Pense em um jogo de luta para o GameCube. Provavelmente foram poucos os que vieram à mente: de certo Super Smash Bros. Melee, considerado o melhor do console, e talvez Soul Calibur II, devido à participação especial de Link (The Legend Of Zelda). A verdade é que o controle não era muito prático para jogos de luta, o que limitava muito a experiência de veteranos no gênero. Por isso mesmo, jogos com mecânicas muito complicadas e sistemas de combos complexos eram difíceis de se adaptar.
Há 20 anos, as expectativas foram quebradas com o lançamento, para GameCube e Xbox, de Capcom Vs SNK 2 EO. Produzido e publicado pela Capcom, trata-se da atualização do jogo Capcom Vs SNK 2: Mark of the Millennium 2001, com algumas mudanças na jogabilidade e a inclusão de um sistema EO ("Easy Operation"), que permite ao jogador realizar ataques específicos simplesmente movendo o analógico direito em uma determinada direção. Alteração importante que conquistou jogadores casuais não habituados com o gênero. Ainda assim, existia a possibilidade de não habilitar esse sistema simplificado, mantendo a complexidade original, o que agradou também aquele jogador mais hardcore.
O crossover que todos queriam ver
Na década de 2000, as franquias de luta Street Fighter e The King of Fighters faziam muito sucesso. Em 1999, havia saído para Neo Geo Pocket SNK vs. Capcom: The Match of the Millennium, porém os fãs da Capcom e da SNK clamavam por um crossover nos Arcades. Foi quando surgiu Capcom Vs SNK: Millennium Fight 2000, produzido pela própria Capcom, trazendo os personagens das duas empresas em um embate épico. Porém, apesar do sucesso, houve muitas críticas negativas, o que levou a Capcom a criar uma continuação em pouco mais de um ano. Surge então Capcom Vs SNK 2: Mark of the Millennium 2001, que prometia resolver todos os problemas encontrados no primeiro jogo.
O Torneio de Milhões
Capcom Vs SNK 2 segue os eventos de seu predecessor, no qual as empresas Garcia Financial (de Robert Garcia do jogo Art Of Fight) e Masters Foundation (de Ken Masters do jogo Street Fighter) decidem realizar um novo torneio de artes marciais, com a premiação na casa dos milhões de dólares. Todos os lutadores do primeiro jogo voltaram e novos foram convidados.
Personagens
Capcom Vs SNK foi muito criticado pela pouca variedade de lutadores de jogos diferentes (basicamente havia somente lutadores das franquias Street Fighter e The King of Fighters). Desta vez, o novo jogo trouxe um total de 48 personagens jogáveis de 13 franquias diferentes, sendo 44 os mesmos da versão de Arcade e mais 4 personagens exclusivos para os consoles.
Da Capcom, temos:
- Street Fighter - Ryu, Ken, Sagat e Eagle
- Street Fighter II - Chun-li, Guile, Blanka, E.Honda, Dhalsim, Cammy, Zangief, Vega, Balrog, M.Bison e Akuma
- Street Fighter Alpha - Dan, Sakura e Evil Ryu (exclusivo de console)
- Final Fight - Rolento e Maki
- Street Fighter III - Yun Lee
- Rival Schools - Kyosuke
- Darkstalkers - Morrigan
Da SNK, temos:
- The King of Fighters - Kyo, Benimaru, Rugal, Iori, Vice, Iori Orochi (exclusivo de console) e Chang
- Fatal Fury - Terry, Joe, Raiden, Geese, Mai, Kim, Yamazaki e Rock Howard
- Art of Fighting - Ryo, King, Yuri e Ryuhaku
- Samurai Shodown - Nakoruru e Haohmaru
- Psycho Soldier - Athena
- The Last Blade - Hibiki
Chefes Secretos (exclusivos de console):
- Shin Akuma
- Ultimate Rugal
Um ponto interessante é que o sistema define as batalhas contra os chefes intermediários (Geese ou M.Bison), finais (Rugal ou Akuma) e secretos (Ultimate Rugal ou Shin Akuma) baseado em critérios específicos como pontuações, tipo de finalizações e grooves
utilizados, aumentando a variedade do gameplay.
Modos de Jogo
Os modos de jogo apresentados são os clássicos de qualquer jogo de luta: Survival, Training, Vs, Color Edit e o principal, Arcade Mode. Nesse último, podemos escolher batalhar em equipes de 3 contra 3 ou batalhas solo de 1 contra 1. Em ambos os casos, a pontuação de ratio (uma espécie de pontuação que define força e resistência dos personagens) é distribuída igualmente entre os lutadores. Existe outra opção de escolha de times, o Ratio Match, na qual podemos selecionar até três personagens (solo, dupla ou trio) e distribuir a quantidade de pontos de ratio (até 4) a cada membro, conforme desejado.
Jogabilidade
A jogabilidade é baseada no sistema de três socos e chutes (fraco, médio e forte), muito parecida com a encontrada em Street Fighter Alpha. No entanto, a diferença principal fica a cargo dos múltiplos estilos de luta que podem ser escolhidos antes da seleção de lutadores, os chamados "Grooves", além das escolhas dos modos "AC" ou "GC", sendo este último o que simplifica o sistema de controle, deixando a execução de golpes especiais pelo analógico direito.
O primeiro jogo permitia que escolhêssemos entre dois Grooves, o da Capcom (baseado em Street Fighter Alpha) e o da SNK (baseado em The King of Fighters). Em Capcom Vs SNK 2, temos 6 diferentes escolhas baseadas em diferentes jogos da Capcom e da SNK. São elas:
- C-Groove: Esquema de jogo baseado na série Street Fighter Alpha, nele são disponibilizados 3 super gauges (as famosas “barras de especial”).
- A-Groove: Baseado em Street Fighter Alpha 2 e 3, nele são disponibilizados 2 super gauges utilizados para ativar o movimento especial Custom Combo, e os ataques comuns criam super combos personalizados.
- P-Groove: Baseado em Street Fighter III, nele temos somente 1 super gauge e a possibilidade de execução de parries (movimentos que anulam os ataques dos oponentes, aqueles mesmos do EVO Moment 37).
- S-Groove: Baseado em The King of Fighters '94, nele temos 1 super gauge carregável manualmente e a possibilidade de executar “Especiais” ilimitados com vida baixa.
- N-Groove: Baseado em The King of Fighters '97, disponibiliza 3 super gauges e um modo MAX (onde a custo de 1 super gauge o personagem ganha mais resistência e força).
- K-Groove: Baseado em Samurai Shodown e Garou: Mark of the Wolves, disponibiliza um medidor de "Rage", que aumenta à medida que o personagem sofre dano e ao ser preenchido aumenta a força e possibilita a execução de “Especiais”, e a possibilidade da execução de movimentos como just defense (parecido com o perrie mas que possibilita um contra-ataque).
Sprites fracos e cenários isolados
Um dos pontos fracos do jogo, criticado desde a sua estreia, são os gráficos dos personagens, os famosos sprites. A aparência de alguns ficou muito abaixo do padrão em comparação a outros. Um bom exemplo é da personagem Morrigan, do jogo Darkstalkers: a Capcom acabou por reutilizar sprites antigos sem detalhes, criando uma disparidade muito grande com personagens recém desenhados como Maki, Eagle, Ryu e Ken, por exemplo. Já os cenários, apesar de bem trabalhados e bonitos, não têm uma ligação específica com a história dos personagens, o que diminui a imersão.
Um jogo divertido até hoje
Apesar dos problemas gráficos, Capcom Vs SNK 2 EO se destacou dos demais jogos de luta, tanto pela quantidade de personagens quanto pela variedade de modos e estilos de jogo. A Capcom acertou em adaptar o jogo para aqueles que não têm habilidades com jogos de luta com o sistema EO, mas acertou ainda mais ao manter a possibilidade de se jogar sem simplificações, trazendo a experiência dos Arcades para dentro de casa, no conforto do sofá. Para os fãs de jogos de luta, ainda é diversão garantida.
Revisão: Thais Santos
Fontes: SNK Fandom, Ranker