Análise: Gotta Protectors: Cart of Darkness (Switch) traz muita ação em 8-bit ao console da Nintendo

Título da Ancient é uma grata surpresa e um prato cheio para os fãs do gênero.

em 18/04/2022
Desenvolvido pela lendária Ancient Corp., cuja carreira na indústria de games remonta ao início dos anos 1990, Gotta Protectors: Cart of Darkness traz ao Switch uma interessante mistura de Tower Defense com estratégia em tempo real, abrilhantada por uma estética singular inspirada nos grandes títulos da saudosa era 8-bit. Com um humor único e potencial de muitas horas de diversão, aqui está um forte candidato à lista de melhores jogos do ano para o console da Nintendo. Confira a seguir a nossa análise.

O cartucho da escuridão

Lançado originalmente no Japão em 2019, Gotta Protectors: Cart of Darkness é o terceiro título de uma série de Tower Defense que nasceu com o jogo Protect Me Knight, lançado em 2010 para o Xbox 360 via Xbox Live Arcade. À época, o jogo para o console da Microsoft foi elogiado por sua ação frenética e múltiplas referências à era 8-bit, o que garantiu, anos depois, uma sequência expandida para o 3DS, intitulada Gotta Protectors.

No console da Nintendo, Gotta Protectors novamente se destacou. Elogiado pela grande quantidade de mapas e pelo seu alto fator replay, que combinava perfeitamente com um sistema portátil, o jogo da Ancient acabou conquistando uma boa quantidade de fãs, tornando-se uma espécie de clássico cult da eShop que, infelizmente, fechará em breve.

Por tudo isso, o anúncio de Gotta Protectors: Cart of Darkness foi cercado de expectativa para os amantes de sua proposta única. Após a boa recepção em seu lançamento original nas terras nipônicas, finalmente recebemos o jogo deste lado do Atlântico, e o que posso escrever — com um sorriso sincero no rosto — é que a espera valeu a pena.

Estratégia em tempo real

Como dito no início, Gotta Protectors: Cart of Darkness mescla elementos de defesa de torres com estratégia em tempo real. Uma vez em jogo, você assumirá o controle dos guerreiros conhecidos como Gotta Protectors e deverá proteger a princesa Lola e seu castelo em suas travessias por diversos mapas.

Essa é a mesma premissa vista em jogos anteriores da série, só que Cart of Darkness traz consigo algumas particularidades: desta vez, um grande e misterioso vilão está determinado a destruir todos os videogames da face da Terra; paralelamente, o castelo de Lola está equipado com um maquinário que, misteriosamente, lhe faz se transformar em um tanque.

Na prática, então, o castelo se torna uma grande arma móvel e letal. Em cada estágio do jogo, Lola o guiará automaticamente em direção à estrutura final dos inimigos e, uma vez que esta seja destruída, a fase será concluída. Seu dever, como um bom Gotta Protector, é assegurar que o castelo cumprirá intacto sua trajetória e a princesa não será ferida no processo. Parece fácil, correto? Pois bem, longe disso — prepare-se para muita ação e adrenalina para que tudo dê certo!

Guerra em 8-bit

Se nos primeiros estágios, que também funcionam como tutorial, Lola e seu castelo não enfrentarão muitas dificuldades para chegar ao ponto final, logo, logo você se verá cercado de inimigos pixelizados que não param de surgir de todos os cantos da tela. Como dito, a construção real se move automaticamente uma vez que a princesa esteja dentro dela, mas ocasionalmente obstáculos e puzzles aparecem bloqueando a passagem, e você precisará resolvê-los antes de seguir caminho.

Apesar das fases não terem um limite de tempo, todos esses elementos juntos criam uma sensação muito interessante de urgência. Afinal, conforme se progride na campanha, você encontrará adversários cada vez mais variados e poderosos, e a quantidade de dano que tanto Lola como o castelo podem receber não é infinita, resultando com frequência em um game over em caso de descuido.

Aí entra a parte da estratégia em tempo real, em que você precisará pensar em diversos elementos ao mesmo tempo. Haverá estágios em que avançar para um certo local da fase provavelmente despertará uma nova horda de monstros, então por vezes será melhor retirar Lola do castelo e cuidar de uma horda anterior antes de progredir. Já em outras fases, por exemplo, você precisará fazer escolhas como priorizar um puzzle ou derrotar aquele inimigo gigante que está destruindo com agressividade as barricadas em direção ao castelo. Tudo isso instantaneamente, conforme as coisas acontecem e as surpresas são jogadas em seu colo.

Algo que sem dúvidas contribui para o espetáculo geral é a quantidade de elementos na tela. Já nas primeiras fases, é impossível não notar que os inimigos aqui aparecem igual formigas perto de uma lata aberta de leite condensado — há inclusive momentos em que Gotta Protectors: Cart of Darkness se assemelha de modo muito curioso a um jogo da série Warriors, da Koei Tecmo, mas em 8-bit, no qual você destruirá grupos e mais grupos de oponentes alternando golpes e personagens com fluidez.

Antes de uma fase, você escolherá até três heróis de oito disponíveis. Cada um possui uma habilidade diferente que pode impactar o campo de batalha de maneira peculiar, e como você pode alternar livremente entre eles, é possível alternar livremente estratégias no campo de batalha conforme os desafios se desenham. Triunfar sobre um estágio também lhe permite comprar upgrades temporários, que tornarão a missão subsequente mais palatável.

Contudo, é importante mencionar também que jogadores mais casuais não precisam se preocupar com a dificuldade: há quatro presets disponíveis aqui, assegurando que aventureiros de todos os níveis conseguirão encontrar diversão por longo período. Ponto muito positivo no quesito acessibilidade.

Arte e nostalgia

Fazendo jus ao legado da Ancient, Gotta Protectors: Cart of Darkness traz consigo uma direção de arte muito interessante. Visualmente, o título remete ao estilo popularizado pelos clássicos de NES e Master System e o resultado é muito agradável tanto no modo TV quanto no modo portátil do Switch. A trilha sonora em chiptune assinada pelo lendário Yuzo Koshiro (Streets of Rage, Actraiser) também dispensa comentários, acabando por engrandecer toda a obra.

A chegada da série ao console mais poderoso da Nintendo também garante que todo o jogo pode ser jogado por até quatro jogadores ao mesmo tempo, tanto localmente quanto pela internet — neste último caso, vale lembrar que a assinatura do Switch Online se faz necessária. Apesar de oferecer complexidade àqueles que a procurarem aqui, a natureza “pegar e jogar” de Cart of Darkness o torna especialmente atraente para sessões descompromissadas, nas quais o objetivo é “moer” a maior quantidade de inimigos ao lado de companhias especiais.

Aproveito para tecer aqui um elogio aos responsáveis pela parte técnica do jogo. Com tantas coisas acontecendo na tela ao mesmo tempo em diversos momentos, não seria um espanto escrever sobre quedas na taxa de quadros ou o emprego de resolução dinâmica — termos que, infelizmente, têm se tornado comuns em análises de jogos para Switch.

Felizmente, não é o caso aqui: mesmo com múltiplos elementos na tela, a taxa de quadros se mantém estável e a jogabilidade nunca perde a fluidez que dela se espera. Visualmente, como dito, o título também se prova constantemente muito bonito e um prato cheio para os saudosistas de uma época onde as coisas eram mais simples e, quiçá, mais divertidas.

Missão: proteger!

Gotta Protectors: Cart of Darkness é uma grata surpresa e um dos melhores jogos lançados para o Switch neste ano. Sua mescla única de tower defense e ação frenética é nada menos que viciante e a grande quantidade de conteúdo aqui presente garante que este é um título que poderá ser jogado por semanas, meses e até anos. Adições como multiplayer online e uma campanha mais robusta são somente a cereja de um bolo que oferece nostalgia e novidades na medida certa. Recomendado.

Prós

  • Visual que evoca os melhores momentos da era 8-bit;
  • Trilha sonora assinada pelo lendário Yuzo Koshiro;
  • Jogabilidade caótica e viciante;
  • Sistema de missões e equipáveis garante considerável fator replay ao título;
  • Inúmeras referências à era de ouro dos videogames;
  • Quatro níveis de dificuldade garantem desafio justo a todos os tipos de jogadores;
  • Multiplayer online e local para até quatro jogadores simultaneamente.

Contras

  • Referências podem não fazer sentido para jogadores mais novos;
  • Sem suporte a português brasileiro;
  • DLC de trilha sonora poderia estar inclusa na versão padrão.
Gotta Protectors: Cart of Darkness — Switch — Nota: 9.0
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela 8-4

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