Muito antes de começar a jogar Kirby and the Forgotten Land (Switch), eu já acompanhava as sessões de jogatina do Pikasprey, um streamer que sigo faz alguns anos. Em uma delas, ele comentou o seguinte: "Kirby é o tipo de jogo de que precisamos para desligar nosso cérebro e aproveitar as coisas fofas e coloridas da vida."
Parando para pensar, ele tem razão. Hoje em dia, as pessoas parecem ter a concepção de que se um jogo apresenta pouco ou nenhum desafio, ele automaticamente passa a ser considerado "infantil" ou “de criança". Contudo, Kirby and the Forgotten Land traz um grande E (de everyone) em sua capa norte-americana, que em território brasileiro é traduzido para "livre para todas as idades".
Se voltarmos para a segunda metade do século XX, lá em meados dos anos 80, a maioria dos jogos que tínhamos à disposição apresentavam algum tipo de desafio, seja derrotar um número específico de inimigos dentro de um tempo limite, seja alcançar o fim da fase antes que o contador de tempo chegasse ao fim. Em suma, por mais divertidos que fossem, todos eles passavam uma sensação de urgência, uma pressa para evitar ver o texto GAME OVER na tela.
Até alguns jogos indies, principalmente os dos gêneros metroidvania e roguelike/lite, têm apostado no fator dificuldade para prender a atenção do jogador, sobretudo por meio de um sistema de risco e recompensa. É justamente aqui que entram os jogos da bolota rosa de apetite insaciável: eles não precisam de mecânicas complexas ou tempo limite para serem completados — o objetivo é apenas chegar ao fim.
Kirby and the Forgotten Land até aposta em alguns desafios extras para suas fases, mas não exige que o jogador os complete para avançar na história. A aventura também permite certo nível de exploração, mas sem que haja um desvio do caminho principal. Mesmo com 30 anos de idade, Kirby continua uma franquia focada em simplicidade e jogabilidade descomplicada, mesmo que seus jogos adicionem novas mecânicas aqui e ali.
Pode até ser estranho ver pessoas adultas aproveitando os coloridos e relaxantes jogos do carismático protagonista cor de rosa, mas antes de criticá-las, pergunte a elas por que Kirby as cativa tanto. Às vezes, tudo de que precisamos neste mundo caótico em que vivemos é um pouco de simplicidade e fofura.
Revisão: Davi Sousa