Análise: Endling - Extinction is Forever é uma das experiências mais emocionantes da biblioteca do Switch

O mundo está sendo cruelmente devastado e cabe a você garantir a sobrevivência de uma adorável família de raposas.

em 23/07/2022
O iminente risco de extinção da fauna e da flora de nosso planeta é um assunto que, infelizmente, não está tão presente em nosso cotidiano quanto deveria. Para abordar esse sério problema, Endling - Extinction is Forever trata de apresentar os esforços de uma família de raposas para sobreviver em um universo poluído e devastado. No fim das contas, o resultado é a criação de um memorável jogo de ação, que, mesmo com pouca profundidade de gameplay, traz uma emocionante e necessária reflexão para os dias atuais.

A luta diária pela sobrevivência animal

A campanha de Endling se inicia com uma cena que exibe uma raposa lutando pela sua vida em uma floresta sendo devastada por um incêndio. Então, passamos a controlar o animal e recebemos a missão de levá-lo até um local seguro. Ao chegarmos em uma toca, descobrimos que a protagonista está, na verdade, grávida, rapidamente dando à luz  quatro pequenas raposas, que carregam o peso de serem os últimos espécimes de toda a sua raça.

Em uma nova cena cinematográfica, vemos um dos filhotes ser roubado por um caçador humano, que cruelmente o aprisiona em uma pequena gaiola. É, a partir de então, que o título irá desenvolver os dois grandes fatores que conduzirão o ritmo de toda a campanha. O primeiro deles envolve a luta pela sobrevivência da família de raposas em um mundo arrasado, o que se relaciona com a busca por comida e por novos abrigos. Enquanto isso, a outra interface estará na procura pelo filhote desaparecido, que, de acordo com o olfato aguçado da raposa mãe, ainda aparenta estar vivo, mas corre graves perigos nas mãos do caçador.

Desde os primeiros momentos, é curioso notar como Endling não apresenta sua história através de elementos textuais ou narrações elaboradas, mas sim representa os principais acontecimentos de seu enredo em reconstruções de cenas com belíssimas animações gráficas. Isso se torna, então, uma das maiores qualidades do título, que conta com um exuberante estilo visual e uma ótima performance no Switch, podendo desenvolver as suas propostas de storytelling e de jogabilidade com bastante liberdade.

Controlando uma raposa e seus filhotes

Com recursos de gameplay funcionais, Endling apresenta um mundo side-scrolling com elementos tridimensionais. Além do uso do analógico do Joy-Con para a movimentação lateral, temos comandos específicos que nos permitem farejar, latir e correr, assim como outras funcionalidades situacionais que são ativadas através do botão A. É ele que nos possibilita, por exemplo, subir em árvores, cavar, escalar plataformas, se esconder em moitas, caçar e realizar outras interações circunstanciais.

Ao longo da campanha, nós controlamos a raposa adulta para realizar tarefas que combinam conceitos de ação, estratégia e sobrevivência, em um mapa relativamente aberto que expande os locais acessíveis mediante o nosso progresso. No layout da tela, podemos acompanhar uma barra que mede conjuntamente a fome de toda a família. Esse elemento, com efeito, será um dos mais importantes para a jogatina, pois ele esvazia conforme gastamos nossos esforços de exploração. Para preenchê-lo, temos de caçar outros animais, como peixes, ratos e coelhos, ou encontrar frutas e restos de comida em lugares como árvores, moitas, sacos de lixo e outras estruturas. 

Assim, o jogo adquire traços de sobrevivência e de estratégia na medida que precisamos controlar os níveis da barra para não morrer. Do mesmo modo, há outro fator que aumenta a exigência tática ao envolver os hábitos noturnos das raposas: conforme o dia se aproxima, precisamos retornar para a toca o mais rápido o possível ou então passamos a perder energia em quantidades elevadas.

Diante dessas características, a progressão se torna mais desafiadora quando se trata da procura pelo filhote desaparecido, visto que podemos farejar uma trilha deixada pelo caçador, mas não somos capazes de avançar por muitos terrenos de uma só vez, justamente em função das limitações energéticas. Junto a isso, o jogo também posiciona certos elementos que atravancam a progressão, como plataformas e buracos que só poderão ser acessados quando os nossos filhotes crescerem e desenvolverem certas habilidades, o que figura entre os detalhes mais fofos e recompensadores do título.

Desse modo, Endling fez um excelente trabalho ao combinar elementos de diferentes estilos de gameplay, ganhando contornos de tensão conforme temos de calcular nossos esforços de sobrevivência com a oferta de alimentos. Quando essas características vão de encontro à sua atmosfera repleta de aflição, temos momentos de jogabilidade bastante intensos e envolventes, embora não necessariamente complexos ou altamente desafiadores.

Alerta de gatilho para uma jornada triste

Tratando-se de pontos que podem ser considerados problemáticos no título, há dois que são, de certa forma, mais salientes. O primeiro deles está no fato de que há pouca diversidade de gameplay ao longo da jornada. Ora, praticamente toda a nossa performance envolve a mesma rotina mencionada, cumprindo tarefas em um ciclo duradouro de farejar, caçar e retornar para a toca. Isso se agrava à medida que as habilidades aprendidas não resultam em novos movimentos ou comandos, apenas em recursos que liberam novas partes do mapa quase de maneira automática. 

Enquanto isso, outro detalhe que também traz ares de repetitividade reside na conjuntura de que utilizamos um mesmo botão para fazer diferentes atividades. Cria-se, assim, a impressão de que a obra não traz uma jogabilidade que se aprofunda com o tempo, apresentando pouca diversidade de controles, tarefas e combinações.

Por fim, há outra característica de Endling que também merece ser mencionada: a atmosfera pesada e entristecedora da narrativa. Ainda que seja recompensador acompanhar o crescimento de nossa família, é fácil de se sentir desolado com os acontecimentos que, ao som dramático de violinos, demonstram a destruição da natureza por parte dos seres humanos. No decorrer da jornada, isso se manifesta de maneira mais aguda com eventos que remetem à nossa realidade, assimilando comparações e projeções do quão devastador pode ser o futuro dos ecossistemas do planeta Terra. 



Com cenas que mostram inúmeros animais sofrendo, árvores sendo cortadas, armadilhas mortais e humanos agressivos que, de fato, são os grandes vilões da jornada, cria-se uma aventura que não é exatamente alegre e animada, não podendo ser recomendada para quem não lida muito bem com o assunto. Por outro lado, se considerarmos que esse interesse em causar um impacto emocional está entre os grandes objetivos da obra, podemos, então, muito bem dizer que Endling é efetivo e realmente cumpre o que promete.

Uma bela e sentimental jornada

Sem utilizar uma palavra sequer em sua narrativa, Endling - Extinction is Forever é um jogo marcante que oferece uma das experiências mais emocionantes disponíveis na biblioteca do Switch. Mesmo que a sua jogabilidade deixe a desejar em termos de profundidade e diversidade, este indie de sobrevivência faz algo muito mais importante com suas premissas, que é promover uma reflexão sobre a possível extinção do meio ambiente de nosso planeta, uma pauta que, infelizmente, costuma ser menosprezada e esquecida em muitos debates sociais e políticos deste caótico século XXI.

Prós

  • História emocionante capaz de causar reflexões;
  • Desafios que são repletos de tensão ao combinar ação e sobrevivência;
  • Momentos de exploração instigantes;
  • O jogo traz uma estética rica, exibindo belos elementos 3D no formato side-scrolling;
  • A narrativa procura conscientizar sobre um tema extremamente importante. 

Contras

  • Pouca profundidade e variedade em termos de jogabilidade;
  • Com uma atmosfera triste e previsões assustadoras, é um jogo difícil de se absorver.
Endling - Extinction is Forever — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela HandyGames
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Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).