Quase três décadas depois de sua estreia no Game Boy, a franquia Pokémon finalmente ganhou uma repaginada em seu conceito como um todo. Pokémon Legends: Arceus, a mais recente entrada da franquia para o Nintendo Switch, conseguiu levar a ideia de captura e treino de monstrinhos para um novo caminho. Não se engane: mesmo tendo uma sólida base na quarta geração dos monstrinhos de bolso, a aventura em Hisui está longe de ser uma simples visita à região de Sinnoh do passado.
Cada um no seu canto — mas até quando?
A premissa de Legends é bem simples: completar a primeira Pokédex do mundo. Até aqui, nada muito diferente da ideia principal da franquia, que sempre envolveu o colecionismo dos diferentes monstrinhos. Contudo, a experiência neste continente chamado Hisui, que posteriormente se tornaria a Sinnoh que conhecemos, não se trata apenas de catalogar espécies: ao mesmo tempo que fazemos parte do Esquadrão de Pesquisa do Team Galaxy, precisamos também descobrir o que faz dos Pokémon criaturinhas tão temidas por todos em Hisui — e como convencer as pessoas de que “monstros” e humanos podem conviver em harmonia.
Toda a comodidade da tecnologia presente desde Kanto também não existe em Hisui. A ideia por trás do novo jogo da franquia é descobrir como fabricar os instrumentos necessários para a jornada com os ingredientes encontrados pela região. Itens básicos, como Pokébola e poção, estão disponíveis a todo instante, mas outros, como Super Potion ou até mesmo Heavy Ball, precisam ser criados a partir de receitas. Para consegui-las, é necessário completar missões (principais ou paralelas), avançar no ranque do Esquadrão de Pesquisa ou até mesmo comprá-las em Jubilife Village.
Contudo, tão escasso quanto os recursos é o dinheiro. Diferentemente dos outros jogos da franquia, em Legends não existem treinadores dispostos a uma batalha Pokémon a cada esquina: obter o suado dinheirinho vem a partir das análises feitas dos monstrinhos. Para isso, precisamos dispor de tempo e paciência para capturá-los, estudar suas comidas favoritas e muito mais: somos nós quem atualizamos a Pokédex.
Alguns são pacíficos e até fogem de nós se não formos cuidadosos; outros, contudo, não perdem a oportunidade de defender seu território. Em Hisui, somos largados à deriva no lado selvagem da região e o importante não é fazer com que seu time esteja pronto para todo e qualquer combate, mas sim garantir nossa própria sobrevivência. Isso também inclui cair ou pular de alturas exageradas ou resolver nadar em um rio fundo; caso desmaiemos durante a expedição, podemos dar adeus a alguns dos itens do nosso inventário — até mesmo materiais raros.
Para além da pesquisa Pokémon
Seguindo a tradição desde Pokémon X/Y (3DS), podemos customizar nosso avatar com roupas, acessórios e penteados diferentes. Várias missões paralelas também estão disponíveis, variando de mostrar as informações de certo monstrinho ou entregando itens específicos. Por exemplo, para habilitar mais tipos de roupas para além dos desbloqueados conforme avançamos na campanha, a dona do estabelecimento nos pede para que mostremos a ela diferenças entre Hippopotas macho e fêmea.
Ensinar novos golpes para nossos monstrinhos também ficou mais simples, bem como aumentar os EVs deles. No entanto, os detalhes mais específicos a respeito do conteúdo do jogo deixarei para a análise, mas o ponto a que quero chegar está bem claro: criar a Pokédex é apenas um dos nossos objetivos em Hisui, e talvez apenas o primeiro nessa região longínqua.
Gráficos x jogabilidade x qualidade = vale a pena?
Uma das principais reclamações a respeito de Legends é a parte gráfica do jogo. Para um jogo de um console de oitava geração, é bem verdade que a resolução de Legends está aquém de outras produções da Game Freak ou até mesmo da Nintendo, mas, dada a qualidade de jogo, a dinâmica de exploração em mundo aberto e a jogabilidade durante os combates, tanto contra outros Pokémon ou na purificação dos Regal Pokémon, a fluidez na jogabilidade é nítida, a ponto de não gerar discrepâncias de performance entre jogar no modo portátil ou TV.
Sabe-se que, atualmente, os jogos se vendem por seu visual, mas nem sempre isso é sinônimo de uma boa história ou jogabilidade equilibrada. No caso de Legends, que pode ser considerado um projeto ambicioso, embora ainda experimental, os gráficos podem ser relevados, já que não afetam a qualidade do jogo como um todo. Na minha humilde opinião, prefiro muito mais saber que Legends não consome toda a potência do meu Switch a ponto de fazer o console superaquecer, como aconteceu durante minha jogatina de Pokémon Let’s Go! Eevee (Switch) e que por vezes causou lags durante cenas que exigiam muito processamento.
Pokémon para novatos e veteranos
Pokémon Legends: Arceus promete uma aventura única e singular no universo dos monstrinhos de bolso. Na aventura em Hisui, não somos meros espectadores da interação entre Pokémon e humanos; aqui, fazemos com que ela aconteça, tudo isso enquanto arriscamos nossa própria pele para entender os mistérios por trás dessas criaturinhas e o Supremo Sinnoh, criador do tempo e universo.
A exploração em mundo aberto, com diversas missões obrigatórias e opcionais e uma jogabilidade mais dinâmica e menos passiva, enriquece o conceito que os velhos de guerra já conhecem, mas também abre a oportunidade para que jogadores que nem sempre demonstraram tanto interesse por Pokémon deem uma segunda chance para a franquia. Continua sendo Pokémon, mas não do mesmo jeito que conhecemos.
Revisão: Diogo Mendes
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela Nintendo