Desde sua estreia no Game Boy, em 1996, a franquia Pokémon tem sido uma febre mundial. A ideia de capturar monstrinhos, evoluí-los e participar de grandes aventuras foi um fenômeno instantâneo e, com o passar dos anos, os jogos foram se adaptando aos novos portáteis da Nintendo, o lar dessas criaturinhas, até 2019, quando Pokémon Sword/Shield (Switch) chegou a um console pela primeira vez e firmou a oitava geração dos monstrinhos de bolso.
Em 2021, foi a vez de Pokémon Diamond/Pearl (DS) ganharem remakes, algo que os fãs da série vinham pedindo e especulando há anos. Além de Pokémon Brilliant Diamond/Shining Pearl trazendo a quarta geração da franquia no Switch, também foi anunciado outro jogo que promete revolucionar o jeito de jogar Pokémon: Pokémon Legends: Arceus.
Diferentemente dos outros spin-offs oriundos dos jogos principais, como Pokémon Trading Card Game (GBC), Pokémon Snap (N64) e tantos outros, que tentavam tirar o foco da ideia de capturar monstrinhos e treiná-los, Legends foi apresentado como uma entrada da série principal, para a surpresa de muitos. A bem da verdade, muitos spin-offs mantiveram o conceito principal já instaurado no Game Boy, sobretudo o colecionismo, e não proporcionam uma real interação com os monstrinhos que tanto amamos — talvez o mais próximo disso tenha sido Pokémon Snap e seu remake, New Pokémon Snap (Switch), mas sempre mantendo esse distanciamento entre humanos e Pokémon.
Legends, por outro lado, já comprovou que humanos e Pokémon vivem em harmonia. A maior revolução nesse quesito é a possibilidade de engajar em batalhas sem a necessidade de usar um monstrinho, colocando o jogador em um papel de sobrevivência na natureza selvagem. Não é para menos, afinal, a ideia por trás da aventura em Hisui é catalogar as espécies de Pokémon existentes e criar a primeira Pokédex do mundo.
Outro grande fator presente nos jogos principais da série é a linearidade. Os jogadores sempre têm um roteiro que deve ser seguido para chegar ao clímax, a Liga Pokémon da região em que se passa a aventura. Depois disso, o que restava era trocar monstrinhos com outras pessoas para completar a Pokédex e aproveitar o lado competitivo que Pokémon proporciona — tanto que, atualmente, os jogos principais têm reforçado essa característica durante a campanha principal, introduzindo mecânicas e itens essenciais para o processo de breeding, a criação de monstrinhos competitivos.
Depois desses anos todos, há de convir que essa linearidade é algo bastante datado se Pokémon for comparado com jogos mais atuais que permitem exploração mais livre dos locais e que muitas franquias têm procurado aproveitar recentemente, como The Legend of Zelda: Breath of Wild (Wii U/Switch), Kirby and the Forgotten Land (Switch) e Sonic Frontiers (Multi). A princípio, Legends foi considerado um “jogo de Pokémon em mundo aberto”, mas, mais tarde, demonstrou utilizar elementos muito semelhantes aos de Monster Hunter (Multi), sobretudo o estilo “sandbox”. Dessa maneira, Legends permite que o próprio jogador determine o ritmo de sua aventura, coletando os materiais necessários para fabricar itens essenciais para a jornada e completando missões.
Pode não ser um mundo aberto, mas Hisui permite que o jogador interaja muito mais com a ambientação e os Pokémon e progrida no seu próprio ritmo. Caso assim o jogador desejar, avançar na aventura pode não ser sua prioridade e não há nada que o puna caso isso seja feito; em outras palavras, não existe aquela necessidade de conquistar ginásios para ganhar acesso a novas áreas, antes barradas pela rigidez da progressão linear — mesmo que, em certos momentos, Legends requeira a conclusão de objetivos para o jogador ter acesso a uma nova área no jogo.
Pokémon Legends: Arceus promete unir o amor por Pokémon à liberdade dos jogos mais atuais, criando um divisor de águas entre o que já conhecemos e o que pode ser o futuro da franquia. De certa forma, é uma ruptura com o padrão, algo que os fãs vinham pedindo há tempos, mas que apenas sua receptividade poderá julgar se as mudanças foram bem-vindas ou se Pokémon só funciona “dentro da Pokébola”.
Revisão: Thais Santos