Um dos maiores nomes dos jogos eletrônicos nas décadas de 70 e 80, a Atari tem passado por um recente, mas tímido ressurgimento. Nos últimos dois anos, a empresa voltou ao mercado de hardwares com o microconsole Atari VCS e começou a revisitar seu catálogo de franquias clássicas por meio da série Recharged.
Lançada em 2020, essa linha de jogos tem como premissa repaginar antigos títulos da publisher, modernizando seu gameplay, gráficos e música. Missile Command, Centipede, Asteroids e Black Widow já receberam esse tratamento no passado. Agora chegou a vez de Breakout.
Os menus e outros aspectos da interface de usuário também se mantêm os mesmos, assumindo um estilo retrô futurista com gráficos vetoriais, cores neon e músicas eletrônicas compostas por Megan McDuffee, responsável pela trilha sonora de River City Girls (Switch).
Com Breakout: Recharged, as desenvolvedoras Adamvision Studios e Sneakybox Studios trazem uma releitura que respeita a essência do game original e adiciona recursos que, apesar de não inovarem, são bem-vindos e tornam o jogo ideal para rápidas sessões de jogabilidade arcade.
Se não está quebrado, não tente consertar
A primeira coisa que se nota ao iniciar Breakout: Recharged é como ele é estruturalmente similar a outros lançamentos da série Recharged. Assim como títulos passados, ele é dividido em um modo arcade infinito e uma lista de desafios, ambos para até dois jogadores, além de conquistas que podem ser destravadas conforme se joga.
Embora não tente reinventar a roda com suas opções de jogo e apresentação, o game não é prejudicado por causa disso. Mesmo sem grandes novidades, ele entrega uma experiência simples e direta para fãs de títulos arcade, com fácil acesso às partidas, rejogabilidade e visuais interessantes.
Seguro, mas divertido
É bem provável que, mesmo nunca tendo ouvido o nome Breakout, você já tenha experimentado o jogo ou algum de seus clones. Esse é o clássico game em que é preciso quebrar uma série de blocos no topo da tela usando uma bolinha. O objetivo é destruí-los rebatendo a esfera em uma plataforma móvel.
Com milhares de versões desse tipo de jogo disponibilizadas nos últimos 40 anos, Breakout: Recharged usa como principal diferencial seu sistema de power-ups, que dá poderes extras aos jogadores por um tempo limitado. Ao quebrar certos blocos e coletar os itens que caem deles, é possível receber alguns bônus; entre eles, estão uma extensão da plataforma, múltiplas bolas em campo, projéteis teleguiados e câmera lenta.
No modo arcade, é possível jogar com até três vidas |
Esse conceito não é nada novo. Na verdade, o jogo Arkanoid, de 1986, já fazia isso, muitas vezes com os mesmos poderes presentes em Recharged. Como esse novo lançamento é da Atari, a criadora do gênero, podia-se esperar que inovações maiores fossem implementadas; infelizmente, esse não é o caso. De qualquer forma, os power-ups diversificam a jogabilidade, principalmente quando somados a blocos especiais que aparecem durante o game.
Além dos tijolinhos comuns, que necessitam de um ou dois acertos para serem quebrados, há outros que interferem no andamento do jogo. Os jogadores devem encarar alvos que atiram contra a plataforma, utilizar explosivos que destroem tudo ao redor quando são atingidos e lidar com blocos que se multiplicam.
Algumas situações estratégicas se desenvolvem ao juntar esses dois elementos. Por exemplo: é possível usar o power-up de projéteis para liquidar os blocos atiradores ou focar somente nos explosivos. Além disso, a localização da base torna-se muito importante. Há momentos em que as balas inimigas obrigam o jogador a não ficar parado, exigindo atenção não só à bola, mas também aos tiros adversários e aos itens de poderes caindo sobre a plataforma.
Esses dois fatores criam um jogo que, apesar de não ser revolucionário, evoca aquela vontade característica de títulos arcade de sempre querer jogar mais uma partida. No entanto, devem ser levados em consideração, nesse quesito, os controles e a física da bolinha. Ambos causam um certo estranhamento no início e nunca chegam a se tornar 100% confortáveis.
O movimento da plataforma é um pouco mais sensível do que o ideal, principalmente no modo TV. O mínimo toque no stick analógico faz ela se mexer rapidamente, o que pode causar erros quando é necessário um movimento mais fino. Isso poderia ser evitado com uma opção de ajuste da sensibilidade, que lamentavelmente não foi incluída.
Quando há poucos blocos, a física da bolinha e sua lentidão podem dificultar a situação |
Já a bola reage de maneira um pouco errática, dependendo de onde ela atinge a palheta. Nesse estilo de game, já é comum que as extremidades da base sirvam para direcionar a esfera para a direita ou para a esquerda. No entanto, em Breakout: Recharged, caso a bola acerte as beiradas, a tendência é que ela saia em uma trajetória mais horizontal, dificultando na hora de conduzi-la.
Além disso, a bolinha é lenta, podendo atravancar o ritmo das partidas. Há um certo fator de urgência nas disputas, já que os blocos descem constantemente à la Space Invaders, causando um fim de jogo se eles chegarem à parte inferior da tela. A morosidade da bola pode ser o motivo de um game over quando ela demora a chegar aos tijolos, principalmente quando há poucos deles.
Encarando desafios
O modo arcade, que coloca jogadores para sobreviver o máximo de tempo possível em partidas com ou sem power-ups, pode até ser o principal de Breakout: Recharged. Porém, é no modo de desafios que ele se destaca.
O título possui 50 estágios, cada qual com objetivos diferentes, como alcançar uma certa pontuação ou usar um power-up para destruir um determinado número de blocos.
Na maioria das vezes, a disposição dos blocos reflete o desafio proposto. Ou seja, quando é necessário quebrar tijolos usando explosivos, o design da fase inclui muitas dessas bombas. Já na hora em que é preciso destruir blocos atiradores usando projéteis, a partida praticamente transforma-se em um top-down shooter, com vários inimigos e itens de habilidade disponíveis.
Neste desafio, os blocos assumem a forma de naves espaciais que precisam ser derrotadas com lasers |
Indiretamente, o modo de desafios acaba virando uma espécie de tutorial do game, exemplificando na prática o comportamento de cada power-up e dos tijolos especiais. Com um nível de dificuldade médio a elevado, ele é bastante cativante para quem gosta de um pouco mais de progressão em títulos arcade.
Todos os estágios do modo desafio também podem ser aproveitados cooperativamente, com duas pessoas. Cada uma ocupa metade da arena, assim como nas disputas arcade infinitas. Jogar com um parceiro é divertido, mas, como os objetivos co-op são iguais aos single player, é preciso que ambos os jogadores estejam muito engajados em completá-los 100%. Caso contrário, acaba sendo repetitivo.
A única ressalva quanto aos desafios é que alguns exigem um controle tão preciso da plataforma e da bola que a vitória acaba virando questão de sorte, e não de habilidade. Nesses níveis, há sempre blocos específicos que devem ser quebrados rapidamente, mas a sensibilidade dos comandos e a física da bolinha atrapalham. Para vencê-los, é preciso torcer para que a esfera vá para o lado oportuno, o que, na maior parte das vezes, não acontece e causa frustração.
Rankings não confiáveis
Para simular os rankings presentes nas máquinas de fliperama de antigamente, Breakout: Recharged conta com classificações online para todos os seus modos. As listas mostram os melhores jogadores do mundo em termos de pontuação ou tempo levado para concluir os desafios. Apesar de elas serem um bom incentivo para quem gosta de ver seu nome no topo, há algumas inconsistências.
Em várias situações, meu desempenho não foi registrado corretamente. Houve momentos em que meu resultado não foi atualizado no ranking ou simplesmente não foi computado. O game chegou até a validar tempos em desafios que eu não tinha completado ainda. Isso acaba quebrando a confiabilidade das classificações.
Falando em erros, o título também apresentou alguns glitches pontuais, como bolinhas que atravessaram a plataforma quando bateram nas quinas inferiores do campo de jogo e um desafio que foi completado sem que a meta fosse cumprida. Nada muito grave ou recorrente, mas que acaba prejudicando o gameplay.
Acessibilidade
Minha experiência com Breakout: Recharged foi bastante acessível. O jogo requer poucos comandos, usando somente a alavanca analógica para mexer a palheta. Porém, a falta de maneiras de customizar os controles pode prejudicar quem só consegue usar comandos digitais por meio de botões.
Um ponto louvável, no entanto, é a preocupação com pessoas que possuem daltonismo. Todos os blocos especiais são coloridos, mas possuem desenhos que permitem diferenciá-los. Além disso, existem opções para alterar a coloração para pessoas que tenham protanopia, deuteranomalia ou tritanopia — dificuldade de distinguir cores vermelhas, verdes e azuis, respectivamente.
Jogo com modo para deuteranomalia ligado |
Cumprindo seu papel
Breakout: Recharged é um jogo seguro. Definitivamente, ele não é a maior inovação no gênero “quebra-blocos”. Muito do que ele traz já foi visto no passado, e algumas questões de jogabilidade acabam atrapalhando.
No entanto, o título não deixa de ser um competente lançamento arcade, com gameplay estratégico, bastante rejogabilidade e desafios que, quando não se baseiam em sorte, entretêm enquanto duram. É mais uma oportunidade para a Atari se manter discretamente no mapa.
Prós
- Interface simples e direta, facilitando acesso rápido aos modos de jogo;
- Os power-ups e blocos especiais adicionam uma camada de estratégia à jogabilidade;
- Modo de desafios cativante, que acaba servindo como tutorial;
- Opções de acessibilidade para pessoas com daltonismo.
Contras
- Falta de inovação em um gênero explorado por mais de quatro décadas;
- A sensibilidade dos controles e a física da bolinha podem causar imprecisões durante as partidas;
- Alguns desafios dependem muito mais de sorte do que de habilidade;
- Os rankings online podem registrar informações erradas, tornando-se não confiáveis.
Breakout: Recharged — Switch/PS4/PS5/XBO/XBX/PC/Atari VCS — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Atari