de Ooblets é uma eterna lista de supermercado, mas isso não é necessariamente algo ruim.

O público-alvo definitivamente são os colecionistas e os que gostam de “platinar” e “completar as “Pokedéx” da vida. Algumas áreas estão disponíveis, com três variações de raridade de Ooblets para cada espécie e uma boa quantidade de badges para receber (que são como achievements) tanto da prefeitura quanto de cada habitante da cidade das badges — como você pode ver, até o nome do lugar aponta para essa coleta incessante e potencialmente repetitiva.


Se você gosta de jogos de simulação, não é difícil perder horas a fio passando esse tempo descompromissado pelo intensamente adorável mundo de Oob. O título fez o dever de casa simplificando e polindo vários processos para garantir uma experiência suave a todo momento. Não só a movimentação pelo mapa da cidade principal é bastante fluida, sendo perfeitamente dividido e setorizado para que ninguém se perca durante o dia a dia, como as infames quedas de FPS do Switch, típicas de jogos com bastante conteúdo, também não aparecem por aqui. É só relaxar e curtir umas férias com seus Ooblets.

De tudo um pouco


Ooblets
faz uma boa tentativa de inovar as numerosas e atualmente bastante populares simulações de fazenda e cria uma interessante combinação de gêneros no processo. O resultado é um jogo que não se aprofunda tanto em nenhum dos seus elementos, mas faz a apresentação dos mesmos de uma forma leve e dinâmica. Ainda que fadado a um ciclo repetitivo de missões de coleta em um mundo que pode ser adorável demais para alguns, o título oferece bastante conteúdo para os colecionistas de plantão.

Prós

  • Visual bastante adorável e particular;
  • Uma mistura inovadora entre fazenda, jogo de cartas e captura de monstros;
  • Boa performance no Switch;
  • Uma enorme quantidade de conteúdo apresentado de forma simples e dinâmica.

Contras

  • Falta de profundidade em algumas mecânicas, principalmente as batalhas de Ooblets;
  • A estética intensamente peculiar e adorável cansa em alguns momentos;
  • A fórmula se torna repetitiva após algum tempo.
Ooblets - Switch/PC - Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Glumberland
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