Uma terra colorida de ninguém
Antes de mais nada, sinto-me com o dever de deixar claro que Bouncy Bullets 2, desenvolvido pelo estúdio Petite Games e publicado pela Ratalaika Games, não se trata de uma superprodução. Ora, temos, em nossas mãos, uma aventura limitada e de preço baixíssimo, podendo ser encontrada na eShop brasileira, por exemplo, por meros R$ 25,99.
Tal simplicidade é manifestada logo ao iniciarmos o aplicativo do jogo, que nos leva a um menu bastante rudimentar. Nele, podemos escolher livremente entre três mundos categorizados pelas dificuldades Easy, Medium e Hard, cada qual apresentando 15 fases. Ao iniciar pelo estágio de número 1, fiquei surpreso com uma particularidade de Bouncy Bullets 2: ele não dispõe de nenhuma história ou elenco.
Após a escolha da fase, prontamente entramos em um estágio onde toda a ação já está “comendo solta”. Se levarmos em conta que a aventura é ambientada em primeira pessoa, sequer temos a oportunidade de conhecer o protagonista e suas características, como a sua forma física ou os motivos que o levaram a encarar os estágios.
Ao meu ver, a ausência de trama deve ser vista como uma falha que não se justifica pelo baixo orçamento do título, uma vez que uma simples cutscene ou outro recurso poderia resolver tal brecha. Desse modo, nos momentos iniciais, fica mais difícil de se criar uma identificação ou maior envolvência com o jogo, que deixa a desejar no aspecto de apresentação. Felizmente, outros fatores conseguem compensar o defeito com o tempo, incluindo uma jogabilidade que, apesar de simples, alegra com sua intensidade e precisão.
Balas quadradas que quicam por aí
Tratando-se do gameplay, todas as fases de Bouncy Bullets 2 seguem um mesmo roteiro, no qual devemos explorar cenários tridimensionais até encontrarmos uma espécie de portal que nos transporta para o próximo estágio. Diante disso, os desafios oferecidos envolvem performar saltos precisos entre plataformas, correr contra o tempo e acertar projéteis em inúmeros inimigos, que se parecem com bonecos infláveis gigantes e costumam morrer com um acerto.
Os controles são extremamente fáceis de se aprender, seguindo um padrão presente em muitos jogos de tiro em primeira pessoa: enquanto o analógico esquerdo movimenta o protagonista, o direito controla a mira e o botão B permite saltar. Para atirar, podemos fazer o uso dos gatilhos do Joy-Con, uma vez que o ZR lança projéteis rosas, e o ZL, amarelos. Essa divisão existe pois os inimigos se diferenciam em cores, sendo derrotados apenas com balas de coloração correspondente.
Dessa forma, temos uma jogabilidade que está longe de ser inovadora, mas que é simples, prática e responsiva. Ainda por cima, há outro conceito que torna as aventuras mais alegres, que é o fato de que as balas podem ser rebatidas nas paredes. Assim, elas eventualmente ficam circulando por segundos pelos cenários, causando um verdadeiro caos na tela.
Conforme nos aproximamos dos estágios finais, também temos um acréscimo no número de momentos divertidos, uma vez que a ação começa a se tornar ainda mais intensa com a maior presença de inimigos. Creio que o grau de dificuldade oferecido por Bouncy Bullets 2 é justo e segue uma progressão agradável, gerando bons desafios. Entretanto, jogar todas as fases de uma só vez pode ser cansativo por um motivo específico: a escassa variação de visuais e trilhas sonoras ao longo da curta campanha.
Déjà vu e lugar comum
Mesmo com toda sua simplicidade, não podemos negar que a estética de Bouncy Bullets 2 é atraente. Apresentando cores extremamente expressivas, os cenários cúbicos criam vida e ostentam aspectos “fofinhos”. Do mesmo modo, é bacana como a performance no Switch é bastante agradável e fluida, não comprometendo os intensos momentos de saltos e tiroteio.
Todavia, temos pouquíssimas variações em termos estéticos, com gráficos praticamente iguais do início ao fim da campanha. É até mesmo difícil de perceber se estamos jogando uma etapa situada no nível Easy ou Hard, por exemplo — o que cria outro problema de identificação e personalidade. Isso também ocorre em termos sonoros, dado que as músicas tocadas no fundo, geralmente com batidas eletrônicas, não se diversificam muito entre os estágios. Gera-se, assim, uma certa monotonia que não nos permite identificar avanços ao longo da campanha.
Esses são alguns dos fatores que impedem o jogo de brilhar devidamente, deixando a aventura um tanto genérica a partir de certo ponto. Entretanto, cabe ressaltar que há duas qualidades extras que eventualmente podem renovar o fôlego da campanha: a presença de um coletável em cada fase, conhecido como Golden Nut, e a existência do Speedrun Mode, que reformula as fases ao deixá-las sem inimigos, justamente para que os jogadores possam se preocupar apenas em estabelecer recordes de velocidade.
Desse jeito, entendo que Bouncy Bullets 2 não pode ser encarado como uma aventura grandiosa e de repertório abrangente, visto que não ostenta grandes ambições. Mas, quando jogamos sua campanha sem grandes expectativas, os desafios podem, sim, se tornar divertidos, até mesmo para jogadores que não estão habituados ao gênero e buscam se familiarizar com as mecânicas de tiro em primeira pessoa.
Simplicidade também é qualidade
Como um breve passatempo, Bouncy Bullets 2 é inegavelmente um dos first person shooter mais simples da biblioteca do Nintendo Switch. Entretanto, isso não representa uma ausência de diversão, dado que os frenéticos tiroteios divertem, ainda mais se levarmos em conta que estamos em um universo colorido onde as balas podem sair quicando por aí. Se você gosta de jogos de ação, cenários charmosos, campanhas lineares e, sobretudo, jogatinas corriqueiras e baratas, eis uma opção interessante que pode lhe agradar.
Prós
- Ótima jogabilidade no melhor estilo FPS;
- Mundos extremamente coloridos;
- Boa dose de desafios;
- Presença de coletáveis e modo Speedrun.
Contras
- Ausência de qualquer tipo de história e elenco;
- Pouca variação visual e sonora ao longo da campanha;
- Falta de personalidade em certos momentos.
Bouncy Bullets 2 — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XBX — Nota: 7.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: João Gabriel Haddad
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games