Análise: Arcade Paradise (Switch) é um incrível simulador de fliperama que leva o jogador ao paraíso

Reviva a gloriosa década de 1990 enquanto monta o fliperama dos seus sonhos e escapa da opressão do seu pai.

em 12/08/2022

Foi na década de 1990 a última vez que frequentei um arcade lotado. A lembrança daquelas máquinas piscantes e barulhentas traz uma grande saudade, com meu relógio digital Casio no pulso e Walkman no ouvido. Era a época da ascensão dos computadores pessoais com sistema operacional Windows, a aurora da internet e o crepúsculo dos fliperamas. Seria legal poder reviver por alguns momentos toda aquela efervescência, nem que fosse uma última vez.

Arcade Paradise é um curioso simulador de arcade ambientado nos anos 1990 que permite não apenas jogar as máquinas, mas também criar e gerenciar o seu próprio fliperama, de uma origem humilde nos fundos de uma lavanderia a um glorioso paraíso de sons, cores e neon, com uma bela ambientação nostálgica na década da MTV e a última fase gloriosa dos consoles de rua.

Lavar roupa todo dia, que agonia

Aqui você está no papel de Ashley, que deve gerenciar a entediante lavanderia da família na igualmente entediante cidadezinha de Grindstone. A garota inicia a aventura por ordem do pai, um severo e egocêntrico homem de negócios, que a encarrega da administração do negócio que está praticamente abandonado pela família.


Durante a chatíssima rotina diária da lavanderia, Ashley encontra alguns arcades escondidos no depósito dos fundos, que talvez estejam lá como um passatempo para os clientes que esperam suas roupas ficarem prontas. A jovem administradora vê potencial nas diversões eletrônicas e decide fazer da lavanderia um excitante fliperama, substituindo a chatice da lavagem de roupas pela diversão colorida dos arcades.

O problema é que o alvará da prefeitura concede a licença para uma lavanderia, não uma casa de jogos eletrônicos. Tudo isso é feito na surdina, com a ajuda da irmã de Ashley, sem que o rigoroso pai das garotas tenha conhecimento das mudanças no negócio. Será que isso vai dar problema? (spoiler: vai!) Como a nossa empreendedora dos games resolverá essa situação? A campanha tem reviravoltas emocionantes e vale a pena chegar até o fim da história para saber seu desfecho.

Amanhã será outro dia

A mecânica de jogo consiste em repetir uma jornada de trabalho diária, que sempre começa às 8h. Ashley pode encerrar o dia no horário que quiser, mas seu pai a obriga, por contrato, a permanecer no trabalho até pelo menos as 14h. É possível continuar no trabalho até as 2h da madrugada, quando então ela desmaia de exaustão.


O jogador é livre para fazer as atividades que quiser durante o expediente. No começo da campanha, as atividades de lavanderia e faxina são as principais fontes de renda, pois a quantidade inicial de máquinas de arcade não é suficiente para gerar um bom fluxo de caixa.

Ashley também pode usar seu tempo para jogar ou gerenciar seu fliperama. Juntando dinheiro suficiente, é possível comprar novas máquinas e reformar o local para ampliar o espaço disponível. Também é possível configurar o preço e a dificuldade das jogadas e a posição da máquina no ambiente. Infelizmente, as opções de customização não incluem alterar a decoração do local como Pac Man Museum+ (Switch) nem o modelo dos gabinetes como em Capcom Arcade Stadium (Switch), o que é uma oportunidade perdida para customizar seu fliperama dos sonhos.


Quanto mais você joga uma máquina, maior será a popularidade do equipamento e a receita que ele gera. Esse atributo também é influenciado pelo preço de cada partida, sua dificuldade e a quantidade de objetivos individuais que foram atingidos. É possível também aumentar a popularidade de máquinas menos procuradas, posicionando-as perto das mais frequentadas. A limpeza e o tamanho do ambiente também influenciam na popularidade.

O Arcade

O acervo de máquinas disponíveis é liberado aos poucos, conforme você progride na campanha e consegue mais espaço para ampliar seu negócio. A biblioteca cobre três décadas de jogos, indo dos games simples e monocromáticos aos modernos equipamentos de 32-bits. São 35 modelos disponíveis, cada um com seu próprio gameplay, história, missões e placar para bater.


Por ser um indie, não foi possível aos produtores arcarem com os caríssimos custos de licenciamento de títulos famosos. A princípio, pensei que isso seria um desfalque considerável, mas, na prática, os arcades oferecidos têm ótima jogabilidade e representam bem clássicos famosos, satisfazendo plenamente entusiastas retrô como eu.

Temos versões reimaginadas de máquinas históricas como Arkanoid (Taito), Missile Command (Atari), Dance Dance Revolution (Konami), Asteroids (Atari), Frogger (Konami), Puzzle Bobble (Taito), Space Invaders (Taito), Bomberman (Hudson Soft) e OutRun (Sega), entre outras.

Algumas são cópias idênticas, como Shuttlecocks, um clone perfeito de Pong, reproduzindo até a estética do gabinete. Outras até melhoram as máquinas originais, tornando-as mais gostosas de jogar ou adicionando novas mecânicas, como é o caso de Meteor Madness, que pega a fórmula clássica de Asteroids e acrescenta um novo sistema de garra para coletar minérios.


Temos também fórmulas originais e híbridos bastante inventivos, como Racer Chaser, uma curiosa mistura de Pac Man (Namco) e GTA (Rockstar), em que dirigimos um carro esportivo amarelo no lugar de Pac Man, há carros de polícia no lugar dos fantasmas e o labirinto representa as ruas da cidade. Quando a polícia colide com nosso carro, é possível fugir a pé e combater os policiais até conseguir roubar outro veículo.

Uma curiosidade é que dentro do beat ‘em up Knuckles and Knees há um estágio com um mini arcade funcional. Portanto, é possível jogar um jogo dentro de outro jogo, dentro de outro jogo!


Há também clássicos de salão, como bilhar, dardos, air hockey, pebolim e uma máquina de esmagar marmotas com uma marreta. As únicas ausências que eu realmente senti falta foram um representante de pinball, um clássico dos anos 1980, e jogos de luta estilo Street Fighter II, que dominaram arcades na década de 1990.

As máquinas permitem jogatinas multiplayer locais cooperativas ou competitivas para até quatro jogadores locais (dependendo da máquina) e gravação de recordes locais para comparação com placares online. Não há multiplayer online.

Saco cheio… de lixo

Mesmo focando cada vez mais no arcade, a rotina de Arcade Paradise é repleta de tarefas burocráticas intermináveis, não somente as atividades chatas da lavanderia, como também recolher moedas das máquinas, depositá-las no cofre, consertar máquinas quebradas, desentupir a privada regularmente e recolher o lixo.


O jogo ameniza essa sensação gamificando as tarefas na forma de minigames simples. O problema é que eles tornam-se chatos e repetitivos ao longo das dezenas de horas necessárias para completar a campanha. O ritmo é extremamente lento e repetitivo no início, mas isso melhora muito quando o arcade começa a gerar fluxo de caixa suficiente para se sustentar. A partir desse ponto, podemos ignorar totalmente as tarefas de lavanderia.

Já sobre as rotinas de limpeza, é tecnicamente possível ignorá-las, mas é muito incômodo olhar seu arcade dos sonhos cheio de lixo espalhado nas mesas e no chão. A falta de asseio também impacta negativamente a popularidade do seu negócio.

Seria legal poder contratar funcionários para executar essas rotinas chatas, mas a única melhoria que oferece essa possibilidade é a coleta de moedas das máquinas. Todo o resto precisa ser feito manualmente pelo jogador, com algumas funções que amenizam um pouco o acúmulo de lixo e a quebra de máquinas.



Radical! Chocante!

Apesar do início lento, a diversão proporcionada pela jogabilidade e variedade de suas máquinas compensa bastante o jogador que superar essa barreira inicial. Dificilmente você ficará entediado ou sem ter o que fazer depois que desbloquear um bom acervo para seu estabelecimento. A emoção de juntar dinheiro e comprar um jogo novo para seu fliperama é algo realmente empolgante.

A ambientação dos anos 1990 é muito bem retratada por detalhes como o sistema operacional do computador, o layout dos antigos sites de vendas pela internet, o uso da secretária eletrônica, o relógio de pulso digital e o PDA para acessar os menus.


A trilha sonora é muito boa, com uma ótima seleção que remete à década de 1990 e reforça a sensação nostálgica transmitida pelo ambiente. É possível selecionar a trilha sonora da jukebox e comprar mais músicas para o acervo, usando dinheiro ganho no próprio jogo.

Outro destaque curioso é a participação do dublador Doug Cockle, que interpretou Gerald de Rivia na série The Witcher e que dá a voz ao pai de Ashley, com a entonação muito severa que o personagem exige.


O game apresentou alguns travamentos eventuais, quase sempre na transição de um dia para o outro, exigindo reiniciar o jogo, mas sem causar a perda do progresso na campanha. Esta análise foi produzida com uma versão de testes, cedida antes do lançamento oficial, portanto acredito que esses travamentos deverão ser corrigidos em futuras atualizações.

O Paraíso é você quem faz!

Arcade Paradise é um surpreendente simulador de gerenciamento de fliperama, que permite que você não só administre, como também jogue um amplo acervo de máquinas. Apesar de sua rotina um pouco repetitiva no início, a emoção de construir pouco a pouco o seu arcade dos sonhos e ainda por cima poder jogá-lo e apreciá-lo com os clientes em um cenário nostálgico é incrível. Esse jogo é imperdível para amantes de arcades clássicos e saudosistas dos anos 1990.



Prós

  • Boa seleção de máquinas, com 35 equipamentos de gêneros variados;
  • Ambientação nos anos 1990 muito bem representada;
  • Mecânicas de gerenciamento agradáveis e que incentivam o jogador a perseverar;
  • Conteúdo abundante, com centenas de atividades e desafios para bater;
  • Narrativa bem escrita, com altos e baixos emocionantes e personagens marcantes;
  • Interface e legendas localizadas para português brasileiro.

Contras

  • Ritmo lento e repetitivo no início da campanha;
  • Falta de opções de customização de máquinas e decoração.
Arcade Paradise — PS4/XBO/Switch/PC — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Wired Productions
Siga o Blast nas Redes Sociais

é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).