Análise: Fuga: Melodies of Steel (Switch) apresenta uma dura guerra na visão de um grupo de crianças

RPG baseado em turnos se passa no mesmo universo de Tail Concerto e Solatorobo.

em 02/08/2021
Fuga: Melodies of Steel
é um RPG que faz parte da franquia Little Tail Bronx, que inclui também Tail Concerto (PS) e Solatorobo (DS). O conceito desse universo compartilhado envolve a combinação de animais antropomórficos e robôs em um ambiente steampunk composto por múltiplas ilhas no céu. Apesar de se passarem no mesmo mundo, esses jogos contam histórias independentes.

Como o primeiro título autopublicado pela desenvolvedora CyberConnect2, Fuga é uma grande aposta da empresa. Trata-se de um projeto que claramente advém de uma forte paixão da equipe por esse universo ficcional.

12 crianças no meio de um grande conflito

Tudo começa com o Império Berman invadindo as Terras Livres de Gasco. Com seu grande poderio bélico, ele domina rapidamente a nação inimiga e causa destruição por onde passa. Não apenas os grandes centros foram atacados, como também os pequenos vilarejos.

Na pacata região de Petit Monat, um grupo de crianças é separado de seus pais. Com o auxílio de uma voz misteriosa advinda do rádio, elas encontram um tanque antigo e misterioso. De posse dessa arma de guerra, a equipe parte em uma jornada para resgatar seus familiares e acabam vivenciando o conflito por outro lado.

Trata-se de uma história sobre crianças comuns sendo forçadas a lidar com o peso da guerra. Conforme avançam em direção ao Império Berman, elas terão que enfrentar e derrotar outras pessoas. Em contraste com isso, as conversas entre os personagens dentro do tanque mostram muito bem como era o cotidiano de cada um.

Apesar de Fuga: Melodies of Steel começar com 6 crianças, são ao todo 12 personagens jogáveis. Cada um deles tem uma personalidade bem-definida, sendo bastante carismáticos. As interações entre eles serem muitas vezes infantis e simples reforçam a tragédia da realidade à qual foram submetidos.

Além disso, todos eles possuem animações específicas no tanque. Por exemplo, os irmãos Malt e Mei podem cantar e dançar juntos; já Boron está usualmente comendo e passar perto dele deixa o jogador escutar os barulhos de "nham, nham, nham" que ele faz. Esses detalhes ajudam a dar um tom de vida aos personagens, e também fazem parte do carisma do jogo.

Um caminho de batalhas

Durante todo o jogo os personagens estão no tanque Taranis. Cada capítulo é composto por rotas sobre as quais o tanque anda automaticamente, sendo possível alterar sua rota em bifurcações. Nesses momentos, a dificuldade de cada caminho é indicada, sendo eles separados em Safe, Normal e Difficult. Optar pelas rotas com inimigos mais fortes implica em receber itens melhores.

Cada ponto do caminho é marcado por um símbolo que representa o seu conteúdo. Inimigos são indicados por um símbolo vermelho, que também mostra quantas ondas de batalhas consecutivas precisam ser enfrentadas.

As lutas envolvem controlar o Taranis, cujo HP e SP único é compartilhado por todos os personagens. Caso o HP chegue a 0, o jogador recebe um game over, tendo a chance de retornar ao último checkpoint do jogo, que é um ponto de Intermission.

Para atacar, o jogador precisa assumir o controle de três canhões. Para cada um deles, é possível designar uma dupla de personagens. Um deles será o responsável pelo ataque, associando ao canhão um atributo azul, amarelo ou vermelho. Armas azuis são mais fracas, mas atacam múltiplas vezes e sua chance de acerto é mais alta. São especialmente indicadas para inimigos aéreos.

Já as armas vermelhas estão no espectro oposto, causando muito dano, mas com acerto baixo. No meio do caminho entre as duas estão as armas amarelas. Além das diferenças de atributos, existe uma grande importância das cores para explorar as fraquezas dos inimigos.

Na interface de batalha há um indicativo colorido abaixo do HP do inimigo. Esse símbolo no formato de um cronômetro colorido indica os ataques que devem ser realizados para atrasar um oponente. Ao realizar os ataques com a cor e quantidade indicadas, ele terá seu turno adiado. Explorar isso é fundamental para evitar tomar dano dentro do possível.

Além disso, os inimigos também podem ter escudos. Determinadas habilidades permitem a quebra dessas defesas, aumentando assim o dano que esses oponentes recebem. Saber escolher entre atrasar o inimigo e reduzir seu escudo, assim como controlar as hordas de adversários com características diferentes, é fundamental para o sucesso em batalha.

Cada personagem também conta com habilidades específicas. Essas técnicas são desbloqueadas com o ganho de níveis e incluem ataques em múltiplos inimigos e golpes que causam efeitos como queimadura ou fumaça. Efeitos de suporte, como buffs e curas, também estão inclusos. Enquanto as técnicas que cada personagem aprende são fixas, os itens, que incluem consumíveis para restaurar HP e SP, podem ser usados por qualquer um.

Os parceiros selecionados também são relevantes. Eles são responsáveis por efeitos específicos que variam de acordo com o personagem. Por exemplo: Malt pode aumentar o ataque de um aliado, enquanto Boron oferece proteção contra ferimento e Hanna adiciona cura de HP ao ataque básico. Aliados que já desenvolveram amizade podem utilizar também ataques especiais combinados, cuja barra de ativação é enchida pelos golpes realizados e recebidos.

De modo geral, as batalhas possuem um tom estratégico bem interessante. Explorar as formações de aliados e as fraquezas dos inimigos e conseguir superar os desafios do jogo oferece uma boa sensação de recompensa. Vale destacar que todas as batalhas são avaliadas em função do número de turnos gastos, dano recebido e ações realizadas. As avaliações podem ser C, B, A ou S, dando ao jogador mais experiência caso ele tenha se saído bem no combate.

No caso dos bosses, vale a pena destacar que eles testam bem todos os elementos aprendidos ao longo da campanha. Além disso, essas batalhas também adicionam a mecânica de Soul Cannon. Ao tomarmos muito dano, é adicionada a opção de usar o grande canhão do Taranis. Esse poderoso recurso ativa um poder verdadeiramente devastador — porém, o custo de ativação demanda o sacrifício de um dos personagens. Esse sistema de morte permanente (permadeath) afeta o desenvolvimento da história assim como os personagens.

O gameplay aqui não conta apenas com batalhas. Os caminhos explorados por Taranis incluem outros pontos importantes. Existem ruínas para explorar, assim como pontos para obtenção de itens, restauração de HP e/ou SP e momentos de descanso (Intermissions). Esse último é particularmente importante, abrindo espaço para um gerenciamento de recursos que é fundamental ao jogo.

A vida em um tanque de guerra

Todos os caminhos explorados em Fuga: Melodies of Steel possuem checkpoints chamados de Intermissions. Nesses momentos, é necessário escolher entre uma série de ações possíveis no Taranis. Elas incluem usar materiais para fortalecer o tanque, pescaria de materiais, plantio e colheita de alimentos, cozinhar, colocar um grupo de personagens para dormir, explorar ruínas e interagir com os personagens.

São ao todo 20 pontos de ação bastante preciosos, já que todas essas atividades trazem algum tipo de vantagem. Os benefícios mais óbvios são os upgrades do Taranis, já que o fortalecimento das armas, da armadura e do reator aumentam diretamente as estatísticas do tanque. A interação com os outros personagens desbloqueia a barra de ataque especial combinado, que pode ser ativada quando os dois são colocados juntos no mesmo canhão. Aumentar o nível de amizade torna esse ataque mais poderoso.

Ao gastar um tempo pescando, é possível obter materiais úteis para fortalecer o Taranis e fazer upgrades nas suas instalações. Esses itens também podem ser obtidos no mapa dos capítulos, em ruínas e como espólios das batalhas, então pessoalmente considerei essa atividade a menos relevante.

Cozinhar traz uma variedade de benefícios para a equipe, como aumento temporário de atributos como ataque, agilidade e taxa de crítico. A redução de custo de habilidades e o aumento das taxas de ganho de experiência e amizade nas próximas batalhas são bastante úteis. Para conseguir os ingredientes, é interessante utilizar todas as vezes a fazenda do Taranis, garantindo assim a constante entrada de novos alimentos além dos que chegam pela exploração.

Dormir é mais uma atividade importante, servindo para restaurar personagens que receberam status de ferimento, além de oferecer um grande boost de experiência aos personagens selecionados. Ocasionalmente, o jogo também permite escolher dois aliados para lavar roupa. Sem custo adicional, essa mecânica permite um excelente ganho de afinidade.

Por fim, também podemos enviar equipes de três personagens a ruínas encontradas previamente. Assim como no caso dos símbolos de ruínas do mapa, essas explorações permitem que o jogador encontre itens e uma chave para abrir um grande baú. No entanto, essas localidades incluem inimigos, barreiras e armadilhas.

Caso seja pego por uma criatura ou armadilha, o personagem será substituído pelo próximo. Se os três forem derrotados, o jogador falha na exploração, retornando ao tanque. Para lutar contra os inimigos nas ruínas, temos que atirar neles utilizando balas encontradas na área.

Há também um caderno de atividades indicando o que as crianças gostariam de fazer. Com seus desejos realizados, a barra de Hero Mode dos personagens enche um pouco. Em batalha, esse modo ativa poderes específicos de cada criança.  Boron, por exemplo, pode quebrar todos os escudos dos inimigos com seus ataques básicos quando está em Hero Mode.

Esse gerenciamento de atividades é fundamental para avançar pela campanha. Fuga não é um jogo fácil, tendo certos picos de dificuldade. Um bom uso das instalações do Taranis pode fazer uma grande diferença a curto e longo prazo.

No entanto, vale destacar que justamente essa importância do Taranis acaba expondo algumas falhas do jogo. Primeiramente, atividades como pescaria, culinária e o upgrade do tanque possuem taxas de acerto. Esse elemento de probabilidade é uma escolha inconveniente tendo em vista que o número de ações que podem ser feitas no veículo é limitado.

Apesar disso, gostaria de destacar que é possível contar com a ajuda de personagens com alta amizade para aumentar a probabilidade, chegando até 100%. Além disso, os materiais não são gastos e os personagens ainda ganham experiência, como acontece com qualquer ação realizada no tanque.

Um problema ainda maior é a forma como algumas informações importantes para o gerenciamento não estão presentes nos menus. Por exemplo: entre os capítulos, o jogador entra em uma cidade e pode realizar trocas de itens. Isso inclui materiais para upgrades do Taranis. Porém, seria preciso saber exatamente quais deles são necessários para os upgrades, visto que não há essa indicação nem no menu geral.

Isso também acontece em outros menus, como na hora de mandar um grupo de personagens dormir sem ter um indicativo de níveis. Apesar de ser um detalhe pequeno, essa questão afeta a qualidade de vida do jogo. E, particularmente tendo em vista a importância do gerenciamento de recursos para Fuga, essas ausências de informação acabam sendo sentidas.

Por fim, gostaria de destacar que a falta de opções de dificuldade pode fazer com que jogadores pouco experientes em simuladores e jogos estratégicos em geral tenham problemas. Em se tratando de um título com gameplay diferente dos seus antecessores, teria sido interessante um modo mais fácil para quem quer apenas aproveitar a história.

A vida que floresce para além da guerra

Fuga: Melodies of Steel é uma obra que cumpre exatamente o que se propõe a fazer. Com uma história de guerra bem-trabalhada e sistemas de gerenciamento e de combate em turnos divertidos, o jogo tem um forte carisma e é uma excelente estreia para os projetos autopublicados da CyberConnect2. Apesar dos seus problemas de qualidade de vida, é uma experiência altamente recomendada a qualquer pessoa interessada em RPGs ou no universo furry steampunk da empresa.

Prós

  • História que trabalha bem a questão do peso da guerra para pessoas comuns;
  • Personagens carismáticos;
  • Pequenas animações que ajudam a dar um tom de vida ao Taranis;
  • Sistema de gerenciamento com impactos drásticos na evolução do jogo;
  • Batalhas em turno em que é importante usar estrategicamente as formações dos aliados e as fraquezas dos inimigos.

Contras

  • Alguns dos menus do jogo acabam tendo menos informações do que deveriam;
  • Chance de erro na execução das atividades no Taranis;
  • Ausência de dificuldades alternativas.
Fuga: Melodies of Steel - Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX - Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela CyberConnect 2

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é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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