Análise: Demon Slayer - Kimetsu no Yaiba - The Hinokami Chronicles leva ao Switch a ação frenética do anime

Um visual estonteante e mecânicas acessíveis são os maiores destaques deste título de luta.

em 15/06/2022

Como é de praxe, obras populares de diferentes mídias, em algum momento, acabam sendo adaptadas para jogos. Demon Slayer - Kimetsu no Yaiba - The Hinokami Chronicles transforma o universo de Koyoharu Gotouge em um título que traz a ação empolgante dos embates do anime. Além de visual excepcional, o jogo conta com um sistema de luta acessível e uma boa reprodução da trama. No entanto, a simplicidade das mecânicas e do conteúdo impedem que essa adaptação se destaque.

Em uma jornada de vingança contra os demônios

Demon Slayer conta a história de Tanjiro Kamado, um rapaz que vê sua vida mudar quando sua família é assassinada por um demônio. Para piorar, sua irmã Nezuko, a única sobrevivente do massacre, é transformada em um desses seres demoníacos. Para vingar a sua família e encontrar uma cura para a irmã, Tanjiro se torna um Caçador de Demônios, utilizando uma espada especial capaz de acabar de vez com as criaturas malignas. Em suas aventuras, o rapaz é acompanhado por Zenitsu e Inosuke, que juntos enfrentam inúmeros desafios e oponentes perigosos.


The Hinokami Chronicles explora no modo Story os acontecimentos desde o início da jornada de Tanjiro até o final do arco Trem Infinito. Boa parte das cenas não interativas estão belamente reproduzidas com os gráficos do jogo, sendo que os momentos mais dramáticos se destacam, como as lutas contra os demônios mais poderosos. Todos os pontos principais da história são abordados, permitindo que o título seja aproveitado por quem não conhece o anime ou o mangá.

Fora das cenas, o Story conta com dois diferentes momentos jogáveis. No primeiro, exploramos cenários a fim de completar objetivos para fazer a trama avançar. Em alguns trechos, inclusive, podemos usar o olfato aguçado de Tanjiro para encontrar demônios ou outros personagens. Como de costume, há missões paralelas e colecionáveis espalhados pelas localidades.


Já os demônios são enfrentados em combates em uma arena circular com muitos combos e técnicas especiais. No final de cada capítulo, há uma luta contra um chefe, que normalmente apresenta alguma mecânica única relacionada a seus poderes, nos forçando a esquivar de ataques que afetam o cenário. A parte final do embate mistura cenas não interativas e quick time events para trazer maior imersão. É uma pena que a grande maioria das lutas sejam extremamente fáceis, o que tira qualquer sensação de tensão.

A ideia do modo Story é interessante, mas a execução é rasa: os mapas são completamente lineares e o conteúdo opcional é trivial. Para piorar, em alguns trechos somos forçados a andar lentamente enquanto os personagens conversam, o que deixa tudo ainda mais enfadonho. Até mesmo o olfato de Tanjiro é dispensável, afinal só há um único caminho para seguir na maior parte das vezes. É uma pena, pois com mais esforço seria possível desenvolver as localidades e o mundo de Demon Slayer além da obra original.





Recriando os combates estilosos do anime

Na hora dos combates, The Hinokami Chronicles usa o estilo de luta de arena similar aos jogos da série Naruto: Ultimate Ninja Storm — o que é justificável, afinal ambos os títulos foram produzidos pela mesma desenvolvedora. Podemos movimentar o personagem livremente pelo cenário e, depois de conectar alguns ataques, a câmera assume a posição lateral por algum tempo, o que traz dinamismo aos embates. Além de golpes básicos, os lutadores têm à disposição técnicas especiais, esquivas, defesas, uma investida para se aproximar rapidamente do oponente e um golpe Ultimate.


No modo Versus (e em alguns embates do Story) a dinâmica é um pouco diferente: escolhemos dois personagens, mas controlamos somente um deles por vez, sendo possível alternar para o lutador da reserva livremente, chamá-lo para executar algum ataque ou pedir ajuda escapar de combos. Isso só é válido para os personagens humanos, uma vez que os demônios lutam sozinhos e, em contrapartida, contam com outros recursos para compensar a ausência de um parceiro.

Há 24 lutadores para escolher, entre caçadores, Hashiras (guerreiros de maior patente na organização dos caçadores) e demônios. Um ponto decepcionante no elenco é que alguns dos personagens são meras versões com roupas e especial Ultimate diferente. Além disso, há uma abundância de heróis do estilo de respiração de água e suas técnicas especiais são idênticas. De qualquer maneira, um DLC pago no futuro disponibilizará personagens do arco Distrito do Entretenimento, como o Hashira Tengen Uzui.


O sistema de luta de Demon Slayer é bastante acessível, permitindo montar combos elaborados com certa facilidade. Com um pouco de técnica, é possível iniciar uma sequência no solo, lançar o oponente no ar, usar a investida para se aproximar e continuar atacando. Há um aspecto rítmico: para conseguir encadear os ataques, é essencial saber golpear na hora certa. Esses detalhes, em conjunto com os parceiros, adicionam camadas estratégicas ao jogo.

Luta descomplicada até demais

A simplicidade das mecânicas tem seu preço a longo prazo, tornando as partidas limitadas demais com o passar do tempo. Para começar, a diversidade de ataques de cada lutador é muito pequena, então bastam alguns poucos combates para ver todas as possibilidades. Além disso, o estilo de luta dos personagens é extremamente similar entre si , com boa parte do elenco compartilhando os mesmos ataques.

Balanceamento é outra questão negativa notável. Uma vez atingido por uma sequência, é muito difícil escapar. Até existem recursos para tentar dar uma chance para quem está apanhando, como tamanho máximo de combo, uso contado de técnicas especiais e a possibilidade de usar o parceiro para escapar. Porém, essas opções não são suficientes e é fácil ser completamente destruído por um jogador um pouco mais habilidoso.


Mesmo com esses problemas, Demon Slayer é um jogo de luta agradável que oferece diversão mais descompromissada. E, claro, a ambientação é parte do apelo: é empolgante fazer sequências estilosas e finalizar o oponente com um ataque Ultimate visualmente impressionante. Entusiastas do gênero podem se decepcionar com as mecânicas rasas, porém a intenção aqui é controlar Tanjiro e seus amigos.

Desbravando o conteúdo de um pacote básico

No campo do conteúdo, The Hinokami Chronicles é modesto. O Story é claramente o foco com sua campanha que leva por volta de dez horas caso as cenas de história não sejam puladas. Já o Versus oferece partidas livres, com direito a uma modalidade online com missões diárias e rankings. Por fim, há o modo Training, que nos desafia a executar combos específicos. Senti falta de outras modalidades, como arcade ou sobrevivência — a única opção é ficar no Versus.


Há muitos colecionáveis para desbloquear, como personagens, imagens, citações, músicas e roupas alternativas para os lutadores. Para liberar os itens, é necessário satisfazer as condições indicadas no painel do menu Rewards ou então utilizar Kimetsu Poins, que são obtidos em pontos da história e ao jogar o modo Versus. Infelizmente, a maior parte do conteúdo está trancada e é necessário jogar o enfadonho modo história até o final. Boa parte dessas recompensas são irrelevantes e talvez só tenham apelo aos fãs ferrenhos do anime.

Lançado anteriormente em outras plataformas, Demon Slayer chega agora ao Switch em uma ótima adaptação. O visual continua colorido e vibrante, e os tempos de carregamento não são longos. A fluidez se mantém constante nos 30 quadros por segundo tanto no modo portátil como no dock. Nos meus testes, o modo online funcionou sem maiores problemas e com pouco lag, por mais que seja um pouco difícil encontrar oponentes. Não há novidades em relação às versões para outros consoles, porém a edição do console híbrido já inclui todos os updates dos últimos meses, como a adição dos demônios ao modo Versus.



Uma recriação razoável da saga de Tanjiro

Demon Slayer - Kimetsu no Yaiba - The Hinokami Chronicles consegue transformar a ação estilosa do anime em um bom jogo de luta. Além do visual estonteante, o jogo conta com sistemas acessíveis capazes de agradar diferentes públicos. Fora isso, o modo história envolve ao trazer ótimas recriações de fatos importantes da trama, por mais que os trechos de exploração sejam dispensáveis.

Assim como outras adaptações de animes, The Hinokami Chronicles sofre com a superficialidade das mecânicas e com conteúdo de diversidade limitada — possivelmente uma continuação melhore esses aspectos. No mais, Demon Slayer - Kimetsu no Yaiba - The Hinokami Chronicles é recomendado para quem busca um título de luta descompromissado e para os fãs do anime e mangá.

Prós

  • Sistema de luta acessível e frenético;
  • Visual elaborado, principalmente nas cenas mais dramáticas e nos ataques especiais;
  • Boa quantidade de personagens para dominar.

Contras

  • Superficialidade das mecânicas deixam as partidas limitadas a longo prazo;
  • Modo história repleto de trechos enfadonhos;
  • Conteúdo limitado e com desbloqueio desnecessariamente custoso.
Demon Slayer - Kimetsu no Yaiba - The Hinokami Chronicles — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: João Pedro Boaventura
Análise produzida com cópia digital cedida pela SEGA
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é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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