A busca pelas sete pedras do arco
Em um passado distante, as terras de Archvale foram governadas por um rei poderoso e cruel que aterrorizava todos que ousavam enfrentá-lo. Hoje, ele já não existe mais, habitando apenas lendas e mitos da civilização contemporânea. Entretanto, o tirano deixou algumas marcas sombrias, tais quais criaturas conhecidas como Undying, que habitam os quatro cantos do universo do jogo e amedrontam pequenos vilarejos.
Logo na primeira cena do título, somos introduzidos ao herói da aventura, que é acordado com uma mensagem do além. Através desta voz misteriosa, ficamos sabendo que ele deve restaurar a paz de seu mundo. Para isso, ele terá de explorar dungeons e derrotar inúmeros monstros até resgatar os sete exemplares das Archstones. Quando reunidas, essas pedras se complementarão para formar um arco sagrado, com poderes que poderão varrer as sombras do presente e esclarecer algumas questões do passado.
Diante disso, Archvale prontamente se inicia. Entre os recursos disponibilizados desde o princípio, temos um simples mapa que mostra pequenos quadrados segmentados. Estes deverão ser explorados para chegarmos às localizações das Archstones, que são indicadas no material cartográfico por miniaturas. Assim, entra em cena um dos grandes pontos positivos da aventura: sua jogabilidade, que é ligeira nos combates e ampla em termos de exploração.
Gameplay repleto de ótimas combinações
A partir de uma visão top-down, Archvale se mostra essencialmente como um jogo de estilo bullet hell. Em outras palavras, isso significa que ele dispõe de embates extremamente intensos, apresentando inimigos que costumam lançar incontáveis projéteis e causam um verdadeiro caos na tela. Por sorte, contamos com um grande e diversificado arsenal ao nosso alcance, justamente para lidar com estes momentos infernais.
No começo, temos acesso a uma simples espada, que combinada ao enquadramento da câmera, faz lembrar dos primeiros lançamentos da série Zelda. Todavia, as diferenças em relação à franquia de Link aparecem de imediato, pois logo na sequência conquistamos armas dos mais variados estilos, como cajados mágicos, machados, arcos, canhões e até mesmo livros de feitiço.
Um dos conceitos mais bacanas da aventura envolve o fato de que podemos alternar rapidamente entre nossos armamentos, criando estratégias instantâneas que são facilmente renovadas. Da mesma forma, o gameplay de Archvale ganha profundidade na medida em que ele apresenta ares de twin-stick shooter, uma vez que o analógico direito deve ser usado para mirar nossos ataques.
Desse modo, temos bastante liberdade e precisão em termos de controles, o que é altamente instigante. Não restam dúvidas, portanto, que este é um dos setores mais divertidos e ricos de Archvale. Todavia, suas qualidades não param por aí, uma vez que a aventura também esconde uma vasta variedade de inimigos e ambiências em seu mapa.
Diante disso, nota-se a presença de incentivos para que os jogadores explorem novas áreas, sempre com muita liberdade para circular pelos cenários. Assim, é extremamente recompensador descobrir novas regiões e suas estátuas, que são elementos que funcionam como zonas de salvamento e nos agraciam com pontos extras de defesa e ataque — ligando-se ao interessante sistema RPG da aventura.
Um RPG de estética retrô, mas nada superficial
É perceptível que Archvale pode passar uma certa sensação de simplicidade à primeira vista. Pelo menos esse foi um dos meus sentimentos iniciais na jogatina, principalmente após experienciar sua breve introdução e apresentação. Entretanto, esse sentimento logo mudou, algo que foi deflagrado, entre outros fatores, pelas múltiplas possibilidades de atributos que podemos incorporar em nosso protagonista.
Acontece que, além da variedade de armamentos, somos capazes de montar sets de roupas e acessórios de acordo com o nosso estilo de jogo. Por exemplo, podemos criar combinações voltadas aos armamentos do tipo mágico, propiciando uma progressão pessoal conforme os nossos desejos. Ainda dentro deste quesito, o título também conta com um prático mecanismo de Badges, que são pequenos buffs passivos capazes de serem ativados e alternados livremente no menu.
Dessa forma, não há exatamente um sistema de magias ou pontos de habilidade que precisam ser incorporados de maneira definitiva, apenas mudanças e melhorias que podem ser feitas nos equipamentos e itens. Tudo isso traz um lado RPG que dialoga bem com os outros setores de Archvale, permitindo uma maior liberdade para transitarmos entre diferentes estilos de jogabilidade — algo extremamente divertido e capaz de aderir camadas de profundidade ao jogo.
Creio que a falsa noção de simplicidade, mencionada anteriormente, ocorra por causa dos visuais da aventura, que são caracterizados por sua pixel art de traços básicos. Porém, isso não faz com que a aventura não seja atraente, uma vez que o estilo retrô é bastante apropriado para as propostas de rapidez e intensidade do jogo. Além do mais, seguindo a mesma linha nostálgica, também temos trilhas sonoras épicas e animadas, com temas que por vezes lembram momentos antigos de franquias como Pokémon, Zelda e Fire Emblem.
Assim, Archvale traz, em sua estrutura, um bocado de surpresas que são capazes de formar um jogo robusto e maduro, apresentando uma campanha de extensão considerável e com um bom número de desafios. Todavia, há de se dizer que a experiência sofre com alguns percalços, especialmente em sua apresentação.
Cadê a história que estava aqui?
Entre as situações que deixam a desejar em Archvale, temos uma considerável ausência da trama durante o nosso progresso na campanha. Acontece que, após a cutscene inicial, pouco nos é contado sobre o universo do jogo e seus personagens, incluindo o protagonista, que sequer é nomeado.
Não há, por exemplo, grandes acontecimentos, encontros e diálogos que poderiam nos ajudar a esclarecer os fatos. Isso compromete a jogatina na medida em que a história fica mais distante do público. Consequentemente, o título pode se tornar menos envolvente, uma característica que pode afastar jogadores de certos estilos.
Do mesmo modo, a simples aparência da aventura acaba comprometendo um setor específico: o mapa, que se mostra pobre em recursos e pouquíssimo interativo. É difícil de saber, por exemplo, qual parte dele representa determinada região ou temática, como deserto, neve e afins. Entendo que simples legendas já ajudariam nesse sentido de localização e identificação.
No mais, não encontrei outros defeitos que poderiam sinalizar fraquezas em Archvale. Pelo contrário: quanto mais eu me aventurava em sua campanha, mais eu encontrava motivos para me ver envolvido com o título, buscando novos armamentos e estratégias relacionadas aos seus conceitos, que conseguem ser viciantes imediatamente.
As glórias de Archvale
Na lista dos jogos que marcaram o meu ano de 2021, Archvale certamente já garantiu o seu espaço ao trazer uma experiência bullet hell de tirar o fôlego. Mesmo com alguns problemas, o título é um deleite de se aventurar, principalmente se levarmos em conta seus intensos combates, explorações abrangentes, variedades táticas e ampla liberdade. Diante de tudo isso, não há como não se encantar com as glórias desta experiência, que pode parecer pequena inicialmente, mas que em poucos momentos já se mostra para lá de épica.
Prós
- Intensidade aos montes no estilo bullet hell;
- Muita liberdade para exploração;
- Sistema RPG com atributos envolventes;
- Estratégias de combate plurais;
- Visuais pixel art que possibilitam uma performance agradável.
Contras
- Durante boa parte da jogatina, a trama acaba ficando em segundo plano;
- O mapa poderia ser melhor desenvolvido e mais claro.
Archvale — Switch/PC/XBO — Nota: 9.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: João Gabriel Haddad
Análise produzida com cópia digital cedida pela Humble Games