Exibindo um belo mundo feito de papel, Flat Kingdom Paper's Cut Edition chega ao Switch como um jogo de plataforma repleto de conceitos interessantes. Entre eles, temos a versatilidade do herói Flat, que é capaz de mudar de forma física para resolver os divertidos desafios da aventura. No entanto, cabe dizer que esses desafios acabam sofrendo com o tempo, uma vez que eles não recebem novas dinâmicas e fazem parte de uma campanha que pouco se desenvolve em diferentes segmentos.
Uma aventura essencialmente 2D
Em um passado remoto, as terras bidimensionais do Flat Kingdom (Reino Plano) estavam repletas de caos, guerras e monstros, elementos que se ligavam às características tridimensionais da natureza do jogo. Para lidar com isso, um sábio feiticeiro tomou a dianteira e decidiu criar seis joias mágicas, que foram espalhadas por diversos territórios para conter o mal.
Isso deu certo e permitiu que a paz reinasse na região por séculos e séculos. No entanto, a cutscene inicial da aventura nos mostra que tudo está prestes a mudar, na medida em que um gatuno chamado Hex decide roubar um dos objetos encantados, justamente para trazer de volta o caos tridimensional.
Eis que entra em cena o herói da aventura: Flat, um pequeno personagem que usa uma capa vermelha. O rapaz é prontamente chamado pelo Rei da região, que o informa que sua filha, a Princesa Tri, foi raptada misteriosamente. Este acontecimento, por sua vez, irá revelar que Hex está por trás de tudo isso, dando início a uma perseguição que consiste em nosso protagonista visitando os locais das joias para tentar impedir as ações do vilão.
Assim, através de dungeons que segmentam-se em diferentes fases, temos de controlar o carismático herói da aventura. Por alguns instantes, Flat Kingdom pode até se parecer com um jogo de plataforma ou metroidvania deveras comum. Todavia, o título dá a volta por cima ao introduzir o seu principal conceito de gameplay: as possíveis transfigurações corporais do pequeno Flat.
Quase uma partida de pedra, papel e tesoura
Antes de mais nada, é preciso ressaltar que praticamente tudo em Flat Kingdom envolve o mecanismo de transformação do protagonista. Felizmente, ele é bem fácil de ser executado: quando pressionamos o botão Y, Flat se torna um quadrado robusto. Enquanto isso, os comandos X e A fazem ele se transfigurar, respectivamente, em um personagem triangular e redondo.
Em termos de gameplay, isso será fundamental ao longo de dois tipos de momentos, sendo um deles relacionado à exploração das fases. Afinal, quando estamos nos movimentando pelos cenários, Flat dispõe de habilidades e características distintas de acordo com a sua forma.
Na versão triangular, o personagem tem uma velocidade extremamente alta; já quando se apresenta enquanto um quadrado, ele manifesta um peso diferenciado, necessário na hora de pressionar botões e alavancas. O formato redondo, que de certa forma é o mais tradicional, se destaca pelo fato de sermos capazes de realizar pulos duplos. Assim, podemos alcançar plataformas mais altas, o que é necessário para os desafios do jogo.
Esta característica traz diversidade ao gameplay, esbanjando criatividade nos momentos mais simples, como as zonas de saltos, assim como na hora dos puzzles, que costumam ser bem engenhosos. Entre carregar blocos pesados, cortar cordas e acertar sequências de comandos, temos um bom repertório de movimentação dentro dos quebra-cabeças.
O outro setor que usufrui dessa mecânica é o dos combates, dado que praticamente todos os inimigos contam com uma dessas três formas geométricas. Desse modo, o jogo cria um sistema de forças e fraquezas, no qual o quadrado ganha de triângulo; o triângulo ganha do redondo; e o redondo ganha do quadrado — ou seja, algo parecido com uma partida de pedra, papel e tesoura (ou jokenpô, se preferir).
Eis que essas características de transfiguração tornam Flat Kingdom singular e bastante criativo, principalmente em termos de jogabilidade. Felizmente, o título também vem a se destacar em outro aspecto. Trata-se de sua estética, que brilha igualmente nos visuais e na trilha sonora.
Origamis exuberantes e outros pontos positivos
É preciso pouco tempo para perceber que Flat Kingdom é um jogo extremamente bonito. Isso ocorre sobretudo em função de sua estética, que conta com cores vibrantes e uma textura que parece feita de papel, lembrando os visuais da franquia Paper Mario no melhor estilo origami. Assim, aventurar-se pelos terrenos bidimensionais é bastante prazeroso, independentemente de estarmos explorando florestas, montanhas congeladas ou castelos.
Outro destaque fica por conta da trilha sonora, que é alegre e repleta de melodias cativantes. A composição foi feita por Manami Matsumae, conhecida por trabalhos em franquias como Mega Man, Dynasty Wars e Shovel Knight. Em diversos momentos, pode-se notar como as canções foram feitas cuidadosamente, utilizando instrumentos clássicos, como os de sopro, para construir ambiências afáveis.
Do mesmo modo, Flat Kingdom ostenta outros detalhes que merecem ser exaltados. Entre eles, há a presença de diferentes tipos de coletáveis, como as moedas e os pergaminhos que estão espalhados pelos cenários. Estes últimos nos contam um pouco mais sobre a história do universo do jogo, o que é bastante interessante de se fazer, mas cabe ressaltar que eles não são suficientes para “consertar” uma das principais deficiências da aventura, que é o raso desdobramento de sua narrativa.
Às vezes, parece frágil que nem papel
O grande problema da trama de Flat Kingdom não está no fato dela ser relativamente genérica, com acontecimentos corriqueiros que envolvem heróis, princesas, objetos lendários e outros lugares-comuns. A falha reside no seu frágil desenvolvimento. Após um início relativamente promissor, que começa nos apresentando uma história secular que aparenta ter, de fato, profundidade, a aventura quase não traz nada de novo no desenlace da história.
Afinal, praticamente todas as cutscenes da metade da campanha seguem o mesmo padrão: Flat invade a sala final da masmorra e encontra Hex, que rouba uma das joias e pede ao protagonista para deixar de persegui-lo; ou seja, nada de novo acontece em boa parte da intriga, que se mostra literalmente rasa como uma folha de papel ou vazia como uma página em branco.
De certa forma, os combates da aventura também sofrem diante de algo similar. Com inimigos que costumam morrer apenas com um golpe, não há novas dinâmicas para incrementar os desafios. Nosso protagonista até aprende novos movimentos, mas eles não são utilizados dentro das batalhas, que passam a se mostrar monótonas com a simplificação do sistema de forças e fraquezas.
Temos, portanto, uma aventura que não se desenvolve plenamente, desperdiçando o potencial de seus acontecimentos e conceitos. Diante disso, ela se torna repetitiva e chega perto de perder o seu fôlego inicial. Por sorte, isso não acontece de maneira efetiva, dado que o jogo ainda tem charme de sobra quando se trata de criatividade e estilo estético.
Flat e suas três formas de diversão
Mesmo com falhas de desenvolvimento e profundidade, Flat Kingdom Paper's Cut Edition não é um plataforma qualquer. Sua criatividade se destaca na hora de investir em conceitos que são realmente engenhosos e divertidos. Assim, o querido protagonista Flat consegue se apresentar de maneira estilosa em qualquer uma de suas três formas, cumprindo ao pé da letra o papel de herói da aventura.
Prós
- Apresenta conceitos de gameplay criativos, como o uso das diferentes formas corporais de Flat;
- Entre zonas de plataforma e quebra-cabeças, temos bons desafios;
- Estética caprichada, tanto em termos visuais quanto sonoros;
- Presença de coletáveis que ajudam a expandir a experiência;
Contras
- A história começa promissora, mas derrapa ao repetir acontecimentos, impedindo a trama de se aprofundar;
- Poucas dinâmicas são introduzidas para incrementar ou dar variedade às batalhas;
- No geral, o jogo não consegue se desenvolver com a mesma grandiosidade de suas ideias.
Flat Kingdom Paper's Cut Edition — Switch/PS4/PS5/XBO/XSX/PC — Nota: 7.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games