Kid Icarus: Uprising (3DS) elevou uma esquecida franquia a um novo patamar

Após 10 anos de seu lançamento, o último jogo do anjinho Pit permanece como um dos melhores títulos de 3DS.

em 23/03/2022

No final de 1986, os consoles NES do Japão recebiam Kid Icarus, um jogo de plataforma com elementos de RPG que acompanhava a história de Pit, um servo da deusa Palutena em uma missão para encontrar as relíquias sagradas e derrotar a terrível Medusa. Apesar do lançamento ocidental no ano seguinte, o título não alcançou uma grande popularidade e se manteve na sombra de franquias mais conhecidas, como Mario e Zelda. 

Em 1991, Kid Icarus: Of Myths and Monsters, uma continuação que mantinha a maioria dos elementos do jogo original, estreava no Game Boy na América do Norte. O título foi bem recebido pela crítica e pelo público, mas permaneceu por mais de 20 anos como a última aventura solo de Pit, cuja aparição mais relevante durante esse tempo foi como personagem jogável em Super Smash Bros. Brawl em 2008. Finalmente, em março de 2012, Kid Icarus: Uprising foi lançado mundialmente para 3DS e trouxe de volta o universo inspirado na mitologia grega de Pit e Palutena, agora com novos personagens, diálogos dublados e uma jogabilidade totalmente diferente.

Um retorno triunfal

Originalmente, Kid Icarus: Uprising seria um dos títulos de lançamento do 3DS, o mais novo portátil da Nintendo. No entanto, devido a problemas no desenvolvimento, o jogo teve sua estreia apenas em 2012, cerca de um ano após o 3DS chegar pela primeira vez às lojas. Ainda assim, Uprising chegou cedo no ciclo de vida do portátil e ajudou a alavancar sua popularidade, que andou em baixa ao longo de seu primeiro ano de vida.

Kid Icarus: Uprising foi desenvolvido pela Sora Ltd. e pelo Project Sora sob o comando de Masahiro Sakurai, o responsável pela criação de Super Smash Bros. e Kirby. Infelizmente, foi o único trabalho do estúdio Project Sora, que fechou alguns meses após o lançamento de Uprising, apesar da ótima recepção do título.

A história de Uprising se passa 25 anos após o jogo original e traz novamente a Medusa como antagonista. Pit e Palutena devem derrotar os servos e generais da vilã, recuperar as relíquias sagradas e livrar o mundo dessa ameaça. A parte inicial da narrativa se desenrola quase como uma releitura da história do título de 1986, com novos visuais para os cenários e inimigos, bem como mais diálogos e interações entre os personagens.












Após uma campanha relativamente curta, a vilã é derrotada e os créditos começam a subir. No entanto, é nesse momento que ocorre a grande reviravolta do jogo: Hades, o senhor do Submundo, rasga a tela e se revela como o verdadeiro vilão por trás do ressurgimento da Medusa. A partir daí, a história de Uprising toma rumos inesperados - desde um conflito em larga escala entre os deuses até uma invasão alienígena - e explora os novos personagens introduzidos, apresenta inimigos diferentes e leva a Pit a cenários nunca vistos antes na franquia.

De modo geral, o estilo narrativo de Uprising é extremamente fluido. O fato de os personagens conversarem durante as fases permite que os jogadores entendam a história sem interromper a ação frenética que permeia boa parte da jogabilidade. Além disso, foi possível aprofundar a relação entre eles sem o uso excessivo de cutscenes. Os diálogos engraçados conferem um carisma especial a praticamente todos os personagens e ajudam o público a criar um vínculo com eles. Talvez o maior problema dessa dinâmica seja a natureza repetitiva dessas conversas, o que pode torná-las ligeiramente cansativas após jogar diversas vezes o mesmo nível (e acredite, você vai querer jogar novamente).






















Entre a enorme gama de novos personagens, sem dúvida, os que mais se destacam são o vilão Hades, com seus comentários irônicos e espirituosos; a deusa da natureza Viridi, que inicialmente aparece como antagonista a Pit e Palutena, mas que, eventualmente, acaba se tornando uma valiosa aliada; e Dark Pit, um clone anti-heroico de Pit que se prova fundamental para o sucesso dos protagonistas. Também existem alguns personagens menores que aparecem pouco ao longo da trama, mas que também deixam sua marca na história, como o mercenário humano Magnus e a paqueradora Phospora, comandante das forças de Viridi.


Ação no ar e na terra

A maioria das fases de Kid Icarus: Uprising é dividida em dois momentos: primeiro, uma sessão de voo na qual o jogador só precisa atirar, controlar a mira e desviar de ataques, enquanto Pit é guiado automaticamente pelo caminho por Palutena. Apesar das asas, o anjinho só consegue voar por um tempo limitado (para não colocar sua vida em risco) graças aos poderes da deusa. Portanto, depois do tiroteio aéreo, vem a segunda parte da missão, que consiste em avançar através de um mapa terrestre e na qual temos mais controle sobre Pit. No chão, o protagonista tem mais liberdade para se movimentar, pode atacar de perto ou atirar a distância e se esquivar de ataques dos inimigos. Além disso, os níveis geralmente possuem segredos escondidos e caminhos bloqueados caso você esteja jogando abaixo de um certo nível de dificuldade. Ao final de cada missão, há uma batalha contra um chefe diferente.


O sistema de dificuldade de Uprising é, provavelmente, um dos mais divertidos e dinâmicos já implementados em um videogame. Antes de iniciarmos qualquer um dos 25 níveis do jogo, é necessário escolher a intensidade do Fiend’s Cauldron, que varia entre 0.0 e 9.0. Basicamente, esse caldeirão permite que você use corações (a moeda do jogo) para incrementar a dificuldade de cada missão, o que torna os inimigos mais fortes e numerosos, mas também melhora as recompensas da fase, como uma quantidade maior de corações e armas com mais qualidade. Caso Pit seja derrotado, é possível continuar o nível a partir de um checkpoint, o que irá diminuir em 1 ponto a intensidade do caldeirão, ou voltar para o menu inicial, fazendo com que os corações apostados sejam totalmente perdidos.

Essa maneira de lidar com a dificuldade permite que o jogador personalize sua experiência com cada fase individualmente, além de estimulá-lo a melhorar seu desempenho com a promessa de itens e armas melhores em dificuldades mais altas. Mesmo após a conclusão da campanha principal, é divertido e recompensador se aventurar novamente pelas fases para descobrir caminhos secretos, obter novas armas e testar combinações diferentes de itens.


Kid Icarus: Uprising, ao contrário dos jogos anteriores da franquia, tem uma vasta gama de armas distintas que podem ser obtidas ao longo das fases. Elas são divididas em nove classes, cada uma com vantagens e desvantagens próprias: lâmina, bastão, garras, arco, palma, clava, canhão, orbitais e braço. Todas elas possuem ataques de perto e a distância, além de poderem disparar um poderoso ataque carregado. Outra característica interessante é que cada arma conta com um bônus e força individuais, ou seja, dificilmente dois exemplares da mesma arma serão iguais entre si. Também é possível fundir duas armas para criar outra completamente diferente, mas não necessariamente mais poderosa.
 

Além das armas, Pit conta com a ajuda de itens e poderes ao longo da sua jornada. Os itens podem ser encontrados espalhados pelos níveis e, em geral, são usados para causar dano, como o Boom Rocket e o Atlas Foot, ou penalidades aos inimigos, como a Icy Aura e a Medusa Head. Alguns são utilizados para restaurar a própria saúde do protagonista, como as comidas e os Drinks of the Gods.

Já os poderes podem ser trazidos em quantidade limitada antes de uma missão começar e possuem um certo número de usos. A maioria dos poderes pode ser obtido encontrando baús de tesouro nas fases ou terminando partidas multiplayer, mas alguns só podem ser desbloqueados ao concluir objetivos da Treasure Hunt, o sistema de conquistas do próprio jogo. Essas habilidades temporárias concedem diversas vantagens a Pit, como cura, invencibilidade, esquiva automática e até mesmo um laser mortal capaz de dizimar os inimigos na sua frente. Todos esses elementos que compõem a jogabilidade são úteis de alguma maneira e ajudam o anjinho a enfrentar a horda de inimigos presentes nas fases.
















Diversão em equipe

Kid Icarus: Uprising conta com um modo multiplayer bem interessante. Em vez de simplesmente adicionar outro jogador para te acompanhar na história principal, o Together Mode, como é chamado o multiplayer do título, coloca até seis participantes para se enfrentarem em uma arena em duas modalidades distintas: Light vs Dark e Free-for-all. Na primeira, os competidores são divididos em duas equipes - Luz e Trevas - de três jogadores, cujo objetivo é derrotar continuamente os membros do time adversário até que a barra de vida da equipe seja zerada. Quando isso acontecer, o último integrante nocauteado do grupo inimigo irá ressurgir como Pit ou Dark Pit e deverá ser derrotado para que o outro time obtenha a vitória final; a segunda modalidade é bem mais simples e ocorre em uma arena menor. Todos os jogadores lutam entre si e é declarado vencedor aquele que alcançar a maior pontuação dentro do limite de tempo.

O modo multiplayer de Uprising é uma das partes mais divertidas do título e, sem dúvidas, ajuda a prolongar ainda mais a longevidade do jogo. Assim como na campanha principal, também é possível equipar qualquer arma e poder antes da batalha, sendo que alguns poderes são exclusivos para esse modo de jogo. É possível gastar horas lutando contra amigos ou pessoas desconhecidas que estão perto de você ou em qualquer lugar do mundo.












Kid Icarus: Uprising também possui outros modos menos notáveis ou pouco explorados, como as Boss Battles, que permite ao jogador enfrentar a maioria dos chefes da aventura principal em sequência, e o AR Battle Mode, que consiste em batalhas entre cartas utilizando a câmera de realidade aumentada do 3DS. Cada mídia física do jogo vinha com seis cartas e, infelizmente, apesar de a ideia ser interessante, a dificuldade de aumentar o seu baralho, especialmente no Brasil, tornava essa modalidade praticamente um peso morto. Nesse contexto, a maior utilidade das cartas era fornecer 100 corações na primeira vez que eram escaneadas e conceder um Idol, um modelo 3D acompanhado de uma breve descrição que podia ser visto na galeria do jogo. Por sinal, obter Idols através do minigame Idol Toss ou desbloqueando certas conquistas é mais um bom passatempo deste título

Talvez o maior ponto fraco de Uprising sejam seus controles ligeiramente desconfortáveis e cansativos para um portátil. Para controlar Pit, é necessário mover a retícula de mira com a stylus, andar com o analógico e atirar com o botão L, então pode ser difícil segurar o 3DS com apenas uma mão, enquanto usa os dedos para atirar e mover o protagonista. Para contornar esse problema, a embalagem do cartucho do jogo vinha com um suporte para apoiar seu 3DS durante a jogatina, o que de fato facilitava o manuseio, mas acabava com a portabilidade do sistema. No caso dos canhotos, é possível inverter os controles e utilizar o botão R para atirar e os botões A, B, X e Y para se locomover.





















10 anos sem voar

Até hoje, Kid Icarus: Uprising pode ser considerado um dos melhores títulos do 3DS e, sem dúvidas, foi importante para consolidar o então jovem portátil no mercado de videogames. A maioria dos elementos do jogo, desde sua história bem-humorada até seu multiplayer extremamente divertido, funcionam muito bem juntos e formam uma pequena obra-prima que resistiu ao teste do tempo. Vamos torcer para que não seja necessário aguardar mais 25 anos para termos um novo título desta carismática franquia.



















Revisão: Janderson Silva

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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