Análise: Demon Turf é uma agradável surpresa do gênero plataforma no Switch

O jogo de plataforma 3D com personagens 2D possui estilo, conteúdo e qualidade de sobra.

em 24/11/2021

Citando o fundador da Fabraz, o estúdio indie por trás de Demon Turf, os jogos de plataforma 3D permitem que os jogadores expressem sua individualidade por meio do simples ato da movimentação do personagem. São diferentes pulos, combinações e caminhos que, quando executados, traçam aos poucos a personalidade de cada pessoa. Para ele, assim como para toda a equipe responsável pelo título, era imperativo que isso se tornasse realidade da melhor forma possível durante a produção do jogo.

Não é preciso jogar Demon Turf por muito tempo para perceber a enorme quantidade de carinho, atenção e trabalho que foram dedicados à sua criação. A liberdade de expressão fica clara em cada movimento da protagonista, e elementos como a direção de arte, quantidade de conteúdo, trilha sonora e atenção aos detalhes garantem que a experiência seja uma das mais marcantes do gênero de plataforma no Switch.

O descolado mundo dos demônios

Beebz, uma jovem demônia de apenas 1000 anos de idade, acorda de repente de um estranho sonho, que também funciona como o tutorial do game, e logo sente que precisa destronar o rei dos demônios e se tornar a líder suprema do pedaço. Para isso, será preciso que ela derrote o líder de cada turf, os territórios do mundo dos demônios, e colete baterias especiais para conseguir acessar o lar do chefão final.

A premissa é simples, mas efetiva o bastante, existindo apenas para satisfazer a regra máxima dos jogos de plataforma: explorar diferentes áreas e coletar os itens necessários para seguir em frente. Ainda que tecnicamente seja o “inferno”, o mundo bastante colorido de Beebz é lotado de pequenas minúcias sobre essa sociedade de demônios descolados, e cada área possui sua própria especificidade temática.
 

O hub world principal, onde fica a casa da protagonista, diversos conteúdos extras e o acesso aos outros mapas, não é tão grande em tamanho, porém contém multidões dentro de seus pequenos prédios. Além da quest principal, que envolve basicamente coletar as baterias e vencer o chefão final, coletáveis como bolos e pirulitos podem ser adquiridos e gastos de diversas formas pela área.

Existe, por exemplo, uma loja de fotografia/museu que entrega alguns pirulitos em troca de fotos de locais ou pessoas específicas, que você pode então tirar com o modo câmera do jogo. Há também um fliperama onde é possível utilizar fitas de videogame que você encontra por aí para destravar fases novas de time attack, ou um local lotado de estágios de teste no maior estilo das fases especiais de Super Mario Sunshine (GC).

Quando você acha que o conteúdo extra acabou, é possível achar diversos estágios especiais de “golfe” e uma arena de combate com vários níveis. Além de tudo isso, há também algumas lojinhas nas quais você gasta os bolos e pirulitos para comprar modificações de habilidades e novas cores de roupa/cabelo.


Saindo da cidade e entrando nos quatro mundos temáticos, a riqueza de detalhes e possibilidades continua. Cada área possui o seu próprio hub world de tamanho considerável, o que às vezes pode até ser um problema quando você quer achar a fase certa. Entre esses mundos, estão um deserto, um monte nevado, uma praia e até uma cidade meio cyberpunk, e cada um possui sete estágios e seu próprio líder do turf como o boss final. 

Com exceção do deserto, que é o primeiro território ao qual Beebz tem acesso, cada área pede que você use uma habilidade especial adquirida na batalha de chefão da área passada. De forma bastante orgânica, a nova skill é apresentada durante o confronto com o boss, para logo após precisar ser utilizada várias vezes durante as fases do próximo mundo. O processo funciona muito bem para apimentar um pouco o level design e acrescentar novas possibilidades à sua movimentação, como utilizar um grappling hook ou até se transformar em uma roda para andar em alta velocidade.

Saltos precisos

Voltando um pouco ao gameplay em si, Demon Turf, como já deve ter ficado claro, é um plataforma 3D que busca inspirações dos clássicos dos anos 90, a era de ouro do gênero. As primeiras comparações que me vêm à mente, que são também alguns dos meus jogos favoritos, são Super Mario 64, Banjo-Kazooie e a trilogia original de Crash Bandicoot — algo que pode ser considerado um grande elogio para a qualidade do game.

A movimentação de Beebz flui com uma leveza e precisão que raramente são encontradas em obras do gênero, principalmente nos indies atuais. Além de um giro temporário em forma de peão bastante parecido com a girada de Crash, a jovem demônia tem à disposição os bastante tradicionais pulo triplo, salto para trás, wall jump e o pulo longo para frente de Mario. Honestamente, a execução dos movimentos não deixa nada a desejar ao famoso bigodudo e faz de Demon Turf um jogo incrivelmente agradável do ponto de vista técnico. Os speedrunners de plantão com certeza ficarão bem à vontade.

Os estágios do game, por exemplo, conseguem alcançar o ponto ideal de complexidade vs. acessibilidade. A grande maioria das fases podem ser completadas em pouquíssimos minutos, e você pode até ser recompensado com um troféu se conseguir alcançar uma marca de tempo favorável, mas isso só quando falamos de chegar até o final. Coletar os itens escondidos, tanto os três bolos da primeira vez que você acaba cada fase quanto os vários pirulitos que aparecem da segunda vez, é o verdadeiro desafio para os colecionistas.

Encontrar os colecionáveis pode tomar um bom tempo em alguns momentos, mesmo com acesso a um botão que aponta a direção do próximo item quando você quiser. Muitas vezes as fases não são assim tão lineares, e cabe a você explorar e tentar certos caminhos alternativos para encontrar o que está escondido. Esse aspecto me lembrou bastante a eterna missão alternativa de quebrar todas as caixas de cada estágio de Crash Bandicoot, algo que eu gosto bastante nos jogos do marsupial. 


Outro ponto que pode tomar o seu tempo durante as potencialmente curtas fases é a própria dificuldade de certas subáreas. Os desafios não costumam ser tão longos, mas certos pulos certamente serão mais difíceis. Uma mecânica bastante particular de checkpoints também adiciona um pouco de estratégia na sua aventura por cada estágio. Basicamente, você possui um número limitado de checkpoints que pode botar onde quiser, afetando de forma considerável a dificuldade de certos trechos. Esquecer de colocá-los pode ser cruel, já que você irá voltar diretamente para o começo da fase depois de morrer.

Há também alguns trechos de batalha durante as fases. Zonas de combate tendem a travar o progresso até que você derrote todos os inimigos, que precisam ser empurrados para fora do cenário ou atirados em espinhos vermelhos. Beebz possui apenas um ataque carregável, que é basicamente uma mão gigante que empurra, e essa é a única forma de agressão direta do jogo. 


Por serem um tanto repetitivos e por quebrar um pouco o ritmo da ação de plataforma, é possível argumentar que esses trechos de combate são os momentos mais fracos da progressão em geral, mas ainda acredito que, embora eles pudessem ser melhores, a ideia é admirável e possui o seu lugar no game. Projéteis e ataques da cor azul têm o poder de empurrar, enquanto os vermelhos destroem o alvo, e isso serve tanto para os inimigos quanto para você durante toda a campanha. Essa é com certeza uma forma original e diferente de implementar o combate em um jogo de plataforma, mas esse ainda é o ponto menos polido da aventura. 

Imperdível para os fãs do gênero

Movimentação e jogabilidade à parte, visualmente Demon Turf é um deleite. Emprestando a estética popularizada por Paper Mario de personagens 2D existindo em um universo 3D, o título cria um mundo 2.5D próprio e cheio de personalidade. Os personagens e os cenários exalam estilo da cabeça aos pés, ainda que possam ser um pouco repetitivos em alguns momentos. No final das contas, esse é um mundo colorido que impressiona por seu visual meio de quadrinhos ou de alguma animação especialmente marota do Cartoon Network sobre demônios hipsters.

Essa sensação se mantém em elementos como a dublagem em inglês ou a interface dos menus. Todo o audiovisual basicamente passa a sensação pretendida de que você está controlando uma demônia adolescente que faz o que quiser. Essa rebeldia nas palavras e atitudes da carismática protagonista pode ser percebida de forma bastante concisa em todos os elementos do game. Das falas meio sacanas e tirando onda de Beebz até a trilha sonora engraçadinha cheia de "barulhinhos", lembrando um pouco Jet Set Radio (Multi), fica bem claro que esse é um universo que convence e sabe vender a sua ideia.


É difícil achar algum problema sério em Demon Turf, embora ele com certeza não seja perfeito. Se você se permitir, é fácil ser absorvido e relevar grande parte das questões que não funcionaram tão bem, ainda mais com tudo que está disponível para realizar/coletar. Citando alguns pontos negativos, além da falta de precisão das áreas de combate e da repetitividade em alguns aspectos, existem alguns problemas de iluminação e câmera de vez em quando. 

Pelo menos no Switch, certas áreas parecem ser um pouco escuras demais, algo que se torna cansativo em fases mais longas e cheias de elementos. Já em relação à câmera, o problema mesmo é com a opção automática, que parece perder o foco constantemente. Se você optar pela câmera manual, ainda existem alguns problemas às vezes, no entanto bem menos expressivos. 


Sem grandes exageros, Demon Turf talvez seja o meu indie preferido no Switch do ano de 2021. Fãs do gênero plataforma carentes por desenferrujar os seus dedos não podem perder essa fantástica demonstração de controles de altíssima qualidade, e todo mundo que estiver interessado em simplesmente conhecer um ótimo jogo pode dar uma chance à aventura de Beebs sem pensar duas vezes. Vale a pena conhecer este adorável mundo de demônios hipsters e aproveitar a boa quantidade de conteúdo que o game tem a oferecer.

Prós

  • Estética 2.5D bastante agradável, assim como toda a temática de demônios descolados;
  • Movimentação de plataforma perfeita com pulos e acrobacias no nível Mario 64;
  • Enorme quantidade de colecionáveis e missões alternativas;
  • Algumas mecânicas interessantes especialmente inovadoras.

Contras

  • Iluminação escura demais em alguns locais;
  • A câmera pode ser problemática às vezes, principalmente a automática;
  • Aspectos repetitivos, como o combate e alguns elementos visuais.
Demon Turf - Switch/PC/PS4/XBO - Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Playtonic Friends
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