Os espíritos entre nós e suas histórias
Arietta é uma adolescente de 13 anos que está viajando com seus pais para visitar, pela primeira vez em um ano, a cabana de sua falecida avó. Todavia, a viagem familiar acaba tomando um rumo inesperado quando a garota recebe a visita de Arco, um espírito que se parece com uma fuinha azul. De forma súbita, a criatura mística revela que a protagonista é, na verdade, um Elo.
Isso significa que Ari possui a habilidade de enxergar espíritos que já morreram no universo mundano, mas que, por motivos pessoais, não conseguiram realizar uma transição completa para o pós-vida e ainda estão entre nós. Com isso, Arco explica à protagonista que, na condição de Elo, ela tem a capacidade de ajudar essas almas a fazer uma passagem apropriada e definitiva ao Reino Espiritual.
Surpreendentemente, ficamos sabendo que essa situação de transição incompleta está sendo experienciada pela avó de Arietta, que ainda está presente na ilha de maneira espiritual, pois não conseguiu cumprir uma de suas missões no mundo: entregar um anel de prata a sua filha, a mãe da protagonista. Desse modo, em uma cena bastante emotiva, o espírito da avó pede à garota que ela encontre o objeto, que está perdido em algum lugar da ilha.
Na companhia de Arco, Ari recupera o item e o entrega à mãe, permitindo que sua antepassada possa descansar em paz em outra dimensão. No entanto, ao procurar pelo anel, a jovem e o espírito ajudante identificam uma presença anormal de criaturas sombrias na ilha, as quais são conhecidas como Errantes. Da mesma forma, durante as explorações, os protagonistas descobrem que a localidade ainda conta com outras almas que não conseguiram partir integralmente para o Reino dos Espíritos.
Incorporando as potencialidades e poderes de um Elo, Ari decide investigar os mistérios da ilha. Para isso, a garota desfruta da companhia lendária de Arco e porta uma espada de madeira, que ela ganhou de seu pai para matar insetos. Diante disso, eis que a jornada de ação com traços de RPG inicia-se para valer.
Conectando mundos
Arietta of Spirits dispõe de uma jogabilidade de visão top-down bastante simples, na qual controlamos a protagonista com o analógico esquerdo e usamos três botões para ações básicas: golpe de espada, movimento de desvio e a projeção de um escudo mágico, possível graças aos poderes sobrenaturais de Arco.
Com essas possibilidades de comandos, devemos explorar a ilha para encontrar outros espíritos necessitados. Entre eles, temos Minerva, uma boticária que vendia poções na região, e Guibb, um talentoso artesão especialista na construção de casas de passarinhos. Curiosamente, ambos aparentam não aceitar seu óbito, o que os impede de partir para o Reino Espiritual.
Diante disso, cabe a nós realizar missões para ajudá-los em suas jornadas. Isso geralmente envolve resolver pequenos puzzles para resgatar elementos cruciais aos espíritos. Tais itens, por possuírem valores simbólicos altos, normalmente acabam armazenando muita energia e atraem inúmeros Errantes, os quais devemos derrotar em batalhas com muita ação.
Em uma visão geral, pode-se dizer que os combates de Arietta of Spirits contam com uma jogabilidade agradável, apresentando ações e comandos que funcionam de maneira muito precisa. Dessa forma, temos que intercalar esquivas e golpes ligeiros para vencer duelos que costumam ostentar bastante intensidade.
Esses fatores evidenciam uma das grandes virtudes do título, que é oferecer um pacote de gameplay consideravelmente básico, mas eficiente em sua execução. Assim, temos uma aventura aconchegante e que dificilmente apresenta momentos impróprios ou frustrantes, caracterizando-se por proporcionar contextos agradavelmente divertidos.
Aconchegante como casa de avó
Em sua aparência, Arietta of Spirits é marcado por uma pixel art que cria cenários retrô cativantes. A cabana da avó da protagonista, por exemplo, é altamente charmosa, causando a sensação de ser um espaço realmente confortável. Enquanto isso, as florestas e cavernas encontradas na ilha são atraentes com suas cores vivas e elementos repletos de detalhes.
Isso dá ao título um apreço no âmbito visual que é incrementado na medida em que ele aborda temas delicados com muita sensibilidade, envolvendo majoritariamente assuntos relacionados à morte de alguns habitantes da ilha. Temos diálogos que frequentemente nos fazem ponderar sobre a fragilidade e as incertezas da vida, mas de uma forma reflexiva distante de ser negativa.
Um bom exemplo disso está nos estágios de luto manifestados pela família de Arietta. Conforme o jogo se desenvolve, os personagens passam a aceitar a passagem da avó e começam a prestar homenagens, relembrando os momentos vividos com ela através de diálogos e memórias.
Desse modo, explorar o pequeno mundo de Arietta of Spirits é algo viciante, pois nos faz querer saber mais sobre o passado dos personagens que habitam a ilha. Pena que, em muitas ocasiões, isso seja feito de maneira demasiadamente breve.
Dimensões com problemas superficiais
É preciso pouco tempo para perceber que Arietta of Spirits é, essencialmente, uma aventura bastante casual, até mesmo se optarmos por jogar nas dificuldades mais elevadas. Isso pode ser visto na medida em que há uma ausência de profundidade em muitos de seus setores, como nas batalhas.
Embora esse tenha sido um segmento divertido para mim, há de se reconhecer que ele não passa por um desenvolvimento grandioso ao longo da jornada; afinal, do início ao fim da aventura, ele se limita a simples golpes de espada, sem que Ari ganhe novas habilidades ou movimentos em seu repertório.
Similarmente, as explorações também não se aprofundam, tanto que o jogo sequer conta com um mapa de suas áreas, o que pode ser bastante problemático na hora de realizar algumas missões. Diante dessas ausências, pode-se perceber que isso ocorre porque a jornada é pouco abrangente, podendo ser completada em cerca de quatro horas.
Ou seja, o jogo se desenvolve de maneira casual e descontraída, com desafios que não saem muito da sua zona de conforto. No entanto, nada disso indica que a experiência seja monótona, pois ela consegue divertir, mesmo que descompromissadamente, em função de seu notável aconchego.
A companhia dos espíritos amigáveis
Lidando com temas delicados, Arietta of Spirits tem muito carisma, especialmente se considerarmos suas qualidades acolhedoras. Entre as múltiplas dimensões habitadas por espíritos e humanos, a jornada pode não ser profunda em termos de combate, mas se mostra atraente por sua sensibilidade e eficácia. Na companhia de Ari e Arco, é fácil de se divertir com os méritos de uma jogatina simples e a simpatia de uma narrativa comovente.
Prós
- Apresenta uma narrativa sensível, com diálogos tocantes;
- Jogabilidade precisa e muito fluida;
- Universo agradável de se explorar;
- Estética pixelada exuberante.
Contras
- Mecânicas pouco aprofundadas, especialmente nos combates;
- Ausência de mapa;
- Curta duração, que restringe as potencialidades de um título promissor
Arietta of Spirits — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 8.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela RED ART GAMES