Aventura por Velua
Em Coromon, sua jornada se inicia como uma aventura qualquer em Pokémon: ao acordar dentro do quarto na casa que divide com sua mãe. Logo após alguns prompts para customizar seu personagem, você é apresentado à região de Velua, local onde os eventos do jogo ocorrem.
O papel do protagonista é ser um pesquisador do grupo Lux Solis e encontrar as essências dos seis titãs criadores da região para o Project Chimaera. Pelo caminho, você pode capturar inúmeras criaturas conhecidas como Coromon para formar um time que lhe auxiliará durante sua jornada.
Logo de cara, vemos que Coromon consegue capturar o look and feel dos jogos de Pokémon da era do Nintendo DS, mais especificamente Pokémon Black & White (DS): os visuais são feitos em pixel art e todos os monstrinhos possuem animações durante os confrontos. O mundo de Velua também é muito bem representado: as cidades são bonitas e os cenários de batalha normalmente possuem elementos ao fundo também animados, assim como sempre variam de acordo com o ambiente em que o jogador está.
Em termos de acessibilidade, o título sai na frente dando a opção de múltiplos idiomas a escolher, incluindo português brasileiro! Ao pessoal não-binário, Coromon também vai além e traz opções de customizar seus pronomes durante a jogatina, descartando a clássica pergunta “você é um garoto ou uma garota?” de Pokémon.
Os confrontos Coromon
Coromon toma muito de inspiração da franquia japonesa de monstrinhos de bolso, como a mecânica de batalha nos moldes de RPG de turnos em que os elementos dos monstrinhos fazem a diferença, no melhor estilo “pedra, papel e tesoura”. Cada criatura possui um tipo que varia entre 6 possibilidades (água, terra, fogo, gelo, fantasma e normal), enquanto há alguns tipos adicionais, como veneno e magia, que são exclusivos de golpes.
Os tipos interagem entre si com fraquezas e vantagens, mas a quantidade aqui é menor comparada a Pokémon, o que torna mais fácil decorar as relações entre eles. Cada Coromon tem um tipo único e o jogo oferece a opção de você checar o tipo de um monstrinho durante a batalha, assim como ver para quais tipos ele possui desvantagem e vice-versa.
Enquanto que as tipagens seguem de forma similar, Coromon muda um pouco a forma como os PPs funcionam. Ao invés de cada golpe ter uma contagem própria de usos, os monstrinhos em si possuem uma espécie de barra de energia e cada golpe tem um certo custo que diminui essa barra. Isso muda um pouco a forma como interagimos com os ataques, dando um aspecto extra de estratégia ao nem sempre utilizar os golpes mais fortes, já que esses gastam mais energia.
As capturas, no entanto, funcionam de forma similar a Pokémon: encontre o monstrinho na grama alta, entre em uma batalha contra ele, deixe-o mais fraco e use um dos Spinners para capturá-lo. O destaque fica para maior variedade de Spinners em relação às pokébolas: além das tiers de efetividade, temos um Spinner específico para cada tipo de Coromon.
Aos que gostam de maior dificuldade nos games da série de monstrinhos de bolso — e reclamam da direção que a série vem tomando ao deixar suas últimas entradas ainda mais fáceis —, Coromon dá um passo à frente ao incorporar o famoso “Modo Nuzlocke” dentro das opções do jogo. Você pode habilitar regras como a de seu monstrinho abandonar sua equipe caso perca uma batalha, ou até mesmo limitar o uso de itens.
Durante minha campanha eu utilizei as opções padrão de jogatina e senti que a dificuldade estava bem balanceada. Os treinadores normalmente possuem times grandes e a experiência necessária para progredir é possível de conseguir apenas com eles, eliminando a necessidade de grinding.
Obviamente você não vai querer que o nível dos seus bichinhos fique abaixo da média , pois os chefes do jogo não têm piedade com jogadores que não estiverem bem preparados. Ao invés de ginásios, Coromon traz uma versão mais evoluída dos Totem Pokémon de Pokémon Sun/Moon (3DS) com os Titans. Cada chefão ostenta uma quantidade grande de HP, golpes fortes e normalmente possui habilidades únicas a fim de te obrigar a usar sua equipe toda em conjunto para derrubá-lo.
O lado não tão legal da moeda (nesse caso, pokébola)
Infelizmente, apesar de Coromon trazer muitas boas inspirações de Pokémon, muito da franquia que não é tão querido ou bom veio junto no pacote. A trama, por exemplo, não chega a ser ruim ou ofensiva, porém ela é bem clichê e leva até mesmo alguns traços da série de monstrinhos de bolso não muito bem integrados ao todo, como ter uma equipe vilã.
É notável também que mais ao fim da campanha a história se acelera um pouco — o intervalo entre o quinto e sexto Titan é bem curto —, dando a impressão que o time de desenvolvimento não teve muito tempo de polir esta seção.
No quesito de batalhas, há algumas mecânicas que poderiam ter ficado de fora, mas que fazem presença aqui. A diminuição de stat de Accuracy (Pontaria) é muito usada por alguns monstrinhos e pode deixar certas batalhas a serem resolvidas na sorte de quem conseguir atacar.
Além disso, temos a não agradável presença de golpes One-Hit KO (nocaute com um único ataque), que durante minha jogatina implicaram no resultado de algumas batalhas: houve vezes em que perdi múltiplos membros do meu time simplesmente porque o adversário teve a sorte de acertar um ataque deste tipo.
A qualidade visual dos Coromon também é algo que varia bastante. Enquanto há várias criaturas bem-desenhadas e ressaltadas com suas animações de batalha, alguns monstrinhos ficam com designs menos inspirados ao evoluir, algo que poderia ser evitado, dado que o jogo possui apenas 114 criaturas únicas, um número menor que as primeiras aventuras de Pokémon.
O fato dos monstrinhos não terem tipos duplos é algo que, embora ajude na simplicidade do título, diminui a variedade de times e torna alguns combates muito previsíveis. Até mesmo os próprios visuais dos Coromon poderiam se aproveitar de dupla tipagem para ficar mais interessantes em alguns casos, o que serve de complemento ao ponto anteriormente levantado.
A trilha sonora que acompanha os combates e o overworld é bem-produzida e merece elogios, muito remanescente de Pokémon ao mesmo tempo que consegue ser boa por si só. Todavia, há alguns momentos em que a transição entre uma música e outra não é feita de forma suave (principalmente quando encerramos uma batalha e voltamos ao mundo do jogo), além de haver falta de música de fundo quando evoluímos uma criatura, o que deixa a ocasião-chave menos especial.
Temos que pegar?
Coromon é uma homenagem especial feita de fãs de Pokémon para fãs. Ao mesmo tempo que o jogo busca uma identidade própria e melhora alguns aspectos da série da Nintendo, como opções de customização e dificuldade, ele também se limita ao trazer juntamente elementos da série que não são necessariamente legais e que poderiam ter sido retrabalhados ou deixados de lado. Ainda assim, é uma ótima pedida aos milhões de treinadores do mundo e certamente um dos mais competentes “Pokémon-like” até então.
Prós
- Visuais bonitos, incluindo boa animação;
- Sistema de batalha de Pokémon com alguns toques próprios, como o sistema de energia para golpes;
- Trilha sonora agradável;
- Opções adicionais de dificuldade e acessibilidade;
- Está disponível em português brasileiro.
Contras
- História clichê e pouco inspirada;
- Qualidade inconsistente de design das criaturas;
- Alguns elementos incômodos de batalha trazidos de Pokémon;
- O fim da campanha parece ter sido feito às pressas.
Coromon — Switch/PC/Mobile — Nota: 7.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Freedom Games