Aconteceu alguma coisa, mas não sei exatamente o quê
A história de Kinduo é contada sem palavras, apenas com uma transição de cenas tal qual em uma história em quadrinhos. Mesmo assim, sabemos que aconteceu alguma coisa e nossos protagonistas incógnitos — que, para motivos de análise, chamarei de Bolt e Rocky — precisam atravessar diversas áreas cheinhas de obstáculos e completar sua missão de salvar o mundo e voltar para casa. Ou, ao menos, foi o que entendi.
A premissa toda pode até ser bem simples e clichê, mas a jogabilidade consegue ir além. Os primeiros níveis, como de praxe, servem para introduzir mecânicas, como a possibilidade de Rocky de empurrar obstáculos e a habilidade de Bolt de mover plataformas ao gerar eletricidade.
Com isso, também percebemos que Bolt tem uma movimentação mais ágil e um pulo de maior alcance, enquanto Rocky fica com o trabalho braçal da dupla. Contudo, como o objetivo é levar os dois amigos sãos e salvos até a saída de cada fase, é necessário encontrar uma solução que contemple os dois — e é aqui que entra o fator puzzle.
Na falta de duas cabeças, pensamos com uma só
Pelo menos na minha percepção, Kinduo foi pensado para ser jogado a dois em modo co-op local. Isso não quer dizer que não possa ser aproveitado de modo solo, com uma única pessoa alternando o controle entre Bolt e Rocky. Apesar de não contarmos com um amigo para discutir qual seria a melhor ação a ser tomada em determinado momento quando jogamos assim, o platformer não deixa a desejar em nenhum aspecto, apenas adiciona uma camada extra de exercício mental, por assim dizer.
Outro fator que merece atenção é a complexidade dos quebra-cabeças. Embora alguns deles, sobretudo a partir do 15º estágio, comecem a ficar mais criativos, nenhum necessita de manobras mirabolantes para ser resolvido. Não quer dizer, porém, que Kinduo não estimule o raciocínio e se baseie, muitas vezes, em tentativa e erro; afinal, qual seria a graça de um puzzle sem essa característica?
As fases não têm um tempo limite para serem completadas e também não existe um modo de jogo de corrida contra o relógio, por mais que todos os estágios possam ser refeitos sem impedimentos. Nesse aspecto, o recado aos maratonistas foi dado: a pressa é inimiga da solução, que nem sempre é tão óbvia quanto parece.
As aparências enganam
Em termos de jogabilidade, Kinduo roda bem em ambos os modos do Switch, mas, mesmo sem suporte à tela de toque, preferi jogar de maneira portátil. Talvez a minha preferência se dê ao estilo de vida que levo, então a uma hora que demoro para ir de casa ao trabalho pelas manhãs se tornou menos tediosa.
Porém, como vivo dizendo, eu não sou todo mundo, então é bem capaz de outras pessoas acharem este platformer sem graça ou “muito fácil”. Na minha concepção, enquanto um jogo for capaz de entreter, ele merece ser jogado, mesmo que às vezes tire sarro da nossa capacidade lógica e nos obrigue a refazer a mesma fase algumas vezes. Kinduo se facilmente se enquadra aqui e talvez a única crítica que eu tenha a respeito dele seja sua duração.
Dada a criatividade por trás de seu level design, acredito que pelo menos mais 20 níveis poderiam ter sido adicionados — até mesmo .cat Milk, um indie muito mais simples que Kinduo em diversos sentidos, oferece mais variedade em termos de quantidade. Por outro lado, em termos de qualidade, as aventuras de Bolt e Rocky apresentam três cenários diferentes, com uma trilha sonora para cada um deles, além de gráficos charmosos e coloridos.
Da parte técnica, acredito que não exista nada grave a ser apontado. Os comandos são simples e responsivos e novas mecânicas são introduzidas com suas respectivas explicações. A falta de opções de idiomas não é prejudicial, dado que Kinduo é um jogo muito mais visual que textual e, no fim do dia, contempla todas as faixas etárias.
Uma dupla dinâmica
Dada a sua estrutura, Kinduo é um jogo pensado para dois, mas também extremamente aproveitável por um único jogador. Mesmo com poucos estágios, a variedade tanto visual quanto lógica compensa para quem gosta de puzzles bem-elaborados, mas que não beiram o impossível. Em suma, a aventura de Bolt e Rocky é um platformer que vale a pena para exercitar a lógica de maneira simples, efetiva e acessível para todas as idades.
Prós
- Jogabilidade sólida e simples;
- Gráficos bem trabalhados;
- Boa variedade de cenários, músicas e level design;
- Possibilidade de jogar em co-op local;
- Ótimo passatempo em termos de puzzle.
Contras
- Apenas 30 fases;
- Jogabilidade mais trabalhosa em modo single player.
Kinduo — PC/PS4/PS5/XBO/XBX/Switch — Nota: 7.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games