Meus jogos favoritos de 2021 — Vítor M. Costa

Os redatores do Nintendo Blast falam sobre os títulos que mais curtiram neste ano.

em 31/12/2021



Para quem já está cansado de ler especiais de “jogos favoritos de 2021” por aqui, calma… tem só mais um para vocês hoje, logo no último dia do ano. Na minha lista, vocês verão alguns jogos que não são de Switch, porque também jogo muito no PC, além do híbrido da Nintendo. De todo modo, espero que sirva de porta de entrada para lerem e refletirem mais sobre esses jogos ou como recomendação para jogá-los em 2022.


NieR Replicant ver.1.22474487139… (Multi)



Ao pensar nos meus jogos favoritos do ano, um dos primeiros que me vem à cabeça não é exatamente um jogo novo, mas um soft remake de Nier Replicant (PS3), lançado exclusivamente no Japão. Como resultado do sucesso de NieR: Automata e em homenagem aos 10 anos da franquia, NieR Replicant ver.1.22474487139..., que chegou este ano, trouxe visuais aprimorados, controles mais precisos, maior complexidade mecânica, uma rota extra com um novo cenário, novos arranjos musicais e conteúdos adicionais, incluindo a capacidade de controlar Kainé e Gestalt — protagonista da versão ocidental de NieR.

Existem três razões principais para ele estar entre os meus jogos favoritos do ano. O primeiro é sua trilha sonora. Para mim, facilmente a melhor trilha sonora do ano, apesar de ter concorrentes fortes como NEO: The World Ends with You (Switch). Assim como o título original, as novas e as antigas composições foram feitas (ou reorganizadas) em colaboração com o estúdio MoNACA, dirigido por Keiichi Okabe, respeitando os pedidos do diretor do jogo, Yoko Taro, entre eles, de que fosse composto principalmente de musicais vocais. As peças, muitas vezes em um tom menor, têm melodias bem ritmadas com uma voz suave de soprano, muitas vezes acompanhada por cordas, e dão ao jogo um tom constante de tristeza, mesmo nas batalhas mais acirradas — e há uma razão para ser assim.

O motivo da música estar constantemente triste, mesmo na batalha, está no design da narrativa, e esse é também o segundo (e principal) motivo pelo qual este jogo está entre os meus favoritos do ano e inspiração para meu último ensaio na SUPERJUMP. A trama de NieR não é sobre conquistas, mas sobre perdas, em todos os lados da trama pós-apocalíptica. Não existem heróis ou vilões, mas personagens em busca de "humanidade". O desenho da rota é projetado de forma a fazer uma crítica subliminar à maneira como pensamos sobre nossos inimigos nos videogames. E a oportunidade e a singularidade dessas propostas impressionam mesmo 10 anos após o primeiro NieR, porém agora de uma forma mais acessível, o que me leva ao último motivo para esse jogo estar entre meus favoritos.

A versão 1.22474487139 ... de NieR Replicant continua com alguns dos problemas e limitações do original, e é notável que ainda fica atrás de NieR: Automata em exploração, design de nível, variedade de jogabilidade, precisão de controle, entre outras coisas. No entanto, o combate está muito mais interessante do que o original com a diversidade de habilidades de Grimoire Weiss, e ele permanece exuberante e criativo em suas mudanças de perspectiva, câmera livre, plataforma side-scrolling e visão isométrica. Além disso, o jogo também tem momentos de puro Text-Adventure.

O design do jogo como um todo é coerente, único e profundo, e sua jogabilidade, apesar de ser repetitiva e com limitações, está mais divertida e acessível do que nunca.

Psychonauts 2 (PC/XBX)




Outro jogo obrigatório do ano entre os meus favoritos é Psychonauts 2. Escrito e dirigido por Tim Schafer, este jogo provou ser um sucessor digno do clássico cult de 2005. É menos desafiador do que seu antecessor e sua exploração é um pouco mais linear, mas sua escrita é muito boa, sua mecânica é muito mais diversa, os controles são mais precisos, o design dos níveis é mais acessível e a direção de arte é exuberante e criativa.

Psychonauts 2 é um jogo sobre saúde mental, como lidar com o passado e criar laços entre família e amigos. Tudo isso, porém, é abordado com um tom cômico muito criativo, tanto pelo estilo irônico dos diálogos dos personagens, quanto pelas sátiras visuais, ao ver o mundo pelos olhos de outro personagem, e também pelo tom absurdo com o qual coisas concretas do mundo são imaginadas dentro dos mundos mentais visitados pelo psiconauta Razputin.

Gosto especialmente da maneira como  Psychonauts 2 brinca com os símbolos das partituras em um mundo da música, com sátiras de escritores em um mundo de livros e muito mais. A arte é sempre criativa, às vezes extremamente abstrata, me fazendo sentir dentro do abstracionismo geométrico de Kandinsky. A música complementa esse sentimento, muitas vezes dissonante e atonal, reminiscente da música do formalismo russo moderno, que também combina com as referências plásticas do jogo.

Loop Hero (Switch)




A cada ano fico mais interessado em jogos indie, e este ano havia muitos jogos indie excelentes. Um deles era Loop Hero, o RPG baseado em cartas mais criativo desde pelo menos Slay the Spire; criativo ao ponto de fazer repensar o conceito de RPG.

Entre as coisas que mais me cativaram neste jogo está a forma como ele criou um RPG automatizado de combate e exploração, mas desenvolveu mecânicas com ênfase no controle da economia externa da jogabilidade, ou seja, não a economia interna (controle de quando atacar, usar habilidade, usar poção etc.), mas sim controlar o que colocar em cena, o que pode gerar obstáculos, intervenções no ciclo diurno-noturno, locais que geram inimigos, pontos de recuperação de vida, entre outros.

Em segundo lugar, gostei da maneira como Loop Hero reinterpreta o conceito de loop de tempo de um ponto de vista espacial, criando uma atmosfera sombria e nostálgica de 8-bits em torno desse conceito, além de ter um enredo simples, mas coerente, com uma dinâmica altamente repetitiva e, ao mesmo tempo, com a perspectiva do progresso por meio da construção de baralho e do desenvolvimento da vila para a qual o protagonista sempre retorna.

Hashihime of the Old Book Town append (Switch)




Apesar de ter sido lançado no Switch em 2021, o jogo originalmente foi lançado internacionalmente no final de 2020 para PC. Hashihime of the Old Book Town ganhou uma versão censurada e adaptada para o híbrido da Nintendo que se tornou a primeira VN que avaliei, embora eu já tenha jogado outros títulos do gênero anos atrás.

Essa VN indie, para além de ser uma BL emocionante em alguns de seus romances, tem uma trama que me impressionou em relação à qualidade de seu enredo, na forma como é bem ambientada como ficção histórica na década de 1920, no Japão, e na forma como aborda loop temporal em 3 dias, mitologia japonesa e psicodelia. O enredo desafia o senso de realidade do jogador tanto quanto o do protagonista, e consegui me conectar muito bem com ele.

Outro apelo interessante do jogo é o contexto literário. Como o protagonista é um escritor, há relações com vários livros de época interessantes, alguns dos quais versões plagiadas de obras ocidentais. Essas relações são estabelecidas tanto dentro da ficção, pelos personagens, quanto fora dela, pela forma como o game design aplica noções de viagem no tempo e sonhos pré-infância e outros aspectos.

The Longing (Switch)




Por fim, mais um jogo indie do ano que não é exatamente deste ano. The Longing também já havia sido lançado no PC, mas foi em 2021 que chegou ao híbrido da Nintendo, e finalmente o joguei. Este é outro jogo que me desafiou como crítico de videogames. Diria que é o jogo mais importante para minha formação como crítico de jogos desde ICO (PS2), de Fumito Ueda, jogo que me motivou a escrever sobre videogames e tratá-los mais seriamente como meios de expressão artística.

The Longing claramente é um jogo que não se propõe ser, como foco principal, um jogo para entretenimento. Ele pode entreter tanto quanto um quadro de Dali ou Picasso, mas assim como as obras desses autores, foram principalmente razões estéticas que motivaram sua criação. Em especial, o foco do jogo está em um tratamento muito ousado e único para falar sobre solidão e espera através de um uma exploração lenta e misteriosa, ou simplesmente espera em sua forma mais simples.

Dentro do jogo, desenvolvi bastante paciência com meu amiguinho sombrio, senti sua solidão e me imergi naquele mundo surrealista e expressivo mesmo quando estava simplesmente sentado lendo The Time Machine, de G. H. Wells, e me senti inspirado a pensar com maior profundidade a noção de “art game” e a própria noção de “jogo”.

Menções honrosas




Muitos jogos poderiam ser aqui mencionados, mas vou ficar em apenas outros cinco. O primeiro deles, Final Fantasy XIV, só não está na lista acima por eu ainda não o ter terminado, mas tem me acompanhado desde outubro e tem sido uma experiência incrível! Certamente o melhor Final Fantasy desde o XII. E o segundo (NEO: The World Ends with You) é um jogo incrível que esperei por mais de dez anos para ser anunciado. Enfim… aqui estão minhas menções:
Neste ano, além de notícias, escrevi para o Nintendo Blast cerca de 70 artigos especiais, dentre os quais um terço deles foram análises de jogos. Foi um prazer para mim fazer parte da equipe de redação, e dessa grande família do Blast, na qual estão já alguns amigos que eu não teria conhecido de outro modo.

Entre meus textos favoritos escritos esse ano estão aqueles que escrevi tanto para o NBlast quanto para a SUPERJUMP (em inglês), com assuntos mais teóricos, como de comparação entre cinema e videogames e da diferença entre JRPG e WRPG. A quem interessar, meus principais textos estão disponíveis em inglês no meu medium (sob publicação da SUPERJUMP) e pretendo ainda trazer para o NBlast alguns deles que, no momento, estão exclusivos por lá.

Doutorando em Filosofia que passa seu tempo livre com piano, livros, PC e portáteis. No Twitter, também é conhecido como Vivi. Interessa-se especialmente por narrativas de ficção científica, realismo mágico e alta fantasia política, e aprecia mecânicas de puzzle, stealth, estratégia e RPG. Seu histórico de análises pode ser conferido no OpenCritic e suas reflexões sobre RPG e game design encontram-se na SUPERJUMP (textos em inglês), bem como no Podcast do Vivi e em seu canal no YouTube.
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