No meio do nada
Tudo começa com Luka, um jovem cervo que vive com a sua avó desde o desaparecimento de sua mãe. O menino vive fazendo bagunça na cidade junto com o seu amigo Rolo e tem um bom relacionamento com boa parte dos moradores de Beacon Pines.
Em um dia aparentemente comum, os dois acabam descobrindo uma conspiração sinistra, um segredo guardado a sete chaves nessa cidadezinha no meio do nada. Sem saber toda a verdade, eles acabam não tendo mais certeza de que podem confiar nos outros moradores e começam a mergulhar mais profundamente no que antes era velado.
Um detalhe que chama a atenção é que essa narrativa é emocionalmente carregada. Apesar de ser apenas um menino de apenas 12 anos, Luka está passando por uma fase muito difícil na vida por conta da perda dos pais, e os eventos da aventura acabam tendo um impacto considerável no seu psicológico. O mesmo pode ser dito dos seus pequenos amigos, que também possuem circunstâncias complexas que estão muito além do seu controle.
O mundo de Beacon Pines é profundamente humano, marcado pelo peso das ações individuais e coletivas de quem vive na região. É especialmente uma história sobre o peso do tempo e as mudanças que ele carrega contra a vontade das pessoas, um conto de como a ambição dos indivíduos pode causar muita dor a quem está por perto e de como, mesmo diante da maior adversidade possível, é necessário agir para fazer a diferença.
Também vale a pena destacar que a narrativa possui um tom de fábula, utilizando uma narradora com voz em inglês para contar a história como se lesse um livro. A voz dela é encantadora, brincando com as emoções de cada momento, indo de risadas agradáveis a tons de desespero, tristeza ou felicidade que embargam a sua voz em determinados finais. Alguns jogadores, porém, podem achar esse drama um pouco exagerado e deslocado da narrativa principal.
Um mundo de escolhas
Beacon Pines é um jogo de aventura que basicamente funciona em torno da interação com NPCs e objetos do cenário. Em determinados momentos, o jogador terá uma missão para cumprir, mas poderá explorar os ambientes em busca de outras possibilidades. Na prática, a tendência é majoritariamente linear, buscando apenas o próximo objeto correto para avançar.
Em alguns momentos, o jogador irá receber Charms, amuletos com palavras encantadas que podem ser usados para mudar o rumo da história. Com isso, é possível usar um termo visto em um determinado momento para ver outra ramificação narrativa. Um detalhe interessante é que nem sempre as palavras serão usadas no mesmo sentido exato, brincando com as possibilidades da língua.
Porém, de forma geral, Beacon Pines acaba explorando muito pouco as possibilidades desse sistema. Primeiramente, as escolhas possíveis são limitadas, levando a poucas ramificações ao pensar no jogo como um todo. Além disso, muitas vezes a opção alternativa só vai ser liberada em um outro momento, fazendo com que a história seja mais ordenada do que pode parecer por suas rupturas temporais.
O jogador pode navegar a qualquer momento para outro ponto da trama que também precisava do uso de um Charm. Aqueles que já tiveram a sua eficácia testada ficam marcados com um visto, facilitando a exploração de todas as possibilidades.
Um mundo fofinho com pequenos elementos sinistros
Algo que chama a atenção em Beacon Pines é o seu visual 2D. Os personagens são animais antropomórficos fofinhos e charmosos com uma pintura realista e bastante detalhada. Além disso, os cenários são ricos em cores e feitos como se fossem pequenas aquarelas incompletas. Em especial, há a sensação de um mundo em miniatura que acaba parecendo grande e misterioso para uma criança pequena.
Infelizmente, a tela do Switch em modo portátil acaba sendo inadequada para essa proposta, já que fica difícil visualizar muitos elementos. Até mesmo alguns textos podem ser pequenos demais, fazendo com que o modo docked seja mais indicado para que você não force a visão tentando enxergar os detalhes.
Em termos do tom da aventura, há também um uso impecável da trilha sonora. Ela consegue refletir a sensação mágica de um mundo cheio de mistérios para desbravar quando Luka está animado com seus amigos, e depois mudar para um tom sinistro tendo em vista algum mistério de Beacon Pines que começa a ser revelado. Em certos casos, a iluminação dos cenários acompanha essas escolhas, amplificando a sensação de medo pelo que está por vir.
Por fim, gostaria de salientar a ausência do log, ou seja, de um registro de falas. Como se trata de um jogo com foco narrativo, esse tipo de elemento acaba impactando bastante a qualidade de vida da obra, facilitando o entendimento global de cenas e possibilitando a um leitor mais desatento pegar algo que pode ter passado despercebido na trama.
Animais fofinhos e um grande segredo
Prós
- Uma história emocionalmente carregada sobre ambição desenfreada, a força devastadora do tempo e a necessidade de agir para fazer a diferença;
- Personagens e mundo 2D fofinho e charmoso com gráficos bastante coloridos;
- A narração ajuda a dar um tom de fábula à aventura;
- Trilha sonora que constrói uma atmosfera confortável, mas consegue amplificar o tom sinistro e soturno de algumas reviravoltas.
Contras
- O sistema de escolhas acaba sendo subexplorado;
- Algumas cenas acabam sendo muito econômicas visualmente;
- Elementos visuais muito pequenos para o modo portátil do Switch;
- Ausência de log.
Beacon Pines — Switch/PC/XBO — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela Fellow Traveler
