Análise: Rise of Third Power (Switch) é um imperfeito, mas divertido RPG

Título da desenvolvedora independente Stegosoft Games tem suas falhas, mas é uma boa pedida aos fãs do gênero.

em 09/02/2022
Descrito como uma carta de amor aos RPGs clássicos de console da era 16-Bit e fundado após uma campanha no site de financiamento coletivo Kickstarter, Rise of Third Power possui claras e altas ambições dentro de sua proposta que visa mesclar o clássico com o contemporâneo. Embora nem sempre consiga alcançá-las e passe por alguns percalços no caminho, este RPG prova-se uma aventura agradável em boa parte de sua duração. Confira a seguir a nossa análise!

A história de um novo poder

Rise of Third Power se passa quinze anos após os eventos da Grande Guerra, um imenso conflito que abalou o mundo e fez com que inúmeras pessoas perdessem suas vidas no campo de batalha até a assinatura do famoso tratado de paz de Evenheart. 

Porém, Dimitri Noraskov, um nobre do Reino de Arkadya, passou a ver seu rei como um traidor por ter desistido do confronto. Com o passar dos anos, após a assinatura do tratado e bancado pelo apoio popular, Noraskov então destronou o monarca e assumiu sua posição, levantando novamente um exército e conquistando pequenas terras perdidas em confronto. 

O rei bastardo apostou que outras nações estariam ainda muito fragilizadas com os traumas da Grande Guerra para se oporem à sua organização inicial. Uma jogada bem-sucedida, mas que também anunciaria a chegada de novos conflitos neste mundo fictício. E é neste cenário de incertezas que começa a nossa aventura, onde os ladrões Rowan e Corrina planejam o sequestro da princesa Arielle de Cirinthia no dia de seu casamento para impedir o desenrolar de uma nova Grande Guerra…

Catarses esperadas

Apesar do início até interessante e das fortes inspirações nas tensões europeias do século XX, é preciso dizer que infelizmente a história não é lá bem o ponto forte de Rise of Third Power. Sem entrar no mérito de spoilers, apesar do esforço, em nenhum momento a narrativa consegue transmitir o impacto e a tensão que normalmente são associadas à sua temática. 

Aliás, tendo em vista as inspirações citadas pelos desenvolvedores, como Chrono Trigger e Final Fantasy, é até um pouco triste que esta jornada peque neste aspecto tão importante para um RPG, mas eu estaria mentindo se dissesse que em algum momento ao longo das sessões para análise me envolvi verdadeiramente com a lenda que é contada aqui.

Porém, felizmente essa triste característica acaba sendo balanceada por outros aspectos do jogo, como o carisma de seus protagonistas. Embora não conte com um sistema de escolhas ou uma história moldável, os momentos de diálogo entre os até oito personagens de sua party — deixo um destaque particular para a ladra Corrina — são em sua maioria divertidos e conseguem entreter, fazendo com que, se o jogador não persista colado ao Switch pela história do game, o faça pelos personagens. Ponto positivo!

Combate por turnos

Na prática, Rise of Third Power é um RPG de turnos, onde após os eventos iniciais você terá certa liberdade para explorar o (grande) mapa do jogo enquanto reúne itens e experiência para enfrentar desafios cada vez maiores.

De modo geral, não há nada aqui que já não tenha sido visto em outros jogos do gênero: o atributo de speed (velocidade) define quem atacará primeiro entre você e o inimigo, ou mesmo entre os membros de sua party; o ganho de experiência se traduz em níveis; e golpes especiais, mais poderosos, ou usarão uma barra própria, ou terão um tempo de cooldown antes de poderem ser usados novamente.

Essas características fazem com que a aventura da Stegosoft traga consigo um ar “familiar”, onde fãs de RPG não precisarão de muito tempo para se sentir em casa dentro do universo do jogo. Embora aí habite um perigo constante relacionado à mesmice, esta é em grande parte combatida por aquele que, pra mim, é o grande acerto do título: suas batalhas.

Ao longo da história, o seu time, que é composto inicialmente apenas por Rowan e Corrina, vai ganhando novos membros. A grande sacada aqui é que cada habilidade desses membros complementa a dos anteriores, sendo bem fácil criar “combos” tão divertidos quanto letais. 

Por exemplo: uma das habilidades de Arielle, a terceira personagem a entrar no grupo, causa um dano maior a inimigos que estejam acometidos por um status, como sono. E uma das habilidades iniciais de Corrina envolve justamente, veja bem, colocar um inimigo para dormir. Há múltiplas combinações similares que aparecem naturalmente com a progressão no jogo, evidenciando um carinho muito interessante dos desenvolvedores com esse aspecto do game.

O resultado são batalhas dinâmicas e que não cansam facilmente mesmo lá pela décima ou vigésima hora de jogo — por falar nisso, esteja preparado para uma aventura longa aqui, com mais de 30 horas de duração. É especialmente satisfatório vencer um inimigo mais forte, porque o uso da sinergia entre sua equipe é quase que imperativo para o triunfo, e as diversas formas de se aproveitar desse recurso provam-se um prato cheio para os fãs do gênero.

E caso você não tenha lá muito apreço por batalhas constantes, também cabe mencionar que não há encontros aleatórios no mapa, fazendo com que a exploração se dê no ritmo do jogador, que inclusive pode alterar a dificuldade em quatro níveis segundo sua preferência. Um outro ponto positivo ao meu ver na questão de acessibilidade, pois não é todo mundo que aprecia o grind comumente atrelado a este gênero. 

E, assim, Rise of Third Power traça uma linha interessante entre as mecânicas do passado e as melhorias de qualidade de vida do presente, trazendo uma aventura imperfeita, mas que, história à parte, carrega o potencial de agradar em cheio os fãs de seu gênero.

Equilíbrio perfeito...?

Abordando agora os aspectos técnicos, Rise of Third Power consegue impressionar com seus visuais em pixel-art, evocando bem a época de onde surgem suas principais inspirações. Os cenários, quase sempre amplos, fazem bom uso da iluminação e disposição de elementos, e a sensação que temos durante a gameplay é de estarmos realmente jogando algo da era 16-bit.

Também elogiáveis são as animações do título. Mesmo com poucos pixels na tela, os personagens conseguem ser expressivos em ações e emoções, especialmente no campo de batalha. Confesso que ainda não cansei de ver a realização de certos golpes, e quando ganhava uma nova habilidade com o passar dos níveis, era sempre uma alegria ver como ela ocorria visualmente. Caso você seja um fã desse estilo retrô, à la Octopath Traveler (Switch), saiba que Rise of Third Power não decepciona nesse quesito.

Justamente por isso, é uma pena que tanto a trilha sonora quanto as artes dos personagens não sigam o mesmo padrão de qualidade. Falando primeiramente da parte sonora, as faixas aqui presentes são funcionais, mas facilmente esquecidas a partir do momento que se desliga o Switch, o que nunca é um bom sinal. Já as artes dos personagens buscam um estilo meio anime e meio cartoon, resultando em um estilo híbrido que não convence. 

Sendo honesto, ambos os aspectos não chegam a incomodar demasiadamente, mas tenho a impressão que todo o jogo se beneficiaria — e muito — caso optasse por adotar o estilo em pixel nas artes de seus personagens também. Fica a sugestão para uma eventual sequência, dado o potencial da saga.

Por fim, é sempre bom mencionar que não foram presenciados bugs e crashes de nenhuma espécie durante as sessões para análise, e tanto no modo portátil quanto no modo TV do Switch não houve problemas de performance ou apresentação. A única ausência de fato é a do suporte à nossa língua — fica também a esperança de que um patch futuro atenda esse ponto. A comunidade brasileira certamente agradeceria.

O fim da jornada

Rise of Third Power é uma homenagem competente à época de ouro dos RPGs clássicos. Apesar das falhas em pontos cruciais do gênero como a história, é possível sentir em diversos momentos o carinho dos desenvolvedores com sua obra, de modo que, controladas as expectativas, torna-se plenamente possível encontrar diversão na aventura de Rowan e sua improvável equipe.

Prós

  • Estética em pixel-art agradável, com cenários vibrantes e convidativos;
  • Sistema de combate divertido;
  • Vários níveis de dificuldade garantem que a aventura será aproveitada por diversos públicos;
  • Aventura longa, com bastante conteúdo;
  • Sem problemas técnicos ou de performance.

Contras

  • História confusa que nunca causa o impacto que dela se espera;
  • Estilo artístico dos personagens é um ponto fraco, destoante do restante do jogo;
  • Trilha sonora genérica, apenas funcional;
  • Sem suporte a português brasileiro.
Rise of Third Power — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 7.5 
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dangen Entertainment
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