Análise: Windjammers 2 traz ao Switch competitividade dos arcades dos anos 1990

Sequência do clássico cult de arremesso de discos inclui partidas intensas aprimoradas com novidades modernas, mas um single player raso.

em 24/01/2022
Windjammers 2

Em um mundo cheio de remakes, remasters e releituras de jogos, desenvolvedoras como a Dotemu ganharam destaque. Nos últimos anos, o estúdio francês se provou capaz de modernizar séries clássicas, trazendo mecânicas e estilos artísticos contemporâneos enquanto mantém a essência dos games originais. Basta ver o resultado de seu envolvimento com Wonder Boy: The Dragon’s Trap (Multi) e Streets of Rage 4 (Multi) para entender o prestígio que a produtora vem recebendo.


Seu mais recente lançamento para Nintendo Switch se propõe a repetir essa fórmula. Windjammers 2 traz de volta um título cult dos arcades dos anos 1990, adicionando a ele elementos que aprimoram a sua jogabilidade. O resultado é um jogo que une Pong e games de luta, uma mistura que surpreendentemente acende a chama da competitividade de quem estiver no controle. No entanto, aqueles que procurarem por algo além do prazer pelas disputas não vão encontrar muita coisa.

Um pouco de história

Assim como seu nome já indica, Windjammers 2 é uma sequência direta de Windjammers, jogo lançado para fliperamas Neo Geo em 1994. Criado pela antiga produtora japonesa Data East e publicado pela SNK, o game gira em torno de disputas intensas de arremesso de discos.

Imagine uma partida de Pong em que a bolinha é um frisbee e, no lugar das barras verticais fixas, estão atletas que podem andar livremente por seu lado da quadra. Cada um possui atributos de ataque e agilidade, além de investidas especiais. O objetivo é acertar o gol atrás de seu oponente, marcando pontos suficientes para fechar dois sets e ganhar a disputa.

Na época, o jogo foi razoavelmente bem recebido, com elogios ao aspecto competitivo de sua jogabilidade. Porém, ele nunca chegou a ser um fenômeno, como Virtua Fighter, Killer Instinct e outros lançamentos do mesmo ano.
Windjammers 2
Imagem do port de Windjammers, lançado pela Dotemu em 2018 no Nintendo Switch


Em 2003, a Data East, detentora dos direitos do game, decretou falência. Com isso, Windjammers acabou ficando com a Paon DP, conhecida por fãs da Nintendo por produzir DK: King of Swing (GBA), Donkey Kong Barrel Blast (Wii) e a série Glory of Heracles.

Nos últimos anos, porém, jogadores começaram a redescobrir o título, incluindo-o em campeonatos como a EVO 2018. Dentro desse movimento dos fãs, estava a Dotemu, que, tendo entusiastas do game em sua equipe, buscou autorização para licenciar a marca e relançar o original de arcades nas plataformas desta geração.

Em entrevista à publicação VICE, o CEO do estúdio, Cyrille Imbert, explicou que o time não só pediu liberação à detentora da IP como também se reuniu com a SNK para receber a bênção para realizar esse projeto. Com as empresas de acordo e o jogo em produção, os desenvolvedores buscaram ajuda do Windjammers France, grupo de jogadores profissionais, para poder reproduzir a experiência dos fliperamas da maneira mais fiel possível.

O port do primeiro Windjammers chegou ao Switch em 2018, recebendo boas críticas da imprensa.

De 1994 para 2022

Toda essa história acima é necessária para mostrar o cuidado que a Dotemu teve com a franquia, algo que se reflete em Windjammers 2. Apesar dos 18 anos que separam os dois títulos, a experiência de jogabilidade da sequência é extremamente similar à do original, baseando-se no port lançado recentemente.

Tempo de resposta dos controles, músicas, efeitos sonoros, animações… tudo foi reproduzido com uma fidelidade praticamente milimétrica. Quase não há esforços de adaptação ao pular de um jogo para o outro. Fãs do primeiro game, portanto, se sentirão em casa — ainda mais porque, se muitas características se mantêm as mesmas, significa que este novo lançamento é tão divertido quanto o original era em 1994.

Fosse esse só um jogo de arremesso de discos ao gol, sem floreios ou ataques extravagantes, talvez sua premissa não tivesse envelhecido bem, mas felizmente o título usa e abusa de elementos deliciosamente exagerados para fazer com que as disputas sejam muito dinâmicas. Conceitos criados há quase duas décadas no primeiro game, como lançamentos potentes envoltos em fogo e reversões instantâneas de ataques, continuam funcionando, trazendo velocidade e um ar de game de luta à jogabilidade.

Assim como nos títulos de pancadaria, uma partida de Windjammers exige que os jogadores estudem os movimentos dos oponentes, encontrem aberturas em suas estratégias e revidem com um golpes fortes. Porém, nesse esporte fictício, o disco está em constante movimento e todo esse processo de pensamento tem que ser feito em milésimos de segundo.

Somado ao fato de que todos os lançamentos, independentemente de quão poderosos sejam, podem ser defendidos com o timing correto, isso faz com que o gameplay seja eletrizante. Cada set é inesperado e reviravoltas grandiosas podem acontecer a qualquer momento.
Windjammers 2
Os lançamentos potentes do game remetem a especiais de jogos de luta


As adições feitas pela Dotemu à jogabilidade também são muito bem-vindas. Novos ao moveset estão espalmadas que rebatem os frisbees, deixadinhas e pulos que permitem arrebentar os discos no chão e garantir uns pontos extras. Todos esses elementos encaixam-se perfeitamente no game, trazendo mecânicas que remetem mais ao tênis e reforçam a importância do posicionamento em quadra.

Além disso, cada atleta possui uma barra de energia que, quando preenchida, permite realizar um arremesso especial. Esse ataque máximo difere entre os personagens, acrescentando um nível extra de estratégia. Afinal, é necessário saber como funciona o comportamento do super shot adversário para poder defendê-lo.

A barra também pode ser usada de modo defensivo, fazendo o disco parar em sua trajetória e girar no ar, resultando em recuperações mais certeiras. Embora seja um bom recurso na hora do aperto, ele não é tão confiável quanto aparenta ser. Muitas foram as vezes em que tentei resgatar o frisbee dessa forma e o especial simplesmente não funcionou, gastando somente a energia da barra e, francamente, minha paciência.

Com tudo isso, é compreensível que o jogo seja difícil de digerir, principalmente para alguém que nunca jogou Windjammers antes. Infelizmente, o título peca justamente na hora de ensinar suas mecânicas. Como tutorial, há somente um menu com ilustrações e indicações de quais botões apertar para executar as ações. Nada de lições interativas ou qualquer outro tipo de modo que faça com que as pessoas se acostumem com os controles. A aprendizagem vem com as partidas em si — ou seja, é bem provável que derrotas sejam comuns no começo, o que causa frustração.
Windjammers 2
A simplória tela com explicações sobre os controles


Entre as quatro linhas

Outro fator decisivo nos confrontos de Windjammers 2 são as quadras. Muitas delas retornam do título original, e as arenas inéditas trazem um frescor a mais à experiência de jogo.

Elas são parte integral do game pela maneira como são desenhadas. A maioria delas possui gols com seções que valem três ou cinco pontos. Como um set padrão equivale a 15 pontos, acertar os locais de maior pontuação acaba sendo prioridade.

Porém, cada mapa possui configurações diferentes. Às vezes, a área de cinco pontos está nos cantos dos gols. Em outras situações, ela está no meio. Há quadras com obstáculos que mudam repentinamente o caminho do disco. Tudo isso faz com que a combinação personagem/arena seja crucial para desenvolver planos de ataque e defesa. E quando ambos os jogadores têm isso em mente, as partidas são elevadas à décima potência.

Os cinco novos estádios também possuem designs que promovem diferentes estratégias, em especial o Casino, no qual o número de pontos muda a cada lance. Nele, é preciso saber a hora certa de usar o arremesso especial e garantir gols que valem até oito pontos de uma só vez.
O Casino é uma das novas e mais interessantes arenas do jogo


O único ponto questionável dessas quadras está na precisão do limite entre áreas de pontuações diferentes. Algumas vezes, o jogo me forneceu três pontos quando o frisbee claramente estava na área de cinco e vice-versa, causando uma falta de confiabilidade na programação da pontuação que pode custar toda uma partida.

Muita competição e pouco single player

Se tudo o que foi mostrado sobre Windjammers 2 até agora o fez parecer um jogo bastante competitivo, então sua intuição está certa. A maneira como seus modos são estruturados é a evidência mais clara disso.

A principal opção é o Modo Online. Nele, é possível jogar contra amigos e pessoas desconhecidas de todo o mundo. Apesar de fornecer partidas rápidas ou customizadas contra alguém de sua lista de amizade, o foco aqui são as disputas ranqueadas. A proposta é simples: ganhe pontos ao derrotar adversários e suba no ranking mundial. Nada tão inovador, mas devido à natureza frenética das contendas, a sensação de “só mais uma disputa” é real.

A qualidade das competições via rede é ótima quando a internet em ambas as pontas é boa. Se o ping da conexão estiver muito alto, prepare-se para ver o adversário e, pior, o disco se teletransportarem erroneamente pelo cenário, o que atrapalha muito a tomada de decisões em meio ao jogo. Mesmo assim, o online é estimulante quando funciona sem problemas. Fica a esperança de que opções mais aprofundadas, como torneios e eventos via web, sejam acrescentados no futuro.

Já nas jogatinas offline, o título apresenta um pouco de falta de substância. Além de partidas individuais contra o computador ou outra pessoa em multijogador local, há a opção de encarar um campeonato solo de Windjammers no Modo Arcade. Nele, é preciso derrotar adversários um após o outro até chegar à grande final. Dois minigames — um em que deve-se quebrar discos lançados por uma máquina e outro em que controla-se um cachorro atrás de um frisbee voador — aparecem entre as partidas para dar mais variedade ao torneio.
No Modo Arcade, é possível escolher qual adversário desafiar em cada rodada


Com três níveis de dificuldade, o modo oferece um bom desafio, principalmente contra CPUs mais difíceis. Porém, não há recompensa alguma para quem o faz, além da satisfação de sair com a vitória e uma ceninha animada de conclusão. Sem desbloqueáveis, uma opção de encarar somente os minijogos ou até mesmo uma indicação no menu dos personagens com os quais o modo foi finalizado, não há muitos incentivos para se dedicar ao single player. Quem não consegue ou não gosta de jogar pela internet, ou quem não tem a possibilidade de reunir amigos para disputas, acaba ficando com uma fatia muito rasa da experiência.

Acessibilidade

Em uma nota pessoal, levando em conta minha deficiência física, a jogabilidade de Windjammers 2 é bastante acessível. A possibilidade de realizar todas as ações com o direcional analógico e os botões A, B, X e Y faz com que eu possa executar o moveset inteiro e competir de igual para igual. O game também permite remapear os comandos, ajudando pessoas com dificuldades motoras a formatar o controle da melhor maneira possível.

No entanto, é possível perceber que há uma incompatibilidade entre a natureza rápida do jogo e as necessidades que pessoas com deficiências cognitivas podem ter para aproveitá-lo. O título foi desenhado para ser frenético, chamativo, com muitas cores piscando e discos voando a altas velocidades de um lado para o outro. A incapacidade de diminuir alguns efeitos ou reduzir a velocidade do game faz com que ele se torne difícil de ser recomendado a esse público.

Uma boa sequência

Windjammers 2 é um retorno à época dos fliperamas, em que o prazer vinha da competição por si só. Com uma reprodução fiel do gameplay do jogo original, novos elementos de jogabilidade que adicionam uma camada extra de estratégia às disputas e um grande foco em confrontos locais ou ranqueados pela internet, o game é um prato cheio para quem gosta de sentir a adrenalina da vitória após uma partida concorrida.

Porém, a falta de modos mais elaborados e de um sistema de progressão no single player faz com que o game não tenha muito conteúdo offline a ser aproveitado. Claro, a jogabilidade estimulante e os desafios impostos pelos CPUs compensam um pouco essa lacuna, mas a sensação de que mais poderia ter sido feito nesse aspecto para que o jogo alcançasse um potencial ainda maior não deixa de ser notável.

Prós

  • Ótima transposição dos controles do jogo original de 1994, com jogabilidade extremamente similar à da época;
  • As disputas dinâmicas de arremesso de disco — com golpes especiais e elementos de jogos de luta — continuam tão divertidas quanto há 18 anos;
  • As adições aos movesets dos personagens encaixam-se perfeitamente ao gameplay;
  • Novas quadras permitem estratégias diferentes;
  • Modo online ranqueado simples, mas que estimula a competitividade.

Contras

  • Ausência de tutoriais interativos que expliquem melhor as mecânicas do game para novos jogadores;
  • O uso defensivo da barra de energia às vezes não funciona, causando frustração;
  • O game ocasionalmente registra pontuação errada em relação à área do gol em que o disco entrou;
  • Falta de modos single player offline mais robustos;
  • Ausência de qualquer tipo de progressão ou desbloqueáveis ao concluir o Modo Arcade repetidas vezes.
Windjammers 2 — Switch/PC/PS4/XBO — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dotemu
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Jornalista, analista de mídias, PcD e entusiasta de games desde que jogou Pokémon Azul no Game Boy Color nos anos 90. De lá para cá, tenta aproveitar ao máximo todos os consoles no pouco tempo que a vida adulta permite. Se não está escrevendo para o Blast ou demorando anos para zerar um jogo, está no Twitter (@DanielMorbi) e no Instagram (@danielmorbi_)
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