WarioWare: Get It Together! (Switch) faz jus ao legado da série?

O novo game da franquia renova conceitos, extrapola limites e põe em xeque os pilares que fizeram a série ser conhecida.

em 24/10/2021
A série WarioWare, apesar de bastante nichada, é uma das franquias mais favoritadas da Nintendo, em especial pelo seu caráter único e autêntico em quase todos os aspectos. É sempre consistentemente divertida, simples e elegante, sendo o lançamento original, WarioWare, Inc.: Mega Microgames (GBA), um jogo interessantíssimo e bem à frente de seu tempo. A vibração, a arte, o design e o tom, juntamente da jogabilidade, é viciante, rápida e diferente de tudo que está disponível nas bibliotecas de cada sistema, o que coloca a franquia em um outro patamar mercadológico. 

A última entrada, WarioWare: Get It Together! (Switch), tentou seguir os passos que a franquia já era reconhecida, mas falhou ao buscar inovação em uma fórmula que já estava coesa e consolidada. Dentre as várias mudanças, o novo conceito aplicado de trazer personagens jogáveis em cada microgame foi tão brilhante quanto polêmico. E em vez de limitar os vários minijogos, expande honestamente cada um deles para diferentes concepções de sucesso, diversão ou chatice.

Desta vez, já não há apenas uma única maneira de vencer um microgame, mas cada personagem tem uma forma ligeiramente diferente de terminá-los. Além disso, os reflexos rápidos, que têm de ser usados ao se lembrar do que cada personagem faz para terminar o minijogo a tempo, fazem do game uma experiência constantemente agitada e excitante — tudo o que a série sempre ofereceu tão bem.


Infelizmente, como muito tem sido comentado nas redes sociais, enquanto o game brilha intensamente na maioria dos aspectos, falta ainda uma certa personalidade e alma ao jogo — em especial se comparado às entradas anteriores.
 
O sentimento mais comum entre os fãs mais antigos da série é de que, mecanicamente, tudo parece relativamente desarrumado (o que seria bom por um lado), mas a espontaneidade dos jogos mais antigos não funciona tão bem quando aplicada à diversidade de gameplay que a oferta de novas personagens proporciona.

A maneira como os títulos anteriores mantinham uma mecânica simples (ou se tocava na tela, ou se virava o controle, ou se soprava, ou fazia barulho, etc.) fazia parecer que se estava, de fato, interagindo com aquela loucura toda. O que tornava cada microjogo muito mais memorável e, consequentemente, melhor. 


Com apenas uma palavra e a visualização do que estava na tela, já era possível sacar qual mecanismo central seria utilizado e como eu, jogador, deveria me desdobrar para concluí-lo na limitada oferta de tempo. Em Get It Together, no entanto, o jogador certamente se sente mais desconectado e externo a toda a fuzarca. 

Agora, não apenas determinar o objetivo do microgame é um desafio por si só, mas também descobrir como é que a mecânica da personagem em questão deve funcionar neste nível. Isso acaba adicionando uma camada extra de pensamento, complexidade e desdobramento mental ao invés de responder intuitivamente. 

Até mesmo as cutscenes introdutórias de cada personagem, no último lançamento, também pouco apresentam seu caráter e simpatia, como era nos jogos anteriores. Os microjogos não vão muito longe e, ainda que variados e interessantes, são em sua maioria nada memoráveis, com algumas poucas ressalvas.


No geral, o principal ponto decepcionante do game é que não tenham feito melhor uso do hardware do Switch e seus intrigantes Joy-Con. Com o anúncio do game, muitos esperavam ao menos algum modo que lembrasse as bizarrices de 1-2-Switch (Switch), mas continuamos sem nenhuma razão para justificar o elevadíssimo preço dos controles.

A sensação que fica é a de que devíamos ter tido jogos baseados em HD rumble, de inclinação do acelerômetro, toques na tela tátil, que usassem a câmera IR, ou qualquer outro uso inventivo dos recursos do Nintendo Switch. Ao final, no entanto, acabamos tendo um game que rodaria da mesma maneira em qualquer plataforma com um controlador e um botão — totalmente reproduzível em um controle de Atari 2600.

Não é que não haja nada de agradável com a opção adotada, mas é que não está à altura do que a série WarioWare foi capaz de fazer no seu melhor retrospecto da era Wii/DS, com WarioWare: Touched! (DS) ou WarioWare: Smooth Moves (Wii). E isso leva ao sentimento geral da comunidade antiga de que o game serve mais como um aperitivo para de vez em quando, mas não proporciona o divertimento bruto que estava presente em outros jogos da saga.


Colocado em análise, tudo isto é ainda mais difícil de apreciar no contexto do multiplayer. E conforme o próprio título, "Get It Together" é um lembrete de que este jogo se destina a ser partilhado – ou ao menos tenta fazê-lo da maneira que pode.

Uma vez vencida a campanha, uma série de modos multijogador são desbloqueados, e cada um deles lança os 20 personagens do jogo aos novos jogadores de diferentes maneiras. É comum ter de escolher apenas três ou sortear um dentre todos aleatoriamente, com apenas uma pequena janela de alguns segundos para descobrir com quem você acabou saindo e como controlá-lo antes de cada microjogo começar.

Um outro grande problema vem do fato de que Get It Together não tem absolutamente nenhuma opção para facilitar a entrada de novos jogadores no seu universo. Por um lado, é um bom “Plug-&-Play”, por outro, causa tédio, excesso de informação e sentimento de frustração constante.

Talvez o ideal fosse se os os demais party modes deixassem todos no grupo escolher o mesmo personagem padrão até se acostumar com a transição para algo próximo ao gênero de plataforma optado. Ou, quem sabe, poder voltar com os tutoriais de cada personagem quando novos amigos aparecessem para que pudessem navegar organicamente nas novas voltas e reviravoltas do jogo. É realmente difícil apontar uma única solução. 


Em vez disso, se você e os seus amigos quiserem abraçar o vertiginoso elenco de maneira aleatória, provavelmente terão de mergulhar nos menus e encontrar a sessão tutorial de cada personagem – um bocado escondida para dizer o mínimo. Isto é especialmente necessário para os personagens mais intensos e difíceis de controlar como Penny, 5-Volt ou 18-Volt.

Mesmo que os seus amigos tentem aprender a como jogar com um dos personagens, os modos de festa, que deveriam ser ainda mais convidativos para jogadores externos, incluem as suas próprias modificações que aumentam a necessidade da sua atenção (e contribuem para a torção de bocas e interrogações mentais para o game). 

Eu, enquanto um jogador que conhece a série, que já se aventurou em outras versões mais antigas e que coleciona ótimas memórias com cada uma delas, ver o quão complicado o novo jogo ficou para jogadores novatos ou pessoas externas à franquia, me deixa verdadeiramente decepcionado.

Talvez sim, a tentativa de inovação no game tenha sido válida, afinal, eu pude de fato me divertir enquanto passava por cada microgame. Mas enquanto ficava cada vez mais difícil apresentar o game para os demais, o party game inclusivo e divertido que o jogo dizia proporcionar acaba fazendo dele muito menos memorável, até mesmo se comparado com jogos inferiores, como o próprio 1-2-Switch.

Não, não foi dessa vez que a Nintendo conseguiu arrebanhar a todos com mais um sucesso multiplayer. Mas os elementos da franquia estão suficientemente presentes em Get It Together para justificar a sua existência, e compensa dar uma chance, em especial se você já está acostumado com o estilo de gameplay ofertado.

Espero realmente que, no futuro, outros games da série possam retornar às mecânicas diversas e que sejam mais inventivos com o jogo — quem sabe também ligado ao Switch —, porque parece realmente faltar aspectos chave que fizeram com que as entradas anteriores fossem muito, muito divertidas; e o Nintendo Switch ainda não mostrou ser um console com grandes opções multiplayer como aparentemente intencionava.
Mas e você, pôde experimentar o novo WarioWare? Já teve alguma experiência anterior com a série? O que achou? Conte-nos nos comentários abaixo!
Revisão: Janderson Silva

Curioso, empolgado e positivo: os ingredientes ideais para criar o Felipe perfeito...ou quase! Estudante de Engenharia no crachá, programador aos fins de semana e designer às quintas-feiras. Na dúvida, viajar pelos mundos de Kingdom Hearts ou caçar monstros em Hyrule são sem dúvidas uma boa aposta! Conheçam-me! @felipe_lemos12
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