Vai, gatinho, se mexe
Kitty é um fofo, mas preguiçoso gatinho laranja listrado que, seja lá por qual motivo, teima em se embrenhar em meio a diferentes tipos de labirintos de pilares de pedra tombados. Ele até poderia saltar por cima deles para chegar à saída, mas aparentemente não está a fim, então cabe a nós mexer as peças para criar um trajeto livre para o felino irredutível.
Tanto a movimentação de Kitty quanto dos pilares é a mesma: você pode empurrar o objeto selecionado para frente ou para trás em linha reta, caso haja espaço livre na direção escolhida; se houver algum obstáculo, seja o gato ou outro pilar, a progressão é interrompida.
O círculo vermelho que marca a saída em cada estágio está sempre posicionado ao final da linha diretamente à frente do bichano, então o desafio, posto de modo simples, é identificar quais pedras estão no caminho dele e analisar como podemos ir deslocando essas peças, de acordo com os tamanhos de cada uma e com os espaços livres na fase.
Vai com calma, tigrão
Se parece que não há muita substância em Unlock The Cat além de arrastar as pedras e posicionar o gatinho de acordo com a necessidade das fases, é porque realmente não há. A campanha do jogo, que está esteticamente dividida em quatro paisagens (manhã, noite, deserto e inverno), vai naturalmente aumentando a dificuldade, mas sem qualquer inovação além do cenário e da música em cada localidade.
As 40 fases disponíveis não introduzem uma única mecânica nova, apenas mudam o tamanho e a disposição dos pilares no mesmo espaço de 6 por 6 quadrados. Como a movimentação de Kitty é igualmente limitada, também não há novidades em relação ao funcionamento do protagonista.
Essa simplicidade pode parecer frustrante, mas acaba que ela tem um bocado a ver com a maneira pela qual Unlock The Cat é melhor aproveitado. Não se trata de um jogo que precise ser apressado em poucas jogatinas extensas (até porque ele pode ser concluído em poucas horas), mas sim uma experiência muito mais agradável se consumida em doses homeopáticas, sempre que bater aquela vontade de resolver um ou dois quebra-cabeças.
Algo que melhora ainda mais o tempo que passamos com esse indisposto bichano é a possibilidade de navegar pelo game inteiro usando apenas os controles de toque do Switch. Isso inclui a movimentação do personagem e das pedras, e torna o gameplay muito mais prático e dinâmico do que ir movimentando as peças com a alavanca e deslocando-as com os botões.
Tentar se submeter a uma pequena maratona de completar todos os desafios de uma vez provavelmente só vai levar à irritação de não ver nada além de uma repetição do mesmo esquema de puzzles, e se tem algo que não ajuda nem um pouco nesse sentido, são os recursos sonoros: o miado do Kitty e a trilha sonora do game.
Ocasionalmente, o protagonista emite característicos miados, o que começa fofo, mas rapidamente se torna irritante, já que você está tentando se concentrar na resolução dos quebra-cabeças. Parece até que a opção de desligar os sons do bichinho está lá por uma decisão tomada após testes iniciais envolvendo exatamente algumas reclamações dos playtesters.
A música, apesar de composta por faixas belas e tranquilas, também não ajuda, então a minha recomendação é tirar completamente o som do jogo e aproveitá-lo enquanto escuta sua playlist ou podcast favorito — algo que te faça relaxar, mas que não fique em um loop manjado.
Outro recurso que implica em pequenos contratempos é a inexistência de uma opção de ir de um dos estágios direto para a seleção de fases. O menu de pausa nos dá apenas a escolha de salvar o progresso e voltar à tela inicial; ou seja, se você quiser salvar o que já conquistou, rejogar um quebra-cabeça que acabou de concluir ou selecionar um nível específico dentre os já superados, é obrigado a passar novamente pelo menu principal.
Esses não são grandes inconvenientes, já que é rápido e fácil salvar e retomar a jogatina, mas poderia haver soluções para ambos os problemas, como salvar e continuar jogando ou acessar a tela de seleção de fases direto do menu de pausa. Também seria ótimo poder remover o barulho produzido pelas pedras quando as arrastamos, mais um incômodo sonoro existente nas aventuras de Kitty.
Devagar e sempre, todo mundo fica feliz, inclusive o gatinho
Unlock The Cat não tem uma proposta revolucionária ou ambiciosa. A Minicactus Games apenas quis desenvolver um puzzle redondinho o suficiente e incluir um protagonista fofinho, e obteve sucesso em ambos os objetivos.
Reitero a minha recomendação de resolver alguns poucos puzzles de cada vez: a menos que você seja um speedrunner treinando para a próxima maratona, não há a menor necessidade de desembestar a concluir tudo assim que possível. Vai na paz, deixa para retornar aos cercadinhos do Kitty quando estiver esperando o delivery chegar ou quando estiver na sala de espera do médico. Com certeza você vai fechar esta pequena preciosidade indie satisfeito, ao invés de cansado por ter passado por 40 puzzles tão semelhantes.
Prós:
- Quebra-cabeças divertidos e desafiadores se encarados em jogatinas na medida certa;
- A opção de navegar pelo jogo inteiro usando os controles de toque do Switch combina muito bem com a proposta dos puzzles, trazendo praticidade e dinamismo.
Contras:
- Além do cenário e do tamanho e disposição dos pilares, não há variedade nos 40 puzzles do jogo;
- Se você quiser salvar o progresso e/ou retornar à seleção de fases, é obrigado a retornar à tela inicial do jogo;
- O miado do gato, o barulho feito pelas pedras sendo arrastadas e as músicas que compõem a trilha sonora rapidamente se tornam repetitivos e irritantes.
Unlock The Cat - Switch/PC - Nota: 6.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela QUByte Interactive