A franquia The Legend of Zelda já apresentou muitos companheiros ao herói Link. São personagens que o ajudam durante suas jornadas e trazem ensinamentos sobre a história do jogo em questão. Alguns são muito queridos pelo público, como a Midna de Twilight Princess (Multi), e outros, lembrados pela sua constante interferência e irritação, como a Navi em Ocarina of Time (N64/3DS), mas existe uma em específico que conseguiu irritar bastante os jogadores com sua fala robótica e constantes interrupções: o espírito sagrado da Master Sword, Fi (pronuncia-se Fai).
Embora não seja tão querida assim, a personagem é de suma importância para o enredo de Skyward Sword (Wii/Switch) e apresenta momentos encantadores com seu balé magistral e sua jornada de evolução, até mesmo forjando o formato final da Master Sword.
A Lenda de Fi
De acordo com a lenda, a grande Deusa Hylia foi a responsável por criar a Goddess Sword e o espírito de Fi, que reside no interior da espada. Sua missão é guiar e proteger o herói sagrado escolhido pela Deusa quando chegasse o momento de enfrentar o espírito maligno Demise. A espada então foi guardada dentro de uma grande estátua de Hylia e levada aos céus junto com a cidade de Skyloft.
“Venha Link. Você deve tomar posse dessa espada. Você foi escolhido pela minha criadora, é o seu destino.” |
O espírito de Fi permaneceu adormecido até que o herói escolhido pela Deusa surgiu e a despertou de seu sono. Pressentindo o destino de Link, ela começa a aparecer nos seus sonhos e o guia até o interior da estátua, onde ele a retira de seu pedestal, aceitando seu destino como herói escolhido e novo mestre da espada sagrada. Fi jura sua eterna lealdade a Link, explica sobre a sua missão e leva o herói até a superfície daquele mundo, onde eles partem em busca da Princesa Zelda.
O visual de Fi foi inspirado na Rainha das Fadas de Wind Waker (GC/Wii U), além de possuir características vindas da própria Master Sword, como as formas geométricas em sua meia-calça, o uso das cores azul e roxa, a joia em seu peito e as dobras triplas em sua capa. Em geral, suas roupas também lembram a de uma bailarina, além de sua própria movimentação remeter a isso. De acordo com o livro Hyrule Historia, ao contrário do que se pensa, Fi possui braços embaixo da sua capa, mas não existe necessidade de exibi-los.
Artes iniciais publicadas no livro Hyrule Historia mostram inspiração e detalhes na roupa de Fi. |
Uma companheira de muitas habilidades
Durante a exploração da superfície, Fi mostra-se uma excelente guia. Dotada de telepatia e tendo sido programada com uma série de informações, ela consegue fornecer a Link análises completas sobre inimigos, locais, itens encontrados pelo caminho e até mensagens da própria Deusa Hylia, além de oferecer dicas sobre o que fazer a seguir, incluindo um breve resumo dos últimos eventos.
Fi é dotada de uma habilidade chamada Dowsing, que permite rastrear itens, pessoas e locais importantes. Quando ativada, essa habilidade emite um som a cada vez que Link se aproxima de algo que busca. Essa mesma habilidade também pode ser usada para encontrar corações e salvar o personagem em momentos de pouca vida.
Ela também é responsável por ensinar a Link uma das técnicas mais importantes durante o jogo: o Skyward Strike. Com essa técnica, nosso herói pode disparar um golpe carregado com uma luz vinda diretamente da Deusa Hylia, despertando mensagens antigas em locais sagrados e até desbloqueando alguns baús. O golpe também é fundamental para derrotar alguns dos chefes do jogo.
Infelizmente, apesar de toda a ajuda que fornece, o espírito parece incapaz de demonstrar qualquer tipo de emoção, geralmente falando com Link por meio de números e demonstrando cálculos e possibilidades analíticas do que fazer, por vezes até fornecendo a porcentagem de sucesso ou falha para determinada ação. No início, isso cria uma relação muito fria com Link e ela o trata com sarcasmo algumas vezes; porém, como em toda jornada, o seu comportamento também muda com o tempo.
A mensageira da Deusa
Como dito, Fi consegue decifrar mensagens antigas gravadas em monumentos sagrados, deixadas pela própria Deusa; ao fazer isso, ela entrega alguns dos momentos mais interessantes e belos do jogo. Sua tradução geralmente é acompanhada de uma dança bem peculiar, que mistura um tipo de balé e patinação feita no ar. Essas danças demonstram uma delicadeza e arte únicas na franquia, que marcam o estilo da personagem e foram aproveitados de certa forma em seus movimentos de luta no primeiro Hyrule Warriors (Wii U).
A personagem também é responsável por ensinar algumas das canções sagradas a Link, instruindo como ele deve tocar a Goddess Harp e o acompanhando com seus vocais. Essas canções são responsáveis por abrir portais para o Silent Realm, uma região sobrenatural onde o protagonista deve provar seu crescimento espiritual para encontrar pistas que o levam às chamas sagradas que vão liberar todo o potencial da Goddess Sword.
Forjada em fogo sagrado
Quando Fi é encontrada dentro da estátua da Deusa, a espada não é a lâmina que conhecemos nos outros jogos da franquia. Para que a Goddess Sword libere todo o seu poder e se transforme na Master Sword, ela precisa ser banhada em três chamas sagradas deixadas pelas Deusas Douradas Din, Farore e Nayru.
As chamas estão escondidas na superfície e, mais uma vez, Fi guia Link nessa busca, indicando o caminho, ensinando as canções e aumentando o seu poder pouco a pouco. Durante o jogo, essa melhoria é bem perceptível, visto que os ataques de Link vão ficando mais fortes a cada nova chama encontrada.
A espada muda de forma e de nome durante esse processo. Após ser temperada com a chama de Din, ela se torna a Goddess Longsword; com a chama de Farore, ela muda para a Goddess White Sword; e com a adição da chama de Nayru ela atinge o seu formato de Master Sword. Contudo, apenas com uma bênção final da Princesa Zelda ela adquire a sua última forma e se torna a True Master Sword, despertando todo o potencial de Fi e tornando-se capaz de derrotar Demise.
A cada nova forma, o poder da espada e de Fi aumentam. |
O lado oposto de Ghirahim
Além de atuar como o espírito sagrado da Master Sword, Fi conta com uma contraparte representada por Ghirahim, o espírito profano da espada de Demise. Aqui, temos um exemplo de verdadeiros opostos: enquanto Fi é robótica e fria, Ghirahim não poderia ser mais extravagante e cheio de emoções.
Os personagens até possuem designs parecidos, com roupas que lembram collants de bailarinos e com cores opostas, trazendo essa dualidade ao jogo. Ambos trabalham com o mesmo propósito: recuperar sua força e despertar o verdadeiro potencial de seus mestres.
Outras aparições
Apesar de sua importância, Fi não deu as caras em muitos jogos da franquia. Ela aparece como um personagem jogável no primeiro Hyrule Warriors e também como um troféu em Super Smash Bros. (Wii U).
Em Breath of the Wild (Wii U/Switch) a personagem chega a ser mencionada de forma indireta algumas vezes pela Princesa Zelda, perguntando a Link se ele já foi capaz de ouvir a voz do espírito dentro da espada. Também é Fi quem informa que Link deve ser levado ao Shrine of Resurrection após ser derrotado pelos Guardiões. O som característico dela também pode ser ouvido após os jogadores completarem o desafio Trial of the Sword, indicando que o espírito ainda vive dentro da espada.
Por que tão odiada?
Apesar de ser fundamental para a história de Skyward Sword, Fi encontrou muitas críticas pelo caminho. Ela é um caso clássico de personagem que você ama ou odeia. Muito dessa antipatia foi gerada por conta de suas intromissões excessivas durante o jogo, por diversas vezes explicando coisas óbvias ou apontando o caminho o tempo todo, irritando os jogadores com a impossibilidade de pular essas explicações e tirando parte do fator de descoberta.
Tal situação foi tão comentada na época do lançamento original do jogo que levou a Nintendo a fazer algumas alterações na sua versão remasterizada, tornando opcionais algumas das interações com a personagem.
Embora tenha encontrado muitas críticas negativas pelo caminho, é inegável a importância de Fi para contar a lenda da Master Sword e, conforme avançamos na jornada dentro de Skyward Sword, ela se torna uma grande companheira. Sua despedida é um dos momentos mais emocionantes de toda a série.
Quando Demise é derrotado e a missão de Link é finalizada, chega a hora de devolver a Master Sword a seu pedestal e colocar Fi em um novo sono. É nesse momento em que a personagem finalmente demonstra sentimentos pela primeira vez e confessa que os dados coletados ao lado de Link são os mais preciosos que ela possui, e que ela acredita que finalmente conheceu o significado de felicidade.
“Eu não tenho dados o suficiente para chegar a uma conclusão, mas acredito que esse sentimento seja o mais próximo do que o seu povo chama de… felicidade” |
Agora, Fi surge novamente em uma versão remasterizada e pronta para ajudar aqueles jogadores que a quiserem ouvir. E você, caro leitor, qual sua experiência com a personagem? Pessoalmente, eu adoro a Fi e acredito que ela merece uma segunda chance para demonstrar o seu carisma robótico.
Revisão: Davi Sousa