Kickeirinho World é dos poucos jogos que consegue errar o chute desde a escolha do seu próprio título. Começando pela inusitada palavra Kickeirinho, a junção da palavra kicker, ou “chutador”, com o tradicional sufixo brasileiro “inho”, e terminando com a promessa de um world, ou melhor, um “mundo” de aventuras.
A primeira palavra é simplesmente bizarra demais para qualquer um conseguir levar o game a sério, já a segunda implica um sentimento de vastidão totalmente oposto ao da experiência final, que é apenas olhar para um personagem cabeçudo fazendo embaixadinhas parado no mesmo lugar.
O mundo das embaixadinhas
A quantidade bastante diminuta de pontos positivos do jogo torna importante entregar o resultado deste review desde o início. Portanto, irei retirar do caminho agora mesmo a iminente pressão por um veredito. Talvez você tivesse esperanças contrárias, mas a verdade é que Kickeirinho World não é um jogo muito bom. Muito pelo contrário, fica até mesmo difícil considerar o objeto de análise como um videogame no sentido tradicional.Kickeirinho pode ser facilmente comparado com um jogo de celular que você baixa para o seu filho ou sobrinho jogar durante uma longa viagem de carro até a praia. Talvez ele tenha achado o nome engraçado e pediu para você baixar, ou talvez esse tenha sido o primeiro jogo que você viu enquanto se preocupava com o trânsito. As duas possibilidades são igualmente válidas. No entanto, a semelhança do jogo com um aplicativo mobile não muito inspirado, assim como sua distância temática da maioria esmagadora dos bons jogos disponíveis para o Nintendo Switch, são pontos que não deixam dúvidas quanto a sua veracidade.
Pode ser cruel julgar de maneira muito opressiva algo que tem como proposta ser nada mais do que um simulador de embaixadinhas. Para quem não conhece, de acordo com a Wikipédia, essa é uma prática futebolística de cunho individual que consiste em controlar a bola com todas as partes do corpo com o objetivo de não deixá-la cair no chão. De fato, esse é literalmente todo o gameplay que Kickeirinho World tem a oferecer. Então, quanto à fidelidade ao material de origem, talvez esse seja um ponto bastante positivo para o game.
Inclusive, eu, que sou uma pessoa ruim em realizar embaixadinhas na vida real, descobri que também não sou muito bom dentro do mundo de Kickeirinho. É possível argumentar que isso, a relação entre a minha falta de habilidade tanto no mundo real quando no virtual, aponta um nível de fidelidade ainda maior do jogo em relação a essa tradicional vertente da prática solitária do futebol.
Ao contrário da vida real, no entanto, em que podemos usar membros do corpo como pernas, ombros e a cabeça para equilibrar a bola, em Kickeirinho World você está restrito a utilizar apenas os seus dedos para apertar o botão ZL e ZR. O ZL aciona o lado esquerdo do corpo do seu avatar e o ZR ativa o lado direito como um todo. Basicamente, é necessário esperar o tempo certo para apertar um dos botões quando a bola chega mais perto de alguma parte do corpo. Pressionar o ZR e o ZL juntos, por sua vez, indica uma cabeçada do seu personagem.
Aparentemente, os desenvolvedores de Kickeirinho World tentaram, de alguma forma, emular os meus próprios reflexos na hora de criar a mecânica de embaixadinhas, que, por acaso, também é a mecânica central do jogo. Assim como a minha própria dificuldade motora em acertar a bola com os meus pés no tempo certo, aqui o personagem também apresenta uma dificuldade similar em tocar na bola no timing adequado. Para ter sucesso no game, é preciso se acostumar com uma janela de tempo para o pressionar os botões que pouco se relaciona com o auxílio visual das embaixadinhas acontecendo na tela.
A conclusão realmente é essa, infelizmente. A principal mecânica da jogabilidade do game, que também representa mais de 95% da experiência como um todo, é falha. Kickeirinho espera que você faça embaixadinhas de uma forma frequente e constante. Tão frequente e constante que, com o tempo, novas formas de manusear a bola são destravadas e uma série de missões diárias aparecem para ser realizadas (naqueles estilo já citado dos jogos de celular). O único problema é que não é agradável jogar Kickeirinho World por mais do que meia hora ininterrupta, algo que estraga a premissa inicial dos desenvolvedores de jogatinas frequentes e constantes.
A variação é pouca, tanto no gameplay quanto nos objetivos, e a fadiga visual perdura. Você pode utilizar alguns itens durante os momentos de embaixadas, como um escudo que protege a bola de cair ou um raio que aumenta seus pontos, mas nada que realmente coloque qualquer valor ou mesmo mais diversão na experiência. Conseguir manter a bola no ar por muito tempo, além dos novos truques, recompensa você com meras moedas que podem ser utilizadas nos itens ativos, cosméticos e estágios alternativos.
Nesta altura do campeonato, não irá surpreender ninguém que os itens cosméticos, que são basicamente roupas para seu avatar cabeçudo obcecado por embaixadinhas, pouco fazem para embelezar a pobreza estética do game. Da mesma forma, as simplórias trocas de fundo estáticas que representam os outros locais que podem ser visitados também não ajudam o apelo visual do mundo do Kickeirinho. O incentivo para gastar as moedas realmente é mínimo, assim como o de realmente jogar o jogo.
Como game mobile, que é a verdadeira origem desse simulador da modalidade solitária do futebol, os sistemas de progressão e jogabilidade de Kickeirinho World fazem mais sentido. No Switch, entretanto, é difícil achar motivos para passar qualquer período de tempo treinando embaixadinhas nesse mundo tão mal calibrado. Prefira comprar uma bola e treinar com os próprios pés.
Prós
- Com o nível certo de tédio, talvez seja possível se divertir por uma sessão de meia hora de jogo.
Contras
- Simplório demais e repetitivo;
- Péssimas mecânicas;
- Originalmente era um jogo de celular e é fácil perceber isso;
- Visualmente pobre.
Kickeirinho World - Switch/PC - Nota: 3.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela No Gravity Games
Análise produzida com cópia digital cedida pela No Gravity Games