Agatha Christie, também conhecida como Rainha do Crime, deixou um legado de mais de 80 livros. Dentre estes, grande parte é protagonizada por sua maior criação e sucesso no mundo inteiro, o detetive belga Hercule Poirot.
Em Agatha Christie — Hercule Poirot: The First Cases (Multi), o nada modesto detetive aparece em uma versão mais jovem, nunca antes vista nos livros da escritora britânica, e deve investigar os mistérios por trás da família Van den Bosch. Logo no prólogo do jogo, quando somos apresentados a um Poirot que ainda serve ao Exército belga, nossa primeira missão é identificar o culpado pelo furto do bracelete de Angeline Van den Bosch.
Contudo, The First Cases não é apenas “mais um” jogo de detetive dentre muitos espalhados pelas plataformas, pois apresenta um dos traços mais marcantes da narrativa da Rainha do Crime: a inserção de pistas falsas. Relevantes de certa forma, mas que levam os leitores a interpretações errôneas do que de fato está acontecendo na trama, essas pistas podem aparecer tanto nos objetos investigados quanto nos diálogos com os envolvidos.
Muitos dos personagens criados por Agatha Christie costumam esconder um bom motivo para ser o culpado pelo crime em questão, fazendo com que a lista de suspeitos aumente. Ainda em relação ao prólogo do jogo, Cassandra Van den Bosch apresenta todos os motivos para culpar uma de suas criadas pelo roubo do bracelete de sua filha; Angeline, por outro lado, diz que não faz ideia de como o ladrão teve acesso à sua caixa de joias. A psicologia por trás de cada personagem é, inclusive, uma das marcas registradas da escritora britânica.
Nesse meio-tempo, encontramos diversas pistas que incriminam ou servem como álibis para os personagens em questão, como meio de fazer com que os leitores tentem chegar a uma conclusão quanto ao culpado. O verdadeiro whodunnit, contudo, só é revelado no final da história, muitas vezes pegando os jogadores/leitores de surpresa — afinal, as pistas levavam a crer que o culpado seria outro.
Outra grande cartada da Rainha do Crime é incluir diversas subtramas, a fim de aumentar o suspense da história principal como um todo. Geralmente um assassinato, como o do Major Felix no capítulo 3 de The First Cases, mais de um culpado pode estar envolvido. Às vezes, a inclusão desse assassino misterioso também costuma ser uma pista falsa para induzir o jogador/leitor a outra conclusão precipitada.
No final do capítulo 1 do jogo, Gedeon, noivo de Angeline, desfere um soco em Major Felix, que não gosta do futuro marido da Mademoiselle Van den Bosch. Com isso, o principal motivo pelo qual Poirot havia sido convidado para o jantar de noivado — uma misteriosa chantagem envolvendo a família Van den Bosch — se torna uma investigação a respeito dessa altercação entre Gedeon e Felix.
De volta ao capítulo 3, recebemos o anúncio de que o Major Felix foi assassinado em seu escritório na residência dos Van den Bosch. Até então, se ele era um dos principais suspeitos pela chantagem, já que se opunha ao casamento de Angeline e tinha livre acesso à mansão, alguém teve um bom motivo — talvez não relacionado à chantagem em si — para assassiná-lo.
Embora The First Cases tenha uma narrativa simples, assim como os livros de Agatha Christie, o jogo contém a principal fórmula da escritora: personagem principal é chamado para resolver um crime → investigação e coleta de pistas → interrogação dos envolvidos na cena do crime → morte ou desaparecimento de um ou mais suspeitos → segredos são revelados → crime solucionado. O desfecho, normalmente inesperado pelos leitores, é o famoso “dois mais dois”: todas as peças se encaixam no quebra-cabeça, mesmo as mais improváveis ou as que pareciam irrelevantes.
Com linguagem acessível a todos os públicos, as histórias da Rainha do Crime são fortemente baseadas nos diálogos — assim como a de Agatha Christie — Hercule Poirot: The First Cases. Mesmo aqueles que não conhecem as obras de Agatha Christie podem aproveitar o jogo e, de quebra, usá-lo como uma porta de entrada para a literatura como um todo.
Revisão: Janderson Silva