A narrativa de Crystar (Switch) - Parte 1: Entendendo os loops temporais

Apesar de deixarem o jogo um pouco repetitivo, os loops temporais são parte crucial da história.

em 07/04/2022
crystar switch
Crystar foi recém-lançado no Switch, embora já esteja disponível para PC e PS4 desde 2019. O RPG de ação da FuRyu pode não agradar aos fãs mais assíduos do gênero devido ao seu sistema de combate simplificado, mas compensa esse ponto com uma história imersiva e complexa. Apesar de não deixar muito aparente, a trama é fragmentada e faz com que Crystar tenha não apenas um, mas sim três momentos de pós-jogo, totalizando 17 capítulos.


Ou seja, o verdadeiro desfecho do jogo só se dá depois de revisitar algumas partes da história mais duas vezes. De certa forma, Crystar se assemelha a Gnosia nesse quesito, mas sem o fator randomização — e, verdade seja dita, revisitar os três últimos capítulos mais duas vezes pode deixar o jogo um pouco repetitivo, especialmente dado o design das dungeons finais.

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Contudo, o que chama a atenção nesse sistema de loops temporais é ver como as personagens (tanto protagonistas quanto antagonistas) estão ligadas umas às outras em oposição ao que a primeira campanha nos faz acreditar. Conforme avançamos de novo e de novo nas camadas mais profundas do Purgatório, vemos certos acontecimentos sob diferentes óticas e também percebemos que, na vida, nada existe ou acontece por acaso.

Tentarei me conter em relação aos spoilers, mas se você está jogando Crystar pela primeira vez, recomendo não ler este texto, já que todas as informações são reveladas no Diário de Rei. Para facilitar o entendimento dos capítulos, usarei a marcação X-Y-Z, na qual: X se refere ao capítulo do jogo; Y, ao número da dungeon; e Z, ao loop em questão.

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Primeiro loop: Overflowing Future

É neste primeiro loop que temos o primeiro contato com Kuon Hatada, ainda não identificada no jogo, e o termo Alcea que, de acordo com a irmã gêmea de Rei, é o conhecimento retido das outras linhas do tempo — ou seja, a verdade absoluta. Contudo, apenas Kuon, Mephis e Pheles têm conhecimento da existência de Alcea, dando início ao primeiro momento pós-jogo.

É importante ter em mente que, até o momento, durante a campanha principal, Sei e Nanana são separadas do grupo e têm verdades sobre suas vidas reveladas por Mephis e Pheles. Ou seja, Sen já sabe que Anamnesis é sua mãe e que Nanana era o Vingativo que Rei hesitou em matar no capítulo 1.

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Contudo, quando Kuon inicia a segunda linha do tempo neste loop, as memórias das garotas são reescritas. Então, em Piece of Truth (6-3-1), quando Sen e Rei descobrem que Anamnesis é, na verdade, mãe de Sen, é como se a garota estivesse tendo contato com essa informação pela primeira vez.

Sen se sente dividida, porque ela sabe que a mãe atacou Kokoro e seu namorado, Arashi Nanba, além de matar o bebê que os dois esperavam. Em Eudaimonia (7-3-1), quando Kokoro sabe da verdade, ela entende o sentimento de Anamnesis de querer ficar junto com sua filha — afinal, Kokoro também queria ficar com sua criança que nem havia nascido.

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Kokoro abre mão de sua vingança contra Anamnesis em End Point II (8-1-1), permitindo que a Sen e a mãe possam continuar se encontrando no Purgatório. Contudo, Mirai aparece diante do grupo e revela ser a Princesa Vingativa (Revenant Princess) e, alegando ter recuperado suas memórias e mata Anamnesis.

Depois de Rei derrotar Aristotle, a Transformação Anormal (Aberrant Transformation) de Mirai, a mais nova usa suas últimas forças para se matar junto com a irmã. A revelação que Mirai faz sobre ser a Princesa Vingativa se transforma na segunda Alcea, que dá início ao segundo loop criado pela própria Kuon.

Segundo loop: One Who Rejects the Light

Mais uma vez, diferentemente das Demônias, as garotas não têm lembranças das suas idas anteriores ao Purgatório. Em Inflection Point (6-3-2), Rei e Kokoro enfrentam Anamnesis e Kokoro finalmente tem sua vingança contra a antagonista; porém, como essa morte não resulta em uma Ideia, Mephis decide fingir ser Anamnesis e ir atrás de Sen.

Sen, que acredita estar conversando com Anamnesis, descobre que a antagonista é sua mãe e que Kokoro a matou a sangue frio, mesmo sabendo desse fato, só para ter sua vingança. Essa falsa informação é a maneira que Mephis encontrou para colocar Sen e Kokoro uma contra a outra, a fim de fazer com que Ideias possam surgir posteriormente.

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Porém, Mephis e Pheles precisam gerar ainda mais conflito entre as garotas e, para tal, quando as protagonistas seguem caminhos separados em Suspicion (7-2-2), elas são enganadas pelas Demônias em eventos que lembram uma corrida de revezamento: Rei é confrontada por "Kokoro"; Kokoro, por "Sen"; Sen, por "Nanana"; e Nanana, por "Rei".

Graças à desconfiança entre as heroínas, elas não hesitam em participar da battle royale proposta por Mirai em End Point III (8-1-2), quando a Princesa Vingativa revela a verdade sobre o acidente de ônibus de um ano atrás e a obsessão que ela alimenta pela irmã mais velha. Rei sai vitoriosa desse combate mortal e, ao descobrir as verdadeiras intenções de Mephis e Pheles, cria a terceira e última Alcea.

Terceiro loop: Panta Rhei

No último loop, em posse de Alcea suficientes, Kuon decide criar a última linha do tempo e revelar toda a verdade a Rei. Com isso, as outras garotas também recobram suas memórias anteriores, mas antes de finalmente enfrentarem Mephis e Pheles, elas são obrigadas a encarar seus Traumas, os motivos pelos quais elas assinaram um Contrato com as Demônias.

O mais interessante nesta linha do tempo definitiva é entender a verdade e a simbologia por trás de cada um dos Contratos. Quando Mephis e Pheles percebem que não têm mais controle sobre as garotas, as duas se fundem e formam Mephistoteles, o verdadeiro vilão do jogo. Após essa batalha, o jogo atinge seu epílogo e podemos descobrir, finalmente, o que acontece com as protagonistas, Mirai e Anamnesis.

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Na segunda e última parte sobre a narrativa de Crystar, abordarei as simbologias por trás do jogo, em especial o peso da filosofia da Antiguidade na trama e sua relação com as protagonistas.

Revisão: Thais Santos
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Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
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