The Great Ace Attorney Chronicles (Switch) é uma boa porta de entrada na série?

Completando 20 anos de franquia este ano, a duologia está disponível agora em inglês.

em 02/08/2021
A série Ace Attorney começou com o lançamento de Gyakuten Saiban para GBA no dia 12 de outubro de 2001 no Japão. Com a franquia completando 20 anos, são ao todo 11 jogos, incluindo spin-offs como Ace Attorney Investigations: Miles Edgeworth e Professor Layton vs. Phoenix Wright. Agora, The Great Ace Attorney Chronicles traz para o Ocidente dois desses títulos que estavam disponíveis apenas no Japão. É razoável começar por eles?

Uma história de muitos anos atrás

The Great Ace Attorney: Adventures e The Great Ace Attorney 2: Resolve se passam muitos e muitos anos antes dos jogos principais da série. Enquanto a franquia principal tem Phoenix Wright no papel de protagonista — e, posteriormente, Miles Edgeworth, Apollo Justice e Athena Cykes —, esses jogos contam a história de um de seus antepassados, Ryunosuke Naruhodo.

No Japão, Phoenix se chama Ryuichi Naruhodo, mas vários aspectos dos jogos foram adaptados para um contexto de uma versão ficcional dos Estados Unidos na tradução. Graças a essas grandes alterações, muitos fãs acreditavam que a Capcom poderia até ter passado por dificuldades em como trazer The Great Ace Attorney para o Ocidente na época em que o jogo saiu no Japão.

O contexto de The Great Ace Attorney é profundamente dependente de sua localização. A história começa no Japão durante a Era Meiji e o protagonista acaba indo para a Inglaterra. Lá, ele se vê diante de várias situações de preconceito contra pessoas asiáticas, incluindo contra a sua própria pessoa. E mesmo enquanto ainda estava no Japão, as relações entre os dois países é um aspecto fundamental do jogo.

Nesse sentido, adaptar o contexto seria perder um dos aspectos mais ricos da experiência. Além disso, o trabalho seria provavelmente maior do que o da localização das versões de DS da trilogia original, pois seria difícil oferecer algo igualmente interessante ao manter as escolhas de tradução da série principal.

Até mesmo a Phoenix Wright Trilogy precisou criar uma espécie de Estados Unidos alternativo para poder trabalhar com elementos específicos do seu contexto. Phoenix trabalhava em uma Califórnia com forte influência de imigrantes japoneses. Isso, inclusive, é um dos pontos que permite que a própria equipe de tradução considere a relação de descendência dos protagonistas como um não-problema, deixando implícita essa conexão.

De forma geral, pode-se argumentar que o fato de o jogo se passar muitos anos antes o isola dos eventos de outros da franquia. A própria diretora de tradução, Janet Hsu, descreve, em entrevista ao The Verge, The Great Ace Attorney Chronicles como “um título independente que não está conectado aos jogos anteriores”.

Referências muito longíquas

É importante destacar que existem referências aos jogos principais, porém elas são pontuais. Por exemplo, além de Ryunosuke, outro ancestral de um personagem conhecido da franquia é Taketsuchi Auchi. É fácil perceber a sua semelhança física com Winston Payne e Gaspen Payne e, assim como no caso deles, Taketsuchi é usado como uma espécie de tutorial, reforçando o tom da piada e adicionando até um elemento de lore para a inclusão dos outros personagens.

Há também a recorrente discussão sobre os termos “ladder” e “stepladder”. No entanto, nenhum desses elementos é realmente relevante o suficiente para que o jogador não possa começar com The Great Ace Attorney. Nesse sentido, a obra é contida o suficiente para ser aproveitada sem problemas.

A questão da época

Um elemento que poderia ser desfavorável para o jogo como entrada na série é justamente a questão de ser uma obra de época. Esse diferencial acaba impactando um pouco nas escolhas de termos e na tentativa da equipe de manter a consistência com um linguajar mais antiquado. No entanto, não são utilizados termos muito complicados, nem aspectos muito complexos do inglês arcaico.

A equipe de tradução conseguiu manter termos que ainda estão em voga para evitar que a leitura se tornasse pesada e cansativa. Há apenas algumas alterações estruturais, usualmente dando a ver um tom em geral bastante formal. Dessa forma, o título é bastante legível e mais simples do que alguns jogos que pesam a mão em expressões e representações idiomáticas muito específicas da língua, como, por exemplo, ocorre nos Dragon Quest de DS.

Porém, assim como na trilogia de Phoenix Wright, The Great Ace Attorney não possui opção de linguagem em português. Como o próprio gameplay é muito focado no texto, é importante que o jogador tenha uma boa capacidade de leitura e interpretação em inglês e consiga lidar com a leitura dessa estrutura que de vez em quando pode ser um pouco diferente.

Mas, levando isso em conta, quem não se sente confortável com a língua inglesa provavelmente não poderá aproveitar os outros da série. É importante que o jogador consiga garantir a leitura com tranquilidade do inglês. Os jogos não costumam usar nomenclaturas complexas, mas ainda é importante ter pelo menos um pouco mais de conhecimento além do básico.

Modo história

Uma das novas adições de The Great Ace Attorney Chronicles é o Story Mode. Ele serve para ajudar novatos a aproveitar melhor o jogo como um modo que executa automaticamente a exploração e respostas corretas para avançar a história. Em troca, não serão obtidos os accolades (achievements internos do jogo) referentes àquela parte.

Durante os julgamentos, o jogador precisa mostrar as provas para a defesa. Uma coisa que costumava acontecer na trilogia original de Phoenix Wright era a necessidade de apresentar um item específico quando outros elementos presentes no Court Record também seriam igualmente válidos. A série se tornou mais simples ao longo do tempo, reduzindo consideravelmente as ambiguidades.

Ainda assim, em algumas situações, o jogador pode ficar confuso sobre qual evidência usar para responder. Nos outros jogos, seria necessário recorrer a um processo de tentativa e erro ou a guias externos, mas o Story Mode de The Great Ace Attorney Chronicles é uma forma extra de ajudar o jogador. Ao ativá-lo, a CPU assume o controle, avançando automaticamente os diálogos e demonstrando quais itens foram usados.

Esse modo é totalmente opcional, mas é uma forma de simplificar o processo. Caso o jogador fique empacado em uma parte, é possível simplesmente ativar o modo temporariamente e desativá-lo para poder retomar o jogo. Com isso, The Great Ace Attorney Chronicles oferece uma ferramenta extra que torna a experiência ainda mais acessível para novatos.

Um veredito favorável

De forma geral, The Great Ace Attorney Chronicles é uma porta de entrada adequada para a série. Acredito que as escolhas de linguagem não são fortes impeditivos para aproveitar a obra caso o jogador realmente tenha domínio da língua inglesa. Isolados adequadamente dos outros jogos, não há fortes dependências ou referências de extrema importância.

Na verdade, há mais referências relevantes às obras de Sir Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes, uma vez que os casos costumam ter referências às histórias do detetive, cujo nome teve que ser adaptado no jogo para Herlock Sholmes devido a questões autorais. Novamente, não é algo essencial, mas, nesse caso específico, conhecer essas referências pode fazer bastante diferença.

Com tudo o que foi levantado aqui, acredito que The Great Ace Attorney Chronicles é uma boa porta de entrada na série. Ainda assim, aconselho a quem tiver interesse na série e ainda não a jogou que também dê uma chance a Phoenix Wright: Ace Attorney Trilogy. A ordem pode ser a que você desejar, pois o que realmente importa é que é uma grande felicidade poder explorar esses títulos da franquia nos consoles atuais e conhecer um pouco desse louco mundo de advogados e objeções.

Revisão: João Pedro Boaventura

Atualização (02/08 - 22:00): Tópico sobre o Story Mode foi adicionado.

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é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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