Análise: Cuphead - The Delicious Last Course (Switch) é o complemento perfeito a um prato principal que já era magnífico

A nova aventura de Xicrinho e Caneco, agora com a Senhorita Cálice, subverte completamente a conotação negativa da expressão “mais do mesmo”.

em 14/07/2022


Quando Cuphead foi lançado em 2017, imediatamente ficou claro que ele se tornaria uma referência não apenas dentro do seu gênero, mas na indústria dos videogames como um todo. A saga de Xicrinho (Cuphead) e Caneco (Mugman) para derrotar o Diabo é primorosa do começo ao fim, naturalmente levando todo mundo a pensar: o que vem em seguida?


A resposta veio logo no ano seguinte, com o anúncio de The Delicious Last Course. Inicialmente previsto para 2019, o conteúdo adicional seguiu um caminho de desenvolvimento idêntico ao do jogo-base, passando por sucessivos adiamentos até enfim receber sua data de lançamento para o fim de junho de 2022.

Para a surpresa de um total de 0 habitantes das Ilhas Tinteiro, o Studio MDHR sabia exatamente o que estava fazendo, e todos esses adiamentos são mais do que justificados pelo que é entregue nesta delícia de DLC.

Faltou tompero nesse cookie

Xicrinho e Caneco recebem uma mensagem urgente da Cálice Lendária, pedindo que eles partam sem demora para uma ilha distante. Chegando lá, a fantasminha oferece ao Caneco um cookie aparentemente inofensivo, mas que faz com que os dois troquem de lugar, dando à Senhorita Cálice uma forma física e deixando o irmão do Xicrinho no plano astral.




O doce mágico, criado pelo renomado Chef Pitadinha (Chef Saltbaker), tem um efeito temporário, o que levou o cozinheiro a pensar em um plano mirabolante: reunir ingredientes espalhados por toda a ilha para cozinhar a Tortuprema, que dará a quem comê-la total controle do plano astral; ou seja, a mais nova amiga de Xicrinho e Caneco deixaria de ser fantasma e voltaria de vez à vida.

Infelizmente, os ingredientes para fazer a Tortuprema estão em locais habitados por indivíduos complicados, pra dizer o mínimo. Portanto, o trio de loucinhas terá que passar por algumas rodadas de combates contra esses adversários obstinados se quiserem trazer a Senhorita Cálice para o plano terreno.

Eis que surgem os novos desafiantes

Se você nunca jogou Cuphead e por algum motivo está aqui, recomendo que antes de continuar a leitura você faça um tour pelas três primeiras Ilhas Tinteiro e depois volte. Garanto que vai valer a pena. Seja como for, vamos à quarta e derradeira ilha.

É impressionante quão rapidamente dá para perceber que o Studio MDHR acertou em cheio com The Delicious Last Course. Antes de sequer pisarmos na entrada da primeira boss fight, a beleza das paisagens desenhadas a mão que compõem a Ilha Tinteiro IV, junto com a música-tema do lugar (a trilha sonora toda, pra ser sincero), instantaneamente transporta o jogador de volta ao clima de Cuphead.




Como não poderia deixar de ser, o novo hub world não fica apenas no deleite visual e oferece um singelo, mas instigante desafio de lógica, além de alguns personagens que ajudam a compor o cenário com falas divertidamente adaptadas — inclusive, fica aqui um gigantesco parabéns à equipe de localização para o português brasileiro, que mais uma vez foi muito bem na tradução para o nosso idioma, com destaque para os sensacionais nomes abrasileirados dos chefes.

Estes, aliás, são tão criativos e visualmente divertidos de ver em ação quanto os nossos adversários das ilhas anteriores. Achei as lutas um pouco mais fáceis que as do jogo-base, mas não pense por um segundo sequer que isso é um indicativo de moleza, sobretudo se você tiver um certo masoquismo no coração (como eu) e quiser obter as notas máximas em cada um dos confrontos; se for o caso, que o Vovô Chaleira tenha piedade da sua alma.

The Delicious Last Course não tem as fases de Correr e Atirar (Run & Gun), mas o seu substituto, o Salto D’el-rei, está mais do que à altura. Essa série de desafios capitaneada pelo Rei dos Jogos (não, não é Yugi Muto) funciona de um jeito maravilhosamente diferente do gameplay tradicional.




Aqui, não podemos usar armas nem relíquias. A única ferramenta permitida são as aparadas (parries), que somos obrigados a usar contra chefes que representam peças de xadrez, dos peões à rainha. Após derrotarmos os cinco separadamente, o Rei nos dá a opção de enfrentar todos em sequência, sem morrer uma vez sequer.

Outra fonte de novidades é o Empório do Toucinho, que traz mais algumas munições e relíquias para ajudar o jogador a lidar com as batalhas que estão por vir. Mas é claro que ele não será a única fonte de auxílio.

Jogo, ensina pra mim sobre essa Cálice

A Senhorita Cálice sai do papel de coadjuvante que fornece as Superartes no jogo-base para enfim ajudar nas brigas — afinal, agora que tem o Biscoito Astral, ela não ia deixar o trabalho todo para o Xicrinho e seu irmão, né?

A nova personagem jogável passa longe de ser apenas uma opção cosmética. Ao equipar o biscoitinho como uma Relíquia, a jovem troca de lugar com quem o jogador tiver selecionado e vai para a ação com seu kit próprio de habilidades, que incluem um pulo duplo, uma esquiva com aparada embutida e uma cambalhota que a deixa invulnerável enquanto executa o movimento.




A Ilha Tinteiro IV conta com um tutorial que mostra como essas mecânicas funcionam, então não precisa se preocupar em aprender o estilo de jogo da Senhorita Cálice no meio da confusão. Você pode praticar à vontade para entender melhor como ela funciona.

Bem mais que uma louça fácil de manusear

Logo se torna perceptível que a nova parceira dos irmãos Xicrinho e Caneco foi incluída para mitigar a dificuldade implacável pela qual Cuphead se tornou tão conhecido, dos compilados de streamers perdendo a linha às comparações com a série Dark Souls. De fato, a garota cumpre esse papel de maneira até bem objetiva, já que, além das habilidades citadas, ela recebe um Ponto de Vida adicional, ficando com 4 ao invés dos 3 dos outros dois personagens. Porém, ela representa bem mais que um “modo fácil”.

O pulo duplo, por exemplo, alcança a mesma altura do pulo regular do Xicrinho/Caneco, e como a aparada da Senhorita Cálice está embutida na esquiva, ela opera horizontalmente, diferentemente dos rapazes, que ativam seus parries durante os saltos.




A questão é: sim, a gameplay com a nova integrante do grupo é bem menos trabalhosa, inclusive nas fases de avião, que dão a ela munições mais poderosas, mas não fica só nisso. A inclusão de mais uma loucinha na prateleira representa não só um conteúdo inédito, mas também uma boa dose de rejogabilidade, a começar pelo novo conjunto de conquistas que vem em The Delicious Last Course, algumas das quais envolvem diretamente derrotar uma quantidade de chefes com a ex-fantasma. Mas isso não é tudo.

Cada chefe do jogo principal ganha novas nuances sob a perspectiva da Senhorita Cálice, ainda mais se você buscar as notas máximas, o que inclui acertar três aparadas e gastar com sucesso seis cartas do medidor de golpes especiais. Como a moça possui superartes diferentes e seu parry é horizontal, a mentalidade para cumprir esses dois objetivos muda significativamente em relação a Xicrinho/Caneco.

Por mim, podia vir mais um arquipélago inteiro

Aludindo ao comecinho desta análise, Cuphead - The Delicious Last Course é mais do mesmo que vimos desde 2017 até agora, mas nesse caso a expressão tem um significado completamente oposto do normal, principalmente após tantos anos sem novas aventuras dos irmãos Xicrinho e Caneco. O trabalho do Studio MDHR é algo tão refrescante e bem-vindo atualmente na indústria de games que pelo menos eu não fico nem um pouco incomodado de ter um conteúdo inédito que siga o mesmo roteiro do que veio antes dele.




A ausência das fases de Correr e Atirar e a pouca quantidade de batalhas tradicionais contra chefes talvez sejam frustrantes, mas o Salto D’el-rei compensa bastante com suas criativas formas de combate.

Para quem se irritava com a locomoção arrastada entre as Ilhas Tinteiro do jogo-base, o barqueiro que nos leva ao novo cenário traz consigo um mais que necessário método de viagem rápida, agora permitindo o deslocamento livre entre todos os locais. Talvez esse novo recurso tenha chegado atrasado para quem já jogou o jogo-base, mas antes tarde do que nunca.

Se você curtiu o que o Cuphead original tem a oferecer, não há muito mais a dizer, além de que este DLC é uma das aquisições mais óbvias do ano no que diz respeito a videogames. Uma despedida que deixa um gosto docinho e muita expectativa pelo que vem por aí da parte do Studio MDHR.

Prós:

  • Seguindo o padrão do jogo-base, a direção de arte e a trilha sonora continuam um assombro de tão sensacionais;
  • As novas lutas contra os chefões mantêm o nível de qualidade dos seus antecessores;
  • A Senhorita Cálice é uma excelente adição em termos de variedade de gameplay, novas conquistas e rejogabilidade do conteúdo original;
  • O Salto D’el-rei é um criativo e desafiador conjunto de batalhas que fazem ótimo uso da mecânica de aparar (parry).

Contras:

  • A quantidade de novos chefes pode fazer com que a jogatina acabe rápido;
  • Talvez o novo método de viagem rápida tenha vindo tarde demais para quem já passou pelas três ilhas do jogo original.
Cuphead - The Delicious Last Course - Switch/PC/PS4/XBO - Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pelo Studio MDHR
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Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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