Análise: Variable Barricade (Switch) é mais um incrível acerto da Aksys para o console híbrido

A visual novel traz uma jogabilidade diferenciada para quebrar a monotonia do gênero.

em 14/02/2022
variable barricade switch
Como comentei com o meu colega Ivanir, a Otomate está sempre reinventando o modo como as visual novels podem ser jogadas. Depois de Collar × Malice e Collar × Malice -Unlimited- em 2020, a publicadora Aksys começou 2022 com o incrível Variable Barricade, cuja história e jogabilidade fogem do convencional do gênero. Como de praxe, a trama se desenrola tão bem e de maneiras tão inesperadas que, uma vez aberto este romance atípico, é difícil não querer ir até o final.

Com quem será que Hibari vai casar?

A história de Variable Barricade começa quando Hibari Tojo, a herdeira da família Tojo, recebe uma visita inesperada — e totalmente extravagante — de quatro homens misteriosos. Com toda pompa, eles dizem que são seus pretendentes e pedem a heroína em casamento na frente da sua escola, despertando olhares curiosos e a incredulidade de Hibari.

Mais tarde, nesse mesmo dia, durante uma conversa com seu avô, o atual líder da família Tojo explica para a neta que ela deve se casar para garantir o futuro de sua linhagem e, por isso, fez o “favor” de escolher quatro rapazes que têm potencial para ser o marido da garota. Mesmo tentando contra-argumentar, a palavra do avô é final e a protagonista não tem outra escolha a não ser obedecê-la.

Contudo, a vida de Hibari vira de ponta-cabeça quando ela descobre que passará a viver sob o mesmo teto com os quatro rapazes — Nayuta Yagami, Taiga Isurugi, Shion Mayuzumi e Ichiya Matsumori —, que farão de tudo para conquistar a moça. Frente a isso, Hibari decide que não irá se apaixonar por nenhum deles, apesar das insistentes investidas com as quais tem que lidar diariamente, mas a tarefa parece ser mais difícil do que a heroína imaginava.

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Jogo de tabuleiro, câmera escondida e aplicativo de mensagens?

Além da história cheia de reviravoltas, o que mais me chamou a atenção nesta visual novel foi o modo como a progressão da história se dá. Assim que o prólogo acaba, somos apresentados a um tabuleiro da rota comum, em que podemos decidir qual evento da vida nada cotidiana de Hibari veremos primeiro. O mais interessante é que esses “capítulos” não focam apenas na interação da protagonista com seus pretendentes, mas também como ela se relaciona com sua amiga, Tsumugi, com suas colegas da escola e também com seu mordomo, Kasuga.

Alguns eventos da rota comum só podem ser destravados ao cumprirmos certos requerimentos. Na maioria das vezes, eles estão relacionados às rotas individuais de cada um dos pretendentes, que também são apresentadas na forma de tabuleiros.

Em certo ponto na progressão no tabuleiro “comum”, nos é habilitada a possibilidade de escolher o tabuleiro de um dos pretendentes, totalizando quatro. Cada um deles tem três níveis, estes desbloqueados conforme avançamos nas outras rotas. Além disso, só podemos começar a rota de outro rapaz ao completar a atual.

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Outros dois elementos que complementam a jogabilidade são RABI, um pet virtual na aparência de coelho, e WHIS, um aplicativo de mensagem, ambos destravados ao completarmos eventos específicos na rota comum. Com o RABI, podemos vigiar — sim, uma câmera espiã! — o dia a dia de Nayuta, Taiga, Shion e Ichiya dentro da casa, desbloqueando curtas e interessantes cenas nas quais podemos ver como os pretendentes veem Hibari dentro de determinado contexto.

Os participantes de cada interação variam dependendo do cômodo vigiado, bem como as situações em que eles se envolvem e, ao fim de cada uma dessas curtas cenas, Hibari fará comentários a respeito do que acabou de assistir. No geral, essas conversas servem como um modo de conhecermos melhor o caráter de cada pretendente, que às vezes difere da maneira como cada um se porta.

O WHIS também é ativado de acordo com o avanço nas casas de cada tabuleiro. Com o aplicativo, Hibari pode receber mensagens dos outros personagens de Variable Barricade e, às vezes, temos a opção de dar uma resposta. Dependendo da nossa escolha, nossa relação com a pessoa em questão pode passar por mudanças, sobretudo no que diz respeito aos pretendentes.

Ah, é também nesse sistema de rotas individuais que fazemos as escolhas que determinarão se Hibari cederá às investidas dos pretendentes ou seguirá firme e forte em sua decisão de não se apaixonar.

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Entre razão e emoção, a saída é… Barricade Battle!

Como mencionado, avançar na rota comum libera os tabuleiros de cada um dos pretendentes. São neles que estão as escolhas que faremos e que decidirão o rumo do relacionamento entre Hibari e um de seus possíveis maridos.

Cada um dos eventos nos quais podemos decidir como reagir à situação possui duas opções, uma que pende para o lado do amor, aumentando as chances de um rapaz roubar o coração de Hibari, ou da razão, que faz com que a garota não ceda às tentações.

Ao fim de cada tabuleiro específico, existe uma “batalha”, chamada de Barricade Battle, na qual, literalmente, presenciamos se aquele pretendente conseguirá ou não derrubar a barricada que o separa de Hibari. Se tivermos mais pontos favorecendo o rapaz (love), a garota será conquistada, enquanto mais pontos em razão (reason) resultam em uma defesa bem-sucedida.

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Cada rota tem três níveis de tabuleiro e, dependendo do resultado final de cada, um dos finais será desbloqueado. Ao todo, são quatro finais para cada pretendente — Marry End, Bad End, Love End e Another End — e três para Hibari — dois Bad Ends e um True End, totalizando 19 possíveis desfechos para esta história de amor nada convencional.

Assim como em Collar × Malice, Variable Barricade também possui uma história extra para cada um dos pretendentes. Nela, vemos uma interação única entre o casal e que serve como um epílogo para a rota do sortudo escolhido, isto é, se desbloquearmos o final correto para ele.

Uma visual novel (quase) como qualquer outra

Dadas as características do gênero, que geralmente traz várias escolhas ao longo das cenas, Variable Barricade não apresenta muitas decisões a serem feitas durante a jogatina, apenas em eventos específicos. A depender do ponto de vista do jogador, isso pode ser tanto um ponto positivo quanto negativo; falando por mim, achei particularmente interessante poder ditar o rumo da campanha com o sistema de tabuleiros, sem entrar em uma rota específica logo no começo da história.

Além disso, esse sistema de dividir os acontecimentos da trama como se fossem casas de um jogo de tabuleiro ajuda a ditar o ritmo da jogatina, já que alguns eventos são mais longos do que outros. Com essa pausa “forçada” que o jogo faz, podemos deixá-lo um pouco de lado sem perder o fio da meada, já que cada “episódio” não está necessariamente ligado diretamente a outro.

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A história, mesmo fragmentada, consegue dosar bem elementos de comédia, romance, suspense e drama sem que um desses gêneros fique preso a um estereótipo. Por exemplo, Nayuta, meu favorito, é o típico “garoto enérgico”, mas ingênuo, que sempre se mete em roubadas; por padrão, espera-se que a rota dele penda mais para o lado cômico, mas não é o caso em Variable Barricade.

Se traduzíssemos a visual novel para um filme, definitivamente poderíamos classificar a história como uma comédia romântica. Certos estereótipos típicos de animes e mangás estão presentes, como a própria Hibari, a famosa “ojou-sama tsundere” — ou seja, uma garota (geralmente da alta classe social) que é tratada como se fosse da realeza, mas que não consegue ser sincera em relação aos seus sentimentos, muitas vezes sendo agressiva ou sarcástica para esconder o que sente. Contudo, essa é só a pontinha do iceberg, até porque podemos ver mudanças no comportamento dos personagens principais com o avançar da história.

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As interações via RABI e WHIS também são um bom modo de conhecermos mais sobre os personagens sem precisarmos, de fato, jogar a rota deles, até porque alguns não a possuem, como é o caso de Tsumugi. Um charme à parte são as Barricade Battles, que mostram os personagens em estilo “chibi” em um cenário que parece ter saído de um conto de fadas. É divertido ver o pretendente vestido de príncipe, enquanto tenta desesperadamente destruir as barreiras do coração da princesa.

Tratando-se de uma visual novel, a duração de uma única campanha beira as 30 horas e o fator de rejogabilidade é altíssimo devido aos 19 possíveis finais, multiplicando o tempo total. O lado bom é que os tabuleiros podem ser acessados a qualquer momento na galeria, possibilitando que revisitemos apenas as cenas em que as decisões são extremamente importantes, sem a necessidade de iniciarmos um novo save — com o brinde de poder identificar as escolhas anteriormente feitas por aparecerem em cor diferente.

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Como de praxe, diversas opções estão presentes para deixar a jogatina mais confortável para o jogador, como desligar vozes dos personagens — algo que particularmente não recomendo, pois a dublagem é fantástica —, ajustar a velocidade do texto, quick save/load, entre outras. No geral, o ritmo flui bem e a trilha sonora acompanha e ajuda a transmitir os sentimentos e sensações daquela cena específica. A arte, assinada por Kagerou Usuba, é cheia de cores vibrantes e consegue se destacar, dando uma personalidade particular para cada um dos personagens — e sendo bem sincera, foi devido ao design de personagens que eu escolhi analisar a visual novel em primeiro lugar.

Em termos de performance, Variable Barricade responde bem tanto no modo TV quanto no modo portátil do Switch. Este último, inclusive, é o mais indicado para aqueles que gostam de jogar na cama ou on the go, já que a visual novel responde à tela de toque do console, sendo que apenas a abertura de menus e pouquíssimas outras opções exigem o uso de botões físicos. Talvez a única reclamação propriamente dita a respeito da localização é a forma como o texto aparece de forma irregular na caixa de diálogo algumas vezes e também alguns deslizes na grafia de certas palavras.

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Deu match?

Variable Barricade é uma visual novel que traz uma jogabilidade diferenciada, fragmentando a trama em casas de um enorme tabuleiro. Com exceção da rota comum, cada uma das outras é única e particular, priorizando o relacionamento de Hibari com um dos pretendentes, provando que julgar um livro pela capa é um erro tremendo. Com ótima jogabilidade e fator de rejogabilidade; história fluida e interessante; personagens cativantes; e apresentação audiovisual impecável, amantes de comédia romântica não podem deixar de conferir as situações bizarras da herdeira da família Tojo e seus pretendentes.

Prós

  • Apresentação audiovisual impecável que combina com a proposta da história;
  • Alto fator rejogabilidade, podendo chegar a 30 ou mais horas;
  • Com exceção da rota comum, as outras apresentam histórias independentes;
  • Personagens carismáticos que vão além de seus estereótipos;
  • História fluida que pode ser percorrida de acordo com a vontade do jogador;
  • Interações extras entre personagens por meio do RABI e do WHIS;
  • As Barricade Battles são muito divertidas de serem assistidas;
  • Ótimas dublagem, mesmo que em japonês, e localização para o Ocidente;
  • Compatível com a tela de toque do Switch.

Contras

  • Deslizes pontuais no texto em inglês;
  • Poucas escolhas a serem feitas ao longo da jogatina.
Variable Barricade — PS4/PS Vita/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: João Pedro Boaventura
Análise produzida com cópia digital cedida pela Aksys
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Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por Heru.
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