The Last Story (Wii) é um conto que merece ser revivido

A história de Zael e Lisa se consolidou como um conto para além de seu tempo.

em 06/02/2022
Em janeiro de 2021, The Last Story comemorou seu 10º aniversário de lançamento em terras japonesas, com a mesma marca prestes a ser alcançada em agosto deste ano nas Américas. O game foi um título memorável para muitos fãs de franquias do gênero JRPG, como Final Fantasy, Dragon Quest e Secret of Mana, ainda mais hoje em um mercado dominado por RPGs ocidentais, como Skyrim, The Witcher, Fallout ou Mass Effect. 

Tais fãs estavam particularmente entusiasmados após a Nintendo atender aos pedidos da “Operation Rainfall”, movimentação importante da fanbase que possibilitou trazer Pandora’s Tower (Wii) e Xenoblade Chronicles (Wii)  ao Ocidente pela primeira vez, além de proporcionar o lançamento de The Last Story, título que vem de ninguém menos que o criador do Final Fantasy, Hironobu Sakaguchi, que se encarregou de desenvolver o game com seu modesto estúdio Mistwalker.


Ainda hoje, há um sentimento cult que tem crescido em torno de The Last Story. Dentre tantos motivos, isso se deve principalmente ao fato de ele ser um game jogável apenas no Wii, plataforma pouco reconhecida por games do gênero e na qual muitos acreditavam que quase nenhum JRPG se prestaria tão bem a uma remasterização ou remake, até que Xenoblade Chronicles Definitive Edition retornou com sucesso para o Nintendo Switch, provando o contrário.

A última grande história de Sakaguchi

Hironobu Sakaguchi estava há muito tempo fora de Square Soft na época, e já tinha feito todo tipo de trabalho com Blue Dragon, Lost Odyssey e outros jogos. The Last Story tornou-se então algo como “a última grande história” do desenvolvedor —  e de fato foi sua última obra para consoles até os dias de hoje.

Após o lançamento para Nintendo Wii, a Mistwalker apenas desenvolveu jogos mobile, o que aumentou ainda mais o “misticismo” em torno de The Last Story e a grande busca dos fãs e curiosos pelo game.


The Last Story é ambientado em um mundo clássico de fantasia sem nenhum elemento de ficção científica ou modernidade no sentido clássico. O cenário e o desenho das personagens lembram um pouco o saudoso Vagrant Story (Multi); ou seja, a arquitetura europeia medieval misturada a um bom traço de animações japonesas, com uma paleta majoritariamente marrom e cinzenta, definitivamente se destaca entre os jogos mais bonitos do console.

A história se inicia

O império humano está em guerra com o demoníaco Gurak. Os principais defensores contra a invasão dos monstros são os brilhantes cavaleiros, que são respeitados e admirados em todos os lugares, em contraste com os mercenários, que basicamente fazem o trabalho sujo e desfrutam de pouco ou nenhum prestígio. 

Em meio a esses tempos turbulentos, vive o jovem Zael. Seu grande sonho é, um dia, tornar-se um cavaleiro. Este objetivo, no entanto, parece mais inatingível do que nunca, principalmente porque Zael tem servido como membro de uma unidade mercenária por muitos anos, até que um novo e influente empregador, o Conde Arganan, surge como uma hipótese de alguém que pudesse mudar a situação.


No caminho para a cidade de Lazuli, entretanto, a tropa de Zael tem que atravessar primeiro uma caverna infestada de monstros. É aqui que a jogabilidade começa e nos joga diretamente para a ação sem muita demora. Olhamos por cima do ombro de Zael e exploramos a caverna escura com ele. A primeira batalha contra os répteis lagartos não está longe de acontecer.

Como em Final Fantasy XII ou Xenoblade Chronicles, Zael ataca automaticamente o adversário mais próximo. Os demais membros da party são controlados por inteligência artificial, agem independentemente e o apoiam com feitiços ou dão golpes poderosos. 

Quase sempre faz mais sentido analisar a situação antes da luta, procurar os pontos fracos dos inimigos na perspectiva da primeira pessoa e possivelmente derrubar colunas ou pilares de ponte com um tiro de mira da besta ou magia de Zael, para então atacar os inimigos de dois lados ou se esgueirar em torno deles e golpear por trás.

A jornada do herói


Quando Zael e seus amigos são encurralados em uma rua sem saída por uma horda de esqueletos, nosso herói é subitamente envolvido por uma luz brilhante. O brilho deixa uma marca azul em sua mão e uma voz misteriosa o instrui a "proteger aqueles de quem você gosta". A partir de então, Zael tem a capacidade de foco, o que se mostra extremamente útil em batalhas.

Ao toque de um botão, mudamos para o modo de foco, no qual os inimigos soltam nossos companheiros e se concentram em nós. Além disso, os adversários em nossa esfera de influência ficam atordoados e nós reabastecemos nossa vida através de ataques. Mas isso não é tudo: se nos aproximarmos dos nossos membros da party derrotados, eles são revividos, o que é possível até quatro vezes em uma luta.

Correr sempre com o foco ativado também não é uma boa ideia, porque então temos constantemente toda a massa inimiga em nosso pescoço, o que dificulta — e muito — a progressão da campanha. A mudança estratégica entre os dois modos é, portanto, importante e constantemente a chave para dominar o game. 

Um conto de fadas

Depois que finalmente chegamos a Lazulis, a trama principal de The Last Story começa a se desenvolver. Zael conhece a bela Lisa na impressionante cidade e os dois se vêem envoltos em um amor platônico profundo. Infelizmente, não há tempo para conversas doces, pois a próxima tarefa para os mercenários já está esperando: ficar de guarda durante um banquete no castelo do Conde Arganan.

A ocasião para as festividades é o noivado da sobrinha do conde com o Príncipe Jirall, um casamento arranjado com o objetivo de unir duas famílias nobres. Zael está surpreso, pois a futura noiva é ninguém menos que Lady Calista, que ele tinha acabado de conhecer sob o nome de Lisa.

Portanto, ele é como muitos heróis de videogames e filmes antes dele: sua amada está prometida a outra pessoa. Novamente, não há tempo para lamentar, porque o castelo está sob ataque dos Gurak. O resto da história aborda a guerra contra os monstros nocivos, uma potência estrangeira, intrigas políticas, o papel de Zael como o Escolhido e, é claro, se haverá um final feliz para ele e Calista.


É verdade que a trama soa um pouco clichê; por outro lado, a história é bem-contada em todos os momentos e os personagens encantadores, como Syrenne, que adora beber, ou Lowell, que é viciado em flertar, exalam muito charme. Todos os personagens secundários têm personalidades distintas, motivações próprias e alguns até mesmo têm histórias inteiras.

Com o melancólico mago Yurick, exploramos um naufrágio que está ligado ao seu passado; ou, com Mirania, o curandeiro amante da natureza, buscamos uma floresta cheia de ruínas para o guardião divino da terra.

No entanto, a história um pouco rasa não está nem perto da complexidade e riqueza das reviravoltas dos antigos títulos de Final Fantasy, por exemplo. Além disso, o mundo do jogo parece bastante pequeno para um RPG — o que é compreensível para o Wii, apesar de algumas poucas exceções.


Embora você também esteja em alto mar ou se infiltre na base de Gurak, a maior parte da ação ocorre na cidade de Lazulis e arredores. A metrópole é muito grande e há muitas lojas e tarefas paralelas para descobrir, como explorar uma casa assombrada ou resolver um sequestro.

Combata, até não poder mais

O que destaca The Last Story de seus colegas de gênero é, acima de tudo, o sistema de combate repleto de ação. Além de Zael, até cinco companheiros participam da batalha. Ou deixamos a IA mais inteligente agir, ou damos ordens aos membros da party, para os quais a ação é interrompida.

A interação do grupo é importante: os feitiços precisam de algum tempo para ser preparados, tempo esse que é indicado por uma contagem regressiva acima de seus medidores. Se um inimigo interferir antes do medidor ficar completo, o feitiço será arruinado. Uma vez lançado, um feitiço permanece no campo de batalha por um curto período de tempo, sendo representado por um grande círculo mágico.

Os personagens focados em cura e condições especiais, por exemplo, criam um círculo branco em cuja área a energia vital de seus aliados é recarregada. Por outro lado, se nos movemos para um círculo de fogo, nossa arma é preenchida com o elemento quente e causa maiores danos. Portanto, o posicionamento é sempre muito importante.

Há muito o que fazer nos combates: corremos por todo o campo de batalha como se fôssemos ser picados por uma tarântula, esmagamos os inimigos, ativamos o foco a tempo de proteger nossos magos, reanimamos os camaradas caídos e nos esquivamos dos ataques inimigos com um rolo.


As batalhas dinâmicas são sempre desafiadoras, mas nunca injustas, mesmo que o nivelamento possa nos prejudicar de tempos em tempos. Infelizmente, a visão é ocasionalmente perdida devido ao movimento infeliz da câmera, e a luta se torna caótica.

Para além das telas e controles

Jogando The Last Story, é difícil não ficarmos um pouco pensativos sobre a obra de Hironobu Sakaguchi, principalmente por elementos semelhantes e distintos em cada etapa de seus jogos.

Acima de tudo, é muito bom que ele tenha se envolvido em todos esses trabalhos, especialmente porque o seu envolvimento em títulos no início do século acabou se refletindo em uma montanha-russa de jogos de qualidade, como Kingdom Hearts (Multi) e Final Fantasy Tactics Advance (GBA), ou com o super fiasco Final Fantasy: The Spirits Within (Multi) e jogos como Blue Dragon (Multi) e Final Fantasy XI (Multi).


O gosto final é de que The Last Story certamente não é seu melhor trabalho. Às vezes, ele é muito desigual, mas isso não deve impedir nenhum fã de jogos de RPG, ocidentais ou orientais, de desfrutá-lo ao máximo pelo que ele é, sem comparações ou tendências inclinadas por sua obra pregressa. O jogo é, acima de tudo, uma carta de amor aos fãs do gênero, e apresenta uma história digna de ser aproveitada por mais pessoas no futuro.

Sobre as expectativas para um eventual remake de The Last Story, Sakaguchi, no entanto, jogou um balde de água fria e foi claro em entrevistas passadas — em tradução livre: 

"Para ser perfeitamente honesto, não há planos de remakes no momento. Mesmo que eles os chamem de "remakes" [simples], o esforço e os recursos que ele requer significam basicamente nenhuma diferença entre desenvolver um remake e um jogo completamente novo", avalia Sakaguchi.

Ele ainda continua: "Pessoalmente, eu estaria mais entusiasmado com a ideia de desenvolver uma nova história ou mundo, ou construir algo novo", continua ele: “[Pensa em trazer] The Last Story aos consoles atuais? Infelizmente, ao contrário, não.” 


Na contramão da declaração, no entanto, o próprio Sakaguchi se divertiu e animou os fãs no passado quando compartilhou algumas obras de arte inéditas no Twitter. Além disso, muitos rumores costumam surgir a cada ano, com eventuais pistas de que uma versão para o híbrido nintendista estaria à caminho, ou ainda a esperança de que um remake pudesse surgir.

Na escuridão de notícias acerca do tema, o game envelhece como um clássico JRPG que certamente interessa, acima de tudo, aos devotos fãs de Final Fantasy, Xenogears e da época em que a ainda Squaresoft marcava gerações de fãs ao redor do globo pela primeira vez.
E você? Já teve a oportunidade de experimentar a história de Zael? Gostaria de novos ares para o game? Conte-nos abaixo!
Fontes: XSEED, GamePro, JustPushStart
Revisão: Davi Sousa

Curioso, empolgado e positivo: os ingredientes ideais para criar o Felipe perfeito...ou quase! Estudante de Engenharia no crachá, programador aos fins de semana e designer às quintas-feiras. Na dúvida, viajar pelos mundos de Kingdom Hearts ou caçar monstros em Hyrule são sem dúvidas uma boa aposta! Conheçam-me! @felipe_lemos12
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.