Enquanto a aguardada próxima aventura das garotas de River City (que já está confirmada para este ano) não chega, a WayForward decidiu acessar essa enorme biblioteca da franquia e resgatar um título obscuro que funciona como um tipo de prequela para a trama de River City Girls.
River City Girls Zero é basicamente uma localização repaginada de Shin Nekketsu Kōha: Kunio-tachi no Banka para o Super Famicom que demorou 28 anos para chegar ao público ocidental. Será que a primeira aparição das garotas consegue manter o alto padrão dos clássicos do Super Nintendo?
Garotas de River City: a origem
Infelizmente, a própria história, que é até bastante sombria e começa com os heróis fugindo da prisão após serem encarcerados injustamente, não coloca assim tanto foco nas garotas e em suas personalidades tão distintas. Não espere pelo alto nível de sagacidade e irreverência do jogo anterior. Várias caixas de diálogo detalham a narrativa do começo ao fim, no entanto as heroínas nunca demonstram o mesmo carisma de River City Girls — com a exceção da moderna e divertida cena de abertura e de algumas outras cutscenes no estilo motion comics.
Embora seja “apenas” uma versão repaginada de um jogo antigo com menus, músicas, artes e cutscenes inspiradas no lançamento de 2019 das garotas, River City Girls Zero consegue fazer um convite interessante ao universo de um clássico perdido do Super Nintendo, com todas as vantagens e desvantagens de um jogo de 1994.
Por um lado, os gráficos construídos em genuínos 16-bit, ao contrário das várias homenagens modernas ao estilo que existem nos dias de hoje, agradam os olhos justamente por sua autenticidade rústica. Os cenários são um tanto vazios e passam bastante despercebidos, mas os personagens, em especial as garotas, exibem sprites detalhados e com bastante personalidade, colorindo de forma eficaz esse mundo que carece de atrativos.
Já em comparação com outros jogos de 1994, River City Girls Zero pode ser considerado visualmente sem graça e pouco inspirado como um todo. Clássicos atemporais provenientes de diversos gêneros como Super Metroid, Donkey Kong Country, Earthbound e Final Fantasy VI foram lançados exatamente no mesmo ano para o SNES. Lembrando desses exemplos é bem fácil perceber que falta algo para que a prequela de River City Girls consiga realmente chamar atenção e deixar sua marca.
Em relação ao gameplay, esse é um aspecto que pouco surpreende caso você considere o padrão dos beat 'em ups de 1994, principalmente os que sequer foram considerados para um lançamento desse lado do oceano. Nesse caso, nem é preciso fazer o contraste com Super Metroid para apontar a falta de profundidade da jogabilidade de um game do tipo.
Em geral, os ataques são lentos, a movimentação se arrasta um pouco e os controles não respondem muito bem. A detecção dos hits quando você ataca é estranha, assim como a dura movimentação dos inimigos. É fácil perder tempo atacando o espaço vazio por causa de alguns milímetros de distância do oponente para apenas ser atingido com força logo em seguida. Adicionalmente, a quantidade de golpes ao seu dispôr é pequena e apresenta pouca variação, com uma leve exceção para as garotas, que são mais rápidas e conseguem evitar os opressivos agarrões dos oponentes.
Tirando algumas interessantes sequências em cima da moto, o loop do gameplay se resume a esquivar e atacar de forma quase inconsciente, com espaço limitado para algum planejamento e nenhum desafio que vai além de enfrentar a tendência do CPU em socar você com vontade de forma constante. O ponto mais diferenciado da estratégia de combate é a habilidade de trocar entre quatro personagens a todo momento e ter que protegê-los igualmente da morte — já que o resultado é game over se qualquer um deles perecer em combate.
Mantendo a fidelidade visual da resolução em 4:3, é possível selecionar uma série de bordas pouco inspiradas, mas que pelo menos cumprem o papel de preencher a tela. Há também uma função de save imediato por meio de um menu rápido que melhora bastante a experiência de progressão caso você queira digerir a curta aventura em pequenas sessões — que provavelmente é a melhor estratégia graças à jogabilidade repetitiva.
Um clássico pouco saudoso
Prós
- Acesso fácil e de baixo custo a um clássico perdido que nunca foi lançado fora do Japão;
- Algumas novidades e melhorias foram adicionadas à experiência, como a habilidade de salvar a qualquer momento;
- Novas músicas e cutscenes no estilo River City Girls que todo mundo gosta;
- Gráficos 16-bit que só um verdadeiro jogo de Super Nintendo consegue oferecer.
Contras
- Jogabilidade simples, repetitiva e um tanto frustrante;
- Bastante diálogo, mas pouco foco nas garotas de River City e em suas personalidades bombásticas;
- Cenários simplórios e com pouca interação;
- O relançamento perdeu a oportunidade de trazer o jogo clássico junto a uma versão realmente remasterizada da aventura.
River City Girls Zero - Nintendo Switch - Nota: 6.0
Revisão: João Pedro Boaventura
Análise produzida com cópia digital cedida pela Arc System Works
Análise produzida com cópia digital cedida pela Arc System Works