Análise: Xenoblade Chronicles 3 (Switch) discute sobre o sentido da vida em um JRPG essencial

O novo jogo da franquia é uma obra essencial do seu gênero, discutindo tópicos sensíveis sobre a vida e o sentido da existência.

em 12/08/2022
Desde o lançamento de Xenoblade Chronicles: Definitive Edition no Switch, os fãs da franquia estavam ansiosos para ver o que o futuro lhes reservava. Chegando até alguns meses antes do que era previsto em seu anúncio original, Xenoblade Chronicles 3 é a obra que celebra todos os esforços da Monolith Soft e do criador Tetsuya Takahashi com a meta-série Xeno. Trata-se notavelmente do apogeu de todo o aprendizado da equipe como desenvolvedores de RPGs.

Peões de uma guerra infinita

A história de Xenoblade Chronicles 3 se passa em Aionios, um mundo repleto de belezas naturais, mas a população que nele habita está mais preocupada com as guerras do que com aproveitar isso. Presos em uma lógica de existir apenas para batalhar, os personagens vivem todos os míseros dez anos de sua existência em função dessa disputa.

De um lado, Keves e suas vestimentas pretas; do outro, Agnus e suas vestimentas brancas. Ambas as nações, que mais parecem peças de um xadrez macabro, são marcadas por um constante ciclo de violência que leva à morte de amigos queridos. Trata-se de uma grande tragédia em que não guerrear não é uma opção, e não há vencedores, apenas cordeiros explorados em busca de ter, pelo menos, uma “morte honrada”.

Desde os trechos iniciais, Xenoblade Chronicles 3 é uma história visceral, que consegue trabalhar a crueldade do seu mundo de forma sensível e emocionante. Chorei em vários momentos com o que era apresentado, com essa sensação de uma normalidade opressiva da vida e com os diálogos em que os personagens refletem sobre a sua própria existência.

Além de toda a discussão temática bem executada, o título consegue apresentar um elenco de personagens curiosos e carismáticos. Especialmente relevante é o fato de que temos inicialmente duas equipes opostas: Noah, Lanz e Eunie, advindos de Keves, e Mio, Sena e Taion, de Agnus. Graças a isso, os personagens precisam lidar com uma grande mudança de paradigma para cooperar e montar uma equipe coesa.

Mesmo com a equipe montada, ainda há divergências de posicionamento e discussões curiosas ao longo da história. Em vez de um apagamento das suas personalidades, temos um elenco plural que consegue discutir e crescer em conjunto. Graças a isso, a obra consegue retratar as suas perspectivas e relacionamentos de uma forma crível e envolvente. Um possível ponto negativo nesse quesito é a tendência muito caricata de alguns dos vilões, que provavelmente incomodará jogadores muito exigentes, mesmo sendo algo intencional da proposta.

Em busca de um novo sentido para a vida

Após os eventos iniciais da trama, a equipe precisa deixar para trás a guerra e tem um novo objetivo: chegar a Swordmarch. Para isso, eles terão que viajar pelo mundo expansivo de Aionios e, como já tradicional da franquia, o que temos aqui são áreas enormes que convidam o jogador mais curioso e explorador a desbravar todos os seus cantos. Cada nova localidade encontrada traz a recompensa de mais experiência para os personagens, uma mecânica simples que valoriza esse esforço.

Além de vários monstros, as áreas são recheadas de materiais e itens relevantes para os sistemas de crafting do jogo. Com eles, é possível cozinhar, ganhando boosts temporários em parâmetros, como ganho de experiência ou probabilidade de obter mais itens derrotando os monstros, ou ainda criar gemas para equipar e aumentar os atributos (ataque, defesa, agilidade, etc.) dos seus personagens.

A exploração também é marcada pela descoberta de novas colônias e a realização de quests, que podem envolver viagens a pontos específicos do mapa e batalhas. Através delas, o jogador aprende mais sobre o mundo e também é recompensado com experiência, dinheiro e itens. Algumas delas envolvendo apenas a entrega de itens podem até ser resolvidas pelo próprio menu de forma conveniente e é possível seguir um navegador para encontrar com facilidade o objetivo das que demandam ir a um ponto do mapa.

Uma equipe profundamente customizável

Xenoblade Chronicles 3 mantém o paradigma da série de combates em tempo real que não formam exatamente um RPG de ação. Os personagens atacam automaticamente quando estão próximos o suficiente dos inimigos e as habilidades contam com cooldown longos, dando uma nítida distinção de que os personagens têm um ritmo de ataque similar a um turno. Cabe ao jogador escolher bem as suas ações, podendo alternar entre os personagens jogáveis a qualquer momento.

Uma coisa que chama a atenção em particular no jogo é que todos os protagonistas estão presentes em combate ao mesmo tempo. Graças a isso, temos uma batalha com seis personagens mais um aliado adicional, que serve como um “convidado” da equipe que não pode ser customizado ou controlado diretamente. Essa quantidade de aliados simultâneos é mais alta do que o normal, aumentando o caos do combate, mas a performance no Switch consegue surpreendentemente se manter consistente o jogo todo tanto na dock quanto no modo portátil.

Há também alguns elementos importantes para se levar em consideração para o planejamento de estratégias. Primeiramente, existem várias classes para os personagens, sendo possível desbloquear novas opções ao realizar as chamadas “Hero Quests”, que também adicionam novos convidados à equipe.

As classes são divididas em três grandes grupos (Attacker, Defender e Healer), cujo foco em combate é diferente. A ideia é que as classes Defender sejam focadas em atrair a atenção do inimigo, centralizando os ataques em si e seu HP mais alto, ou seja, tem um comportamento de “tank”. Com Defenders que atuam bem, o Attacker fica livre para causar altas taxas de dano, enquanto o Healer oferece suporte e cura para os aliados ao redor.

O ideal é buscar um equilíbrio constante da equipe para poder lidar com inimigos mais poderosos. Além disso, novas habilidades são aprendidas com o uso dessas classes e podem ser equipadas para alterar a sua build. É possível combinar golpes e se aproveitar de passivas para criar uma combinação própria, valorizando a experimentação do jogador.

Unidos somos mais fortes

Além dos personagens individuais, o jogo ainda conta com dois poderes especiais coletivos de fundamental importância durante o combate. Primeiramente, temos o Interlink, que é uma transformação que funde dois personagens em uma espécie de grande mecha ultrapoderoso chamado Ouroboros. Além de ficar invencível, tanto o dano quanto a capacidade regenerativa dessa criatura são ampliados consideravelmente. Porém, o seu tempo de uso é limitado, retornando os personagens às suas formas originais após superaquecer.

Além disso, temos também o Chain Attack, que na prática pausa o combate para que o jogador possa realizar ataques especiais prolongados. Para liberar esse poder, é necessário explorar os estilos de combate de cada classe, realizar combos e aproveitar bem a estratégia ganhando pontos que gradualmente enchem a barra de Chain Attack.

Após carregar totalmente a barra, o jogador ainda tem que escolher de que forma montar o seu próprio combo. Primeiramente, é necessário escolher entre três cartas de personagens que podem ativar poderes especiais como “ignorar a defesa do inimigo” ou “reduzir a chance do inimigo atacar aliados Healer e Attacker”. Depois, o jogador deve selecionar a sequência de golpes ideal para preencher uma nova barra e atingir valores acima de 100%. Ao passar dessa marca, um ataque especial é ativado e a porcentagem de dano aumenta, reiniciando o ciclo com os personagens que ainda não atacaram.

Dependendo da ordem selecionada e de vários fatores específicos, é possível fazer com que esse combo seja mantido até uma quantidade estratosférica de dano ser causada ao inimigo. Além disso, dominar os vários pequenos detalhes dessa mecânica permite ganhar mais experiência, já que o overkill (ato de causar dano depois que a morte do inimigo já foi declarada) permite alcançar valores superiores a 900% de experiência.

Além de toda a grande diversidade mecânica, Xenoblade Chronicles 3 inclui tutoriais rápidos e simples. Conforme o jogador avança na história, novas opções de combate vão sendo liberadas aos poucos, permitindo que cada nova adição tenha um período de aprendizado até se tornar algo natural da experiência.

Dessa forma, ao contrário de outros jogos da franquia, este é um ponto ideal de entrada para novatos, explicando com calma tudo o que deve ser feito. O único porém a ter em mente é que, mesmo na dificuldade mais fácil, o RPG exigirá uma exploração mais lenta do mundo e um domínio dos sistemas que não permite uma experiência casual muito rápida, que jogadores pouco experientes com RPGs poderiam desejar para o título.

Por fim, vale destacar a alta qualidade da trilha sonora e do design de personagens. Além dos artistas ilustres que já estavam presentes na série anteriormente, há um senso de maior coesão na sua estrutura. Tudo que está presente no jogo em seus elementos audiovisuais serve para elevar ainda mais a proposta: seja o uso de flautas para evocar a sensitividade e espiritualidade de sua temática sobre a vida e a morte, seja o design de personagens mais sério e ao mesmo tempo carismático dentro da estética japonesa usualmente associada a animes.

Um RPG singelo e especial

Xenoblade Chronicles 3 é um dos pontos altos da biblioteca de jogos do Switch, que continua nos presenteando com RPGs de alta qualidade. Sem sombra de dúvidas, este é um marco da série Xeno, encerrando um ciclo na carreira de Tetsuya Takahashi para que ele possa dar o próximo passo com a Monolith Soft. É um jogo essencial não apenas para quem já acompanhou as obras até aqui, mas também para quem tem interesse em conhecer o que há de melhor no gênero RPG.

Prós

  • História construída de forma bastante meticulosa em torno de uma discussão sobre vida, guerra e o sentido da existência;
  • Combate em tempo real com grande diversidade de elementos para o jogador explorar estrategicamente;
  • Tutoriais simples e introdução gradual das mecânicas tornam o título ideal para novatos;
  • Áreas expansivas e recheadas de monstros e itens para encontrar;
  • Grande variedade de quests para conhecer mais a fundo o mundo e os personagens que o habitam;
  • Personagens carismáticos cujas diferenças e similaridades ajudam a criar relações instigantes;
  • Performance consistente tanto na dock quanto no modo portátil.

Contras

  • Mesmo na dificuldade mais fácil, o jogo não é indicado para quem tem pressa para avançar na história;
  • Elementos caricatos de vilania podem enfraquecer o peso da trama para alguns jogadores mais exigentes.
Xenoblade Chronicles 3 – Switch – Nota: 10

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo

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Ivanir Ignacchitti
é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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