Análise: Valis: The Fantasm Soldier Collection (Switch) traz os anos 90 para o século 21

Os três jogos, mesmo que datados, revivem uma franquia que não devia ter sido esquecida.

em 15/02/2022
valis the fantasm soldier collection switch
Nunca tive um PC Engine (que abreviarei como PCE no decorrer do texto), aliás, nunca soube da existência dele até meados dos anos 2000, quando descobri um jogo chamado Valis: The Fantasm Soldier, disponível no Mega Drive. Eu, que sempre fui apaixonada por jogos de plataforma, logo me encantei com o action platformer, que logo se tornou um dos meus favoritos, e quis saber mais a respeito dele.


Daí, pesquisando em fóruns e outros sites, fiquei sabendo da existência da versão de PCE do jogo, até então desconhecida para mim, e que trazia uma história muito mais completa que a contida no cartucho de Mega Drive. Passei anos pesquisando sobre Yuuko, Valis e tudo o que tinha direito, mas nunca tive a oportunidade de conhecer o jogo para além de vídeos no YouTube.


De repente, a franquia morreu. A Telenet faliu e Valis ficou esquecida no fundo do baú do tempo. Foram anos até que, no ano passado, a Edia anunciou que portaria os três jogos principais da série para o Switch em uma coletânea chamada Valis: The Fantasm Soldier Collection.

A princípio, o lançamento ficaria restrito ao Japão, mas a pressão dos fãs ocidentais foi tamanha, que não apenas a Limited Run Games decidiu fazer uma nova localização em inglês, como também a Edia disponibilizou na eShop de 44 países a coletânea com opção de legendas em inglês. Tive uma dupla oportunidade: aproveitar as melhores versões dos jogos de uma franquia que tanto amo e também o prazer de poder analisá-los.

valis the fantasm soldier collection switch
Queimei a largada e agora só falta a edição da Limited Run Games para minha coleção

Aquele algo que faltava

Valis: The Fantasm Soldier Collection é, acima de tudo, um emulador capaz de rodar os jogos anteriormente lançados para PCE. Com essa "vantagem", a Edia conseguiu implementar a possibilidade de customizar os controles, deixando a jogatina menos "engessada", por assim dizer.

No Switch, mais botões significam mais possibilidades, e a publicadora se aproveitou disso, adicionando funções específicas para cada um deles, substituindo algumas combinações de botões para realizar ações extras, como deslizar, ativar magias etc., embora ainda seja possível fazer as combinações do PCE.

Nesse quesito, não existe a possibilidade de desligar o “controle padrão”, ou seja, temos os comandos originais e personalizados funcionando concomitantemente, que por vezes acabam atrapalhando durante a jogatina. Por mais que eu já conheça os jogos de cor e salteado, achei frustrante gastar MP acidentalmente porque ativei a combinação de botões do PCE nos piores momentos, muitas vezes comprometendo o avanço na campanha.

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De todo modo, por estarmos falando de um emulador com três jogos embutidos, outras qualidades de vida foram adicionadas além da possibilidade de configurar controles. Duas delas são as já conhecidas load/save state, que permitem salvar/carregar o jogo a qualquer momento, sem corrermos o risco de ter nosso progresso comprometido.

A última facilidade adicionada é “voltar no tempo”, que nos permite refazer a ação de alguns pouquíssimos segundos antes do nosso erro. Sinceramente falando, não achei essa função muito útil, pois os quadros rebobinados às vezes são insuficientes para realizar um movimento corretamente e por vezes achei melhor usar a função de load state. De todo modo, vale a pena mencioná-la porque a função existe, embora não seja muito funcional.

Para mim, falando como fã da franquia, a melhor adição da coletânea foi uma galeria para cada jogo, que nos permite assistir às cutscenes e ouvir as músicas que compõem a trilha sonora sem a necessidade “desbloqueá-las” durante a campanha. Aliás, os maiores destaques de Valis como um todo são as cutscenes animadas dubladas em japonês, que nos passam a sensação de estarmos vendo um anime enquanto jogamos, e a excelente trilha sonora.

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Valis: The Fantasm Soldier Collection ainda conta com legendas em inglês, já que se trata de uma localização para o Ocidente. A bem da verdade, tive sensações mistas a respeito da inclusão do texto em inglês, porque, ao mesmo tempo que é uma ótima maneira para acompanhar os diálogos, foi feita de modo um tanto quanto “preguiçosa”, não no quesito tradução (não achei nenhum deslize propriamente grave), mas sim em como ela foi adicionada aos jogos.

Por um lado, entendo que se trata de um port e não remake dos três jogos principais da franquia, mas acredito que os textos poderiam ser apresentados de maneira mais caprichada, principalmente quando os diálogos acontecem durante a jogatina e não nas cutscenes. Contudo, quem tem certo domínio ou conhecimento da língua japonesa pode optar por jogar sem legendas — a bem da verdade, é fácil entender o que se passa na trama com o que é mostrado nas cenas animadas.

Por fim, a coletânea nos permite jogar em três resoluções diferentes: original (4:3), mapeamento de pixel (1:1) e tela cheia. Preferi, tanto no modo portátil quanto no modo TV do Switch, usar a resolução 4:3, porque a tela cheia estica e distorce os gráficos, mas acredito que seja uma escolha que varia de jogador para jogador.

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Qual veio primeiro?

A cronologia dos jogos para PC Engine é muito estranha, confesso. Aliás, Valis: The Fantasm Soldier (ou apenas Valis) foi o título que mais recebeu ports até se firmar com a versão definitiva para o PCE em 1992.

Só que, até aí, já tínhamos disponíveis Valis II (1989) e Valis III (1990), então essa "versão definitiva" do primeiríssimo jogo precisava dar um jeito de ser uma espécie de prólogo para a saga de Yuuko e, de algum jeito, a Telenet conseguiu fazer isso. Como realizaram essa proeza não sei dizer até hoje, mas que foi um feito e tanto, não nego.

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Pois bem, essa ordem cronológica estranha tem certa importância para esta análise porque ela reflete diretamente na qualidade dos jogos, eis o motivo de eu abordar este tópico logo de cara. É difícil não notar certa discrepância entre os três títulos da coletânea, até porque a jogabilidade deles também varia de um para o outro, como detalharei mais adiante.

Como os manuais dos jogos estão presentes na coletânea, não vou entrar muito em detalhe em relação ao mapeamento de botões ou itens coletáveis, ou até mesmo a vantagem de tal power-up em vez de outro. Tentarei exprimir, de maneira concisa, a experiência da jogabilidade como um todo.

Valis: The Fantasm Soldier (Valis)

A raiz de Valis está nos action platformers, então derrotamos inimigos e coletamos power-ups ao mesmo tempo em que a tela se move lateralmente conforme nossa movimentação. Neste primeiro jogo, Yuuko pode pular, atacar, deslizar (slide) e ativar as magias das Phantasm Jewels.

Por ser o título mais atual da trilogia em dado seu lançamento, muitos problemas em relação às outras versões de Valis para PCE foram corrigidos. No entanto, determinadas seções de plataforma ainda requerem uma ação precisa que, se não for feita no tempo certo, prejudica o avanço no jogo.

De modo geral, a jogabilidade e gráficos são satisfatórios e não deixam a desejar, levando em consideração que se trata de um jogo do início dos anos 90, e as cutscenes são caprichadas. A trilha sonora é, possivelmente, a melhor dos três jogos.

Valis II

O pior jogo da coletânea. Os movimentos de Yuuko são rígidos e deixam a jogabilidade muito arrastada, além de a protagonista ter apenas as opções de atacar e pular. Não existem Phantasm Jewels e muito menos a possibilidade de trocar magias, e os itens coletáveis se resumem a restauradores de HP, MP e poucos power-ups para a Valis.

Graficamente falando, tanto o jogo em si quanto as cutscenes são mal-feitos, com baixíssima resolução, especialmente se comparados com a qualidade de Valis e Valis III. A limitação de ações que a protagonista pode realizar também deixa a desejar em vários aspectos, mas a trilha sonora e a história, em geral, conseguem trazer alguma satisfação durante a jogatina.


Valis III

O melhor jogo da trilogia, superando até mesmo o primeiro: além de concluir a saga de Yuuko, Valis III traz três tipos de jogabilidade diferentes ao adicionar mais duas personagens ao rol e contar com maior fluidez nos movimentos. Apenas três tipos de magia — Fire, Blizzard e Thunder — estão disponíveis e seus efeitos variam de acordo com a personagem controlada no momento.

Outra ótima adição à jogabilidade foi a intensidade de ataque. Existe uma barra extra, em forma de espada, que determina quão forte será o ataque desferido. Quando cheia, o golpe causará mais dano, e o poder aumenta enquanto a personagem não atacar.


Power-ups coletados nos cenários aumentam o tamanho dessa barra e, quanto maior ela ficar, mais poderoso será o ataque no geral. De certa forma, a existência dessa barra de intensidade faz com que o jogador pense antes de desferir um golpe, já que os inimigos, em Valis III, apresentam resistências diferentes.

Graficamente falando, Valis III é parecido com o primeiro jogo em termos de qualidade e sua trilha sonora é tão boa quanto. Contudo, os diálogos in-game não são dublados e são mostrados em forma de caixa de texto, então, sem um conhecimento prévio de japonês, boa parte da história é perdida caso o jogador opte por não ativar as legendas.

Um prato cheio para os fãs, uma boa coletânea para entusiastas

Valis: The Fantasm Soldier Collection é um compilado dos jogos anteriormente lançados no PC Engine e mais voltado aos fãs da franquia, que já conhecem a saga de Yuuko e simplesmente querem revivê-la em um console da geração atual; no entanto, os action platformers também podem ser aproveitados por entusiastas de jogos retrôs. Mesmo que existam discrepâncias na jogabilidade e na qualidade gráfica entre cada um dos títulos contidos na coletânea, a ótima trilha sonora e a história contada em forma de cutscenes dubladas em japonês e animadas são mais do que o suficiente para experimentar uma das franquias mais importantes dos anos 80 e 90.

Prós

  • História e trilha sonora excelentes;
  • As funções presentes no emulador remediam a jogabilidade datada;
  • Possibilidade de remapear os botões;
  • Cutscenes totalmente dubladas em japonês e animadas;
  • Legendas em inglês opcionais;
  • Interface totalmente em inglês;
  • Presença dos manuais originais dos jogos em inglês e japonês;
  • Galeria que permite acesso às cutscenes e músicas a qualquer momento;
  • Tanto os fãs da série quanto entusiastas de jogos retrôs podem aproveitar.

Contras

  • Discrepâncias na jogabilidade e qualidade gráfica entre os jogos;
  • As legendas em inglês poderiam ser mais caprichadas;
  • Algumas funções do emulador são desnecessárias, como voltar no tempo;
  • Não é possível desabilitar os controles originais do PC Engine, algo que pode ser inconveniente durante a jogatina;
  • Jogabilidade datada se comparada à dos platformers atuais.
Valis: The Fantasm Soldier Collection — Switch — Nota: 8.5
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Edia
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Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
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