Análise: Sonic Origins (Switch) tenta ser a versão definitiva dos clássicos do ouriço

Coletânea nos faz lembrar do ápice da série, mas não é livre de problemas.

em 04/07/2022


Sonic Origins é uma proposta muito bem pensada dado o seu timing: uma coleção dos jogos clássicos da série a tempo de aproveitar o hype do Sonic Movie 2 é uma ótima forma de atrair novos fãs em potencial que conheceram o ouriço azul nas telonas. Considerando, no entanto, que a última tentativa de resgatar um jogo antigo do ouriço para a nova geração ficou longe do ideal — estou falando de Sonic Colors Ultimate (Multi) —, a questão que urge é: Sonic Origins foi capaz de honrar estes tão amados títulos ao mesmo tempo que os atualiza para os consoles atuais? A resposta é sim… porém, não perfeitamente.


Mais relançamentos? Isso é necessário?



Os jogos clássicos de Sonic, principalmente Sonic the Hedgehog (Mega Drive) e Sonic the Hedgehog 2 (Mega Drive), não são títulos inacessíveis ao público. Ambos estão entre os jogos mais relançados pela SEGA e, curiosamente, já estão disponíveis para o Nintendo Switch há algum tempo — Sonic the Hedgehog por meio do relançamento SEGA Ages, enquanto Sonic the Hedgehog 2 pelo mesmo método e também pela assinatura do Nintendo Switch Online - Expansion Pack. 

Dado o contexto, de imediato, Sonic Origins precisaria se justificar a fim de não transparecer que esse relançamento fosse apenas mais uma forma de ganhar dinheiro fácil. A coletânea contorna isso trazendo esses títulos totalmente refeitos na Retro Engine, a mesma que deu vida a Sonic Mania, ao invés de emulá-los como ocorre normalmente em outros lançamentos.



Sonic Origins traz remasterizações completas de Sonic the Hedgehog, Sonic CD (Mega Drive - SEGA CD), Sonic the Hedgehog 2 e Sonic 3 & Knuckles (Mega Drive), e a promessa era de que esses jogos ganhariam várias melhorias perante aos originais. A grande novidade é o título com Knuckles, pois é a primeira vez que ele recebe este nível de remake e relançamento, já que especula-se que a SEGA nos últimos anos evitava re-lançá-lo devido a problemas com o licenciamento de suas músicas — um tópico que tocaremos novamente adiante —, enquanto os outros já haviam tido o mesmo tratamento anos antes para dispositivos móveis.

Essas novas versões certamente não falham quanto às melhorias: todos os títulos estão disponíveis em widescreen e o Drop Dash, habilidade introduzida em Sonic Mania (Multi), foi inserido ao arsenal de movimentos do Sonic. Tails é uma opção de personagem jogável em Sonic CD e Sonic 1, enquanto Knuckles no primeiro e segundo jogos (fica a estranheza de não terem incluído o equidna no Sonic CD também).



Aos que possam ter algum tipo de dificuldade, a coletânea torna os títulos mais acessíveis ao eliminar o sistema de vidas em favor de um sistema de Coins. O jogador pode coletar estas moedas pegando 100 anéis, quebrando certos monitores ou então participando de missões do novo Modo Missão, e elas servem como método de compra para desbloquear itens no Museu, como artes de conceito, músicas, entre outros.

O jogador também pode utilizá-las para tentar os Special Stages mais de uma vez, em caso de insucesso. Isso pessoalmente me veio a calhar durante minha jornada por Sonic 2, já que seus estágios especiais sempre foram os que mais tive dificuldade e esta adição, somada ao fato de que eles agora funcionam à uma alta taxa de quadros por segundo, foi muito bem-vinda.



A SEGA fez questão de deixar estas melhorias e mudanças restritas ao Modo Aniversário de cada jogo, porém, todos os títulos possuem o Modo Clássico voltado aos mais puristas. Nesta opção, as aventuras clássicas do ouriço funcionam por emulação e sem as alterações feitas pelas remasterizações, o que não elimina a necessidade da presença de mais opções de customização aos jogadores no Modo Aniversário, como incluir vidas, desabilitar ou reabilitar certas habilidades, entre outras.

Tropeços pelo caminho… ou pela corrida?

Sonic Origins tem muito valor quanto a forma como melhora as clássicas aventuras do ouriço. Mas durante minha jogatina, notei em certos momentos que a coletânea detém pequenos problemas que podem chamar a atenção, principalmente aos jogadores mais acostumados com as versões originais. Para cada avanço, haviam detalhes perceptíveis de uma certa falta de polimento quanto aos jogos como um todo.



Sonic the Hedgehog e Sonic CD foram claramente os mais polidos do conjunto. Ambas as aventuras estão fiéis aos seus originais e definitivamente melhores com as adições da coleção. Sonic CD foi, inclusive, um caso curioso, dado que é o título que menos me agrada do pacote e a adição do Drop Dash auxiliou-me a apreciar mais a aventura, já que a habilidade permite com que o jogador consiga viajar entre passado e futuro mais facilmente.

Os problemas iniciaram-se com Sonic the Hedgehog 2 e se resumiam à raposa de duas caudas. A inteligência artificial de Tails não parecia funcionar corretamente em vários momentos, tendo estágios em que o personagem se separava do Sonic e não conseguia retornar mais durante todo o percurso. O único rastro que se conseguia detectar da raposa eram os sons de seus pulos, que marcavam presença até o fim da fase e deixavam a experiência sonora menos agradável.

Sonic 3 & Knuckles, no entanto, foi a experiência com o maior número de inconvenientes. Notei vários glitches gráficos durante minha jogatina, como sprites ou até mesmo grandes partes do cenário não carregando corretamente. Além disso, a qualidade sonora estava aquém dos outros títulos da coletânea, como se os sons estivessem “abafados”.




Quase lá Sonic, você deveria chegar um pouco mais acima para alcançar a plataforma.
A questão sonora de 3 & Knuckles, aliás, é uma das maiores polêmicas de Sonic Origins. O jogo original aparentemente teve o envolvimento de Michael Jackson na produção sonora e a SEGA não parece mais ter os direitos autorais, criando a necessidade de novas músicas para o remaster.

As fases Carnival Night, Ice Cap e Launch Base, em efeito disso, receberam novas composições na coletânea, baseadas em versões beta criadas antes do envolvimento do cantor no desenvolvimento. As faixas beta de Sonic 3 ficaram disponíveis ao público alguns anos atrás, graças a um vazamento, e com isso foi possível fazer uma comparação entre elas e as recriações de Sonic Origins: o resultado é lamentável.

As novas faixas sonoras parecem muito abafadas e incompletas, não combinando com os cenários e destoando da soundtrack como um todo. É entendível que não ter as músicas originais tenha sido um preço a se pegar para termos Sonic 3 & Knuckles disponível, mas o trabalho de substituição poderia ter sido melhor.

Os extras que aumentam o charme da coleção



Vale lembrar que o pacote de Sonic Origins também inclui adições que complementam as aventuras inclusas e deixam o todo mais interessante. O primeiro e maior destaque vai para a inclusão de cutscenes animadas: cada jogo da série ganhou uma nova abertura e encerramento em estilo desenho animado, muito parecido com os curtas do Sonic Mania Adventures, além de uma abertura e encerramento para a coletânea como um todo. O charme que elas dão é imenso e ainda servem inclusive como contexto para a trama dos jogos, como o Tails conhecendo o Sonic ou o Eggman se unindo ao Knuckles.

O já mencionado Modo Missão é uma outra adição bem-vinda. O nome já diz muito: ele consiste em um arsenal de missões rápidas baseadas em algum objetivo dentro dos quatro jogos. As missões são simples e divertidas de fazer, como chegar de ponto A ao B utilizando o escudo magnético ou até mesmo uma corrida contra o tempo utilizando o Super Sonic.



Há outras adições, como músicas, artes conceituais e vídeos, que complementam o pacote, mas sinto que quanto aos sons, perdeu-se a oportunidade de implementar uma opção em que pudéssemos sobrepor as músicas do jogo com alguma trilha escolhida no Museu. Algo similar foi feito em Sonic Generations (Multi) e até hoje a franquia não repetiu a feature.

A adição de um modo Boss Rush e o modo Espelhado trazem também uma variedade extra ao jogo, sendo o primeiro uma luta contra os chefes de cada título, em que você tem três vidas no total, e o segundo as aventuras totalmente revertidas a fim de brincar com a memória muscular dos jogadores mais afiados. Aos fãs do Special Stage de Sonic 3 & Knuckles, não podemos deixar de mencionar o novo modo extra dos Blue Spheres, que adiciona novos estágios no mesmo estilo com novas mecânicas e maior dificuldade.

“Gotta go fast”



Sonic Origins, na somatória de tudo, é uma coletânea muito válida: todos os jogos receberam um bom tratamento ao ganharem melhorias que incrementam a experiência e os extras do pacote complementam o conjunto. Não é um relançamento perfeito, dado a quantidade de pequenos detalhes que incomodam principalmente aos que já estão tão acostumados com estas aventuras clássicas.

Podemos resumir os prós e contras como uma balança: para cada acerto, há um pequeno detalhe que pode ou não chamar a atenção durante sua experiência. É inegável, porém, que Origins traz as experiências definitivas das origens do Sonic para as plataformas modernas e ficamos no aguardo de patches ou atualizações de correção da SEGA devido à sua falta de polimento, assim como ocorreu com parte de Sonic Colors Ultimate.

Prós:
  • Widescreen para todos os clássicos;
  • Novas habilidades para certos jogos e novos personagens jogáveis;
  • Modo Missão, Boss Rush e outros extras para matar o tempo;
  • Novas cutscenes animadas ajudam a dar um novo charme aos títulos.

Contras:
  • Problemas gráficos em Sonic 3 & Knuckles;
  • Problemas com a Inteligência Artificial de Tails em Sonic the Hedgehog 2 e outros pequenos bugs;
  • Qualidade sonora questionável de Sonic 3 & Knuckles, incluindo as novas músicas;
  • A coletânea poderia ter mais opções de customização para os jogos.
Sonic Origins — PS5/PS4/XBO/XSX/Switch/PC  Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Janderson Silva
Análise produzida com cópia digital cedida pela SEGA
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