Quando pensei que não teria como existir jogo mais sádico que Prinny 1•2: Exploded and Reloaded (Switch), eu estava bastante enganada: BloodRayne Betrayal: Fresh Bites, versão melhorada de BloodRayne Betrayal (PS3/X360), consegue ir além ao testar a paciência do jogador. Isso não quer dizer que ele seja ruim, mas com certeza não é para todos.
Quem precisa de história?
Sejamos francos: jogos de plataforma, no geral, não têm uma história muito elaborada. O mesmo pode ser afirmado para os de ação, sobretudo os dos subgêneros beat ‘em up e hack ‘n slash. Afinal, o necessário é superar plataformas, derrotar inimigos e avançar para a próxima fase, às vezes encontrando alguns itens escondidos aqui e ali.
Em BloodRayne Betrayal, Rayne, uma dhampir — híbrido de vampiro com humano — com potenciais sobre-humanos, é contratada mais uma vez pela Brimstone Society. Em sua mais nova missão, a protagonista deve se infiltrar em um castelo e impedir que um plano maléfico se concretize — e isso é tudo.
Durante certos momentos da jogatina, alguns poucos diálogos aparecem em balões de fala, tal qual em uma história em quadrinho. Mesmo assim, eles quase não acrescentam nada à narrativa como um todo e só servem para contextualizar brevemente o motivo da ação frenética no momento. E isso é tudo, mais uma vez.
Banho de sangue
BloodRayne Betrayal se vende pelo gore e alta dificuldade que proporciona. Além de decapitar seus inimigos com suas lâminas, Rayne pode arremessá-los em serras elétricas e transformá-los em carne moída ou até mesmo infectá-los para explodi-los alguns segundos depois. A dhampir também pode usar sua pistola em caso de emergência, mas a quantidade de balas é finita.
Durante os estágios, o próprio jogo se encarrega de explicar os comandos, que são fáceis de aprender e um tanto quanto difíceis de dominar, fazendo com que BloodRayne ofereça um alto nível de tentativa e erro. Em outras palavras, é um jogo que pune o jogador por sua falta de habilidade, diferentemente de muitos outros mais atuais.
É justamente por isso que BloodRayne Betrayal revive a jogabilidade dos jogos de plataforma do final do século passado, especialmente os títulos mais antigos da série Castlevania. Isso fica ainda mais evidente pelo infame knockback (empurrão) que a dhampir sofre ao ser atingida, demorando alguns segundos para se levantar do chão — ou, na pior das hipóteses, caindo de uma plataforma no pior momento possível.
Outro ponto de dificuldade é a inexistência de itens de cura. Existem apenas duas maneiras de recuperar a vida perdida: ativando os checkpoints ou bebendo o sangue dos inimigos.
Porém, se engana quem pensa que são tarefas simples. Muitas vezes, um checkpoint está depois de uma sessão sádica de pulos bastante precisos ou é necessário roubar a energia dos oponentes durante massacres que só terminam quando o último monstro for derrotado.
A parte divertida (dependendo do referencial, claro) é que o jogador pode tentar várias e várias vezes até pegar a manha dos comandos ou o tempo preciso de cada pulo. O lado ruim dessa experiência é a dificuldade extrema que só aumenta a cada fase, especialmente quando Rayne é obrigada a saltar por plataformas minúsculas sobre um rio de ácido enquanto foge de uma serra elétrica, por exemplo.
De todo modo, a sensação de alívio ao chegar ao final da fase — ou apenas a um checkpoint — é tamanha, que todo esforço parece ter sido recompensado. Infelizmente, BloodRayne Betrayal não apresenta um fator de rejogabilidade, a não ser que o jogador esteja disposto a testar ainda mais sua paciência para melhorar sua pontuação ou achar as Vampire Skulls escondidas em cada fase.
Esses crânios vermelhos são os ditos itens secretos e estão espalhados pelos mais diversos cantos dos estágios. Alguns são bem fáceis de achar, enquanto outros estão bem mais escondidos e requerem uma série de provações mortais para ser coletados.
Existe um número determinado de crânios em cada fase e, a cada cinco, o jogador pode optar por aumentar o medidor de vida de Rayne ou acrescentar uma bala à sua pistola. Durante a jogatina, julguei ser mais vantajoso incrementar a vida para sobreviver às hordas de inimigos, mas nos estágios finais a pouca munição provou ser um fator dificultador para prosseguir.
Melhorado sim, rebalanceado nem tanto
Essa nova versão de Bloodrayne Betrayal possui gráficos e áudio melhorados compatíveis com a tecnologia 4K — e, no caso do Switch, existe uma diferença gritante entre jogar no modo TV ou no modo portátil devido à qualidade gráfica do jogo. Em suma, a apresentação audiovisual é basicamente o ponto alto de Fresh Bites, embora seu estilo artístico possa não agradar a todos.
Outra melhoria é o leve rebalanceamento proporcionado pela dificuldade Balanced, que diminui a quantidade de vida perdida por Rayne ao ser atingida por obstáculos no caminho ou por inimigos. De todo modo, as sessões de plataforma continuam excruciantes, então resta ao jogador escolher qual nível de sadismo ele deseja encarar.
Aquele gostinho old school de "quero mais"
BloodRayne Betrayal: Fresh Bites proporciona ao jogador as experiências dolorosas e prazerosas que clássicos como Castlevania, The Prince of Persia e The Lion King garantem até hoje. A ação frenética ficou ainda melhor com as melhorias audiovisuais — embora o estilo artístico possa não agradar a todos —, mas o jogo continua sendo um excelente exemplo de pegar ou largar, tamanha é a sua dificuldade. Fãs de violência gratuita com certeza poderão sentir o apelo de BloodRayne, porém apenas os amantes de platformers dos anos 80 e 90 conseguirão tirar total proveito da aventura da dhampir.
Prós
- Apresentação audiovisual melhorada;
- Jogabilidade fluida, rápida e frenética;
- Grande atrativo para fãs de jogos de plataforma old school.
Contras
- Sem fator de rejogabilidade;
- Dificuldade extrema e punitiva, especialmente durante sessões de plataforma excruciantes;
- História pouco ou quase nada atrativa;
- Pouco aproveitado no modo portátil do Switch.
BloodRayne Betrayal: Fresh Bites — Switch/PC/PS5/PS4/XBX/XBO — Nota 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ziggurat