Análise: Metroid Dread (Switch) traz agilidade em uma eletrizante aventura repleta de tensão

Robôs implacáveis e um mundo intrincado esperam Samus no novo título 2D da franquia.

em 06/10/2021

Os jogos da série Metroid sempre passaram uma sensação de solidão, afinal a caçadora de recompensa Samus Aran atravessa sozinha planetas desolados para tentar completar missões consideradas impossíveis. Metroid Dread, novo episódio da série para Switch, resgata esse conceito e eleva a tensão com a presença de robôs implacáveis que perseguem a heroína em encontros extremamente inquietantes.
 
O título 2D oferece uma vasta aventura em um mundo elaborado, como é de praxe da franquia, e chega com a promessa de fechar o arco de história iniciado em Metroid de NES. Produzido pelo estúdio espanhol MercurySteam em conjunto com o produtor Yoshio Sakamoto, Dread expande os conceitos introduzidos em Metroid: Samus Returns (3DS) ao mesmo tempo em que aumenta a velocidade, resultando em ação mais ágil. Mesmo com algumas novidades, ajustes e ambientação elaborada, o título é bem conservador em suas ideias, porém não deixa de ser uma experiência memorável.

Investigando uma possível nova ameaça

Metroid Dread acontece logo após os eventos de Metroid Fusion. No final da missão anterior, Samus conseguiu erradicar os X Parasites, que eram considerados extremamente perigosos pela Federação Galática, mas parece que a situação não foi completamente resolvida: uma misteriosa transmissão vinda de um planeta chamado ZDR indica que o parasita ainda existe. Diante de tamanho risco, robôs E.M.M.I. foram despachados para investigar, mas a comunicação com eles foi perdida assim que chegaram ao local.


Samus, por ser a única imune ao X Parasite, é escalada para investigar o incidente em ZDR. Chegando lá, ela é atacada por um Chozo, uma raça antiga que se acreditava estar desaparecida. Depois do confronto, a caçadora de recompensas perde boa parte de seus poderes e agora precisa atravessar as entranhas do planeta para alcançar a sua nave, que está na superfície. Outro problema aparece: os robôs E.M.M.I. consideram Samus uma ameaça e passam a caçá-la. Acontece que estas máquinas são praticamente invulneráveis, logo a única opção, ao menos inicialmente, é evitá-las.

Sem boa parte de suas habilidades e com os E.M.M.I. à espreita, Samus tem uma jornada muito complicada pela frente. Além disso, há vários outros mistérios: quem é aquele Chozo? Por que ele atacou a caçadora? O que aconteceu com os robôs da Federação Galática? O X Parasite de fato ainda existe? Essas questões são esclarecidas no decorrer da aventura, que tem reviravoltas e revelações importantes sobre o passado de Samus, além de implicações para o futuro. Assim como nos episódios anteriores, a narrativa é leve, porém não deixa de ser envolvente.



Controlando uma caçadora mais veloz e flexível

Metroid Dread usa a estrutura básica da série e nos coloca para explorar um complexo planeta em uma aventura de ação e plataforma 2D. ZDR é dividido em regiões, que contam com uma rede intrincada de salas interconectadas. Fora algumas dicas e informações bem sutis, não há indicação direta dos objetivos — observação e experimentação são essenciais para avançar. Para ajudar nessa tarefa, o jogo conta com um mapa detalhado que, pela primeira vez na série, mostra a exata topografia dos locais. Ele também registra pontos de interesse e permite usar marcadores.

Samus começa a jornada somente com seu canhão de plasma e com mísseis, mas rapidamente ela adquire equipamentos que a permitem alcançar novos locais. Muitas habilidades clássicas estão de volta, como a Morph Ball e o Grapple Beam, às vezes com usos novos. Há também vários equipamentos inéditos: o Spider Magnet para escalar paredes, a camuflagem Phantom Cloak para despistar inimigos e dispositivos e os Storm Missiles, que permite disparar vários mísseis simultaneamente em diferentes alvos.


Mecanicamente, Metroid Dread é um dos mais ágeis da franquia. Samus se movimenta com velocidade, os saltos são mais fáceis de executar, ela se agarra a beiradas e todas as armas podem ser acessadas por meio dos botões do controle sem necessidade de pausa. Além disso, a caçadora agora é capaz de executar uma rasteira para se esgueirar em locais apertados.

É interessante o esforço em tornar a aventura acessível. O mapa extremamente detalhado, em conjunto com recursos úteis (como realçar um único tipo de bloco), ajuda na caça aos itens e segredos. Há também a habilidade Scan Pulse, que revela blocos destrutíveis das salas. O uso dessas opções é completamente opcional, mas, para mim, foram bastante úteis em várias situações.


Essas alterações, em conjunto com as novas habilidades de navegação, tornam o andamento do jogo bastante fluido. É muito divertido controlar uma Samus mais ágil, e os cenários nos incentivam a continuar em movimento com obstáculos bem colocados. Os meus momentos favoritos são as salas que contam com situações que exigem precisão ou uso interessante dos equipamentos da caçadora, funcionando como pequenos puzzles. Além disso, como é de praxe, o mundo está repleto desses trechos na forma de inúmeros itens escondidos.

Em batalhas agressivas e difíceis

O combate de Dread segue a mesma filosofia da movimentação com embates rápidos e brutais, expandindo as ideias introduzidas em Metroid: Samus Returns. A principal forma de ataque da caçadora é seu canhão de plasma, que pode ser mirado livremente ao segurar um botão. Além disso, Samus é capaz de atordoar inimigos ao acertá-los no momento certo com um golpe físico, tornando-os suscetíveis a ataques finalizadores. Uma novidade é a opção de executar esse movimento durante a corrida, o que traz mais agilidade aos confrontos.

Dominar essas habilidades é essencial, pois os inimigos do jogo são extremamente agressivos e são capazes de derrotar Samus com facilidade. Há incentivo no uso do contra-ataque, pois muitos monstros recebem grande quantidade de dano após serem interrompidos, e alguns deles só podem ser atingidos após a execução do movimento. O ritmo é frenético e a maioria dos enfrentamentos terminam em segundos.


Apreciei bastante as várias lutas do jogo, principalmente por oferecerem bom equilíbrio. As primeiras criaturas são simples de derrotar, mas com o avançar da jornada aparecem oponentes formidáveis em combates complexos e difíceis que exigem observação e pensamento rápido. Atacar de qualquer jeito, em alguns casos, é sinônimo de morte, porém apreciei o desafio que traz sensação de risco constante. A presença de muitos checkpoints faz com que a derrota não seja muito frustrante.

Os chefes potencializam essas ideias em lutas extremamente desafiadoras. A maioria dos mestres é implacável, contando com sequências complexas de ataques. Gostei bastante da grandiosidade desses confrontos, mas alguns pontos incomodaram muito. Para começar, essas lutas contam com muita tentativa e erro, pois muitos dos golpes dos oponentes não são claros o bastante, o que dificulta reagir corretamente. Por causa disso, foi necessário tentar várias vezes para aprender e memorizar os padrões — morri inúmeras vezes para todos os chefes, de nenhum deles eu passei de primeira.


Além disso, há pouco espaço para erros e bastam alguns deslizes para comprometer a possibilidade de vitória. Em especial, isso se torna cansativo nas batalhas finais, que são mais longas. É fácil perceber que a intenção era criar chefes difíceis e significativos, mas alguns ajustes deixariam as coisas menos frustrantes e repetitivas.

Medo e inquietude ao enfrentar uma ameaça impiedosa

O maior desafio de Samus em Metroid Dread são os E.M.M.I. Esses robôs patrulham áreas específicas em busca da caçadora, e quando ela é avistada a perseguição começa. Enfrentá-los não é uma opção: as armas de Samus não têm efeito, pois seus corpos são feitos de um material extremamente resistente. Os robôs são implacáveis e eliminam a heroína ao capturá-la, o que significa fim de jogo. É possível escapar ao executar o contra-ataque no momento correto, mas a chance de sucesso é ínfima — em mais de 30 capturas, devo ter conseguido escapar umas quatro vezes.

Sendo assim, para atravessar esses locais, precisamos agir com furtividade e evitar fazer barulho para não ser detectado. Esses momentos funcionam como pequenos puzzles nos quais precisamos encontrar uma rota segura, e para isso precisamos usar habilidades da heroína (como a camuflagem que a deixa indetectável) e elementos dos cenários (como túneis). A introdução de obstáculos e robôs com mais habilidades trazem sensação de novidade. Nem sempre o caminho correto está claro e há um pouco de tentativa e erro, mas a brevidade dessas sessões e o reinício rápido depois de ser derrotado amenizam a frustração.


Sob certas condições, Samus é capaz de destruir os E.M.M.I. Até mesmo esses momentos exigem estratégia, pois a caçadora precisa ficar parada para carregar o tiro especial da arma, o que a deixa vulnerável. Por causa disso, é necessário encontrar o local ideal para enfrentar o robô, o que nem sempre é fácil nos cenários apertados. Nesses trechos a câmera muda de ângulo e fica de lado sobre o ombro de Samus, o que potencializa a sensação de apreensão de carregar a arma enquanto o estranho robô se aproxima.

Apreciei a tensão proporcionada pelas áreas patrulhadas pelos E.M.M.I., que fazem barulhos estranhos e desconcertam com sua aparência insólita. Senti pânico toda vez que fui detectado, pois o tom é de urgência: portas são fechadas, o robô começa a correr, a música se torna intensa e o controle vibra no tom de desespero dos batimentos cardíacos de Samus. Entrar nas áreas patrulhadas por eles sempre me fez sentir simultaneamente aflito e empolgado.


Uma jornada de várias sensações

Metroid normalmente é sobre estar perdido em um mundo alienígena e Dread proporciona essa atmosfera com um mapa bastante labiríntico. A progressão principal é linear, mas há sensação de liberdade por causa das várias rotas e da ausência de dicas. Mesmo sabendo exatamente onde ir, foi raro atravessar um caminho direto — surpresas e desvios foram constantes. No meu tempo com o jogo, inclusive, foram incontáveis as vezes que fiquei desorientado sem saber exatamente como prosseguir, o que me forçou a experimentar e também a ficar mais atento aos detalhes sutis. Isso é algo bom, pois acabei esbarrando em segredos nas minhas buscas.
 

No entanto, algumas vezes é bem difícil saber com clareza qual é o próximo objetivo, o que deixa as coisas um pouco frustrantes e cansativas, especialmente nos trechos finais da aventura. Parte disso vem do fato de que as áreas do planeta são estruturalmente parecidas demais com seus vários corredores similares, o que dificulta lembrar pontos dependentes de certas habilidades. A estrutura muito labiríntica, mesmo com atalhos e elevadores, também dificulta a navegação por longas distâncias.

Tecnicamente, o jogo é competente, destacando-se principalmente com alguns cenários bem elaborados e pelo uso notável de luz, que é capaz de trazer dinamismo às salas e localidades. As partes de história são muito bem produzidas, e as cenas de ação são empolgantes e de tirar o fôlego — as animações durante os chefes são impressionantes. Mesmo assim, sinto que faltou maior identidade visual às áreas do planeta, que contam com trechos parecidos. Além disso, a trilha sonora tem pouco impacto com composições sem inspiração. A performance é excelente tanto no modo portátil quanto na TV, mantendo taxa constante de quadros.


No campo de conteúdo, Metroid Dread oferece uma campanha enxuta, como de costume — levei pouco mais de oito horas para concluir a história com menos da metade dos itens coletados. Aqueles que gostam de obter tudo levarão muito mais tempo e há outros extras, como as tradicionais ilustrações liberadas ao terminar o jogo sob certas condições.

Admiravelmente familiar e novo ao mesmo tempo

Metroid Dread refina a fórmula 2D da franquia em um ótimo jogo. O vasto planeta ZDR conta com um mapa elaborado repleto de rotas alternativas e segredos, e as opções mais ágeis de movimentação tornam a jornada bastante prazerosa. Além disso, os encontros com os E.M.M.I. empolgam e aterrorizam em trechos repletos de tensão. Os combates também estão mais variados, difíceis e intensos, porém os chefes são um pouco problemáticos por causa de algumas escolhas duvidosas.

A sensação de estar sozinho e perdido em um mundo estranho se mantém, por mais que a irregularidade do ritmo às vezes deixe a experiência meio cansativa. Já a trama, mesmo que simples, tem desdobramentos intrigantes que são retratados em cenas elaboradas. Visualmente o título é competente, só faltou um pouco mais de personalidade em certas localidades. No fim, Metroid Dread mantém a essência 2D da série em uma aventura imersiva, só é uma pena que a oportunidade de ousar um pouco tenha sido desperdiçada.

Prós

  • Ação ágil e com muitas habilidades interessantes;
  • Mapa extenso repleto de segredos para encontrar;
  • Momentos de enfrentamento dos E.M.M.I. trazem tensão à experiência;
  • Combate focado em precisão cria situações complicadas, mas recompensadoras;
  • Ambientação e visuais elaborados, em especial as cenas de ação.

Contras

  • Muitos trechos de memorização e tentativa e erro nos chefes;
  • Progressão confusa e irregular em alguns momentos;
  • Certas localidades não têm muita inspiração visualmente e tematicamente.
Metroid Dread — Switch — Nota: 8.5
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo
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é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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