Gosto de jogos de plataforma desde que me entendo por gente e, estranhamente, quanto mais difícil e desafiador um platformer parecer ser, mais atraída por ele me sinto. Foi assim com Prinny 1•2: Exploded and Reloaded, BloodRayne Betrayal: Fresh Bites e, recentemente, COGEN: Sword of Rewind, título desenvolvido pela Gemdrops e que está longe de ser "mais um clone de Mega Man”.
Pane no sistema
A história começa quando a protagonista, Kohaku Otori, acorda em Cogen City, apenas para descobrir que sua cidade-natal está em ruínas. Não bastasse isso, ela ainda encontra uma espada com inteligência artificial, ExeBreaker, que garante que a garota supere os obstáculos em seu caminho, além de conferir a ela o poder de voltar até três segundos no tempo e sobreviver a um golpe fatal.
Kohaku e EB, como ela apelida tal espada, logo percebem que tem algo muito errado acontecendo em Cogen. Robôs estão fora de controle e atacam a protagonista sem dó nem piedade, tratando-a como uma anomalia no sistema. Para descobrir o que de fato está alterando as máquinas dessa cidade tecnológica, Kohaku precisa se reencontrar com seu pai, o cientista Yuji Otori, e colocar um fim no que EB chama de "simulação" — uma tarefa que está longe de ser tranquila.
Prepare a paciência
Ser fã de jogos "sádicos" não significa que eu seja boa neles. Assim como em BloodRayne, tentativa e erro são os carros-chefes da jogabilidade em COGEN — em outras palavras, a grande sacada aqui é morrer, voltar no tempo e morrer de novo até entender como lidar com aquela seção de plataforma tortuosa ou aprender os padrões de ataque dos chefes.
A curva de dificuldade cresce de maneira exponencial, assim como o ritmo da ação, compondo uma jogabilidade frenética e passível de erros a cada milissegundo. Curiosamente, existe aquela sensação de alívio ao chegar a um checkpoint ou derrotar aquele chefe que insistia em nos aniquilar mais de 100 vezes.
Além disso, diferentemente de Gunvolt e do próprio Mega Man, Kohaku só consegue desferir ataques básicos nos inimigos. Claro, a heroína também pode realizar pulos duplos, dashes e esquivas, além da já citada possibilidade de voltar no tempo. No fim das contas, podemos tratar COGEN como o típico "morreu, já era", porque nem sempre três segundos são o suficiente para consertarmos um pequeno erro de cálculo durante um pulo.
Design impecável em todos os sentidos
Conforme mencionei, o level design do jogo pode parecer injusto devido à sua desproporcional curva de dificuldade, mas não significa que ele seja ruim — pelo contrário: apesar de curta em termos de duração, a aventura de Kohaku apresenta praticamente todos os elementos que um platformer que se preze tenha, de seções de pulos ininterruptos a uma corrida contra o tempo para não ser carbonizado por lava fumegante.
COGEN também conta com um sistema de conquistas para os tryhards de plantão. Quando um estágio é concluído, ele pode ser desafiado novamente quantas vezes forem necessárias, seja para encontrar segredos escondidos ou simplesmente tentar obter ranque S nele.
Por falar em ranques, cada fase tem um tempo sugerido para ser concluída e uma quantidade de mortes proporcional ao seu desafio. Isso não quer dizer que estourar esses limites implique em game over, mas afeta significativamente a pontuação final.
Por mais que o jogo pareça ter mais pontos negativos que positivos, já deixo avisado que é a dificuldade que o torna tão (estranhamente) incrível. Somada à jogabilidade desafiadora, está a apresentação audiovisual, com CGs belíssimas, sprites em pixel art, trilha sonora condizente com cada estágio e, ainda por cima, dublagem integral em japonês.
COGEN também conta com a possibilidade de configurar controles e possui opções de acessibilidade para jogadores daltônicos. Infelizmente, o idioma da interface está atrelado ao do console; ou seja, para jogar com textos em português, o Switch deve estar configurado no idioma.
A única — e principal — ressalva que tenho a fazer em relação à jogabilidade é a dificuldade de realizar comandos tão precisos e frenéticos nos Joy-Con, sem mencionar a fragilidade de seus botões. Por isso, minha recomendação é jogar no modo TV (ou retrato) com um controle confortável que seja compatível com o Switch, mas em termos de gráficos e performance no geral, tanto na dock quanto fora dela COGEN traz uma experiência incrível.
Reiniciando o sistema
COGEN: Sword of Rewind não é um platformer para jogadores casuais, mas com certeza traz um excelente apelo a quem gosta de se sentir desafiado a cada segundo. A história, apesar de simples, instiga a curiosidade, e a jogabilidade é sólida o suficiente para fazer valer cada momento de paciência perdida durante a campanha de Kohaku, com destaque para sua belíssima apresentação audiovisual.
O fator de rejogabilidade conferido pelas conquistas é um prato cheio para fãs de desafios, e certamente jogadores old school sentirão toda a dor e o prazer de mais um título que faz jus à lista dos games mais sádicos até hoje, junto com os clássicos imortais The Prince of Persia e The Lion King.
Prós
- Jogabilidade frenética, fluida e completa em termos de platformers;
- Excelente apresentação audiovisual, com destaque para a dublagem integral em japonês;
- Possibilidade de configurar os controles;
- Opção de esquemas de cores diferenciados para contemplar jogadores daltônicos;
- Fator de rejogabilidade presente com o sistema de conquistas;
- Dificuldade similar à de clássicos imortais, como The Prince of Persia e The Lion King.
Contras
- Jogatina fortemente baseada em tentativa e erro, desaconselhável a jogadores extremamente casuais;
- O idioma da interface está atrelado ao do console;
- História pouco desenvolvida, apesar de instigante;
- Pouco aproveitado no modo portátil do Switch, dada a complexidade dos controles.
COGEN: Sword of Rewind — PC/PS5/PS4/XBX/XBO/Switch — Nota: 8.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Gemdrops