Em 8 de março, comemoramos o Dia Internacional da Mulher, uma data que celebra a luta das mulheres por igualdade e equidade sociais perante os homens. Visando enaltecer a importância que nós, mulheres, temos no dia a dia, estendemos essa celebração para o universo dos games em um especial de três partes, a fim de promover reflexão e visibilidade sobre um tema de extrema importância não apenas no 8 de março, mas também nos outros 364 dias do ano.
Nesta segunda parte, abordaremos o conceito de protagonismo e como ele se aplica no universo dos videogames, além de sugerimos alguns jogos nos quais as mulheres não são as protagonistas, mas, se não fosse por elas, os heróis não seriam os mesmos como os conhecemos hoje — ou até mesmo não existiriam.
O que é protagonismo?
Protagonismo não necessariamente está relacionado ao protagonista de uma narrativa, mas sim ao personagem que realiza uma ação de destaque dentro daquele contexto. Em outras palavras, isso significa que até mesmo um personagem secundário ou coadjuvante pode se tornar o protagonista dependendo de seu papel na narrativa naquele momento.
Em jogos com grande carga narrativa, como RPGs, é muito normal que tenhamos momentos em que outros personagens que não o protagonista sejam o pivô de certos acontecimentos na trama. Contudo, não são apenas os RPGs se beneficiam desse recurso narrativo: por diversas vezes, o protagonismo se estende àquele personagem que faz a trama se desenvolver e que, sem ele, o protagonista não existiria ou não conseguiria desempenhar seu papel como deveria.
Também podemos incluir como exemplos jogos que nos permitem escolher o gênero do avatar que controlamos durante a aventura. Por mais que ele seja uma representação do jogador dentro do universo no qual se passa o jogo, o gênero não é algo relevante para o desenrolar da trama; em outras palavras, a história se desenvolve dentro do esperado seja o protagonista homem ou mulher.
Como a explicação pode soar um tanto quanto confusa, preparamos alguns exemplos de jogos nos quais o protagonismo feminino se faz presente, seja com a possibilidade de escolher o gênero do avatar ou como justificativa para o desenrolar da história — ou em bom português, o pontapé necessário para que o real protagonista vá atrás da solução para o problema.
Quebrando a ideia da “donzela em perigo”
Um tanto quanto clichê, o tropo da donzela em perigo está presente em nossa sociedade há muitos anos, sobretudo em contos de fadas, mas não restrito apenas a eles. Os primeiros jogos de The Legend of Zelda e Mario são excelentes exemplos aqui, já que os protagonistas e heróis — respectivamente Link e Mario — têm suas ações justificadas pela presença de uma mulher que precisa ser salva das garras do vilão.
No entanto, em jogos mais atuais, essas princesas têm ganhado papel de destaque que fogem da ideia principal do tropo; ou seja, elas podem ainda não ser as heroínas, mas ganharam notoriedade ao se desvincularem da posição de “princesa que precisa ser salva pelo herói”.
Dentro da franquia The Legend of Zelda, temos jogos como Skyward Sword e Breath of the Wild, nos quais a princesa exerce sua função como parte da realeza hyruliana, fazendo com que o jogador se torne espectador do crescimento de Zelda dentro da narrativa, mesmo que o protagonista ainda seja Link. Por outro lado, em títulos como Twilight Princess e Ocarina of Time, temos Zelda agindo “nos bastidores”, procurando por meios para auxiliar Link em sua missão.
Já dentro da franquia Mario, a princesa Peach é um grande exemplo de como ela saiu de seu papel de “princesa que está em outro castelo”. Além de ser uma personagem extremamente popular, ela ganha posição de destaque dentro de outros jogos do encanador bigodudo, sobretudo em spin-offs como Mario Kart, Mario Tennis e Mario Golf, sem mencionar o fato de ser uma ótima lutadora em Super Smash Bros.
Temos também Pauline, a primeira donzela a ser resgatada por Mario do (até então) vilão Donkey Kong. A moça, em Super Mario Odyssey, é a prefeita de New Donk City e também uma excelente cantora, além de ser super antenada na moda.
Mentoras, conselheiras e eventuais “protagonistas secundárias”
É muito comum todo herói ter um braço direito, mesmo que não seja um personagem jogável no título em questão. Este é um papel que, atualmente, tem sido ocupado por diversas mulheres nos videogames e, mais uma vez, a franquia do encanador bigodudo se destaca aqui com Rosalina, em Super Mario Galaxy.
As mulheres aqui em questão têm grande peso no desenrolar da narrativa, podendo até mesmo roubar a cena em algum momento — com destaque para Lyn, cujo prólogo em The Blazing Blade é totalmente voltado a ela. Em Pokémon Sun e Moon, por sua vez, vemos o crescimento de Lillie, que deixa de ser uma simples assistente de laboratório para se tornar protagonista de sua própria jornada como uma treinadora que segue o exemplo do personagem do jogador.
Palutena, por sua vez, é a superior de Pit e o ajuda em mais de uma ocasião em sua aventura; inclusive, a deusa é a responsável por dar instruções valiosas ao jovem herói durante suas missões, como identificar a fraqueza de seus oponentes, e Hades, em Kid Icarus: Uprising (3DS), chega a se referir a ela como "Palutena Sabe-Tudo".
Por fim, ainda a respeito da série de Fire Emblem, temos protagonismo secundário em Gaiden/Shadows of Valentia com Celica e em The Sacred Stones com Eirika. As duas princesas dividem o palco com Alm e Ephraim, respectivamente, e compartilham com o jogador seus pontos de vista a respeito dos acontecimentos em seus jogos.
Você é um garoto ou uma garota?
Conforme mencionado, o protagonismo se dá também com a opção de escolha do gênero do avatar que nos representará naquela aventura. Podemos dizer que Pokémon Crystal foi um dos pioneiros ao dar voz às mulheres nesse quesito ao introduzir Kris, a contraparte feminina de Gold em Johto. Esse poder de escolha se estendeu aos jogos posteriores da franquia dos monstrinhos de bolso, mas não se restringindo apenas a ela.
Em Fire Emblem: New Mystery of the Emblem (DS), o jogador já podia escolher se Kris, seu avatar, seria homem ou mulher, mas foi em Fire Emblem Awakening (3DS) que a ideia de avatar ganhou maior peso dentro da narrativa, influenciando, inclusive, os possíveis pares românticos de Robin (Awakening), Corrin (Fates) e Byleth (Three Houses).
Na terceira e última parte do nosso especial para o Dia Internacional da Mulher, discutiremos sobre a importância da representatividade feminina nos videogames. O tema, inclusive, também aborda muitos exemplos citados nesta segunda parte, sobretudo a escolha entre o gênero masculino e feminino para o avatar da aventura.
Revisão: Thais Santos